“É melhor morrer na luta que morrer de fome”
Ilustração de Thiago Limón
Margarida Maria Alves nasceu em 5 de agosto de 1933, na cidade de Alagoa Grande, e foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região. Foi uma mulher forte que conseguiu fugir dos estereótipos que lhe foram impostos como mulher nordestina e camponesa. Margarida trabalhou na defesa dos direitos dos trabalhadores e, por isso, entrou em conflito com o interesse dos latifundiários, que enxergavam nela uma ameaça. No discurso realizado no dia do trabalho de 1983, na cidade de Sapé, a sindicalista declarou: “Eles não querem que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles”. Três meses depois, Margarida foi assassinada em frente à sua família a mando de um rico proprietário de usina da cidade, mas a sua voz não morreu, ela continua ecoando nos ouvidos de quem acredita na luta pela igualdade de direitos. Junior Lima
Do interior paraibano brotou uma flor que mudou para sempre a história de sua região. Nordestina, mulher, camponesa, uma flor que tinha tudo para representar a delicadeza de sua forma, rasgou o solo com a força e a resistência de um cacto e não só conseguiu lugar de destaque no seu ambiente, como foi uma mártir inspiradora onde os ecos de sua luta alcançaram. O projeto Vista Margarida, associado à marca Esqueleto de Flor, lança uma coleção de roupas inspirada na história de Margarida Maria Alves, num espetáculo intermídia que cruza as linguagens de teatro contemporâneo e desfile de moda, apresentado dia 27 de julho de 2017, no palco do Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande/PB, onde desfilou as criações indumentárias e trata como a luta da sindicalista do século passado reverberou na forma como as mulheres camponesas e as trabalhadoras rurais da região lutam pelos seus direitos e lideram iniciativas. Lucas Truta
O Vista Margarida é um projeto que celebra a liderança feminina na zona rural nordestina, criando novos olhares para essas pessoas que historicamente tiveram uma construção de dor, sofrimento, ignorância e passividade e, por isso, procurou aliar-se com organizações que são movidas pelas mulheres dessa região, que assim como Margarida Maria Alves, nossa musa inspiradora, acreditam no trabalho como caminho para a dignidade do ser humano com justiça e igualdade. As fotos deste editorial foram feitas nas ruínas da usina de Santa Maria (Pilões/PB) e na COFEP (Cooperativa de floricultores do Estado da Paraíba), uma cooperativa fundada em 1999, por iniciativa de Karla Cristina Paiva Rocha, que junto a outras mulheres da zona rural do município de Pilões, no Brejo Paraibano, buscaram uma forma de empreendimento que trouxesse autonomia financeira para quem estava restrita ao ambiente doméstico, como esposa e dona de casa. Com a ajuda do SEBRAE, decidiram que o novo negócio estaria ligado a plantação e comercialização de flores, enfrentaram os olhares de negação dos próprios maridos e familiares e venceram a barreira do machismo fazendo com que hoje a cooperativa consiga beneficiar mais de 100 pessoas direta e indiretamente com o que é produzido dentro de suas 60 estufas.
Desde a primeira visita, fomos recebidos por Dona Maria Helena, a cooperada que se coloca a frente da iniciativa, no local onde estão as estufas, que entre piadas e olhares curiosos no set, tratou nossa equipe com muito bom humor e hospitalidade, e nos mostrou que sabe liderar o espaço com primazia. O lindo cenário nos proporcionou o clima desejado para as fotos. Pudemos criar um universo bucólico e que traz as cores da região, que faz parte do universo de Margarida, sem gerar um clima lúdico, uma vez que o tema trata de uma realidade em que a fantasia dos contos de fadas não se faz muito presente. Tínhamos elementos essenciais para essa produção: A terra, a vegetação, as flores, a energia do trabalho realizado no ambiente, a história daquelas mulheres cooperadas em cada canto daquele espaço. Envolvidos nessa atmosfera campestre conseguimos levar o projeto pra um lugar de naturalidade, dramaticidade, honestidade, beleza, arte e moda. Lucas Truta “Se temos união, confiando, com fé, coragem e garra você chega em qualquer lugar do mundo.” Maria Helena Lourenço dos Santos
*Imagem retirada da internet.
A coleção tem como inspiração a simplicidade do interior, da mulher do campo e das mudanças que esse cenário vem sofrendo. Foi construida com elementos simples e compostos ao mesmo tempo e tem, além de uma mistura inusitada de tecidos, que é o DNA da marca, cores que fazem referência ao campo, à terra, ao sangue que foi derramado por Margarida [Maria Alves] e no movimento que dessa figura nasceu: a Marcha das Margaridas. A Vista Margarida é bastante colorida, pois quis retratar a força que vem dessa mulher e sua história, que mesmo sendo trágica, é cheia de esperança, alegria e diversidade. Jefferson de Souza Diretor Criativo da Esqueleto de Flor
“Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.”
Carlos Drummond de Andrade
MODELOS Carol Barbosa Juliana Cássia Kezia Erika DIREÇÃO GERAL Lucas Truta ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO Junior Lima BEAUTY Tâmara Rocha Stênio Figueiredo(URBAN BEUTY STUDIO) STYLING/DESIGN DE MODA/PRODUÇÃO DE MODA Jefferson de Souza FOTOGRAFIA Rickson Riccelli ASSISTÊNCIA DE FOTOGRAFIA Junior Lima Pablo Hasmuller DIAGRAMAÇÃO Edinaldo Barbosa PRODUÇÃO Lucas Truta Carolina Brito Sergio Almeida Germana Medeiros ORIENTADOR Duílio Cunha AGRADECIMENTOS
Maria Helena Lourenço dos Santos Cícero (MOTORISTA) Marcílio Guedes Jeanne A. Truta Aldrovando P. S. Filho Analice de Oliveira Silva Yago Lira Thiago Limón APOIO UFCG COFEP