incorporadas ao repertório de cada um deles, graças ao seu caráter prático. Imersa em atividades educativas que envolvem a produção de mídia, a juventude passa a enxergar a vida em sociedade e os meios de comunicação de forma mais crítica e sensível, de acordo com inúmeras pesquisas já publicadas sobre as práticas educomunicativas. De acordo com o Ministério da Educação, entre 1999 e 2012 foram produzidas 95 teses sobre Educomunicação no Brasil. No continente Latino-americano, a partir de 2000, foram publicadas pesquisas em diferentes abordagens relacionadas à educação para os meios de comunicação e também sobre tecnologias digitais. Àquela época, a Universidade de São Paulo resolveu focar sua atenção. “O Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) preferiu analisar os sinais que apontavam que já está surgindo uma terceira via, um campo de conhecimento na interface entre as áreas da comunicação e da educação, ao qual denominou de educomunicação”, explica Ismar de Oliveira Soares, coordenador do NCE e da Licenciatura em Educomunicação da Escola de Comunicação e Artes da USP, uma das principais referências acadêmicas do campo, reconhecido internacionalmente.
Adolescentes da Viração participam de dinâmica de integração em dia de formação
Refletindo sobre o campo
Adolescentes de Belém produzem jornal mural em escola
Divulgação
Mariana Sebastião
Novas tecnologias favorecem a produção midiática de adolescentes e jovens
O Brasil e a América Latina sofreram, nas décadas de 1960 e 70 com as ditaduras militares, que se utilizavam da comunicação e da expansão do acesso à televisão para difundir suas ideias. Para fazer frente a isso, associações ligadas à igreja, aos movimentos camponeses e à União Nacional dos Estudantes (UNE) promoviam a comunicação popular, a alfabetização de adultos, e os grupos de leitura crítica dos meios de comunicação, buscando a transformação da sociedade e do status quo. O método Paulo Freire inspirava a maioria desses movimentos e falava da importância do diálogo e da construção do conhecimento por professores e alunos: o professor não detinha o conhecimento, precisava considerar os saberes dos alunos e todos aprendiam juntos. O argentino Mario Kaplún também tomou conhecimento desse método e, no Uruguai, onde viveu, desenvolveu o método do cassete-foro, onde gravava as opiniões de comunidades rurais em fitas K7, de modo que todas se ouvissem e todas também falassem. Ele conseguiu que as dificuldades de acesso e comunicação nessas regiões fossem rompidas, que todos pudessem participar e dar seu ponto de vista sobre as questões que os afetavam. Foi em 1987 que ele utilizou pela primeira vez o termo “Edu-comunicador” referindo-se ao profissional que atuava na relação da comunicação com a educação. Existem muitos termos para se referir a esta relação. O educomunicador Cláudio Messias, em sua pesquisa de mestrado recém finalizada, detectou 12 deles só no Brasil, mas a educomunicação é a que mais se preocupa com os ecossistemas comunicativos construídos, com o processo participativo e os fluxos de comunicação, não apenas com a produção de mídia. Ismar de Oliveira Soares também participou dos projetos de leitura crítica dos meios de comunicação e, quando da fundação do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (NCE-ECA/USP), em 1997,
Revista Viração • Ano 11 • Edição 94 19
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