O Tio Desafio

Page 1

4 ana maria magalhães • isabel alçada • carla nazareth COLEÇÃO ZERO DESPERDÍCIO

Os sobrinhos tratam o tio António por Tio Desafio porque ele anda sempre em viagem e, quando regressa, propõe desafios surpreendentes em que todos participam com o maior entusiasmo. Desta vez, vindo do deserto do Saara, onde não se pode desperdiçar nem uma gota de água, sugere que se debrucem sobre as sobras do lanche para identificarem tudo o que vai para o lixo e fazerem uma lista, não só dos alimentos, mas de todo o tipo de trabalho que foi necessário para que aqueles produtos fizessem parte da refeição. E promete dar um prémio a quem apresentar a lista mais completa. Curiosamente, quase esqueceram o prémio à medida que foram fazendo as descobertas mais inesperadas.

o tio desafio

Uma ideia original:

com o apoio:

o tio

desafio


ana maria magalhães • isabel alçada • carla nazareth

o tio

desafio A presente edição segue a grafia do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 199O. © 2O15, ana maria magalhães e isabel alçada (Texto) carla nazareth (Ilustrações) Título: o tio desafio autor: ana maria magalhães e isabel alçada ilustrações: carla nazareth ideia original: J. Walter Thompson Revisão: J. Walter Thompson e clube do autor Design e paginação: J. Walter Thompson / carla nazareth Impressão e acabamento: printer ISBN:978-989-724-23O-4 Depósito legal: 39O293/15 1.ª edição: abril de 2O15


Quando o tio chega de viagem, a família Veiga organiza uma grande festa para o receber porque são muito amigos e todos adoram divertir-se. O tio, na verdade, chama-se António, mas os sobrinhos mais novos começaram a tratá-lo por Tio Desafio e a alcunha assenta-lhe de maravilha pois aparece sempre com ideias extraordinárias e inventa jogos que são autênticos desafios. O que não admira. Fotógrafo famoso, ganha a vida a correr mundo e, como não tem medo de nada, faz reportagem em sítios tão distantes e exóticos que as suas fotografias são cobiçadas pelas melhores revistas. As viagens constantes aguçaram-lhe a imaginação.


Da última vez, visitou o Japão e por acaso foi parar a um festival de mágicos. Claro que, na volta, trazia imensos truques na manga e transformou a festa num verdadeiro delírio. Por isso, aguardavam-no em ânsias e perguntavam uns aos outros: – Qual será a novidade que traz do deserto do Saara? Pelas cabeças mais fervilhantes passavam imagens de areia, dunas, camelos, palmeiras e oásis. Só que nada do que imaginavam seria possível de transportar ou reproduzir à hora do lanche, na sala da casa dos avós. Mal ouviram tocar a campainha, correram para a porta na maior algazarra.

– Tio Desafio! Tio Desafio!


Ele abraçou-os, ora um a um, ora aos grupos de três e quatro, na alegria do costume. Só que, ao contrário do habitual, não se apressou a anunciar extravagâncias e disse que estava cheio de fome. – Venho de uma terra onde há pouca comida, não é? Então tratem de me alimentar. Fizeram-lhe a vontade, e a mesa, que estava coberta de petiscos. depressa se esvaziou quase por completo. Sentados em volta, aperceberam-se de que passava a vista pelos restos com ar meditativo e misterioso. “É agora, é agora”, pensavam os mais novos. Não se enganavam. Porque o tio, que ainda não perdera os gestos de mágico, apontou o prato onde tinham ficado três sandes que ninguém quis e mais duas tacinhas com restos de salada de fruta. E, finalmente, propôs-lhes um desafio.

– Olhem bem para o que sobrou do lanche. Está ali meio bolo de maçã que ninguém vai deitar fora. Guardem-no e comem logo ou amanhã, não é? – É. – Então esqueçam o bolo e fixem-se no que vai para o lixo. – Para quê? – perguntou o Luís. – Já explico. Primeiro entrego a cada um papel e caneta. Tomem! Madalena, impaciente por natureza, começou a dar palpites: – Quer um desenho? Um verso? Uma mensagem? – Quero que te cales e ouças. Cada um de vocês vai escrever no seu papel a lista de tudo o que desperdiçámos neste lanche. Dou-lhes dez minutos.


Rigoroso por natureza, Joaquim quis certificar-se de que entendera a proposta. – Está-nos a pedir uma lista de alimentos? – Sim, mas não só. Alguns desses alimentos resultam de vários produtos. E todos envolveram vários tipos de trabalho. Olhem, pensem e escrevam tudo o que vos ocorrer. Quem apresentar a lista mais completa, ganha um prémio. – Que prémio? – Não digo o que é, para não se desconcentrarem. Atenção, vou cronometrar. Um, dois, três, comecem.


As três caras fecharam-se de tão concentradas, depois as três cabeças inclinaram-se sobre o papel de caneta em punho. Quando terminou o prazo, reclamaram: – Tio, afinal dez minutos não chega. – Pois não! – Nunca tinha pensado nisto, mas um simples pão tem muito que se lhe diga. – E o fiambre? E a manteiga? – Estás a esquecer a folha de alface e as frutas. O tio mostrou-se satisfeito.

– Vejo que estão no bom caminho, dou-vos mais cinco minutos. As canetas entraram em atividade frenética, de vez em quando um levantava a cabeça de olhos arregalados e debruçava-se de novo a registar a descoberta. Terminado o prazo, fez-se a leitura. Todos tinham registado pão e, ao lado, o nome dos produtos necessários para o fazer: trigo, água e sal. Mas o Joaquim acrescentou farinha de trigo. – Porque é preciso transformar o trigo em farinha. E guardá-la em armazéns até ser utilizada. – Exato, continuem. Para o fiambre, Luís não se esqueceu de mencionar carne de porco e, mesmo sem ter a certeza, acrescentou sal e outros temperos. – Está certo, continuem.


A alface nas listas dos rapazes limitava-se a ser alface, só a Madalena se lembrou da água necessária para a lavar antes de servir.

– Muito bom. E mais? – As peras, morangos e laranjas que estão aos pedaços no fundo das tacinhas – exclamou o Luís. – E também foi preciso água para lavar as frutas. Não sei se a avó pôs açúcar, mas acho que não. – E quanto ao tipo de trabalhos indispensáveis para termos estes restos de lanche em cima da mesa? Madalena e Luís desataram a falar ao mesmo tempo. – Foi preciso cultivar o trigo. – E ceifá-lo. – E transportá-lo para a fábrica que produz farinha. – Ou seja, estiveram envolvidas pessoas que trabalham na agricultura e na indústria alimentar. – Estás a esquecer-te dos motoristas que fizeram o transporte. – E tu esqueceste os padeiros que fizeram os pães.


A conclusão óbvia espoletou uma gargalhada. Mas o tio abanou a cabeça. – Não esqueceram só isso. Quem vendeu o pão, e quem o foi comprar? No primeiro caso, trabalho profissional. No segundo, trabalho doméstico. Os dois exigiram tempo e esforço. – Ó tio, e quem faz as sandes não conta? – Conta, claro. – Eu ajudei – anunciou o Luís, triunfante –; portanto, faço parte do grupo que trabalhou. – Uma parte do teu trabalho ficou ali e vai para o lixo. – Acha que devíamos ter feito menos sandes? – Numa festa torna-se difícil calcular quantidades e evitar desperdícios. Mas no dia a dia, sim. Se quisermos, melhoramos bastante nesse campo.


– Para o fiambre é preciso menos trabalho, não é? – Enganas-te – disse o tio –, ora pensa lá mais um bocadinho. Contando pelos dedos, foi enumerando: criação de porcos, abate de porcos no matadouro, transformação da carne em fiambre, embalagem, armazenamento, transporte, venda, compra... – Nunca me passou pela cabeça que não podíamos comer umas fatias de fiambre se não houvesse uma verdadeira multidão a trabalhar!


– Para a alface e a fruta, o percurso é semelhante. Semear ou plantar, regar, tratar; enfim, trabalho de campo. – Ou em estufas. – Sim. E mais: a apanha, a pesagem, a embalagem, a distribuição, a venda e a compra. – Mais a lavagem e o descasque em casa – lembrou o Joaquim. – Ajudei a preparar a salada de frutas, parte do meu trabalho também vai para o lixo e podia não ir. Se as pessoas só se servissem do que queriam comer, o que sobrasse ficava no frigorífico e servia de sobremesa para o jantar. Para a próxima, faço um alerta. – E uma linda figura – troçou a Madalena. – Quando disseres aos convidados “não tenham mais olhos que barriga”, cobres-te de ridículo. – Não posso dizer aos convidados, mas posso dizer entre nós, ou não posso? – E começar por ti – aconselhou o tio. – Mas antes de encerrarmos o assunto, vejam lá se esgotaram o tema ou se esqueceram alguma coisa.


Os primos entreolharam-se com uma expressão interrogativa estampada na face. De súbito porém, Joaquim deu um salto na cadeira. – Já sei! Esquecemos a energia, vários tipos de energia para o transporte, para os fornos, para os frigoríficos, para iluminar fábricas, armazéns, lojas e supermercados. – E as casas. – Parabéns, meus queridos sobrinhos. Estou orgulhoso de vocês e acho que merecem uma síntese que vai enriquecer as vossas descobertas. Querem? – Sim.

– Então aí vai: os produtos que mais se desperdiçam nos países desenvolvidos são os cereais, as frutas, o leite, os derivados de leite, os legumes e outros vegetais. Posso adiantar que, por exemplo, em Portugal se perde um milhão de toneladas de alimentos por ano. E que nos outros países da Europa e da América o panorama é idêntico. No mundo perdem-se mais de mil milhões de toneladas de comida por ano. Já pensaram que dava para alimentar três vezes as pessoas que têm fome?

– Sinceramente nunca pensei, mas acho incrível.


– Bom – disse o tio –, mas não está nas vossas mãos impedir que se percam alimentos no campo, que muitos sejam mal fabricados ou mal embalados e apodreçam, que outros vão para o lixo por ter passado o prazo de validade. Nem impedir que as pessoas comprem mais do que precisam, sobretudo alimentos que se estragam, porque se o fizerem acabam a meter no caixote imensas sobras. Mas nada nos impede de sermos mais cuidadosos. – E fazer o quê? – Como disse o Joaquim, não ter mais olhos que barriga. Devemos servir-nos apenas do que queremos comer para não deixar nada no prato. E há outras estratégias. Por exemplo, não comprar mais do que se vai gastar. Fazer uma arrumação inteligente, escolhendo as caixas do tamanho certo para pôr no frigorífico. – Qual é o tamanho certo? – É conforme o número de pessoas da família. Um casal só com um filho não precisa de congelar carne ou peixe que dava para sete ou oito pessoas numa caixa enorme. Como não se pode descongelar e voltar a congelar, mais de metade...

– Vai para o lixo. – E o lixo orgânico, meus queridos, acumulado nas lixeiras produz gás metano que prejudica o ambiente. Em certos casos, esse gás torna-se mais poluidor do que o fumo das fábricas.


– Ó tio, eu vou tentar não esquecer esta conversa e tornar-me mais cuidadoso.

– Eu também – disseram os outros dois. O assunto impressionara-os tanto que o prémio passou a segundo plano, mas ainda assim queimava-lhes a língua. – Qual de nós ganhou? – perguntou o Luís a medo. – Hum... o que me responder à pergunta seguinte: por que motivo regressei do deserto tão sensibilizado por estas questões? As três cabeças chegaram rapidamente à mesma conclusão, que exprimiram de maneira diferente. – Porque lá há falta de alimentos. – E nós aqui desperdiçamos. – Demais. – Pois é. No deserto não se pode desperdiçar nem uma gota de água potável! – Então quem ganhou? – Ganharam todos. O prémio é para todos.


Eles olharam em volta, na ideia de que talvez estivesse por ali um pacote escondido. Mas a surpresa era muito melhor do que qualquer prenda. – A minha próxima viagem calha em tempo de férias. Se os vossos pais deixarem, levo-os comigo. – Aonde? – À Lapónia. A terra do gelo e das renas, as simpáticas amigas dessa figura imaginária que é o Pai Natal. Querem ir? Em vez de responderem, atiraram-se-lhe ao pescoço. – Ó tio, que desafio! A viagem foi um sucesso. De volta a Portugal, o tio, imparável como sempre, fez-lhes outro desafio. – Desta vez ficamos por aqui, visitamos juntos a quinta pedagógica mais próxima e depois serão vocês a escrever uma história empolgante sobre a melhor maneira de utilizar os restos dos alimentos para os transformar em energia para o nosso planeta. Que tal? – Talvez não seja fácil, mas se o tio nos ajudar conseguimos de certeza.


sugestões de atividades 1. Indica a origem dos vários ingredientes desse prato Qual o teu prato favorito?

e todo o trabalho envolvido até estar pronto a comer.

2.

Durante um dia, anota todos os alimentos que em tua casa foram para o lixo e que ainda estavam em condições de serem aproveitados. A seguir faz uma lista de sugestões sobre como aproveitar esses alimentos.

figura e faz uma lista com atividades para cada 3. Vêumados temas. Por exemplo, dicas para: — ajudar os teus pais a planear as refeições. — medir e gerir a quantidade dos alimentos que vais cozinhar. — receitas para as sobras guardadas no frigorífico. PLANEIA AS TUAS REFEIÇÕES,

COMPRA APENAS O QUE PRECISAS.

RECICLA OS RESTOS QUE ESTÃO NO PRAto.

COMO REDUZIR O

DESPERDÍCIO

COME O QUE TENS NO PRATO. GUARDA AS SOBRAS PARA OUTRA REFEIÇÃO.

GUARDA OS ALIMENTOS NOS LUGARES CORRETOS.

COZINHA A QUANTIDADE CERTA.


em tópicos o que aprendeste 4.Escreve neste livro e apresenta-os aos teus pais e professores.

5.

Faz uma pesquisa sobre definição e benefícios da compostagem e apresenta-a na tua sala de aula.

O QUE É A COMPOSTAGEM? QUAIS OS BENEFÍCIOS?


ana maria magalhães isabel alçada Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada são coautoras de uma vasta obra de literatura infanto-juvenil. Iniciaram a carreira de escritoras em 1982, publicando os primeiros livros da Coleção “Uma Aventura”. Esta coleção obteve tanto sucesso junto dos leitores que continua a ser publicada, agora com o lançamento de um novo livro por ano. A par, dedicam-se também a obras sobre a História de Portugal em parceria com historiadores como José Mattoso, Luís de Albuquerque e outros igualmente prestigiados. Mais recentemente escreveram “histórias e lendas de várias partes do mundo” e coleções em que impera a fantasia, por exemplo, a coleção “Bruxa Cartuxa” ou a coleção de que fazem parte A Raposa Azul, a Joaninha Vaidosa, O Leão e o Canguru, sempre com a preocupação de cativar os mais novos para a leitura.

carla nazareth Nasceu em 1975, em Moçambique, e viveu os primeiros anos da sua infância entre uma aldeia minhota e a cidade de Coimbra. Mais tarde foi estudar para Lisboa e por lá ficou, enfeitiçada. Licenciou-se em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes, o que lhe permitiu, mais tarde, construir um engenho: uma caravana suspensa num balão de ar com asas de flamingo e um pequeno jardim em volta. Pintou-lhe o nome NÓSNALINHA e voou até ao Estoril, onde aterrou, pertinho do mar. Acorda todos os dias bem cedo para navegar nesta engenhoca e ir até onde o sol brilha, a luz reflete as cores... e tudo é mágico! Adora “trabalhar” para gente pequena (mas com mente gigante!) e para gente grande (com alma de criança). Colabora com diversas editoras nacionais e internacionais ilustrando livros de contos e manuais escolares. Dá aulas de artes plásticas a crianças entre os 6 e os 9 anos, formações de ilustração a adultos e, com regularidade, abre as portas da sua engenhoca para realizar workshops de ilustração. Tem participado em exposições individuais e coletivas e, como oradora, em conferências, encontros e colóquios.

PORTUGAL NÃO SE PODE DAR AO LIXO. Era uma vez um planeta onde refeições inteiras iam para o lixo todos os dias. Até que um grupo de cidadãos portugueses decidiu fazer alguma coisa sobre o assunto. Depois de muito pensar e estudar, desafiou várias empresas, escolas e instituições e criou o Movimento Zero Desperdício. este movimento recupera esses alimentos e encaminha-os para as famílias que mais precisam deles. Este livro é o quarto de uma coleção que conta histórias sobre as atitudes que podemos mudar no dia a dia para que o Movimento Zero Desperdício possa continuar a crescer e a ajudar cada vez mais gente. Espero que gostem desta iniciativa e que mantenham bem viva esta ideia que Portugal oferece ao mundo. António Costa Pereira Fundador do Movimento Zero Desperdício

Agradecimentos Isabel, Patrícia, Paula, Carlos, Nuno, Salvador, Rui e Tó, que comigo foram além-palavras e fundaram a Dariacordar. À J. Walter Thompson, que esteve na génese da criação do Movimento Zero Desperdício, e tem participado desde os “primeiros passos” nestes livros. À Câmara Municipal de Lisboa, que acreditou no Programa Zero Desperdício, para Lisboa, e logo “comprou a ideia” dos livros que serão lançados nas suas escolas de Ensino Básico. À Fundação EDP, que aceitou participar neste projeto e custear uma parte das despesas de publicação dos livros. À Fundação Calouste Gulbenkian, que é parceira da Dariacordar e da Câmara municipal de Lisboa, no Movimento Zero Desperdício para Lisboa. à ana maria magalhães, À isabel alçada e à carla nazareth, que se apaixonaram pelo projeto e criaram esta história. À editora Clube do Autor, que se juntou a este lançamento assim que soube que o Zero Desperdício queria chegar aos mais novos.



4 ana maria magalhães • isabel alçada • carla nazareth COLEÇÃO ZERO DESPERDÍCIO

Os sobrinhos tratam o tio António por Tio Desafio porque ele anda sempre em viagem e, quando regressa, propõe desafios surpreendentes em que todos participam com o maior entusiasmo. Desta vez, vindo do deserto do Saara, onde não se pode desperdiçar nem uma gota de água, sugere que se debrucem sobre as sobras do lanche para identificarem tudo o que vai para o lixo e fazerem uma lista, não só dos alimentos, mas de todo o tipo de trabalho que foi necessário para que aqueles produtos fizessem parte da refeição. E promete dar um prémio a quem apresentar a lista mais completa. Curiosamente, quase esqueceram o prémio à medida que foram fazendo as descobertas mais inesperadas.

o tio desafio

Uma ideia original:

com o apoio:

o tio

desafio


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.