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É possível identificar quando, e algumas vezes como, esses processos ocorreram. No caso do Episódio Cretáceo/Paleógeno, há 65 milhões de anos, por exemplo, a crise foi produzida pelo efeito combinado de vulcanismo intenso onde hoje se localiza o território da Índia e a colisão de um asteroide na Península de Iucatã, que hoje é parte do México. Essa extinção é bastante conhecida por ter varrido da face da Terra os dinossauros não aviários. Isso possibilitou que o nosso próprio grupo taxonômico, os mamíferos, pudesse finalmente prosperar em um mundo menos ocupado e ameaçador. Com os principais predadores retirados da cena evolutiva, mamíferos puderam se diversificar nas ordens conhecidas num período comparativamente curto: pouco mais de 10 milhões de anos. Para acompanhar o início da longa jornada dos dinossauros na Terra é preciso recuar para um passado ainda mais remoto: até pouco mais de 250 milhões de anos, no início da Era Mesozoica, quando ocorreu um evento de proporções mais dramática que o Cretáceo/Paleógeno: a maior extinção em massa de que se tem notícia, registrada há pelo menos 252,2 milhões de anos, o Episódio Permo-Triássico (Episódio P-Tr). Esse nome deriva do fato de que essa extinção ocorreu no final do período Permiano da Era Paleozoica e foi tão violento em termos biológicos que marcou a passagem para a Era Mesozoica. Duas razões principais são apontadas para esse momento dramático da história da Terra: vulcanismo de derrame intenso onde hoje está a Sibéria e impacto de um bólido celeste. Esses eventos alteraram de forma radical o clima, pela modificação relativa nas concentrações de gases atmosféricos, correntes marinhas e oxigenação dos oceanos. Além disso, a coalizão (junção) final das placas tectônicas formou o supercontinente Pangea, com a perda de linhas costeiras e das biotas que ali viviam, e geração de intensa aridez em seu centro, à semelhança do que ocorre hoje nos grandes desertos, todos muito afastados das linhas atuais de costa e do clima ameno que nelas perdura. Estima-se que nessa época a temperatura média global tenha sofrido aumento drástico de 5°C. Assim, no final do Permiano e início do Triássico, 90% da vida marinha e mais de 60% da vida continental estavam extintos. E foram necessários mais de 100 milhões de anos para que a vida voltasse aos níveis de diversidade anteriores a essa brutal extinção em massa. O início do período seguinte, o Triássico, foi marcado pela evolução de poucas formas de vida que sobreviveram ao episódio P-Tr. A Terra testemunhou a luta de uma biota empobrecida e agonizante em busca de recuperação. De fato, as rochas do Triássico inicial documentam um registro pouco abundante e muito pobre em termos de biodiversidade. Essas poucas formas biológicas sobreviventes deram origem a inúmeros grupos e vários deles prosperam até agora. Assim, a origem, tanto dos dinossauros, quanto de outros grupos estabelecidos durante o Triássico se deu em meio a uma crise nunca vista, nem antes e nem depois do Episódio P-Tr. Da fauna sobrevivente ao Episódio P-Tr, todas as grandes e principais linhagens de tetrápodes amniotas (vertebrados com quatro patas que colocam ovos com casca dura) já estavam estabelecidas havia muito tempo. O primeiro amniota recua ao Período Carbonífero. Bem no início do Permiano, sinápsidos (atualmente compostos pelos mamíferos) e sauropsídeos (agora formado pelas tartarugas, tuatara, lagartos, serpentes, jaca-
PRIMEIRO DINOSSAURO do Rio Grande do Sul foi descoberto pelo paleontólogo gaúcho Llewellyn Price, que também trabalhou em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Mas achado só foi descrito em 1970, pelo paleontólogo americano Edwin Harris Colbert.
rés, crocodilos, gaviais e aves) já haviam evoluído de formas primitivas de amniotas. O ovo com casca dura foi determinante no sucesso dos tetrápodes e, sem ele, talvez tivesse sido impossível regenerar o mundo após o Episódio P-Tr. O ovo assegura a sobrevivência do embrião em ambientes de grande aridez por preservar umidade e nutrientes em seu interior, além de garantir proteção mecânica contra possíveis impactos. Entre os sobreviventes, ancestrais dos dinossauros puderam prosperar ainda no Triássico, vindo a se tornar um dos mais importantes grupos de vertebrados a perambular sobre a Terra, ocupando praticamente todos os territórios do Pangéia ao final do Triássico. O QUE SÃO DINOSSAUROS?
JUNTAMENTE COM OS EXTINTOS RINCOSSAUROS, fitossauros, ornitosuquídeos, e os ainda viventes crocodilianos, os dinossauros integram um grande grupo de répteis arcossauromorfos. Um grupo menor, os arcossauros (composto por crocodilomorfos, dinossauros e aves atualmente) têm várias características herdadas de um ancestral comum, entre elas a presença de uma abertura extra (preenchida por pele e músculos) entre os olhos e o nariz, a fenestra antorbital. Os arcossauros dividem-se em dois grupos menores, os pseudossúquios (que incluem vários grupos extintos e os crocodilianos) e os ornitodiros (que abrangem pterossauros e os dinossauros). A diferença fundamental entre os dois grupos está na forma como os ossos do calcanhar (astrágalo e calcâneo) articulam-se entre si. A articulação dos ossos do calcanhar dos ornitodiros possibilitou uma movimentação mais eficiente dos membros posteriores nesse grupo, o que foi fundamental para o sucesso dos dinossauros. Os dinossauros são considerados um grupo monofilético, natural, ou seja, todos os dinossauros compartilham um ancestral comum que não
EM SÍNTESE Foi no Triássico (entre 252,6 e 201,3 milhões de anos) que os dinossauros tiveram ¹à y®Î Èy´Då ´¹ 2 ¹ àD´my m¹ 3ù¨ D ¹ ram rochas triássicas, onde restos fósseis de dinossauros são escavados há mais de 70 anos. Esses fósseis são reconhecidos co-
dos ù® àùȹ ®¹´¹ ¨zï `¹j ´DïùàD¨j ¹ù åy ja, todos os dinossauros compartilham um ancestral comum, não compartilhado por nenhum outro grupo de répteis. Eles exibem inúmeras características anatômicas únicas, a maioria concentrada nos os-
mo os remanescentes de dinossauros mais antigos. O Triássico foi marcado pela evolução de poucas formas de vida. Nessa época a Terra testemunhou a luta de uma biota empobrecida e agonizante em busca de recuperação. Dinossauros são considera-
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sos da cintura pélvica e do membro posterior. Essas estruturas evoluíram para tornar os dinossauros criaturas de grande diversidade postural, originando formas quadrúpedes e bípedes, com habilidade para corridas, saltos e voo, no caso das aves.