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Arte e terceira idade: uma experiência com estêncil, durante a pandemia da Covid-19 (2020

diálogos interativos dos/as participantes junto aos conhecimentos de história da Arte e seus contextos, direcionados a comunidade da terceira idade. Os pressupostos teóricos e metodológicos que orientaram este artigo de cunho bibliográfico e documental, pautam-se em teóricos voltados à Educação e ao Ensino de Arte, com aproximações aos pensamentos freirianos. As atividades e observações de Estágio foram realizadas por 12 alunos/as estagiários/as junto a professora regente, com alunas da UNATI, que ocorreram nas tardes de quintas-feiras, das 13:30h às 15:30h. Nesta pesquisa, descrevemos levantamentos e observações intrínsecos às nossas intervenções, que se deram nos quatro primeiros dias de aulas, momento em que realizamos nossas regências e observações. Importante destacar que o curso completo, no entanto contemplou 18 quintasfeiras, com duas aulas de uma hora cada, totalizando duas horas por semana e 36 horas ao todo.

Cada regência foi realizada por dois/duas estagiários/as, e envolveram também a participação de mais dois/duas estagiários/as observadores, a professora orientadora do Estágio Supervisionado, e uma turma de 6 discentes, que compreendiam a faixa etária da terceira idade. Como as aulas ocorreram em um contexto histórico de pandemia, onde devido a expansão do Covid-19 ocorreu o fechamento de comércios, espaços públicos e escolas, foi imprescindível a adaptação das TDIC- Tecnologia Digital de Informação e Comunicação, para que as aulas pudessem acontecer mesmo com a delimitação de espaços físicos. Neste sentido o curso aconteceu de forma remota e contou com uso do aplicativo digital Google Meet, que propiciou nosso encontro de forma segura, sem que precisássemos estar presentes em um ambiente físico. Embora esta configuração de ensino, observamos, dificultou a interação entre as pessoas envolvidas inclusive quando nos referimos a atividades práticas, que por sinal foram propostas em alguns momentos das aulas, ela também proporcionou uma aproximação entre pessoas de diferentes espaços geográficos que, pontuamos, ter sido uma troca importante de diferentes vivências e culturas. No que diz respeito à estrutura deste artigo, organizamos as discussões a partir de dois tópicos para além desta introdução. No primeiro deles, reunimos estudos bibliográficos para contextualizar a atuação da instituição UNATI junto à comunidade da terceira idade em diversos países ao longo dos anos de sua existência. No segundo tópico, antes de apresentar nossas considerações finais, levantamos nossas impressões, enquanto arte-educadoras/es, junto ao relato de nossas vivências com 6 discentes da terceira idade no Estágio Supervisionado.

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UNATI COMO PROPOSITORA DO CONHECIMENTO

Para que possamos entender um pouco do contexto acadêmico que aqui nos referimos, faremos nesta seção uma breve contextualização histórica sobre a UNATI, sua fundação, expansão e atuação até os dias de hoje. A UNATI, espaço em que aconteceu nossas intervenções, é uma instituição de ensino com sede na cidade de Maringá desde o ano de 2009, tendo como objetivo oferecer a pessoas acima de 55 anos de idade a possibilidade de desenvolver competências que gostariam de ter desenvolvido ao longo de suas vidas, e, até então, por alguma razão foram impossibilitadas. Já em uma visão panorâmica sobre as UnATIs em contexto nacional, de acordo com Meire Cachioni; Tiago Nascimento Ordonez; Samila Sathler Tavares Batistoni e Thaís Bento Lima Silva (p. 82, 2015) as Primeiras “Escolas Abertas à Terceira Idade” foram fundadas na década de 1980 no Brasil, mas teve significativa expansão na década de 1990. Sendo um programa educativo aberto à terceira idade as UnATIs segundo os/as autores/as apoiam-se sobre o conceito de “educação permanente” uma proposta da UNESCO com intenção de viabilizar o conhecimento em todas as etapas da vida. Importante frisar que o berço das UnATIs foi na França e a partir de lá se espalhou por todo mundo, proporcionando a milhões de idosos e idosas “[...] uma série de atividades intelectuais e culturais, que contribuem para um envelhecimento ativo e, consequentemente, para uma velhice bem-sucedida.” (CACHIONI; ORDONEZ; BATISTONI; SILVA, p.82, 2015). Grande parte das ações que seguem o modelo de UnATI no Brasil são extensões universitárias públicas e privadas, e segundo pesquisas no ano de 2004 já chegavam a 400 o número de programas espalhados em todo território brasileiro. Cachioni; Ordonez; Batistoni e Silva (2015) problematizam a formação dos professores atuantes nas UnATIs, questionando a necessidade de uma formação específica na área gerontológica, os/as autores/as levantam dados e relatos sobre a evasão dos alunos desses espaços educativos, tendo como justificativa a observação de que alguns dos professores não têm preparo, e utilizam de metodologias não apropriadas para terceira idade. No entanto neste artigo assim como em um outro publicado por Eloiza Amalia Bergo Sestito e Regina Lucia Mesti (2012) defendemos a ação de estagiários/as nesses espaços acadêmicos, pois segundo nossas considerações, identificamos a potencialidade das práticas educativas exercidas por estes docentes em formação, de acordo com seu campo de atuação, que nestes casos foi o ensino de Arte. O ensino de Arte se enquadra em um dentre os seis eixos temáticos que norteiam o programa, sendo eles o de processos e procedimentos comunicativos; saúde física e mental; direito e cidadania; humanidades; meio físico e social e arte e cultura. Devido ao atual contexto de pandemia, a educação encontra-se em um caos total,

porém mesmo com os obstáculos que impossibilitam a acessibilidade dos discentes aos cursos da UNATI, a instituição manteve aberta as inscrições e proposições de cursos via on-line. Notamos que, diante deste cenário, foram muitas as desistências, pois o acesso ao aplicativo de reuniões Google Meet e ao email institucional foi diversas vezes questionado pelos/as alunos/as, e a confusão com as ferramentas aconteceu em alguns momentos. Em um exercício de prevenção a possíveis dificuldades que os discentes poderiam encontrar ao utilizar dos meios digitais para participar das aulas, antecipamos a eles/elas tutoriais escritos e links de vídeos para que eles/elas tivessem mais facilidade ao lidar com as tecnologias. Mesmo com nosso esforço em ajudá-los/as a se adaptar com as mídias, dos 11 alunos/as inscritos no curso, apenas 8 das onze alunas/os inscritos participaram efetivamente das aulas. O meio digital que facilitou e possibilitou uma melhor interação com as discentes foi um grupo de WhatSapp onde as alunas postaram suas dúvidas, seus trabalhos, as/os professores/as estagiários/as disponibilizaram as apostilas das aulas realizadas, e os links de acesso às salas virtuais. Já o Google Classroom que era para ser o canal de acesso principal, só foi acessado por uma das alunas, enquanto as outras reclamaram não estar conseguindo entrar na conta de acesso, e tiveram problemas com suas senhas institucionais. Na intenção de atualizar como tem sido o contexto educativo nos cursos oferecidos à terceira idade no programa de ensino UnATI, na sequência discorremos sobre como foi para nós as experiência vivenciada com 8 alunas inscritas no curso “Estudo da Arte e seus contextos” oferecido como extensão universitária da UEM no ano de 2021.

REGÊNCIA DE ENSINO COM ARTE CONTEMPORÂNEA A PARTIR DA ARTISTA MÔNICA NADOR

Como um primeiro exercício de nos aproximarmos dos/as discentes, antes mesmo de abrirem as inscrições para o curso de Estudo da Arte e seus contextos da UnATI, elaboramos um vídeo por meio do qual nos apresentamos e explicamos um pouco do conteúdo que seria abordado no curso, material que foi fixado junto a página da UnATI, como um convite para o público se inscrever. Já no primeiro dia de aula, nos apresentamos novamente, e abrimos espaço para que cada uma das alunas compartilhassem conosco suas expectativas para com o curso, a partir das seguintes perguntas: o que você espera deste curso? O que te motivou a se inscrever neste curso? As respostas foram as mais variadas, como: o desejo de ampliar o repertório de vida pois pouco conhece sobre arte e para ela isso faz falta; a afinidade em admirar o que é belo; porque a arte pode transmitir para outras pessoas pensamentos belos; por não estar bem

mentalmente e precisar se ocupar fazendo coisas interessantes; porque a arte pode preencher o vazio, e para fazer novas amizades; para ter o que conversar com sua filha que fez curso de arte; e por gostar de conhecer diferentes tipos de expressões artísticas, já visitou quilombolas e caiçaras, gosta de ter contato com diferentes imagens e artefatos artísticos. Essas foram as respostas que as 8 discentes nos responderam diante das indagações. Mesmo sendo uma reunião por meio de aplicativo digital, foi possível que elas compartilhassem conosco suas respostas, no início notamos um pouco de dificuldade para abrirem seus microfones quando convocadas, mas de um modo geral todas conseguiram se expressar. A forma como conduzimos nossas intervenções também facilitou para que as discentes se sentissem à vontade para falar, pois notamos que ao fazer uma pergunta e aguardar que respondessem de forma aleatória não teve sucesso, por isso, seguimos convidando cada participante pelo nome, e assim todas aproveitaram seus lugares de fala sabendo que havia sido dado a elas individualmente um espaço para que se expressassem. Na sequência iniciamos nossa aula que tinha como tema “Arte contemporânea a partir da artista Mônica”. Levantamos o seguinte questionamento: O que é arte? não com intenção de responder esta pergunta mas de contextualizar alguns períodos, obras e artistas, expusemos para as discentes um breve contexto histórico sobre arte, dividido por alguns períodos. Em um segundo momento, adentrarmos à arte contemporânea, apresentando a artista brasileira Mônica Nador (1955----), tendo-a como referência na arte do estêncil e no trabalho social que realiza em um bairro da zona sul de São Paulo. Falamos um pouco sobre a arte no período da antiguidade, de momentos em que era vista como um meio de aproximação com o divino, expressava a relação da humanidade com o mundo transcendente, com forças invisíveis. Citamos como exemplo a Vênus de Willendorf (Figura 1), que é uma escultura feita de calcário e datada do ano de 25.000 a.c. medindo aproximadamente 11cm de altura. Por seu tamanho pequeno, historiadores apontam que elas tenham sido feitas, com intenção de serem usadas como estatueta, para ser carregada como um talismã. Acredita-se ainda que essa estatueta está relacionada com a fertilidade feminina, a abastança e com a divindade, a mãe terra. Historicamente a partir de bibliografias acadêmicas, as descrições sobre esses objetos apontam para o misticismo que os envolvia, como o de que colocando essa estatueta sobre a barriga de uma mulher grávida a ajudaria a ter um melhor parto.

Figura 1: Vénus de Willendorf.

Disponível em: <<http://todaon.com.br/o-reducionismo-ocidentalizado-a-evolucao-da-obesidade-2/>>. Acesso em 30 junho de 2021.

Após esse período, que como considerado por historiadores, a arte existia para estabelecer comunicação com o divino, passamos para o período conhecido como Renascimento. Onde o homem começa a perceber o seu espaço no mundo e aplica isso na arte. A perspectiva na pintura é uma das formas de expressar esse novo pensamento, incluindo então, a profundidade espacial numa superfície plana. Como exemplo, levamos para a intervenção a obra A última ceia de Leonardo da Vinci (Figura 2). Apresentando a profundidade através das linhas imaginárias que se encontram no centro da obra, onde está a figura de Jesus. O ponto central desse quadro fica exatamente na cabeça de Jesus e podemos notar até mesmo uma área externa através da janela pintada ao fundo. Onde vemos o céu e algumas montanhas.

Figura 2: Última Ceia de Leonardo Da Vinci.

Disponível em: << https://www.infoescola.com/pintura/a-ultima-ceia/> >. Acesso em 30 junho de 2021.

Outro exemplo que apresentamos na aula foi a escultura Moisés de Michellangelo

(1505 - 1545) (Figura 3), que também representa esse período por sua anatomia realista. Contorno dos músculos, tecidos, barba e cabelos cacheados entremeio aos dedos da escultura, que em uma das mãos segura as tábuas da lei. Na ocasião mantivemos um diálogo aberto, onde as alunas expressaram seus pontos de vista e suas dúvidas com relação às imagens.

Figura 4: Moisés de Michelangelo (1505 - 1545).

Disponível em: << https://cenciturismo.com.br/o-moises-de-michelangelo/>>. Acesso em 30 junho de 2021. Com outra obra também contextualizamos um pouco sobre o período Cubista. No cubismo o homem começou a analisar as relações visuais com o mundo através dos elementos triviais do cotidiano e utilizar as formas geométricas para representar figuras imagéticas. O artista espanhol Pablo Picasso foi pioneiro nessa arte, utilizando as formas geométricas em temas como palhaços, natureza, alegria, tristeza e a guerra. Como exemplo apresentamos a obra Guernica, (Figura 4), onde Picasso retrata os horrores da guerra, uma guerra que durou somente 3 horas, mas que foi suficiente para exterminar com a cidade de Guernica. Nessa obra vemos pessoas e animais em formas geométricas, aqui não se tinha mais a obrigação com as formas realistas, mas mesmo assim se podia ver a expressão de angústia, aflição, medo e horror através das visualidades da imagem.

Figura 4: Guernica de Pablo Picasso.

de 2021. Neste ponto, chegamos ao tema principal de nossa regência, que consistia em apresentar a arte contemporânea, utilizando de uma artista que trabalha com estêncil e tem suas criações voltadas à comunidade. Após essa breve contextualização de alguns períodos da história da arte, apresentamos para as alunas a artista contemporânea Mônica Nador e seu projeto de pinturas em muros, paredes e tecidos com o estêncil. Juntamente com o projeto social que organiza e direciona, o JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube), que acontece nesse mesmo bairro da zona sul de São Paulo. Mostramos uma exposição que aconteceu no pavilhão das culturas brasileiras no parque Ibirapuera (Figura 5). Que foi um trabalho de autoria compartilhada, que Mônica vem desenvolvendo em parceria com a comunidade do Jardim Miriam. A proposta era levar para a exposição o caráter de experimentação e fazer artístico. Onde cada visitante ao chegar na exposição podia ver os trabalhos sendo produzidos.

Figura 5: Exposição Mônica Nador.

Disponível em: << http://www.lucianabritogaleria.com.br/news/127>>. Acesso em 30 de junho de 2021. Explicamos para as discentes que as pessoas que participaram da exposição, entre eles, alguns do grupo JAMAC, escolhiam obras do acervo das culturas brasileiras para desenharem, depois serem transferidas para o estêncil e posteriormente carimbadas nas paredes do prédio ou em grandes tecidos pendurados no teto e expostos ali para os visitantes observarem. Demos exemplos de estêncil, o que é, como usá-lo e em quais suportes podemos usar. Ao apresentar a artista contemporânea, começamos a dialogar com as alunas, investigando se elas conheciam essa técnica, se já tinham escutado ou visto falar. Neste momento a troca de conhecimentos foi bem importante e interativa, pois algumas delas já haviam feito o uso da técnica em trabalhos manuais e até mesmo em aulas. Após esse diálogo trouxemos o questionamento: O que é arte? Primeiro compartilhamos o que é arte para nós e depois abrimos para que cada participante pudesse falar um pouco. Tivemos respostas como: “Arte é poder me expressar com minhas próprias mãos”. “Arte é uma memória do que a

pessoa passou no momento. Vem de dentro para fora, a gente tem que perceber da nossa maneira”. “Arte é a perpetualização de um objeto que eu crio”. Para finalizar nosso primeiro dia de aula, apresentamos às alunas uma proposta de atividade, onde pedimos que elas realizassem em suas casas um estêncil, a partir de uma memória de infância, um objeto afetivo, algo significativo para elas, fizessem um desenho e depois recortassem com estilete, no papel ou em uma placa de raio x. Posteriormente, desafiálas a transferir esse desenho através do stencil para um suporte que seria variado, de escolha de cada uma delas; podendo ser um tecido, uma caneca, um papel, etc. A respeito das características que propomos na atividade acima, salientamos também as possibilidades que a Arte Contemporânea confere à prática da arte, tendo em vista as possibilidades que oferece em relação ao toque, ao manuseio e à aproximação com o material e os(as) artistas. Sentimonos motivados por Luciana Gruppelli Loponte (2008, p.118) quando afirma que a “[...] arte é feita de possibilidade, de invenção, de criação, de ruptura, do imprevisível, do inesperado.”. Na segunda aula que aconteceu após uma semana, iniciamos nossa regência solicitando que as alunas apresentassem seus trabalhos feitos em casa, no entanto devido ao excesso de atividade e ao contexto de pandemia as discentes afirmaram não terem conseguido realizar a atividade proposta. Para nós não foi surpresa pois sabíamos que um exercício como esse pelo fato de envolver desenho, assim como vimos em um vídeo que Mônica Nador fala sobre o processo de criação com estêncil, poderia gerar resistência por parte das alunas em dizer que não sabem desenhar. Mesmo assim decidimos propor a atividade pois sabíamos da potência que seria esse trabalho, caso elas viessem a praticar, e que ele ajudaria no processo de aprendizagem da técnica. No entanto, nossa avaliação não tinha por base a realização da atividade, mas sim a participação nas aulas, e a observação de que elas entenderam a técnica e ampliaram seus repertórios a partir da artista contemporânea Mônica Nador. Solicitamos que elas nos mostrassem seus trabalhos com estêncil mesmo que não realizado nesta semana, pois na aula anterior perguntamos se elas já haviam utilizado esta técnica, e três delas nos responderam que sim. Compartilharam conosco ideias de suportes variados que já utilizaram e uma delas nos mostrou umas taças que ela havia feito no natal passado, onde a partir do estêncil ela fez um jateado fosco com figuras de estrelas e letras. Neste momento de trocas de saberes, consideramos o que Paulo Freire (1996) defende ser o “aprender” e “ensinar”, um momento de trocas, onde o discente se distancia de ser um depósito onde só recebe informações, e também pode compartilhar seus saberes trazendo contribuições significativas. Neste sentido, Freire (1996) destaca ser possível para o educando superar uma educação bancária, mas para isso é preciso exercer a força da “comparação, a

repetição, a constatação, a dúvida rebelde, a curiosidade não facilmente satisfeita, que supera os efeitos negativos do falso ensinar.” (FREIRE, p.13.1996). Para finalizar nossa aula, como forma de nos apropriarmos desse ambiente de mídia virtual que muitas vezes não temos nas aulas presenciais, assistimos um vídeo da artista Mônica Nador, onde ela apresentou uma turma de alunas do JAMAC, mostrando trabalhos de mulheres que utilizaram da técnica do estêncil e gravaram tecidos com suas matrizes, e a partir desses tecidos estampados, foram feitos vestidos, o vídeo apresentou o programa do início ao fim, e como fechamento da oficina da artista realizou um desfile com as mulheres participantes do curso. Neste desfile, as alunas da oficina tiveram a oportunidade de vestirem roupas com os modelos escolhidos por cada uma elas, e ainda, as peças foram confeccionadas com os tecidos que elas mesmas estamparam através da técnica do estêncil. Neste momento todas ficaram encantadas com os resultados e com a forma que a Arte e a técnica do estêncil pode ser utilizada na vida daquelas mulheres. Perante o exposto, identificamos em nossa regência, que a Arte possibilita uma aproximação do conhecimento epistemológico ao contexto de vivências dos/as discentes, proporcionando o que Freire (1996) destaca ser o “pensar certo” e o “ensinar certo”, que segundo ele tem mais a ver com a troca que existe entre o sujeito e o objeto de estudo do que com a mera memorização do que se aprendeu.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como efeito de fechamento para este artigo, identificamos que é de grande importância o ensino da Arte em diferentes espaços educativos, direcionados para além dos espaços acadêmicos, como no caso da UNATI que se volta à comunidade, e à terceira idade. Descrever sobre as práticas educativas de estagiários/as de Artes Visuais e suas atuações na Universidade Aberta à Terceira Idade - UNATI na cidade de Maringá, tornou-se para nós um objetivo relevante. Tendo em vista que as experiências aqui descritas puderam acrescentar conhecimento e compor a identidade docente das/os estagiárias/os envolvidos; por incentivar e expandir possibilidades de ensino/aprendizagem para além dos espaços da academia; e no contexto da comunidade, possibilitou promover interações, de modo a ampliar repertórios imagético de forma a possibilitar diálogos sociais renovadores. Por fim, gostaríamos de pontuar que em nossa experiência de estágio não tivemos oportunidade de estar em espaços físicos vivenciando e aplicando as atividades de Arte junto aos discente, no entanto, este tipo de pesquisa tem sido inédito tanto quanto as regências, em momentos de pandemia, e esse exercício de docência nos parece interessante e convidativo

para outras investigações e pesquisas.

REFERÊNCIAS

CACHIONI, Meire; ORDONEZ, Tiago Nascimento; BATISTONI, Samila Sathler Tavares; SILVA,Thaís Bento Lima. Metodologias e Estratégias Pedagógicas utilizadas por Educadores de uma Universidade Aberta à Terceira Idade. Educ. Real. vol.40 no.1 Porto Alegre jan./mar. 2015. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S2175-62362015000100081&lng=pt&tlng=pt> Acesso em 20 mar. 2021. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura). LOPONTE, Luciana Gruppelli. Arte e metáforas contemporâneas para se pensar a educação. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 37, jan. /abr. Rio de Janeiro, 2008. SESTITO, Eloiza Amalia Bergo e MESTI, Regina Lucia. INTERAÇÕES NO ESTUDO DA PINTURA NA UNATI –Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia UEM. CPISIUEM-2012. Disponível em: <http://www.eventos.uem.br/index.php/cipsi/2012/paper/view/441/476> Acesso em 20 mar. 2021.

NOTAS DE FIM

1. Regina Ridão Ribeiro de Paula (reginaridao@gmail.com) - Graduanda em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, participa do Grupo de Pesquisa em Arte, Educação e Imagem, o ARTEI. Temas afetos às áreas de Educação, Cultura Visual, Formação de Professores, Ensino de Arte e Educação Infantil. 2. Eloiza Amália Bergo Sestito (eloizaamalia@hotmail.com): Doutora em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM. Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM. Graduação em Educação Artística pela Universidade de Marília (1983); graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1984) Atualmente é aposentada pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Já atuou como professora na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS e Faculdades Integradas de Amambai - FIAMA. Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR. Como professora Colaboradora do Departamento de Teoria e Prática da Educação - UEM. Atualmente é professora temporária no curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Sociologia e Artes, com docência em cursos superiores de Pedagogia, História e Tecnologia em Alimentos com a disciplina de Sociologia. Atuando também nos seguintes temas: arte- educação - teatro, artes visuais, arte e formação de professores.

A (RE)EXISTÊNCIA TAPUIA: somos goitacazes, botocudos, aymorés e puris

Rosana Paste Felipe Lacerda

RESUMO

A decolonização é pauta. Todo movimento para seguirmos na (re)escrita de nossa história é urgente e necessário. O corpo e o espírito, cansados de tantos anos colonialistas, se naturalizaram e nem sempre sentem os efeitos desse crime bárbaro. Este artigo versa sobre uma micro-história de nossos povos originários, ressignificando seu modo de vida e seus costumes na tentativa de (re)ver o que está consolidado: povo bárbaro, sem cultura, analfabeto, sem relações sociais, políticas, ambientais. O que mostramos neste recorte é exatamente o contrário: uma nação forte, com hábitos consolidados, firme em seus propósitos, estabelecida em seus lócus e que foi violentamente vilipendiada de seu território. Camadas sucessivas de agressões e descuido nos levam a perceber como até hoje esse movimento se repete, ao dialogarmos com a produção contemporânea da artista visual Felipe Lacerda. Palavras-chave: povos originários; arte contemporânea; resistência; decolonização.

ABSTRACT

The decolonization is a social agenda. Every movement which keeps us (re)writing our history is urgent and necessary. The body and the spirit, tired of so many colonial years, have naturalized and not always feel the effects of this barbarian crime. This article’s approach is about our native people’s micro history, reframing their way of life and their costumes in the attempt of (re)visit what’s solidified: barbarian people, cultureless, illiterated, without social, political, environmental relations. What’s shown in this cutout is exactly the opposite: a strong nation, with solidified habits, steady on its purposes, established on it’s lócus and which have been violently taken away from their territory. Successive lays of aggressions and carelessness leads us to realize how until this day this movement repeats itself when we dialogue with contemporary production of visual artist Felipe Lacerda. Keywords: native people; contemporary art; resistance; decolonization.

(RE)EXISTIR – QUESTÃO DE VIDA

Os portugueses saíram do seu Velho Continente em busca de terras virgens que pudessem deflorar e delas usurpar toda riqueza que encontrassem. E foi assim que em 22 de abril de 1500 aqui chegou Pedro Álvares Cabral. A falha histórica ainda predomina, visto que Vicente Yáñez Pinzón, um espanhol, teria aportado no Cabo de Santo Agostinho, hoje Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500. São fatos históricos que devem ser (re)escritos, pois os portugueses não descobriram nada. Aqui chegaram e dizimaram uma nação repleta de comunidades e povos com seus costumes culturais, suas línguas, suas relações políticas, sociais, econômicas e ambientais. A história da Capitania do Espírito Santo é marcada pelo atraso econômico social de pelo menos 300 anos em relação às demais capitanias. Nossos estudos apontam que pesquisadores, historiadores, filósofos atribuem como um fator de esquecimento de nosso território. O ganho desse atraso foi que no século XIX o território do Espírito Santo mantinha uma “densa e exuberante floresta tropical que cobria 90% do atual território, com seus rios encachoeirados para o interior e habitat natural do indígena adverso [...]” (MOSÉ, 2009, p. 23). Assim, apesar de se seguir no estado uma política colonialista de catequização ou dizimação da população nativa, é fato histórico que alguns dos povos mais resistentes ao processo de ocupação portuguesa foram desenhados no solo capixaba. É interessante