Cineastas Indígenas: Um outro olhar

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roupa e da cozinha, a mulher trabalha, também, o algodão e no fabrico de

cestos (txuxan), abanos (paiati) e esteiras (pixin) para uso doméstico. O plantio do amendoim é o único feito por homens e mulheres juntos. Normalmente o plantio é feito pelos homens e a colheita pelas mulheres.

A principal atividade aprendida pelos meninos é a caça. Esta possui mais

segredos que a pontaria e o olhar agudo. O rapaz aprende a observar os hábi-

nho desaparece com o uso e só é refeito por ocasião de uma festa. Em 2009, Zezinho Yube, realizador Huni Kuı˜ formado pelo Vídeo nas Aldeias, produziu

um pequeno vídeo sobre a arte da tecelagem e grafismos de seu povo, BIMI,

Mestra de Kenes. Para assistí-lo acesse o link:

http://www.videonasaldeias.org.br/2009/video.php?c=80

tos de cada tipo de animal, a reconhecer seus rastros (kene), a imitar os gritos

e assobios. A sorte na caça é crucial para o prestígio, e as causas da falta de

sorte nem sempre são claras. Por isso, existem muitos remédios (dau) e práticas ritualizadas para conseguir a condição de marupiara (bom caçador).

A maior parte das técnicas de pesca pertence igualmente ao domínio

dos homens. No tempo que os Huni Kuı˜ habitavam as terras mais altas e

afastadas dos rios, a pesca era uma atividade secundária se comparada com a caça. Hoje em dia, porém, a pesca é igualmente apreciada.

Quanto à produção de borracha, os Huni Kuı˜ produzem muito menos do

que os seringueiros que vivem da borracha com dedicação exclusiva. Em

algumas comunidades, a borracha serve como pequena fonte de renda. Uma boa parte da renda é proveniente da tecelagem das mulheres. A relação dos Huni Kuı˜ com a seringa, no entanto, remonta à história de seus

primeiros contatos com o homem branco, sua história de colonização e ca-

P i n t u r a c o rp o r a l c o m j e n i pa p o com o mesmo grafismo usado nos

tiveiro. (Ver os filmes Já Me Transformei em Imagem e Novos Tempos para saber mais sobre o processo de colonização, resistência e transformação deste povo.)

Arte

O Kene Kuin, “desenho verdadeiro”, é uma marca importante da

te c i d o s | foto : V i n c e nt Ca r e l l i

Rituais O conjunto de rituais que acontecem a cada três ou quatro anos no

xekitian, tempo do milho verde (dezembro e janeiro), é chamado de nixpupimá, “batismo” Huni Kuı˜. O nixpupimá é um rito de iniciação. A partir do momento

identidade Huni Kuı˜. Para eles o desenho é um elemento crucial na beleza

em que “comemoram” pela primeira vez nixpu, os bakebu (crianças) tor­­nam-se

ocasião de festas, quando há visitas ou pelo simples prazer de se arrumar. A

a serem iniciados nas tarefas e nos papéis específicos de seu sexo.

da pessoa e das coisas. O corpo e o rosto são pintados com jenipapo por pintura com jenipapo é uma atividade exclusivamente feminina.

txipax e bedunan, meninas e meninos. Eles são diferenciados pelo sexo e aptos

O txidin, parte da seqüência do nixpupimá, acontece anualmente no

Os mesmos motivos, ou desenhos básicos, usados na pintura facial, são

xekitian, tempo do milho verde, ou depois de um rito funerário por uma

na pintura dos banquinhos. A pintura é associada a uma fase de novidade

pela perda podem ameaçar a vitalidade e o bem-estar da comunidade, e o

encontrados na pintura corporal, na cerâmica, na tecelagem, na cestaria e na vida do objeto ou da pessoa. O desenho chama a atenção para as novidades na experiência visual, que anunciam eventos cruciais da vida. O dese-

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morte importante (um chefe ou xamã). A saudade e a tristeza provocadas

txidin serve para reforçar a fé na vida e levantar o ânimo: sua finalidade é proteger os vivos.

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