Grada 48 - julio-agosto 2011

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Julio-Agosto 2011

AFronteira

Galegos em Évora no fim da Idade Média Francisco Bilou Técnico Superior de Turismo da Câmara Municipal de Évora

Deve-se à historiadora Maria Ângela Beirante os mais consistentes estudos da época medieval portuguesa, particularmente dedicados à cidade de Évora, tema, aliás, da sua tese de doutoramento (‘Évora na Idade Média’, 1988). É dela que retiramos o essencial deste texto com o qual pretendemos dar um enquadramento sobre a presença entre nós de famílias oriundas da Galiza, durante os séculos XIV e XV. A migração dos povos galegos para a regiões do sul da península Ibérica é um fenómeno que está directamente relacionado com o processo da reconquista cristã e com aquilo que Angus Mackay chamou ‘fronteira em movimento’. A fixação destas comunidades nos territórios conquistados aos muçulmanos está bem documentada em cidades como Salamanca, Ávila, Segóvia, Zamora e Sevilha. Nesta mesma cidade andaluza acomodou-se e prosperou durante séculos uma comunidade de comerciantes de pescado que a toponímia antiga registou como ‘Calle Gallegos’, à paróquia do Salvador. É também pelo século XIV que aparecem em Évora as primeiras referências directas à Rua dos Galegos. A mais antiga rua com este nome situava-se na zona norte da cidade, junto à Porta de Avis, não muito longe do arrabalde da Mouraria. Mas, a mais citada na documentação baixo-medieval é a Rua dos galegos junto ao ‘espritall de sam giaão’, nas cercanias do antigo mosteiro de S. Domingos, coincidindo genericamente com a actual Rua de S. Cristóvão que liga este antigo espaço monástico (hoje Praça Joaquim António de Aguiar) à Rua dos Penedos. No inventário dos apelidos de todas as famílias eborenses feito por Maria Ângela Beirante e que totaliza 1.694 casos entre os séculos XIII e XV, 20% dos apelidos são de origem geográfica; desses o mais frequente é o de ‘castelhano’, seguido pelo de ‘galego’ (42 registos).

Isto prova que em Évora a presença de famílias com este apelido não é só numerosa como bastante activa no quotidiano da cidade. E se os primeiros colonos chegaram para se constituírem numa classe média de pequenos proprietários rurais e urbanos, por vezes ligados aos mesteres (ofícios) como a cutelaria, serão os grandes fidalgos galegos, agora incorporados na corte régia portuguesa, os agentes de uma renovada elite urbana, poderosa e influente, como os Barbosa, os Valadares, os Marinho, os Camões e os Castro. Estes últimos intrinsecamente ligados à história de Évora, pois foram eles os primeiros governadores militares da cidade e também os últimos vice-reis de Portugal aquando do domínio filipino (1580-1640). A sua memória perdura no antigo alcácer muçulmano tomado pela ordem militar dos Freires de Évora (futura Ordem de Avis) na salvaguarda cristã da cidade -o castelo velho-, espaço ocupado pelo complexo palatino dos Castro, Condes de Basto, hoje património da Fundação Eugénio de Almeida e na bela igreja de Nossa Senhora do Espinheiro, onde se mandaram sepultar em mausoléus monumentais D. Diogo de Castro (foto), D. Lourenço Pires de Castro e D. Violante de Lencastre, duquesa de Aveiro, a quem se deve a edificação da actual capela-mor, em 1683, segundo traça do engenheiro-mor do reino Mateus do Couto.

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