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TERESINA-PI, OUT/NOV/DEZ DE 2011 • Nº 29 • ANO VIII
REPORTAGEM
* Marcoeli Silva de Moura Profª Drª do Depto. de Patologia e Clínica Odontológica da UFPI marcoeli-moura@uol.com.br * Camila do Vale Matos Acadêmica e bolsista do curso de Odontologia da UFPI
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as últimas décadas, a cárie dentária, principal problema de saúde bucal no Brasil, vem diminuindo em prevalência e severidade em todo o mundo, mesmo em países de economia de mercado não estabilizada. Tal fato está diretamente relacionado ao uso de fluoretos em suas diversas formas; dentre elas, destacam-se a fluoretação das águas de abastecimento público e os cremes dentais fluoretados. A fluoretação da água de consumo público tem sido considerada a medida de saúde pública mais próxima do ideal no controle da cárie dentária, sendo reconhecida como uma das dez maiores medidas de saúde pública do século passado, mas, para isso, é necessário que a concentração da fluoretação seja contínua e sem interrupções. Pesquisas para melhorar essas questões vêm sendo desenvolvidas. A pesquisadora Marcoeli Silva de Moura, Profª. Drª. do Depto. de Patologia e Clínica Odontológica da Universidade Federal do Piauí, desenvolve um estudo que visa monitorar, mensalmente, durante dois anos, a concentração de fluoreto na água de abastecimento público de municípios piauienses que possuem sistema de fluoretação da água (Floriano, Parnaíba e Teresina). O estudo objetiva também validar a importância do heterocontrole, que consiste na vigilância sanitária das concentrações de flúor realizada na empresa responsável pelo tratamento e pela fluoretação, no caso do Piauí a Companhia de Água e Esgoto do Piauí S/A – Agespisa, bem como prevenir a toxicidade crônica pela ingestão de doses maiores que a recomendada, o que vem a provocar defeito de desenvolvimento do esmalte dentário denominado fluorose dentária (distúrbio de desenvolvimento dentário que ocorre quando o flúor está presente em excesso no organismo, durante a formação dos dentes). Marcoeli Moura revela que poucas cidades da região Nordeste têm um sistema de heterocontrole presente. A linha de pesquisa teve como observação o controle da fluoretação da água de Teresina e a realização das análises da água em convênio com o Departamento de Bioquímica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP, onde as amostras de água eram analisadas, sob a
coordenação do Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury, pioneiro no estudo do flúor no Brasil e pesquisador conceituado internacionalmente sobre o tema. Somente em 2010, foi possível desenvolver a análise no Piauí, a partir da aquisição de um eletrodo específico e de um analisador de íons, por meio do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde – PP-SUS, através de um edital de financiamento da FAPEPI. “Em 2004, realizava a pesquisa sobre o controle de fluoretação da água de Teresina, mas não havia o aparelho necessário para realizar a medição da quantidade de flúor na água; em laboratório de Piracicaba, constatou-se que não havia um controle efetivo por parte da Agespisa. Diante desse fato, a pesquisa visa fazer o heterocontrole, que consiste no controle externo da empresa de abastecimento para saber se, de fato, o flúor está sendo inserido adequadamente e se esse benefício está sendo oferecido à população, pois, para que o flúor tenha o efeito almejado, é preciso que esteja presente numa certa concentração diariamente”, explica. Com os dados, foi possível montar, na UFPI, um serviço de monitoramento da concentração de flúor nas águas de abastecimento dos municípios piauienses que disponibilizam esse beneficio à população, como medida de vigilância sanitária. “Assim, é possível trabalharmos para que a medida exerça o maior impacto possível na prevenção e controle da cárie sem aumentar a prevalência de fluorose”, aponta. Dados mostram que o Piauí é o penúltimo no Índice de Desenvolvimento Humano - IDH entre os estados brasileiros, sobrepondo apenas o Maranhão, fato que expõe a população a privações sociais e a fatores de risco. No Piauí, a fluoretação de águas existe desde 1978, quando iniciou o benefício à população da capital, utilizando-se o Fluorsilicato de Sódio. Em 1986, a fluoretação foi interrompida e reiniciada apenas em 1997, com a utilização de ácido fluorsilícico. Nos municípios de Parnaíba e Floriano, não existem documentos públicos disponíveis sobre a implantação do flúor na água e nem registros científicos sobre o tema. Para desenvolver a pesquisa, foi necessária a coleta das amostras que compõem os municípios contemplados com fluoretação da água. A coleta foi realizada nos bebedouros de escolas públicas da rede municipal de ensino, sendo proveniente diretamente da rede de abastecimento e não de caixas d'água, refletindo a fluoretação do dia. As coletas são realizadas mensalmente, e as análises executadas utilizam eletrodo específico, acoplado a analisador de íons. Durante os meses de agosto a outubro de 2011, verificou-se, a partir da análise dos resultados parciais da pesquisa, que do total de 15 amostras avaliadas da água de abastecimento de Parnaíba nenhuma apresentou valor aceitável de flúor para o controle da cárie dentária; Segundo documento
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FOTO: ROBERTA ROCHA
Concentração de flúor na água do Piauí não apresenta doses recomendadas