Comunicação Não-Violenta – Marshall B. Rosenberg

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Tenho o prazer de informar que ela aprendeu rápido. No final do seminário, foi para casa e anunciou à família que não queria mais cozinhar. A oportunidade de recebermos algum retorno de seus familiares ocorreu três semanas depois, quando os dois filhos chegaram para participar de um seminário. Eu estava curioso para saber como tinham reagido à declaração da mãe. O filho mais velho suspirou — “Marshall, eu simplesmente pensei: ‘Graças a Deus!’” Vendo minha expressão intrigada, ele explicou: “Pensei comigo mesmo: ‘Talvez ela finalmente pare de reclamar durante as refeições!’” Ficamos perigosos quando não temos consciência de nossa responsabilidade por nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos. Em outra ocasião, quando eu prestava consultoria a uma secretaria municipal de ensino, uma professora observou: “Detesto dar nota. Acho que elas não ajudam e ainda criam muita ansiedade nos alunos. Mas tenho de dar, é a política da secretaria”. Tínhamos acabado de praticar como introduzir na sala de aula um tipo de linguagem que aumentasse a consciência da responsabilidade pessoal. Sugeri que a professora substituísse a frase “Tenho de dar nota porque é a política da secretaria” por esta, completando-a: “Eu opto por dar nota porque desejo…” Ela respondeu sem hesitação: “Eu opto por dar nota porque desejo manter o emprego”. Apressouse a acrescentar: “Mas não gosto de dizer dessa maneira. Faz que eu me sinta tão responsável pelo que faço…” Respondi: “É exatamente por isso que quero que você diga dessa maneira”. Compartilho dos sentimentos do romancista e jornalista francês George Bernanos quando escreve:

Já acredito há muito tempo que, se a eficiência cada vez maior da tecnologia de destruição um dia fizer que nossa espécie desapareça da Terra, não terá sido a crueldade a responsável por nossa extinção, menos ainda a indignação que a crueldade desperta ou as represálias e vinganças que ela atrai […], mas sim a docilidade, a falta de responsabilidade do homem moderno, sua desprezível aceitação subserviente de qualquer decreto comum. Os horrores que já vimos, os horrores ainda maiores que logo veremos, são sinal não de que os homens rebeldes, insubordinados e indomáveis estejam aumentando em número no mundo todo, e sim de que aumenta constantemente o número de homens obedientes e dóceis.


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