Catálogo 2006 - Vídeo nas Aldeias

Page 1

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS Um olhar indígena

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION Through Indian Eyes

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS

apoio:

patrocínio:

um olhar indígena VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION Through Indian Eyes


MOSTRA Vテ好EO NAS ALDEIAS

um olhar indテュgena VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION THROUGH INDIAN EYES


VÍDEO NAS ALDEIAS Mari Corrêa(diretora), Vincent Carelli(diretor) Altair Paixão, Carlos Alberto Ricardo, Henri Arraes Gervaiseau, Lucila Meirelles, Nietta Lindenberg, Renato Gavazzi, Sérgio Bloch, Vera Olinda Sena. REALIZADORES INDÍGENAS

Durvalino Chagas (Piratapuia), Edimar Cordeiro (Piratapuia), Leonardo Ferraz (Tukano), Roberto dos Santos Ferreira (Baré), Takumã (Kuikuro), Amuneri (Kuikuro), Marica (Kuikuro), Asusu (Kuikuro), Maluki (Kuikuro), Jairão (Kuikuro), Komoi (Panará), Paturi (Panará), Caimi Waiassé (Xavante), Jorge Protodi (Xavante), Divino Tserewahú (Xavante), César Tserenhõ (Xavante), José Tsopre Wado (Xavante), Kumaré Txicão (Ikpeng), Natuyu Txicão (Ikpeng), Karané Txicão (Ikpeng), Isaac, Benki e Valdete Pinhanta (Ashaninka), Jaime Lullu (Manchineri), Maru Domingos (Kaxinawá), Araduwa (Waimiri) Iawusu (Waimiri), Kabaha (Waimiri), Sawá (Waimiri), Wamé (Atroari), Sanapyty (Atroari), Winti (Suyá), (Makuxi), (Yanomami), Aldaiso Vinya (Yawanawá), Paulo (Yawanawá), Zezinho Yube (Hunikui), Josias Mana Kaxinawa (Hunikui), Vanessa Ayani (Hunikui), Tadeu Siâ (Hunikui), José Mateus Itsairu (Hunikui), Fernando Siã (Hunikui).

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS

um olhar indígena VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION THROUGH INDIAN EYES

ENTIDA D E S PA RCEIRA S

OPIAC, APIWTXA, CPI-Acre, ISA, ATIX, IAKIÔ, AIKAX, KISEDJE, MOYGU, AMAIAAC, CIR COORDENAÇÃO DA MOSTRA

Mari Corrêa, Sérgio Bloch, Vincent Carelli ASSISTENTE DE COORDENAÇÃO

Olívia Sabino PRODUÇÃO

Pedro Rampazo, Geórgia Oliveira, Kakau Teixeira TEXTOS E CONVERSA

Mari Corrêa, Isaac Pinhanta, Jean-Claude Bernadet, Eduardo Escorel, Andréa França, Sérgio Bloch, Vincent Carelli e Eduardo Coutinho O F IC I N A D E VÍD EO

Tiago Torres e Mari Corrêa R E V IS Ã O D E TEX TO

Gabriel Bogossian T R A D U Ç Ã O PA RA O ING LÊS

Sarah Bailey, David Rodgers AG R A D E C I M ENTO S

Alfredo Manevy, Aurélio Vianna, Mônica Cristaldi, Tânia Anaya, Beth Formaggini, Dora Nascimento, Kristian Bengtson, Zita Carvalhosa, Kleber Gesteira Mattos, Vera Olinda Sena, Carlos Alberto Ricardo, Carlos Fausto, Bruna Franchetto, Fernando Adolfo, Graça Coutinho, Érika Bauer, Sergio Bacelar, Antônio Augusto Arantes, Ana Gita de Oliveira, Márcia Sant´anna, Bia Souto, Chica Carelli, Juca Ferreira, Jordana Berg, João Moreira Salles

17 a 23 de abril de 2006


C

om o ressurgimento e o fortalecimento contínuo em nú-

With the resurrection and continuous

meros reais dos povos indígenas no Brasil, a missão da

strengthening in absolute numbers of the

ONG Vídeo nas Aldeias é mais urgente agora do que nunca, para prover os povos indígenas de recursos e acesso ao veí-

indigenous peoples in Brazil, the mission of the NGO Vídeo Nas Aldeias (Video in the Villages), is more urgent than ever; to provide indigenous

culo de mídia mais importante do século: a imagem em mo-

peoples with means and access to the most

vimento. Formando realizadores indígenas, o Vídeo nas Al-

important media vehicle of the century: the

deias ajuda na preservação das culturas indígenas, munin-

moving image. By forming Indian video

do-os com uma ferramenta que eles mesmos escolhem co-

producers, Vídeo nas Aldeias help in the

mo, quando e onde usar. Os resultados agradam tanto aos olhos como à alma. As

preservation of indigenous cultures, providing a tool that the Indians themselves choose how, when and where to use.

percepções raras na vida cotidiana dos “primeiros povos do

The results are appealing to the eyes and

Brasil” não servem só para preservar as tradições e a cultu-

the soul. Rare insights into the ordinary life

ra dos muitos povos indígenas no país, mas também atuam

of Brazil’s “first people” serve not only to

como uma ferramenta política poderosa. “Nós existimos,

preserve the traditions and culture of the

aqui mesmo, agora mesmo, e exigimos que sejamos vistos e ouvidos”, é o que as produções parecem transmitir para todos nós. A ONG Vídeo nas Aldeias tem sido parceira da Norad (Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento) desde 1995. O Programa Norueguês para Povos Indígenas está presente no Brasil desde 1983, principalmente por

many Indigenous peoples in Brazil, but also act as a strong political tool. “We exist, right here, right now, and we demand to be seen and heard”, is what the productions seem to broadcast to all of us. Vídeo nas Aldeias has been a partner of the Norwegian Agency for Development Co-operation - Norad, since 1995. The Norwegian Programme for Indigenous Peoples is present in Brazil

meio do fornecimento de apoio institucional para associa-

since 1983, mainly through the providing of

ções e organizações Indígenas. Assim, é com grande alegria

institutional support to Indigenous associations

que a Norad vê essa nova mostra de filmes e outra edição

and organizations. Thus, it is with great joy

do catálogo “Vídeo nas Aldeias” disponível para o público.

that Norad sees yet another “Video in the Villages” exhibition and catalogue edition

Kristian Bengtson

available for the public.

A S S E S S O R PA R A A S S U N T O S I N D Í G E N A S EMBAIXADA DA NORUEGA EM BRASÍLIA

KRISTIAN BENGTSON ADVISER FOR INDIGENOUS ISSUES E M B A S S Y O F N O R WAY I N B R A S I L I A


índice | contents Vídeo nas aldeias no olhar do outro

8

V IDE O IN T HE V IL L AGE S F ROM T HE OT HE R´ S V IE W P OINT

Mari Corrêa

Você vê o mundo do outro e olha para o seu

11

YOU S E E T HE W ORL D OF T HE OT HE R AND YOU L OOK AT YOU R OW N

Isaac Pinhanta

Vídeo nas aldeias, o documentário e a alteridade

20

V IDE O IN T HE V IL L AGE S , DOC U M E NTARY AND “OT HE RNE S S ”

Jean Claude Bernardet

Nós aqui e vocês aí

24

US OV E R HE RE AND YOU OV E R T HE RE

Eduardo Escorel

A livre afirmação dos corpos como condição do cinema

28

T HE F RE E AF F IRM AT ION OF BODIE S AS A C INE M AT IC C ONDIT ION

Andréa França

Conversa a cinco

34

Eduardo Escorel, Eduardo Coutinho, Mari Corrêa, Sérgio Bloch e Vincent Carelli

Realizadores indígenas

49

NAT IV E V IIDE OM AKE RS

Vídeo nas aldeias

83

V IDE O IN T HE V IL L AGE S

Rituais e mitos

94

RITUALS AND MITHS

Xamanismo

97

SHAMANISM

Conflitos

100

C ONF L IC TS

Projetos amazônicos

103

AMAZONIAN PROJECTS

Índios no Brasil

106

INDIANS IN BRAZIL

Índio na TV INDIAN ON TV

117


Vídeo nas Aldeias no olhar do outro

apenas para preenchê-los com um arremedo do modelo vigente. Foi pensando em ocupar criativamente estes espaços que começamos a formar os realizadores. E já vemos nesses

MARI CORRÊA

primeiros filmes produzidos a manifestação de um olhar, ou

Documentarista e diretora do Vídeo nas Aldeias Film-maker and director of Video in the Villages

melhor, de muitos olhares singulares, que são também fruto do encontro deles conosco. Acreditamos que é fundamental acabar com a crendice da pureza; precisamos abrir mão da imagem do índio ideal, pois

N

este ano de 2006 vamos completar nove anos de oficinas de formação de realizadores indígenas. São vinte

vídeos feitos por eles e produzidos pelo Vídeo nas Aldeias. Feitos por eles? O que isso quer dizer exatamente? Nesse novo catálogo-livro abrimos espaço a essa refle-

We are completing our ninth year of training workshops for indigenous film-makers. There are

ela faz mal aos índios e a nós. Hoje, na maioria das vezes, antes de chegarmos nas aldeias, a Globo já chegou com a novela, o Fantástico, o Jornal Nacional. Ou seja, nós não desvirginamos aldeias com nossas camerinhas digitais. O

twenty videos made by them and produced by Vídeo

que nos propomos a fazer, quando somos convidados por

xão, convidando realizadores e críticos que admiramos para

nas Aldeias. Made by them? What exactly does that

eles, é levar para a comunidade um instrumento de diálogo

dar início ao debate. Queremos ouvir o que esses filmes,

mean? In this new catalogue we have raised this

com mundo exterior, indígena ou não, e a possibilidade de

oriundos de oficinas e portanto híbridos, dizem às pessoas

question by inviting film-makers and critics that

se apropriarem de sua imagem. Aprendem a fazer filmes e a

que fazem e pensam o cinema.

we admire to begin the debate. We want to hear

se filmarem, passando de objetos de observação a sujeitos

Quando iniciamos o trabalho de formação, Vincent Carelli e eu – documentaristas e coordenadores do projeto – optamos por um jeito de ensinar e de fazer filmes que refletia

what these films, originated from workshops and therefore hybrid, have to say to the people that make and think cinema.

do discurso. Neste processo, a linguagem que procuramos desenvolver é a que se contrapõe à da televisão de hoje,

When we began this training work, Vincent

estereotipante e folclorizadora das diferenças. Se ela ainda

as nossas próprias escolhas e preferências. Temos consciên-

Carelli and I – documentarists and coordinators of

não traduz totalmente estéticas indígenas inovadoras, é

cia da nossa influência na forma de ser desses filmes. É pos-

the project –, chose a way of teaching and of

talvez e em parte porque ainda esteja descontruindo a es-

sível evitá-la? Todo aprendizado não é, ou deveria ser uma

producing films that reflected our own choices and

tética televisiva, esta sim, o verdadeiro padrão dominante

negociação entre o universo de conhecimento pré-existente

preferences. We are aware of and assume our

no Brasil.

e os novos saberes?

influence in the style/ construction of these films.

Como instrutores das oficinas, esse processo de intera-

Could this have been avoided? Isn’t every learning process a negotiation between a preexisting

O tempo indígena, se houvesse só UM tempo indígena, também está em transformação e hoje muitos deles usam

ção exige de nós pensarmos a formação do realizador indí-

universe of knowledge and the new knowledge?

relógio e descansam no domingo. E isso não é ruim em si.

gena a partir de sua vivência coletiva e experiência pessoal,

As workshop instructors, this process of interaction

Quando os índios falam em fazer vídeo para “preservar a cul-

levando em conta a nossa diferença de valores, de conheci-

demands that we think training for the indigenous

tura”, eles sabem muito bem que não se trata de tentar

mentos e códigos. Este é o ponto de partida.

film-maker on the basis of his/her collective life

guardá-la no formol. Como diz Isaac2 , do povo Ashaninka:

and personal experience, taking into account our

“O trabalho que a gente faz é também um pouco para nós

Enquanto alguns ainda discutem se esta tecnologia é apropriada a eles, se devemos ou não levá-la para as aldeias, se ela representa ou não uma dominação cultural, os

differences in values, knowledge and codes. That is the starting point. While some still question whether or not this

mesmos refletirmos sobre nós. O sentido da palavra preservação não é de fixar, de deixar as coisas ali. Preservar e

índios, mundo a fora, fazem filmes para suas aldeias, para

technology is appropriate for them, and whether it

ninguém mexe, ninguém modifica nada – isso não tem como

a televisão e para o cinema. Atarnajuat, feito por e com

represents a form of cultural domination, Indians

fazer. Quando a gente fala em preservação é no fortaleci-

around the world are making films for their villages,

mento. Preservar quer dizer você ter cuidado, preservar no

for television and for cinema. Atarnajuat, made by

sentido de fortalecer essa cultura em que nós estamos. E

and with the Inuits, and based on a traditional

eu digo: o que a gente tem no passado é do passado. Vamos

Inuits a partir de uma história

tradicional1,

é um feliz exem-

plo do que já estão fazendo hoje. Sem dúvida nenhuma, a linguagem audiovisual é uma questão importante a ser levantada porque sabemos que não é suficiente conquistar espaços de visibilidade se for 1. Atarnajuat, filme de Zacharias Kunuk, ganhou o prêmio de melhor primeiro filme no Festival de Cannes 2001.

8

Vídeo nas Aldeias from the other’s viewpoint

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

story1, is a happy example of what they are already doing today.

1. Atarnajuat, a film by Zacharias Kunuk, won the prize of best first film in the 2001Cannes Festival.

lembrar, vamos discutir, vamos estudar como foi aquilo, mas vamos trabalhar o hoje para o futuro. De que forma a gente 2. Entrevista de Isaac Pinhanta, realizador e professor ashaninka, em “Tratado de alteridade” – Cinestesia.

The audiovisual language is obviously an important issue to be raised because we know that it is not enough to conquer visibility in order to exhibit yet more of the current model. It was in by thinking on a form of occupying these niches in a creative way that we began to train the film-makers. And we can see in these first films produced the manifestation of a viewpoint, or rather, of many distinct viewpoints, that are also the fruit of their encounter with us. We find it essential to put an end to the myth of purity. We need to abandon the image of the ideal Indian. It is neither good for the Indians nor for us. Today, in most cases, before reaching a village, we find TV Globo has been there first. We do not deflower villages with our little digital cameras. What we propose to do is to bring the community an instrument to help create a dialogue with the outside world, indigenous or otherwise, and the chance for them to appropriate their image. They learn to make films and to film themselves, no longer as objects of observation but as subjects of the issue. The language that we seek to develop is that which counterbalances today’s television, which stereotypes differences. If it still does not totally translate innovating indigenous aesthetic styles, perhaps it is partly because it is still ‘undoing’ the dominating television aesthetics, which have virtually taken over quality standards in Brazil. Indigenous time, considering the existence of just ONE indigenous time, is also in transformation and nowadays the majority of Indians uses watches and rests on Sundays. And this is not intrinsically a ‘bad’ thing. When the Indians speak of making videos to “preserve their culture”, they know full well that it is not a question of keeping it in formaldehyde. As Isaac2, of the Ashaninka says: “Our work is also, in a certain way, a form of reflecting about ourselves. The meaning of the word preservation is not one of fixing things. “Preserving for no-one to modify anything“– There’s no way we can do that... When we speak of preserving, it is of strengthening. Preserving in the sense of strengthening the culture in which we live. And I say: what we have had in the past is past.

2. Interview with Isaac Pinhanta, Ashaninka film-maker and teacher, in “Tratado de alteridade” - Cinestesia

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

9


vai se adaptar a esse mundo de hoje e construir uma vida melhor?”. O Vídeo nas Aldeias quer contribuir com o desejo deles de preservar a cultura sem pô-la em lata de conserva, de dialogar com a nossa sociedade sem ter que se vestir de “índio puro”, de fazer filmes sem precisar eternamente que os brancos expliquem quem são eles. São deles esses filmes produzidos por nós? Qual é o grau da nossa interferência? O que não devemos ensinar? Quando esses filmes serão de fato os filmes deles? Não há respostas prontas para essas questões e tampouco somos os donos delas. Independente de termos aqui estas respostas, uma coisa é certa: são filmes que eles reivindicam como deles. Está lançado o debate. Os textos a seguir são, aos nossos olhos, interessantes por vários motivos: são discordantes em muitos pontos, em alguns momentos totalmente antagônicos, revelando sensibilidades e pontos de vista diferentes. Aqui a alteridade é o grande tema. A estranheza do Outro afasta uns, aproxima outros e, em todos os casos, remolda o olhar e não deixa ninguém indiferente. A expectativa que o Outro produza algo completamente “outro”, diferente de tudo o que conhecemos, pode decepcionar. A imagem preconcebida e idealizada que se tem dos índios, que é fruto da distância e do desconhecimento, faz com que às vezes se pense que somos nós, os instrutores das oficinas, os únicos responsáveis por eles filmarem como filmam, por esses filmes serem como são. Espera-se deles que façam para nós a revolução da linguagem cinematográfica, e esta é uma grande responsabilidade para iniciantes. Estes textos são, antes de tudo, reflexões e questionamentos exigentes sobre o nosso trabalho. Entusiasmados mas não condescendentes, eles nos sacodem e nos interpelam com algumas avacalhadinhas providenciais. E nós agradecemos pela contribuição que eles nos oferecem. Quero terminar citando mais uma vez o Isaac: “A gente tem que entender para conviver com o diferente. Não tem nada que você tenha do seu conhecimento próprio: tudo foi descoberto, tudo o que tem na nossa cultura foi descoberto. Nós aprendemos. Seja com a natureza, com os animais, com as plantas, seja com as outras culturas, nós fomos aprendendo com a vida.”.

10

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

Let’s remember, let’s study how it was like, but let’s work now and for the future. In what way are we going to adapt it to the world of today and build a better life?” Vídeo nas Aldeias wants to contribute with their desire to preserve – without saving it like canned food – indigenous culture in dialogue with our society without having to dress them as “pure Indians”, by making films without needing to be eternally what the whites make them out to be. Are these films that we produced theirs? What is the degree of our interference? What should we not teach? When will these films really be their films? There are no ready answers for these questions and neither are they ours. Irrespective of our having the answers here at our finger-tips, one thing is certain: they are films that they claim as their own. The debate is launched. The following texts are interesting for a number of reasons: they disagree in many points, in some moments they are totally antagonistic, revealing sensibilities and different points of view. Here otherness is the great theme. The strangeness of the Other keeps some at a distance, brings others closer; in all cases it shapes the viewpoint and leaves nobody indifferent. The expectation that the Other would produce something completely “other”, different from everything we know, can disappoint. The pre-conceived and idealized image that one has of the Indians makes people think sometimes that it is us, the workshop instructors, the only ones responsible for their filming the way they do, for these films being what they are. It is hoped that they may perform for us the revolution of cinematographic language, and that is a great responsibility for beginners. But these texts are, above all, reflecting and demanding questionings about our work. Enthusiastic but not condescending, they give us a shaking and challenge us with some timely clowning. And we thank them for the contribution that they offer us. I want to close by quoting Isaac once more: “We must understand in order to live with the different. There is nothing that you have from your own knowledge: everything has been discovered, everything in our culture was discovered. We learn. Either through nature, with animals, with plants, from other cultures, we have always learnt from life.”

Você vê o mundo do outro e olha para o seu ISA AC PIN HA N TA

Professor e realizador Ashaninka Ashaninka teacher and film-maker

F

ui o primeiro professor da minha aldeia. Eu estudei na cidade um ano e daí fui para o projeto da Comissão

You see the world of the other and you look at your own

Pró-índio1. A partir de 93, comecei a trabalhar com educação bilíngüe, alfabetizando em minha língua mesmo, a

I was the first teacher in my village. I studied

língua materna, que é a língua Ashaninka. Só era eu como

in the city for one year and then participated

professor na minha aldeia e também foi todo o início da

in a project run by the Comissão Pró-Índio1.

organização, da criação da associação, da cooperativa…

In 1993, I began working with bilingual

Foi através da Comissão Pró-Indio, em 1998, que conhecemos o Vídeo nas Aldeias. O curso era lá em Rio Branco mesmo. A gente ia até a cidade e pegava algumas imagens dos índios que viviam lá. Foi um curso pequeno, para quatro

education, teaching in my native language, the mother tongue, which is the Ashaninka language. I was the only teacher in my village and this was the beginning of our organization, the start of the association, the cooperative

professores: Marú Kaxinawá, Jaime Lullu Manchineri, Al-

society... In 1998, the Comissão Pró-Índio

daíso Yawanawá e eu. Fizemos a edição de um vídeo, que

brought us in contact with Video nas Aldeias

é o “Pega não pega”, sobre DST.

(Video in the Villages). The workshop was in Rio Branco. We would go to the city and film

PRIMEIRA OFICINA NA ALDEIA

the Indians that lived there. It was a short

Em 1999, teve uma oficina na minha aldeia, foi quando a

workshop for four teachers: Maru Kaxinawa,

comunidade toda também participou. Foi o nosso primeiro

Jaime Lullu Manchineri, Aldaiso Yawanawa and

trabalho de vídeo. Tinha um Katuquina, um Kaxinawá, um Manchineri, um Kulina, um Kanamari e três da nossa aldeia Ashaninka.

myself. We edited a video about STDs, called “Pega não Pega”2.

The first workshop in the village

Antes, a gente teve uma reunião com todo mundo so-

In 1999, a workshop was held in my village and

bre o que a gente queria fazer. A gente falou assim: “Olha,

that was when the entire community participated.

se vocês não querem vídeo, a gente tira” e as pessoas di-

It was our first time working with video in the

ziam “Não, a gente quer”. A comunidade continuou a sua

community. There was one participant from each

vida normal. Quando começou a oficina, a gente partiu

of the Katuquina, Kaxinawa, Manchineri, Kulina,

para o campo, para pegar as imagens. Fizemos o primeiro

and Kanamari tribes, and three participants

exercício e depois sentamos, todos os alunos, e assistimos. Um vê o que outro faz e pode dizer “essa imagem tá boa, essa não tá boa”. Quando a gente já trabalhou um pouco a imagem, a gente começa a trabalhar o conteúdo.

from our Ashaninka village. Before the workshop, we held a meeting with everyone to discuss what we wanted to do. We said: “Look, if you don’t want video, we’ll get rid of it.” And the people said: “No, we want to watch.” And so, life in the community continued

1. Programa de formação de professores indígenas, realizado pela Comissão Pró-Indio do Acre.

as usual. When the workshop began, we set out to collect images. We did the first exercise and

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

11


Aí os alunos já começam a discutir o que eles querem fil-

then all the students sat and watched. One would

Mas para a comunidade era uma novidade, as pessoas fi-

I began to observe and to become more

mar, o que eles querem mostrar naquele filme.

see what the other did and say: “Look, this shot

cavam vendo a tv, assistindo a novela... assistindo essa

interested as well.

is good, that one’s not”. When our technique

coisas. Isso foi antes da gente ter contato com o Vídeo

The truth is that I was the one who had not

nas Aldeias. Quando chegou o vídeo lá, chegou alguma

wanted to get involved with video because, as a

No caso do “No tempo das chuvas”, fomos mostrar algumas atividades que acompanham o tempo das chuvas. Pegamos o meu pai e mais dois velhos da aldeia, para eles contarem o que acontece nessa época. Eles contaram a história todinha: “Olha, no tempo das chuvas, a gente faz isso, a gente não faz aquilo”. Ele falou que a gente tem que criar galinha porque às vezes cai uma

had improved some, we began to work on the content. At this point, the students began to discuss what they wanted to film and what they wanted to show through the film. In the video “In the rainy season”, we

coisa que pôde substituir isso. Agora a gente pode trabalhar com a nossa própria imagem e com a imagem de outros povos. A aldeia inteira vinha assistir a sua imagem,

and identity of my people. When the municipal government installed a TV channel and antenna in the village, I cut them off. I didn’t want the

wanted to show some of the activities that

as coisas que eles mesmos tinham falado. Acontecia de

government to come and install this in the

happen during the rainy season. We asked my

você ir filmar as pessoas e algumas se esconderem, cor-

village. But, for the community, it was a novelty.

chuva grossa e não pode caçar, a gente mata uma gali-

father and the two elders of the village to tell us

rerem. Eu falei “quando for filmar alguém e aquela pes-

The people watched TV, soap operas... they

nha, come o ovo dela. Aí meu pai falou: “O tempo das

what happens during that season. They told the

soa fugir, a gente não vai correr atrás dela não, a gente

watched these things. That was before we had

chuvas ninguém manda nele, quem manda é outra coisa

entire story: “Look, during the rainy season we

deixa”. Algumas pessoas não queriam mostrar a sua

contact with Video in the Villages. When video

maior, que é Pawa, ele é quem manda. Por isso a gente

do this and we don’t do that.” They said that

imagem, mas queriam assistir. Tem branco também que

arrived, it was something that could substitute

tem que respeitar e tem que se organizar nós na terra.”

we need to raise chickens because sometimes a

não quer ser filmado, você bota a câmera nele e ele se

TV. We could interact with images of ourselves

A gente viu que o depoimento deles dava para contar

heavy rain falls and we can’t hunt, so we kill a

esconde.

uma história. Então fomos pegar essas imagens que eles falaram, a gente foi para o campo e foi pegando. As pessoas são muito divertidas, elas lá brincando, contando histórias, fazendo seu trabalho no dia-a dia. Demorou muito tempo, porque a gente não sabia mexer bem com

chicken and eat her eggs. Then my father said: “No person can control the rainy season. Something greater, Pawa, holds this power. That is why we must be respectful and organize ourselves here on earth.” We saw that their statements could be used to tell a story.

and the people of other tribes. The entire village

As pessoas da aldeia gostam de assistir os vídeos de outros povos. Mas o trabalho dos Ikpeng2, que estão to-

came to see themselves and hear the things they said. You’d film people and some would run away and hide. I said: “When we film someone and

dos pelados, as pessoas não queriam assistir não, algu-

they run away, we’re not going to run after them.

mas pessoas saiam, porque meu povo sempre usou roupa

We let them go”. Some people didn’t want their

tradicional. Depois a gente foi entendendo, porque vimos

image to be seen and others wanted to see their

zoom, fazer o foco direito. Muitas das fitas não serviam

So we filmed the scenes they had described, we

mais de quinze povos diferentes nos vídeos e cada um

images. There are white people also who don’t

para nada, porque a imagem não dava para aproveitar. A

went to work filming. The people are very fun –

tinha uma maneira dentro da sua cultura. Os Ikpeng ti-

like to be filmed – you put a camera in front

gente voltava e ia analisar como estava. Então foi assim,

playing, telling stories, doing their day-to-day

nham uma cultura muito forte. Outros não tinham mais

of them and they hide as well.

o que construiu o filme mesmo foi o depoimento dos ve-

work. It took a long time because we didn’t

nada da cultura deles mesmos. Então, o pessoal começou

lhos, mas foi a gente que escolheu o tema.

know how to use the zoom or how to focus

a analisar também isso: aquele que já não tem mais nada,

Quando a gente começou a assistir as imagens que fi-

well. Many of the tapes were useless because

aquele tem um pouco, aquele que já esta perdendo. E nós?

zemos na aldeia, me chamou a atenção a importância desse

we couldn’t use any of the footage. We went

A comunidade, quando via a sua imagem na televisão,

trabalho, de descobrir coisas que estavam no meu povo

back and analyzed all the footage. So, this

queria olhar mais. Foi muito interessante. Na aldeia mesmo

is how it went, the film was constructed

traditional clothing. Later, after seeing more than

ali e que muita vezes eu não via no dia-a-dia. Como a

a gente fez a edição e a tradução das falas para legendar

around the elders’ statements, but we had

15 different tribes in the videos, each with a

gente já era professor, já tinha esse trabalho de refletir

o vídeo. A gente trabalhou uns vinte dias, eu acho. Foi

different culture, we began to understand. The

muito tempo porque tinha muita coisa que aprender du-

Ikpeng had a very strong culture. Others had

rante o curso.

nothing left of their own culture. So, we began

sobre a organização, de trabalhar a questão da cultura, da língua. Eu comecei a observar e a me interessar também. A verdade é que quem tinha essa visão de não querer entrar nessas coisas de vídeo era eu que, como professor, estava fazendo um trabalho de fortalecimento da cultura

chosen the topic. When we began to watch the footage, I was struck by the importance of this work, of discovering things about my people that I often overlooked in day-to-day life. Since we were already teachers, we had the responsibility of

didn’t want to see the video made by the Ikpeng, in which everyone is nude3. Some people left, because in my tribe we have always used

analyzing this as well: tribes that have none of

Lá o Bebito3 fez o produto final do trabalho. Quando a gente assistiu o vídeo pronto lá na aldeia, “No tempo das

thinking about the way in which we organize

chuvas”, o pessoal começou a se envolver. Foi interes-

tena parabólica eu já cortei, eu não queria que de

ourselves and our work, culture, and language.

sante se ver no vídeo porque surgiu aquela questão da

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

made by other indigenous peoples. But they

their culture, tribes that have some, and tribes

e da identidade. Quando chegou a tv da prefeitura e a an-

1. Programa de formação de professores indígenas, realizado pela Comissão Pró-Indio do Acre.

The people in my village like to watch videos

A gente terminou o resto fora da aldeia, em São Paulo.

repente o governo chegasse e implantasse isso na aldeia.

12

teacher, I was working to strengthen the culture

that are beginning to lose their culture. And what about us? When the people first saw themselves on TV, they wanted to see more. It was really interesting. We edited and translated peoples’

1. The Indian Commission of Acre runs a program to train indigenous teachers. 2. “How to catch it, how not to catch it”

2. “Moyngo, o sonho de Maragareum” realizado por Karané, Natuyu e Kumaré Ikpeng. 3. Bebito – apelido de Valdete – é irmão de Isaac, também professor e realizador na sua aldeia.

3. This video, entitled “Moyngo, o sonho e Maragareum”, was made by Karané, Natuyu and Kumaré Ikpeng.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

13


festa, da música não ser a nossa. Aquilo já é de outro po-

speaking in order to make subtitles for the video

coisa que você está vendo ali, está discutindo, todo mun-

and asked me to make copies of it to show in

vo, vem do contato com outra sociedade. Aí eu comecei

while we were in the village itself. We worked

do está entendendo. O vídeo traz uma coisa muita mais

municipal schools. I explained the content

a perceber que o vídeo podia servir para discutir a nossa

for about 20 days I think. It was a long time

rica, que é você ver a pessoa falando com a sua própria

to him, what it meant to us, what we do.

cultura, organizar a escola, pensar em todo nosso sis-

because there was a lot to learn during the

palavra. O material didático é uma coisa mais fechada,

tema de vida. Por mais que o povo fale sua própria língua, tenha a cultura forte, tem algo de fora que também está entrando ali e a gente não está nem percebendo.

workshop. We finished the rest of the video outside of the village, in São Paulo. That’s where Bebito4

worked on the final version. When we

saw the finished version of “In the rainy season”

Quando eu encontro os professores não indígenas, eles

to all the classes. It was important that this video was shown near our village to people who discriminated against us saying, “What do they

ficam comentando, querendo saber. Por mais que alguns

want all this land for, Indians are lazy...” Through the video, they learned that we are organizing

Então o vídeo serviu muito nas discussões com a comu-

in the village, people began to get involved.

estejam bem pertinho da aldeia Ashaninka, eles não co-

nidade, por exemplo, para que usar o gravador, para que

It was interesting to see yourself in the video

nhecem quem é o Ashaninka, então passa um Ashaninka

ourselves and planning for the future. I think

serve a tv. Foram discussões grandes.

because this raised the issue of the party and the

lá e ele diz: “Ah! Esse Ashaninka fede, essa roupa velha...”

they liked the video more and got more out of it

music not being ours. They come from other

Então quando eles viram a imagem ali, vários profes-

than the educational materials because video is

A SEGUNDA OFICINA

people and are the result of contact with another

sores perguntaram “o que quer dizer aquilo?”. Aí sim eu

something that you see and discuss, everyone

Na segunda oficina, a comunidade já estava mais prepara-

society. That’s when I began to perceive that

tenho a oportunidade de explicar, porque eu sei que ele

understands it. Video is more powerful because

da, mais acostumada com pessoas andando com câmera

video could help us to discuss our culture,

quer entender. “Nosso costume é assim, vocês não tem

na aldeia. A gente pegou o dia-a dia de quatro pessoas. Daí saiu um vídeo do Bebito só sobre o Shomõtsi e um outro coletivo: “Dançando com cachorro”. No “Shomõtsi” deu para a gente ver uma outra coisa importante dentro

organize our school, and think about our way of life. Even when a person speaks their own language and has a strong culture, there is

isso porque vocês são diferentes. Mas nós somos assim, esse é o nosso valor.”

you see and hear people speaking directly to you in their own words. Educational materials are less accessible, more for the teacher and those who know how to read and write. When I meet non-Indian teachers they

something from outside that is entering and we aren’t even noticing this. So video was valuable

V Í D E O : I N S T R U M E N T O PA R A S E D E F E N D E R

da nossa cultura, que é a questão da aposentadoria. Ele

in our discussions with the community about

No Acre tem povos que já estão com a sua língua quase

about us. Despite the fact that some live very

vai lá na cidade, volta, aquele envolvimento todo lá…

questions like, when to use the camera, how

extinta. Os oitenta e cinco mil hectares do nosso terri-

close to our village, they don’t know what it

Surgiu essa nova discussão, por que aposentar, será que

to use TV. These were big discussions.

tório já estão todos arrodeados com estrada, com tudo.

means to be Ashaninka. So an Ashaninka walks

Se a gente não se organizar, arranjar instrumentos para

by and they say: “Ah! That Ashaninka stinks and

é bom se aposentar... As pessoas começaram a discutir e a partir daí surgiu uma outra preocupação, a da relação

The second workshop

organizar o pequeno território, a gente vai morrer sem

da aldeia com o município4.

By the second workshop, the community

poder se defender. Esse é o grande problema de toda a

Eu levei “No tempo das chuvas” para o Secretário de Educação de lá. Ele gostou e me pediu para arrumar mais cópias para mostrar nas escolas do município. Eu

was better prepared, more accustomed to people carrying video cameras in the village. We filmed the day-to-day life of four people. Bebito made a video about an elder named Shomotsi and a

sociedade indígena. E nós temos muitos problemas: tem

comment and ask questions, wanting to know

uses old clothing...” So when they saw the video, many asked: “What does that mean?” And then, I have the opportunity to explain, because I know they want to understand. “This is our custom.

o Peru que vem do nosso lado construindo estradas e

You don’t have this because you’re different. But

envolvendo os Ashaninka de lá, tem o assentamento do

we are like this, this is what makes us unique.”

expliquei para ele um pouco do conteúdo, o queria dizer

series: “Dancing with the dog”. In “Shomõtsi” we

Incra, tem a Reserva Extrativista, enfim, a gente não

aquilo, o que a gente fazia. Ele organizou os grupos e

saw an important aspect of our society, the issue

tem mais para onde correr, então a gente tem que traba-

Video: instrument of defense

saiu mostrando o filme em cada sala de aula. Foi muito

of retirement pensions. Shomotsi goes to the

lhar aquele entorno.

In Acre there are tribes whose languages are

importante trabalhar ali perto da nossa aldeia, com as

city and returns... This raises issues…and a new

pessoas que discriminavam e ainda discriminam a gente,

discussion was sparked, why to retire, if this

nos defender e para segurar a nossa cultura são a escrita

dizendo “Ah! pra que eles querem tanta terra, índio é

is good... People began to discuss this and

– ter algumas pessoas que aprendam a dialogar, falar e

preguiçoso...”

also the relationship between the village

escrever o português – e a câmera, porque você transmite

and the municipality5.

E os instrumentos que a gente tem de fora, para poder

almost extinct. The 85 thousand hectares of our territory are entirely surrounded by highways. If we don’t organize ourselves and find tools for organizing this small territory, we will die without being able to defend ourselves. This is

a sua imagem sem precisar sair todo mundo de lá, sai uma

the great challenge facing all indigenous people.

pessoa e transmite o que está acontecendo, para as pes-

We have many problems: the country that borders

organizando, está se planejando. Acho que eles gostaram

soas te ajudarem, te respeitarem. É daí é que vão sair os

us, Peru, is building highways and involving

mais do vídeo, aproveitaram mais, porque o vídeo é uma

nossos aliados não indígenas, as pessoas que vão come-

the Ashaninka people who live there; the land

4. Bebito, Valdete’s nick name, is Isaac’s brother and also a teacher and video-maker in his village.

çar a combater esse preconceito.

occupations of INCRA6; the extraction reserve;

5. Marechal Taumaturgo is the closest municipality to the Ashaninka village on the Amonia River.

sentido, assim da nossa maneira mesmo. E também para

Eles começaram a ver, através do material didático e do vídeo que eu dei para o Secretário, que a gente está se

4. Marechal Taumaturgo é o município mais próximo da aldeia Ashaninka do rio Amônia.

14

mais para o professor e para quem sabe ler e escrever.

He organized screenings and showed the film

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

I took “In the rainy season” to the Secretary of Education of the municipality. He liked it

Então nós estamos usando o instrumento com outro

6. National Institute of Colonization and Agrarian Reform

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

15


ajudar a sociedade a nos conhecer melhor, mas da ma-

we have nowhere else to go, so we must work

vídeo “Segredos da mata”. Nós temos também esses mi-

is good for the film-makers to be from the tribe in

neira que a gente pensa, nós aqui e vocês aí. Nós somos

within these boundaries.

tos, que ninguém pode sair contando para os jovens. No

which they are filming, because they will discuss

And the instruments that we have from

vídeo tinha o vampiro, a pessoa corta um pedaço do

with the elders what they can and can’t show to

outside our communities – to help us defend

corpo, joga e vira vampiro. O velho falava: “Ah! Esse ví-

the outside society and to other tribes. We learned

desse jeito, nós temos o domínio do nosso conhecimento e seria bom que todas as pessoas daqui para frente comecem a ver isso. É bom a gente ter esse diálogo. Tem gente que diz: “Ah! vocês querem ser branco, né?” Todo o povo hoje domina a tecnologia do japonês, mas o ja-

ourselves and our culture are writing – having some people learn to speak Portuguese – and the video camera – so that you can transmit your image without everyone having to leave the

outro”, aí o outro falava: “Ah! Quem tem história de vampiro é Kaxinawá.” Então surgiam vários comentários, uns riam, outros ficavam mais sérios. As pessoas

this through video. We do not disturb the shaman’s life with the video camera, but he enjoys watching the videos. Within the village we have discussed other

ponês não é brasileiro, nem brasileiro é japonês. É a

village. One person leaves to help inform people

mesma coisa, eu não sou Xavante, eu sou Ashaninka, ele

of what was happing in the village so that

ali não olham com preconceito. Mas a pessoa ficava

own culture. I’ve used video with the entire

é Xavante. Mas a gente pode se organizar com o mesmo

people will help and respect us. That’s how we

refletindo e dizia “Ah! Nós também temos os nossos

community, it is a way for everyone to observe,

instrumento que o branco usa mas com visual diferente,

will win non-Indian allies, people who will begin

sonhos, nossa crença”. Você vê o mundo do outro e olha

it is not a formal system. The kids, youth,

você vai usar ele de acordo com a sua necessidade, com

to fight the prejudice against us.

para o seu.

everyone watches, and everyone gives their

a sua maneira de pensar. O QUE MOSTRAR E O QUE NÃO MOSTRAR

Quando começamos a trabalhar com o vídeo, a gente começou a ver que tinha que separar as coisas, por exemplo, a questão da pajelança, o espiritual. O velho dizia “não, isso aqui não pode”, então a gente está começan-

cultures in order for us to then look at our

vision, from their perspective.

So we are using the instrument of video in a

Eu acho que o vídeo também pode ajudar a transmitir

different way, in our own way. We use it also to

para o jovem esse conhecimento. Daqui a cinqüenta

Something interesting happened in making

help society better understand us, in the way

anos, você pode mostrar para um jovem e vai ser muito

“Jungle secrets”. The student and the elder began

that we think, us here and you there. This is how

bom a gente ver a imagem dos nossos velhos que já mor-

we are, we have our own knowledge and it would be good if everyone were to begin to see this from now on. It is good for us to have this dialogue. There are people who say: “Ah! You’re

reram há muito tempo. Imagina ver a imagem de um velho contando uma história de maneira tradicional,

to discuss: “Son, what is this? No one can see this.” The student said: “We need to see this because we have this as well.” We have the same myths that nobody can tell to youth. In the

daqui há sessenta anos. Então é bom começar a registrar

video, there is a vampire, a person cuts off a part

já. A escrita é uma coisa boa também, você pode regis-

of the body, throws it, and becomes a vampire.

do ver o que pode mostrar ou não para o público de uma

trying to be white”. Today, everyone uses

outra sociedade. Tem os mitos que são sagrados e tem

Japanese technology, but the Japanese is not

trar. Mas a escrita já não traz tanto, como a imagem. A

The elder said: “Ah! This video has nothing to do

os mitos que qualquer pessoa pode contar. Por exemplo,

Brazilian, nor is the Brazilian Japanese. This is

imagem traz a pessoa falando lá mesmo, é a pessoa con-

with our culture, this is from another.” And the

o da coca no “Shomõtsi”. O velho conta que é uma coisa

the same. I’m not Xavante, I’m Ashaninka and

tando, é aquele velho mesmo que você vê. Então a ima-

other said: “The Kaxinawá have a vampire story.”

que Pawa deixou para os Ashaninka usarem. Para nós é

he’s Xavante. But we can organize ourselves

gem é muito boa por causa disso.

Many people commented, some laughed, others

até bom divulgar isso pelo vídeo, porque as pessoas que estão fora vão entender mais a nossa origem e vão respeitar a gente. Mas tem coisa que é do nosso povo mes-

were more serious. The people had no prejudices.

using the same instrument that white people

But the person kept thinking and said “We have

use, but with a different image and purpose.

O V Í D E O PA R A T R O C A R E X P E R I Ê N C I A S

You use it according to your needs and your

Eu considero que o vídeo também é uma forma de pesquisa

way of organizing yourself.

para você organizar a questão social, organizar os traba-

mo, que a gente sabe e não conta. Por isso que é bom o realizador também ser daquele povo porque vai discu-

What to show and what not to show

tir junto com o velho o que ele pode ou não pode divul-

When we began to work with video we began to

lhos. Hoje a gente tem um trabalho de sistema agroflorestal, de repovoamento de pequenos animais, como por exemplo os tracajás. Naquele vídeo “No tempo das chu-

our own dreams and beliefs as well.” You see the world of the other and you look at your own.

Exchanging experiences through video I also see video as a way of doing research in

gar para outra sociedade e para outros povos. A gente

see that we needed to separate things such as

aprendeu muito isso através do vídeo. A gente não per-

shamanism and spiritual issues. The elders said:

vas”, você vê as pessoas tombando a palmeira e hoje isso

tuba a vida do pajé com a câmera mas ele gosta de as-

“No, you can’t film this.” And so we are beginning

já virou discussão. “Olha, nós estamos trabalhando com

raise small animals such as the Tracaja turtles. In

sistir os vídeos.

to see what we can and can’t show to outsiders.

sistema agroflorestal, com manejo, e precisamos ver de

the video “In the rainy season”, you see people

There are sacred myths and myths that any person

que maneira a gente pode se organizar para não derrubar

cutting down palm trees and today we are

can tell. For example, the coca in “Shomõtsi”.

mais palmeiras”. A gente já tem várias imagens de pes-

debating that practice. “Look, we are doing

The elder tells us that Pawa gave the coca to the

soas subindo e tirando buriti, tirando açaí sem derrubar.

sustainable agriculture and land management,

Ashaninka to use. For us, it is good to tell this

O vídeo foi muito importante nesse sentido de registrar o

and we must find ways of organizing ourselves so

nidade, é um sistema para todo mundo olhar, não é um

story through video, because outsiders will better

nosso projeto, de poder mostrar para as outras aldeias. O

that we don’t destroy more palm trees.” We have

sistema formal. Todas as crianças, os jovens... todo mun-

understand us and respect us more. But there are

Divino5 viu o nosso trabalho de manejo, de uso de recur-

filmed people cutting the bark of the buriti tree,

do assiste e dá a sua visão, o seu ponto de vista.

other things that belong to our people, things

Dentro da aldeia a gente tem trabalhado muito com a questão de outras culturas, para a gente depois olhar para a nossa. Eu tenho usado o vídeo para toda comu-

Uma coisa interessante foi assistir na aldeia aquele

16

deo não tem nada a ver com a nossa cultura, isso é do

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

that we know and do not tell. For this reason, it

order for you to organize social issues and work. Today, we practice sustainable agriculture, we

harvesting the açaí fruit without destroying the 5. Divino Tserewahú é realizador Xavante da aldeia Sangradouro (MT).

tree. It was important for us to document this

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

17


sos e disse “Nós precisamos ter também esse trabalho na

project so that we could show it to other

com a convivência, com a mudança do planeta, e para

differences. What is culture, what is multi-

nossa aldeia, de que maneira a gente pode fazer?”

villages. Divino7 saw our resource management

nós também é assim... ela mudou. Você vai enriquecen-

cultural, what does it mean to be bilingual.

and said, “We need to do this in our village,

do, e para você enriquecer, você tem que segurar aquilo

Language is not culture; it is an instrument

how can we do this?”

que é do passado.

O vídeo é uma porta de incentivos, de você ver experiências novas e querer fazer também, organizar a sua produção, reflorestar, enriquecer a sua alimentação, seus recursos naturais. A gente está usando esses instrumentos, essa maneira de se comunicar, exatamente para atingir essas outras aldeias que estão nessa situação. Mas o importante não é só conhecer o Ashaninka, o im-

Video stimulates interest and motivation, you see new experiences and want to do them as well, to begin your own production, to reforest, to diversify your diet and your

through which we transmit culture. It seems that

Hoje, ser muito tradicional, oral, não vale nada para esse mundo mais global, que é o mundo da sociedade dos brancos. Mas para nós isso vale muito. A gente tem muito

those who lose their language lose their culture, but this is not true. Language is an integral part, but culture is something much bigger. You invent culture according to necessity, to your lifestyle,

natural resources. We are using this tool, this

orgulho dos nossos conhecimentos, dos nossos mitos, da

and changes in the planet. And it is this way for

way of communicating, in order to reach other

nossa crença. Um pequeno desenho de um chapéu deste

us as well... our culture changed. You strengthen

portante é conhecer de que maneira nós estamos defen-

villages that are in similar situations. It is

tamanhozinho tem um significado porque ali ele conta

your culture and to do so you must hold onto

dendo nosso povo, a nossa terra. O nosso sistema de orga-

important to understand the Ashaninka people,

uma história muito grande. E de que maneira a gente pode

what you had in the past.

nização pode servir de exemplo para outros, como o sis-

but it is more important to understand the ways

segurar aquilo, para que não se perca? Esse é um grande

tema de organização deles pode servir para nós. É uma

in which we are defending our people and our

desafio nosso. A nossa roupa é uma coisa muito significa-

troca através do vídeo, porque muitas vezes a gente não

land. The way we organize ourselves may

tiva para o nosso povo. Será que se a gente deixar de usar,

pode ir até lá, mas o vídeo vai lá. Isso mostra que o vídeo vai ajudar a gente a planejar nossa caminhada, no mesmo instante pesquisando também, aprofundando os conhecimentos. O VÍDEO E A MUDANÇA

serve as an example for others, just as their way may help us. This exchange happens through video because we cannot always go to the other place, but the video can. This shows

a gente vai ser o mesmo Ashaninka ou será que vai ser diferente? A gente pensa, ninguém sabe. Nem o historiador sabe. Ele pode imaginar como vai ser. Será que a es-

Today, to be very traditional, of an oral culture, is worthless in this global world. But for us, this is of great value. We are very proud of our knowledge, of our myths, of our beliefs. A small design of a hat of this size is significant because it tells a big story. How can we preserve this, so that it is not lost? That is our great

how video will help us to plan our future path,

crita vai mudar a gente? Já mudou, a gente já viu a mu-

challenge. Our clothing is very significant to our

while at the same time we research and deepen

dança, o contato com outra sociedade já mudou.

people. If we stop using this clothing, will we

our knowledge.

Por mais que a gente trabalhe a cultura, trabalhe a língua,

Se o vídeo vem ajudar a gente a se organizar, se ele

be the same Ashaninka or will we be different?

traz alguma mudança, somos nós que estamos mudando,

We think about this, but nobody knows. A

a gente vai mudar, algo vai mudar ali dentro, como já

Video and change

não é ninguém que vem de lá de fora. Alguém pode vir só

historian can imagine how it will be, but does

mudou. Só a escola já é uma coisa diferente. O vídeo tam-

No matter how much we strengthen our culture

nos orientar como usar, mas quem vai usar esses ins-

not know. Will writing change us? It has already

bém é uma coisa diferente. Mas a questão não é ser dife-

and language, we are going to change; something

trumentos somos nós. E se houver alguma mudança, so-

rente, a questão é como utilizar a imagem. Se a pessoa conta uma história, através do vídeo, você pode incentivar várias crianças a querer aprender aquela história. Dentro da escola, o vídeo pode ajudar muito a pessoa

will change inside our villages, just as changes have already occurred. School in itself is something different. Video is also something different. But the question is not that video is

mos nós mesmos que estamos fazendo ela acontecer. Então a gente quer entender tudo isso, a gente quer entender esse processo, porque a gente só vai se defen-

changed us, we have seen the change, and contact with another society has already changed us. If video is to help us organize ourselves, if it in itself represents a change, it is us who are changing, not someone who comes from the

different, it is how to use video. If someone

der quando entender esse processo e esses instrumentos.

outside. Someone from outside our village may

refletir sobre si mesma, porque o contato trouxe muita

tells a story of something through video, many

O computador, a escrita, a tv e o vídeo são instrumentos

teach us how to use video, but it is us who are

desorganização para o nosso povo, e se você não encon-

children may be encouraged to want to learn that

ideais para aprofundar o nosso conhecimento.

making this change. So we want to understand

trar uma alternativa de reflexão, para você olhar seu

thing. In school, video can help a person reflect

this process, because we will only be able to

valor, isso acaba.

on themselves, because contact with the outside

defend ourselves when we understand this

world has weakened our tribe, and if you don’t

process and these tools. The computer, writing,

find a way of reflecting, of seeing your self-

and TV are ideal instruments for us to use in

worth, your culture dies.

deepening our knowledge.

A gente pensa muito, a gente discute muito, a gente analisa. O que é ser diferente? Só de observar a sala de aula e fora da sala de aula, você encontra muita coisa que é diferente. O que é cultura, o que é intercultural, o que é ser bilíngüe? A língua não é a cultura, ela é um instrumento de transmissão da cultura. Quem perde a lín-

We think a lot, we discuss a lot, and we analyze. What does it mean to be different? In just observing the environment inside and outside of the classroom, you find many

gua parece que perdeu toda a cultura, mas não é. Ela faz parte, mas a cultura é algo muito maior. A cultura você vai inventando de acordo com a necessidade, de acordo

18

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

7. Divino Tserewahú is a video-maker of the Xavante tribe, from the village of Sangradouro.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

19


Vídeo nas aldeias, o documentário e a alteridade

Essa observação atenta das pessoas em suas situações corriqueiras não exclui a fala. Um registro de fala, que qua-

interview are discarded; in other words, people

se sumiu do nosso documentário atual, é aquele em que

in their daily lives. And the camera, positioned

J EAN-CL AU DE BER NAR DET

as pessoas filmadas falam entre si. Mas estes filmes não

before the speaker, has no need to pay attention

Crítico de cinema e roteirista Cinema critic and script writer

excluem a fala dirigida à câmera, ao contrário. Freqüentemente as pessoas comentam o que estão fazendo, um menino explica como costuma matar os peixes pescados,

E

m “Um dia na aldeia”, um homem pesca uma traíra. A câmera mostra o peixe dentro da água, a lança o

Vídeo nas aldeias, documentary and “otherness”

atinge, a câmera segue o movimento do pescador que traz a presa para a margem. Num outro plano, um menino caça um gafanhoto. Ele

In “A day in the village” a man catches a fish in the river. The camera shows the fish in the

uma mulher, como e por que trança uma determinada esteira. Qual é o interlocutor dessa fala dirigida à câmera?

to his/her gestures, since what is important is what he/she is saying. By contrast affectionate and careful observation characterizes all the films produced by Video in the Villages. We have much to learn from them. This close observation of people in their day-to-

Os filmes produzidos por Vídeo nas Aldeias circulam entre

day situations does not exclude speech. A register

as aldeias e os interlocutores são moradores de outras

of speech, that has almost disappeared from our

aldeias. O viajante que chega a um lugar que não aquele

present day documentary, is one in which the

onde mora e toma conhecimento de como é a vida neste

people filmed talk amongst themselves. But these

está num barco, a câmera também. Delicadamente ele

water, the arrow striking. It captures the fisherman's movement as he brings his prey to

lugar, e que ao mesmo tempo conta como é a vida na sua

films do not exclude speech directed at the

aproxima o barco da margem, deposita o remo, estica o

the bank.

aldeia, agora, além da sua fala, pode se valer do vídeo,

camera; to the contrary. People frequently

On another shot, a boy tries to catch a

que funciona como um canal de troca de informações e

comment on what they are doing, a boy explains

grasshopper. He is in a boat, as is the camera.

também de sentimentos. Num filme um xavante recebe

how he usually kills the fish he catches, a

Meticulously he steers the boat to the bank,

cinegrafistas de outra aldeia: “Sabíamos que vocês viriam

puts down the oar, extends his arm towards the

filmar, por isso ficamos felizes, sejam bem-vindos”. O ví-

Vistos no quadro do seminário Formação do Olhar de

insect, captures it, returns to his initial position

deo como carta. Esse caráter missivista do vídeo é assu-

2003 em São Paulo, estes planos me encantaram. O que

and shows his prey. The camera accompanies the

mido claramente em “Das crianças Ikpeng para o mundo”,

eles têm de tão especial? Há uma relação íntima entre a

boy's motions, adjusts to the grasshopper and

câmera e a pessoa filmada. A câmera tem que seguir os

returns to its position.

braço em direção ao inseto, o pega, volta à sua posição inicial e mostra a presa. A câmera acompanha os movimentos do menino, corrige em direção ao gafanhoto e volta à sua posição.

movimentos do menino, ela também tem que se movi-

Seen in the context of the Training the

mentar delicadamente para não afugentar o gafanhoto,

Eye seminar (Formação do Olhar) in São Paulo

tem que seguir o movimento do pescador que retira a traíra do igarapé. Essa observação atenciosa dos gestos das pessoas, esse respeito à situação em que elas se en-

in 2003, these shots enchanted me. What´s so special about them? There is an intimate relationship between the camera and the

sendo que o mundo começa nas outras aldeias: as crian-

woman how she weaves a certain mat. Who is the interlocutor of this speech directed at the camera? The films produced by Video in the Villages circulate among the villages and the interlocutors are residents of other villages. The traveler that arrives somewhere other than his/her place of

ças se deixam filmar para mostrar a outras crianças como

origin discovers life in that new place, and at the

vivem. Carta pede resposta. As crianças deste filme pedem

same time tells how life is in their village, now,

explicitamente que as crianças que virem este vídeo lhes

beyond speech, he can use video which works as a

respondam informando-as sobre sua vida.

channel of exchange of information and also of

A fala, mesmo quando dirigida à câmera, nunca é ex-

feelings. In a film a Xavante tribesman receives

person filmed. The camera has to follow the

plicativa ou analítica, ela é sobretudo descritiva. Mesmo

cameramen from another village: “We knew that

contram é algo que me parece ter sumido totalmente, ou

boy's actions; it also has to move delicately so

em filmes que apresentam rituais, como “Iniciação do jo-

you would come and film, and so we are glad, and

quase, do cinema documentário brasileiro. Este, grande-

as not to startle the grasshopper, it has to

vem Xavante” ou “O poder do sonho”, os índios descrevem

welcome you”. The video as a letter; this missive

mente dominado pelo método de entrevista, tende a se

follow the fisherman's movement as he pulls the

as práticas e as várias fases das cerimônias, e quando

limitar a colocar a câmera diante da pessoa que fala em

fish from the stream. This close attention to

explicam será conforme o seu imaginário. Nestes filmes o

resposta a perguntas feitas por um entrevistador. Dessa

people's gestures, this respect for their situation

discurso antropológico ou etnográfico não tem lugar.

forma privilegia-se a fala motivada pela filmagem e descar-

is something that seems to me to have totally –

tam-se quase que automaticamente as situações que não

or virtually – disappeared from Brazilian

se enquadram no sistema de entrevista, ou seja, as pessoas no seu cotidiano. E a câmera, posicionada diante do falan-

documentary filmmaking. Greatly dominated by the interview method, the tendency in this

As imagens, os enquadramentos, os movimentos de câmera indicam que os jovens que participam das oficinas estão sendo treinados para aprender e utilizar uma

nature of the video is clearly adopted in “From the Ikpeng children to the world”, the world beginning in the other villages: the children allow themselves to be filmed to show other children how they live. Letters ask for replies. The children in this film explicitly ask the children that watch this video to answer them with information about their lives.

linguagem. Não basta ligar a câmera diante de alguma

Speech, even when directed at the camera,

camera in front of the person who answers

coisa. Importa o tamanho do plano mais aberto ou mais

is never explanatory or analytical; it is above all

questions made by an interviewer. In this way,

fechado, importa o ângulo. Uma questão que sempre se

descriptive. Even in films that present rituals,

e cuidadosa marca todos os filmes produzidos por Vídeo nas

speech motivated by the filming is what is

coloca nas oficinas que iniciam jovens à linguagem au-

such as “The Xavante´s initiation” or “The power

Aldeias. Temos muito que aprender com eles.

prioritized and almost automatically situations

diovisual é a montagem. De fato, passar da gravação das

of the dream”, the Indians describe the practices

te, não tem que ficar atenta aos seus gestos, já que o que importa é sua fala. Ao contrário, uma observação afetuosa

20

that do not fit into the framework of the

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

field is currently limited to the placing of the

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

21


imagens à sua edição, implica passar para um equipa-

and the various phases of the ceremonies, and

na aldeia Sangradouro, filmada por cinegrafistas desta al-

“otherness” was no more than a false solution to a

mento mais sofisticado, de manejo mais complexo. Nunca

when they explain, it is according to their

deia bem como por cinegrafistas convidados da aldeia

badly defined problem. The “other” is always

se sabe muito bem qual é a participação dos monitores

imagination. In these films there is no space for

Pimentel Barbosa. Um cinegrafista de Sangradouro explica

designated by a subject, that, to use this pronoun,

na edição. Vídeo nas Aldeias tem uma posição clara a este

anthropological or ethnographical discourse.

a necessidade dessa filmagem com a seguinte frase dita

has to affirm her/himself as a subject, as a place

respeito. A edição de alguns vídeos é explicitamente assinada por um monitor, em outros casos o nome do monitor é associado ao de participantes das oficinas. Neste sentido um plano de “No tempo das chuvas” é importan-

movements indicate that the young people who take part in the workshops are being trained to learn and use a language. It is not enough to

em português: “Tem que mostrar a cultura de outro para outro, para ele reconhecer como que é a festa dele, como que é a cultura, a língua... né?”. Uma tal afirmação – mos-

of speech, as a place from which the view originates. And, the affirmation of this subject as the center is the very denial of the “other”, of the recognition of their existence, because it denies

switch on the camera in front of something. What

trar a cultura de outro para outro – implica que o cine-

te, por mostrar uma sessão de edição em que um jovem

is important is the size of the most open or

grafista Winti Suyá não só vê Pimentel Barbosa a partir do

that the philosophy of “otherness” only begins

está aprendendo a usar o teclado de um computador sob

closed shot, the angle. An issue that is always

centro que é Sangradouro, onde se realiza a festa e será

when the subject that applies the word “other”

a orientação de uma monitora, que lhe diz que foi esco-

posed in the workshops that provide the young

feita a filmagem, como, simultaneamente, vê a si mesmo

accepts being he/herself an “other” if the center

lhido o início de determinado plano, mas que agora ele

people’s initiation to audiovisual language is

e à sua aldeia como “outro” a partir do centro que é Pimen-

is shifted, he/she

tem que decidir em que ponto terminará este plano. Os

editing. In reality, moving from the shooting

tel Barbosa. Isso é realmente uma filosofia da alteridade.

accepts being an “other” for the “other”.

monitores de Vídeo nas Aldeias não assumem uma posi-

of the images to their editing, implies moving

ção ingênua, conforme a qual bastaria colocar uma câme-

on to more sophisticated equipment, one of more

Villages workshops predicts that the videos

complex manipulation. One never knows exactly

circulate in a number of villages and that

what the participation of the trainers is in the

members of a given village film in others. “The

editing. Video in the Villages has a clear stance in

Xavante´s initiation” describes the ear-piercing

this respect. The credits for the editing of some

festival in Sangradouro village, filmed by

a postura assumida quando fala de “formação de docu-

videos explicitly name the relevant trainer; in

cameramen from this village, in addition to

mentaristas indígenas”.

other cases the trainer’s name is associated with

cameramen invited from Pimentel Barbosa village.

those of participants in the workshops. In this

A cameraman from Sangradouro explains the

“outro” é uma preocupação recorrente no cinema docu-

sense a given shot in “The rainy season” is

need for this shoot with the following phrase in

mentário das últimas décadas, desde o cinema direto e o

important, for showing an editing session in

portuguese: “We have to show another culture to

cinema verdade. O “outro” filmado, o “outro” se filmando.

which a youth is learning to use a computer

others, so they can recognize their own festival,

Sempre tive a convicção de que este “outro” no documen-

keyboard under the supervision of a trainer, who

culture, language... right?” Such a statement –

tells him that the beginning of a certain shot had

show another culture to others – implies that the

been chosen, but that now he has to decide at

cameraman Winti Suyá not only sees Pimentel

which point this shot will end. Video in the

Barbosa from the center, which is Sangradouro,

Villages trainers do not adopt an ingenuous

where the festival takes place and will be filmed,

ra nas mãos de alguém para que consiga retratar a sua vida, é necessário aprender a usar o equipamento e conhecer a linguagem. “Iniciação do jovem Xavante” explicita

Esses filmes se inscrevem na temática do “outro”. O

tário e em geral nas filosofias da alteridade não passava da falsa solução de um problema mal equacionado. O “outro” é sempre designado por um sujeito, que, para fazer

them as the origin of speech and sight. I believe

As we know, the work in the Video in the

uso desse pronome, tem que se afirmar como sujeito,

position in which it would suffice to place a

but simultaneously, sees himself and his village

como lugar da fala, como lugar de onde parte a visão. Ora,

camera in someone’s hands in order to portray

as the “other” from the center or focus which

a afirmação desse sujeito como centro é a própria negação

their life. It is necessary to learn to use the

do “outro”, do reconhecimento da sua existência, porque

equipment and know the language. In “The

o nega como lugar de onde possam partir a fala e a visão.

Xavante´s initiation”, the approach adopted is

Acredito que a filosofia da alteridade só começa quando o

made explicit when the “training of indigenous

sujeito que emprega a palavra “outro” aceita ser ele mesmo um “outro” se o centro se deslocar, aceita ser um “outro” para o “outro”. Como sabemos, o trabalho das oficinas Vídeo nas Aldeias prevê que os vídeos circulem em diversas aldeias e

22

The images, the framing, the camera

documentary makers” is referred to. These films are included in the theme of the “other”. The “other” has been a recurrent concern in documentary filmmaking over recent decades, since “direct cinema” and “cinema verité”. The “other” filmed, the “other” filming themselves.

que membros de uma aldeia filmem em outras. “Iniciação

I was always convinced that this “other” in the

do jovem Xavante” descreve a festa da furação de orelha

documentary and in general in philosophies of

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

is Pimentel Barbosa. This is truly a philosophy of “otherness”.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

23


Nós aqui e vocês aí

ce possível dizer que os coordenadores e realizadores atri-

some extent at least the cultural identity of

buem ao aprendizado da linguagem do documentário função

the Indian. Considering only eight documentaries seen as representative of all the films already produced by Video in the Villages, it seems possible to say that, for the coordinators and filmmakers, learning documentary language has a similar function as learning portuguese. Both serve to defend indigenous cultures by using speech, writing and imagery to show what happens in the villages, ensuring that “people help you and respect you,” says Isaac Pinhanta. Verbal language and documentary language are posited as the common denominators of different indigenous peoples and white men, allowing them to communicate with each other. This indeed appears to be the case. Documentaries such as Shomotsi, Trainee healer and The agouti´s peanut, to mention just three films, seem to fulfill the function claimed by Video in the Villages very effectively. Even so, perhaps it is worth asking whether the incorporation of the audiovisual language really is similar to the acquisition of a second spoken language. Since the intention of the project participants is to preserve themselves ‘here’ and keep us ‘there,’ isn’t Video in the Villages contradicting its own best intentions by teaching the conventions of documentary language ‘from over here’ without the Indians over ‘there’ having developed their own documentary language? The concept that seems to guide the project’s practical workshops stresses learning documentary language as if it were just another idiom. That is, focusing on the assimilation of technical procedures, a repertoire of signifiers and a set of norms to which the Indians can resort to communicate with other indigenous peoples and non-Indians. In the nine years since practical workshops were first implanted, the participants have already proven to be excellent students. Even viewing just a small sample of the films produced, the efficiency of the teaching and the good use made of this instruction by the apprentices can easely be noted. The Video in the Villages documentaries are eloquent testimony to the capacity of the Indians to learn to express themselves in the audiovisual language of the white man. The topics covered are interesting. The shots are well framed, the aperture

semelhante ao da língua portuguesa. Ambos serviriam para EDUAR DO ESCOR EL

defender as culturas indígenas através da fala, da escrita e

Cineasta Filmmaker

da difusão de imagens que mostram o que ocorre nas aldeias para “as pessoas te ajudarem, te respeitarem”, diz Isaac Pinhanta. A língua e o documentário seriam denominadores

N

Pinhanta, integrante do projeto Vídeo nas Aldeias, afir-

In the catalogue of the 2004 exhibition Through

tudo indica, é o que ocorre. Documentários como Shomõtsi,

ma que a câmera e a escrita são instrumentos de defe-

Indian Eyes, the Ashaninka teacher and

Aprendiz de curador e O amendoim da cutia, para citar ape-

sa da cultura dos povos indígenas, servindo entre outras

filmmaker Isaac Pinhanta, a member of the

nas três, parecem desempenhar com eficácia a função atri-

Video in the Villages project, describes the camera

buída pelo Vídeo nas Aldeias. Ainda assim, não será o caso

and the written word as instruments for defending

de perguntar se a incorporação da linguagem audiovisual é

tornando possível a comunicação entre eles. De fato, ao que

em 2004, o professor e realizador ashaninka Isaac

funções “para ajudar a sociedade” a conhecê-los melhor, “mas da maneira que a gente pensa, nós aqui e vocês

the culture of indigenous peoples, useful,

aí”. Esse mesmo compromisso está implícito nas pala-

among other things, “to help society” learn more

vras do professor panará de O amendoim da cutia, docu-

about the Indians, “but according to our way of

mentário recente do projeto. Ao desembarcar de um

thinking, us over here and you over there.” This

“aqui” e nos manterem “aí”, o Video das Aldeias não estará

monomotor, vindo de Brasília, ele caminha em direção à

same commitment is implicit in the words

contrariando suas melhores intenções ao transmitir as con-

of the Panará teacher featured in The agouti´s

venções da linguagem documental daqui, sem que lá os ín-

peanut, one of the project’s recent documentaries.

dios tenham ou procurem elaborar sua própria linguagem?

aldeia Nasepotiti, no Mato Grosso, dizendo que estava “estudando a nossa língua e o português”, além de “traduzindo a cartilha sobre doenças”.

Climbing down from a single-engine plane just arrived from Brasília, he is filmed as he walks

mesmo similar à aquisição de uma segunda língua. Sendo propósito dos participantes do projeto preservarem-se

A concepção que parece nortear as oficinas práticas do

towards Nasepotiti village, in Mato Grosso,

projeto privilegia o aprendizado da linguagem do docu-

do Vídeo nas Aldeias, o de preservar as identidades indí-

saying that he had been “studying our language

mentário como se ela fosse mais uma língua. Ou seja, o

genas – “nós aqui e vocês aí”, nas palavras já citadas de

and portuguese,” as well as “translating the

treinamento dá prioridade à assimilação de alguns pro-

healthcare pamphlet.”

cedimentos técnicos, de um repertório de significantes e

Por essas afirmações, explicita-se um dos pressupostos

Isaac Pinhanta. Através do aprendizado da língua portuguesa, índios de diferentes povos passam a poder dia-

These remarks reflect one of the basic premises of Video in the Villages, namely the preservation of

um conjunto de normas aos quais os índios podem recorrer para se comunicar com os não-índios e com outros

logar entre si e conosco, além de ter acesso, através de

native identities – “us over here and you over

traduções, ao nosso saber científico. Adquirem, dessa ma-

there,” to repeat Isaac Pinhanta’s words. By

neira, uma segunda língua sem abrir mão da língua do

learning portuguese, Indians from different groups

seu povo. Estabelecem um elo conosco mas continuam a

are able to communicate between themselves and

nas práticas, os participantes já demonstraram serem exce-

with white men, as well as to access their

lentes alunos. Mesmo a visão de apenas uma pequena

scientific knowledge via translations. In this way,

amostra do que foi realizado comprova a eficiência do

ser eles mesmos. “Estamos aprendendo as coisas dos brancos mas sem deixar a cultura panará”, nos diz o professor

they acquire a second language without abandoning

povos indígenas. Em nove anos, desde o início da implantação das ofici-

ensino e o bom aproveitamento dos aprendizes. Os docu-

de O amendoim da cutia, para quem “a tora e o futebol

the language of their people. They establish a link

são a mesma coisa”. Eles aprendem a jogar futebol, nosso

with us but continue to be themselves. “We are

esporte, mas tentam reviver a corrida de tora, tradição

learning white men’s things, yet without

tes da capacidade dos índios aprenderem a se expressar na

que lhes pertence. No uso da língua e na prática esporti-

abandoning Panará culture,” says the teacher of The

nossa linguagem audiovisual. Os assuntos tratados são

agouti´s peanut, for whom “the log race and

interessantes. Os planos são bem enquadrados, o diafragma

football are the same thing.” They learn to play

é correto, a imagem está sempre em foco, a câmera não

football, a non-indigenous sport, but strive to

trepida, o ponto de vista é adequado, há poucos movi-

va seria possível, dessa maneira, a convivência de códigos linguísticos e esportivos distintos, preservando-se, ao menos em certa medida, a identidade cultural do índio.

24

comuns dos diferentes povos indígenas e dos não-índios

Us over here and you over there

o catálogo da mostra Um olhar indígena realizada

revive their traditional log racing. In this way, both

Tomando oito documentários vistos como representa-

language and sport allow different linguistic and

tivos do conjunto da produção do Vídeo nas Aldeias, pare-

sporting codes to live side-by-side, preserving to

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

mentários do Vídeo das Aldeias são testemunhos eloqüen-

mentos de zoom. O som é de boa qualidade. A narrativa recorre com frequência a um prólogo seguido de créditos

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

25


var a memória coletiva. Nesses casos, em que o realizador

If true, would this contradiction not undermine

e os espectadores, sendo de um mesmo povo, falam a mes-

one of the basic premises of the Video in the

a câmera se move rapidamente para que a sombra, proje-

is correct, the image is always in focus, the camera does not shake, the viewpoint is carefully chosen, there are few zoom movements. The sound is of good quality. The narrative frequently resorts to a prologue followed by credits and is very often structured using a parallel montage of more than one situation. The pace of the editing retains the viewer’s interest. The duration of the shots and of the documentaries themselves match our usual expectations. These documentaries are technically stylish and well crafted. They are deliberately made in line with a standard dominant ‘over here’, among us whites.

depende de fazer uso do documentário como uma lingua-

documentaries like Trainee healer make use of a

tada pelo sol, desapareça? Teria havido uma instrução para

Is the care taken to avoid the shadow of the

gem e não como uma língua. Linguagem que demanda um

language created over there, by the Xavante

evitar o contraluz? E a lente? Houve recomendação para

person filming in The agouti´s peanut instinctive?

certo conhecimento técnico, mas que não possui nem

people? And if we are incapable of understanding

que fosse mantida sempre limpa? É provável, uma vez que

Or was an express directive given, obeyed by the

repertório fixo de significantes, nem normas pré-estabe-

it, would it not be up to us to learn their language

e muitas vezes é estruturada através da montagem paralela de mais de uma situação. O ritmo da edição mantém o interesse. A duração dos planos e dos documentários em si não ultrapassa nossa expectativa usual. Há apuro técnico e acabamento cuidadoso nesses documentários. Eles são feitos, deliberadamente, seguindo um padrão dominante aqui, entre nós. Seria instintivo o cuidado de evitar que apareça a sombra de quem está gravando em O amendoim da cutia? Ou terá sido dada uma diretriz expressa em obediência à qual

nesse mesmo documentário há apenas um plano em que se vê um inseto grudado na superfície da objetiva. É espon-

cast by the sun to disappear? Was there an

homem branco? Para se dirigir aos seus e preservar tradi-

Villages project? For the older people of the village, the video recording also prevents the rituals from being

ções, documentários como Aprendiz de curador não deve-

forgotten. Documentaries help collective memory to

riam fazer uso de uma linguagem criada lá, pelos Xavantes?

be recalled and preserved. In these cases, where

E, se nós não fossemos capazes de entendê-la, não nos

the filmmaker and the spectators are from the same

caberia aprender a linguagem deles da mesma maneira que

people and speak the same language, does it make

eles têm aprendido a nossa?

sense to use the language ‘from over here’, spoken

A possibilidade de assegurar “nós aqui e vocês aí”

lecidas. Nessa perspectiva, o desafio seria o de criar con-

by non-Indians? Made for their own people and the preservation of their own traditions, shouldn’t

in the same way as they learn ours? The possibility of maintaining “us over here and

instruction to avoid backlighting? And the lens?

dições para que cada grupo de participantes das oficinas

you over there” depends on using the documentary

tânea a fala da senhora que conta, no início de O amen-

Were the filmmakers told it should always be kept

inventasse sua própria linguagem, diferente dos demais e

as a language. A language that demands a certain

doim da cutia, ter sonhado que “estava pisando numa

clean? This seems likely, since this same

da dominante aqui. A cada povo uma forma audiovisual

technical knowledge, but does not rely on a fixed

cobra, pisando e andando nas costas da cobra”? E, pouco

documentary contains just one shot where an insect

própria. Povos indígenas falando de si mesmos para os

repertoire of signifiers and pre-established norms.

depois, a do caçador que diz ter sonhado “com o caitutu,

can be seen stuck to the surface of the lens. Is the

mas eu estava acordado. Acho que vou matar muito”? Lá ou aqui, alguém relata seus sonhos para a câmera por ini-

dialogue of the old woman who tells us, at the

participants to invent their own language, distinct

zontes do documentário.

from the others and from the language dominant

the comment by the hunter, who says he dreamed

De onde terá partido essa busca de espontaniedade? E essa

“of a peccary, but I was awake. I think I’m going to

aspiração de transparência e limpeza? Tudo indica que pro-

kill many”? There or here, does anyone tell their

Sei que estando aqui, na comodidade do ar-condicionado, é fácil conjecturar sobre o que é realizado lá nas aldeias. A alta qualidade dos documentários do projeto recomenda

here. To each people an audiovisual form of their own. Indigenous peoples speaking about themselves to their own in their own language would be an extraordinary achievement, representing a new

dreams to the camera on their own initiative? We

maior cautela ao comentar à distância uma experiência tão

landmark that would expand the horizons of the

can presume they were asked to talk about their

inovadora. Afinal, com que direito espero que lá seja inven-

documentary form.

dreams, a prompt later removed during editing.

tada uma nova linguagem para o documentário se aqui nem

adotam com proficiência incomum as convenções técni-

From where did this search for spontaneity derive?

cas e narrativas dominantes entre nós sem evidenciarem

And this desire for transparency and clean shots?

o propósito de inventar sua própria linguagem. Ao faze-

Everything suggests they come from ‘over here,’

rem isso, não estarão negando a intenção de ficarem “nós

not ‘over there.’

linguagem audiovisual própria. Dessa forma, a diferença

create the conditions for each group of workshop

“was stepping on a snake, stepping and walking on

minado na montagem, para que falassem de seus sonhos.

aqui e vocês aí”, uma vez que o indígena não tem uma

From this point of view, the challenge would be to

rio e representaria um novo marco que ampliaria os hori-

the back of a snake” really spontaneous? Likewise,

Os documentários do Vídeo nas Aldeias que pude ver

seus na sua própria linguagem seria um feito extraordiná-

start of The agouti´s peanut, that she dreamed she

ciativa própria? Podemos supor que houve um pedido, eli-

venham daqui, não de lá.

The documentaries produced by Video in the Villages that I was able to see display a remarkably

I acknowledge that from the comfort of an airconditioned apartment, it’s easy to speculate on

sempre tenho essa mesma expectativa? Concluo estas breves impressões convicto que a vitali-

what is being done there in the villages. The high quality of the project’s documentaries urges greater

dade e capacidade de renovação demonstradas pelo Vídeo

caution in commenting from afar on such an

nas aldeias continuarão resultando em documentários tão

innovative experience. After all, what right do I

bons quanto os que pudemos assistir.

have to expect a new language for the documentary

proficiency in absorbing the technical and narrative

de identidade não estaria sendo eliminada? Os documen-

to be invented over there if I don’t always cherish

conventions dominant among us non-Indians, yet

the same expectation over here?

tários feitos nesses termos não estariam contribuindo

without revealing any desire to invent their own

para o desaparecimento da identidade indígena? Essa

language. In adopting this approach, are they not

that the vitality and capacity for renewal already

contradição, caso confirmada, não poria em risco um dos

negating the intention of preserving “us here and

demonstrated by Video in the Villages will continue

you there,” given that the Indians do not have

to result in documentaries every bit as good as

their own audiovisual language? In this way, isn’t

those I have been able to see so far.

fundamentos do projeto Vídeo nas Aldeias? Para os mais velhos da aldeia, o registro visual teria

26

camera as it pans quickly enough for the shadow

ma língua, não é incongruente usar a linguagem daqui, do

the difference of identity being eliminated? Aren’t

também a função de preservar os rituais do esquecimen-

the documentaries made in these terms contributing

to. Através do documentário seria possível reavivar e preser-

to the disappearance of the Indians identity?

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

I conclude these brief impressions convinced

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

27


A livre afirmação dos corpos como condição do cinema

mas uma história dos brancos (ou dos índios) filmada

with, it is not a history of the Indians filmed by

pelos índios. Uma história, ou melhor, várias. E as histó-

whites, but a history of the whites (and the

rias que contam estes filmes são aquelas da descoberta por nós, brancos, de toda uma estratégia lúdica, fabu-

ANDRÉA FRANÇA

Pesquisadora de cinema e comunicação, professora do Departamento de Comunicação Social da PUC/RJ, coordenadora do Curso de Cinema da PUC/RJ. Researcher in cinema and communication, lecturer at the Department of Social Communication of PUC/RJ, coordinator of the Cinema Course at PUC/RJ.

A

ssistindo a Shomõtsi, Kiarãsã Yõ Sãti: o amendoim da cutia, Kinja Iakaha: um dia na aldeia, Daritidzé:

The free affirmation of bodies as a cinematic condition

political strategy of the Indians never before seen

formas de representar o espaço e o tempo das aldeias, de

from their own perspective. We are surprised by the

se apropriar da imagem, de solicitar o espectador. Vemos ritos, festas, o dia a dia, memórias, tradições, narrativas

the space and time of the villages, the variety of forms of appropriating the image and enticing the viewer. The films show us rites, festivals, everyday

brincadeiras; conta-se mitos como se fossem contadas

life, memories, traditions, tales of the past and

memórias pessoais; diz-se o que se diz há muito tempo,

the future, fragments of conversations, gestures

preendeu, num primeiro momento, foi perceber que esses

Peanut, Kinja Iakaha: A Day in the Village,

muito o que mostrar.

documentários jogam em duas frentes, dirigem-se a dois

Daritidzé: The Curer’s Apprenticeship, From the indigenous filmmakers, the first thing that surprised

diversity of faces, the different ways of representing

do ontem e do amanhã, fragmentos de conversas, gestos,

tamos, mas de modo bem diferente. Há muito o que dizer,

and jokes. Myths are recounted as though telling personal memories. People say what has always been said – and what has never been said. Much of what we tell ourselves is told, only in a very

“Me filma, colega, estou contente. A festa é dura, mas eu venci”, diz um índio xavante que se aproxima da câmera

different way. There seems to be so much to say and so much to show. “Film me, my friend, I’m happy. The festival is

ocidental, esses documentários parecem nos dizer que

me was how these documentaries work on two

depois do ritual de provação para adquirir força e poder de

somos nós que nos tornamos outros, “índios”, pois os que

fronts, aiming at two very distinct audiences

cura; “Ele vai poder cuidar de mim um dia (...) vem. Filma

foram esquecidos não esqueceram; para os índios, os

simultaneously. For westerners, or ‘white people,’

ele. Pode filmar”, pede um outro índio depois de pintar o

ritual instilling the initiates with strength and the

vídeos não só permitem que eles tenham acesso, elaborem

these documentaries suggest it is we who became

filho para iniciá-lo no mesmo ritual, em O aprendiz de

power to cure. “One day he’ll be able to cure me

e recriem a sua própria imagem, como também mostram

others, or the ‘Indians,’ since those who were forgotten did not forget. For the Indians, the videos

curador (2003); “eu sempre quis que tivéssemos essa

exacting, but I survived,” announces a Xavante Indian to camera after completing the initiation

(...) come here. Film him. You can film him,” says another Indian in The Curer’s Apprenticeship (2003)

que eles podem ensinar coisas que outras comunidades

allow them to produce and rework their own image.

câmera. Sempre peço pra me filmarem. Não tenho ver-

indígenas, assim como o homem branco, não sabem.

However, they also reveal their capacity to teach

gonha. Sempre dancei assim, conheço bem a dança do

“I always wished we had this camera. I always ask

new ideas to other indigenous communities, as well

amendoim, como antigamente. É assim que nós velhos

to be filmed. I’m not ashamed. I’ve always danced

as white people.

fazemos. Pronto, terminei”, declara uma velha, “tomando”

like this, I know the dance of the peanut well, just

a cena em O amendoim da cutia (2005), filme que detalha

like in the past. This is how we old people do it.

O que essas imagens do “outro” indígena - bem longe de nós, brancos – têm, por que elas conseguem nos falar, dirigir-se a nós, fazer-se compreender e, mais do que

What precisely do these images of the indigenous ‘other’ – so distant from us whites –

o cotidiano da aldeia Panará na colheita do amendoim.

isso, como é possível que elas nos façam perceber nossas

have about them? How is it they manage to speak

maneiras de sermos, de nos pensarmos, como é possível

to us, address us, make themselves understood?

que elas nos falem do nosso mundo? Essa é a pergunta

Moreover, how is it they make us aware of our ways

condição do cinema. Nestes filmes, os corpos se afirmam

que me fazia ao assistir a esses documentários, a pergun-

of being, imagining us and speaking to us of our

igual e livremente, se mostram de um certo modo, tomam

ta que me motivou a escrever sobre eles também. Há

own world? These are the questions that came to mind while watching these documentaries – and the

Existe uma afirmação livre dos personagens como

a cena para “encenar” o que acreditam que seja bom para

after painting his son for the same initiation ritual.

Ready, I’ve finished,” declares an old woman, ‘stealing’ the scene in The Agouti’s Peanut (2005), a film documenting everyday life in the Panará village during the peanut harvest. Here we find a free affirmation of the protagonists as a cinematic condition. The bodies in these films affirm themselves equally and freely,

uma dimensão claramente política no Projeto Vídeo nas

questions that inspire me to write about them now.

eles; existe sempre a possibilidade de entrar em cena para

Aldeias, e isso não porque se queira pensar o outro ape-

There is clearly a political dimension to the Vídeo

fazer a “sua” cena, o “seu” filme. Em Shomõtsi (2001), um

scene to ‘perform’ whatever they think best. Those

nas, mas porque nos lembra que esse outro nos pensa

nas Aldeias project. This is expressed not only in

dos filhos do personagem que dá título ao documentário,

being filmed are always free to make ‘their own

também, que tem idéias a nosso respeito, que nos vê de

the desire to contemplate the other, but also in

entra de repente no plano em que o pai passa urucum no

scene’ or ‘their own film.’ In Shomotsi (2001), one

um certo modo. O que se vê nesses filmes é uma história que pensamos conhecer, mas contada em outros termos. Não é, para começar, uma história dos índios filmada pelos brancos,

28

sob esse ângulo. Surpreende a diversidade de rostos, de

Watching Shomotsi, Kiarãsã Yõ Sãti: The Agouti’s

tipos de público bastante distintos: para o homem branco,

films are those of the discovery by ourselves, the whites, of an immense playful, imaginative and

todos realizados por videastas índios, o que mais me sur-

Ikpeng children to the World, all produced by

many histories. And the histories told by these

latória e política dos índios, que jamais tínhamos visto

e diz-se o que nunca foi dito; conta-se muito do que con-

aprendiz de curador, Das crianças Ikpeng para o mundo,

Indians) filmed by the Indians. Or more precisely,

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

the way the films remind us that this other also contemplates ourselves, speculating on us and seeing us in a certain way. What these films recount is a history we believe we know, only now told in other terms. To start

rosto e diz, olhando para o espelho e passando também urucum: “chega, não tem mulher mesmo!” e sai correndo;

displaying themselves as they wish and stealing the

of the sons of the man giving his name to the documentary suddenly enters a shot in which his father is covering his face with red annatto dye.

ou ainda, durante a refeição de Shomõtsi com a família

Looking into the mirror and applying the dye too,

na mata, o outro filho diz para a câmera: “E lá estamos

he exclaims, “enough, there are no women here

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

29


nós aparecendo...”. Para além da intimidade e da cumpli-

anyhow!” – and runs off. In another take, during

se de um documentário que soube encontrar as crianças

children of other villages) and a distant and

cidade entre aquele que filma e aqueles que são filmados,

Shomotsi’s family meal in the forest, the other son

certas e, mais do que isso, fez da arte do encontro uma

nomadic other-recipient, an ever other other.

patente em todos os planos de cada um desses documen-

there...” As well as the intimacy and complicity

tários, existe um desejo de filme que não está somente

found between the filmmaker and those being

do lado dos índios videastas, mas do outro lado da câ-

filmed, evident in every shot of all of these

mera também: há um desejo de filme tão grande quanto

documentaries, there is a cinematic desire shared

o desejo daquele que filma e, ao tornar esse desejo visí-

by the Indian video makers and their ‘subjects.’

vel, atuante, falante, essas imagens criam um cinema abso-

This cinematic desire is just as deep as the desire of the actual filmmakers. By rendering this desire

possibilidade de que o filme pudesse ser de fato compartilhado, afirmado e vivido por elas.

Without doubt, the documentary found the right children and, moreover, turned the art of the encounter into a film capable of being shared,

Num certo plano, o menino Kamatxi come mangaba.

affirmed and lived by them.

Ele anda pela mata, vê a fruta no chão, se agacha para

In one shot, the boy Kamatxi eats mangaba.

pegá-la e volta à posição em pé. A câmera segue os movi-

He walks through the forest, sees the fruit on the

mentos do menino, vai até a fruta no chão, observa de

ground, bends to pick it up and stands upright again. The camera tracks the boy’s movements,

visible, active and vocal, these images create a

perto seu gesto de limpá-la e volta ao rosto do menino

pans to the fruit on the ground, closely observes

truly egalitarian cinema, a cinema in which each

que, de perfil, engole a fruta e a mastiga, segurando o

his gesture of wiping it clean and returns to the

velho – tem o mesmo valor que um outro para a câmera,

body – whether the body of the plant, the shell,

riso enquanto olha enviesado para a câmera. Ouvimos as

face of the boy who, in profile, devours the fruit

todos eles igualmente diferentes, importantes e únicos.

the cayman, the agouti, the child or the elder – has

risadas em off das outras crianças que o observam. A

and chews it. He contains a smile as he glances

lutamente igualitário, um cinema onde cada corpo – seja ele da planta, da concha, do jacaré, da cotia, da criança, do

Em Um dia na Aldeia (2004), filme que detalha o cotidiano da aldeia Cacau, na Amazônia, um grupo de índias

the same value as any other: all of them equally different, important and unique. In A Day in the Village (2004), a film which

existência de uma platéia (que ri, comenta, brinca) na

sideways to the camera. We here the off-screen laughs of the other children watching. The presence

cena é uma outra modalidade da afirmação livre dos cor-

of an audience (which laughs, comments, jokes)

volta da colheita de wesi (“os brancos falam açaí”), com

follows daily life in Cacau village in Amazonia, a

pos; há neste sentido um jogo de reflexos que reitera dois

in the scene is another modality of the free

seus bebês acoplados ao corpo enquanto caminham e, de

group of Indian women returns from the wesi palm

públicos distintos – o homem branco e o índio – a ocupar

affirmation of bodies; in this sense, there is a play

repente, ouvimos uma delas: “estão falando de mim? Todas

fruit harvest (“the whites say açaí”), their babies

simultaneamente a posição de espectador. Lembremos do

of reflections that bounces off two distinct

somos muito bonitas. Eu não sou gorda não, vou emagre-

wrapped close to their bodies as they walk. Suddenly we hear one of them exclaim, “are you

plano cômico e inusitado do chefe da aldeia Panará, em

audiences – the whites and the Indians – placing both in the position of spectator simultaneously.

cer”. E todas riem muito. Essas imagens nos falam porque o

talking about me? We’re all really beautiful. I’m not

O amendoim da cutia, que simula estar transando com

espectador tem a possibilidade de avaliar igualmente cada

in the least fat, I’m going to get thin.” They all

uma bananeira como se esta fosse uma índia; ele mexe o

extraordinary scene in The Agouti’s Peanut where

personagem, seus gestos, suas histórias, suas qualidades,

burst out laughing. These images speak to use

corpo, rebola, agarra a planta, descreve a chegada do go-

the chief of the Panará village pretends to have sex

seu senso de humor, sua entrada em cena. O cinema é uma

because the spectator is also left to evaluate each

zo enquanto, em volta dele, as índias o observam, inter-

with a banana plant as though he were an Indian

experiência compartilhada e de afirmação (da língua, dos ritos, da comida, enfim, do cotidiano de cada aldeia). Em Das Crianças Ikpeng para o Mundo (2002), quatro crianças apresentam sua aldeia, sua comida, seu cacique, e convidam o espectador – que, para elas, serão outras crianças índias, como elas – a fazer o mesmo, interrogan-

protagonist and their gestures, histories, qualities, sense of humour, and film presence. Cinema here is

rompem a colheita do amendoim e dão boas risadas.

As an example, we can recall the comic and

woman. He squirms his body, swings his hips, clings to the plant and ‘fakes’ an orgasm while the

a shared experience of affirmation of language,

Público, como nós, as índias produzem uma espécie de

Indian women watch on, interrupting the peanut

rituals, food – in other words, a celebration of the

rebatimento em espelho do índio-espectador no branco-

harvest to laugh loudly at his antics. A viewing

everyday life of each village.

espectador. Índio somos nós.

public like ourselves, the women produce a kind of

In From the Ikpeng Children to the World (2002), four children provide a guided tour to their village, their food and their chief. They invite the

A proposta de exprimir uma identidade já dada ou uma realidade estanque que pré-existiria ao filme, tão pre-

rebound effect where they function as the Indianspectator and white-spectator simulatenously. The Indians are us.

do-o, solicitando-o. A força do dispositivo montado aqui é

viewer – who they imagine to be other Indian

sente no discurso antropológico, etnográfico ou nos do-

que essas imagens são concebidas como uma espécie de

children like themselves – to do the same,

cumentários expositivos clássicos, não tem lugar nestes

hermetically-sealed reality, one predominant in

vídeo-carta, em que, se o “remetente” são as crianças da

questioning and probing these imagined others

filmes. Os olhares dos índios para a câmera, seus gestos,

anthropological discourse and classical

aldeia Ikpeng, o “destinatário” poderá ser qualquer um que

about their own lives. The film’s power derives

suas expressões, seus sorrisos, suas falas, são momentos

ethnographic documentaries, has no place in these

tenha interesse – cinematográfico, antropológico, etnográ-

from its conception as a kind of video letter in which the ‘senders’ are the children of the Ikpeng

intensos, fortes, justamente porque mostram a consciên-

The idea of expressing a pre-given identity or a

films. The glances towards the camera, the gestures, smiles and dialogue, are intensely strong moments

fico –, qualquer um que tenha curiosidade pelas histórias

village, while the ‘recipients’ may be anyone with

cia de que se trata de um jogo entre quem filma e quem

precisely because they show an indigenous

dos outros. “Todo documentário se interessa pela ficção

an interest (cinematographic, anthropological,

é filmado, um jogo em que a performance dos índios está

awareness that the filming involves a game

dos outros”, disse Jean-Luc Godard, sintetizando em larga

ethnographic) – anyone harbouring a curiosity

ligada a fatores que são produzidos pelo documentário,

between filmer and filmed – a game in which the

medida a proposta destes filmes. O destinatário se bifurca

about the lives of other peoples. “Every

para o documentário e que não existiriam sem ele.

performance of the Indians is linked to factors that

então entre um destinatário-mesmo, empírico, fixável (as

30

says to camera: “And here we are appearing over

documentary is interested in the fiction of others,” declared Jean-Luc Goddard, aptly summarizing the

É verdade que toda uma corrente do cinema documen-

crianças de outras aldeias) e um destinatário-outro, dis-

idea behind these films. The recipient is split, then,

tário moderno – o cinema direto – rompeu com a tendên-

tante, nômade, um outro sempre outro. Sem dúvida, trata-

into an empirical and fixable like-recipient (the

cia de pensar os filmes como representação de signifi-

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

are produced by the documentary and for the documentary and which do not exist without it. True enough, one school of modern documentary cinema – direct cinema – has broken with the

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

31


cações pressupostas do real. E, como essa corrente, esses

tendency to think of films as a representation of a

para além das zonas reservadas aos esquematismos da

far beyond editing techniques and ideals of

filmes partem do pressuposto que a filmagem produz um

predetermined reality. Like direct cinema, these

montagem, dos discursos e dos ideais de verdade. O pro-

discursive truth. Vídeo nas Aldeias has been

outro contexto, cria acontecimentos novos. Não basta li-

produces its own context and induces new events.

jeto Vídeo nas Aldeias, existindo desde o final dos anos 80 – um tempo longo, que implica numa ética do rigor e

working with indigenous peoples since the end of the 1980s. Although a long running project, it still

gar a câmera diante de alguma coisa e achar que a “reali-

It is not enough to switch on the camera in front

dade” virá à tona. Neste aspecto, creio ser fundamental

of something and believe that ‘reality’ will naturally

da responsabilidade –, pode reivindicar a seriedade de um

shared for us to be able to accept its central point;

o trabalho desenvolvido nas oficinas de formação do

come to the surface. On this point, the work

cinema que suspende o juízo sobre a natureza real ou en-

namely, that we are an ‘other’ for the ‘other.’

Vídeo nas Aldeias, trabalho este que, como explicam os

developed in the Vídeo nas Aldeias workshops is

cenada do mundo, e não almeja uma verdade dos índios

Watching these films with their sheer abundance

coordenadores do Projeto, Mari Corrêa e Vincent Carelli,

fundamental: as the Project coordinators Mari Corrêa and Vincent Carelli explain, this training

– pois sabemos que esta habita no horizonte como promessa, raramente como fato. Escutemos pois o que dizem

needs to be much better publicized, screened and

of themes, protagonists and life histories, it struck me that rather than aiming to reach some eternal

reflete a opção por um estilo de filme, uma linguagem

process favours a particular style of filmmaking, a

que implica experimentação, pesquisa. Não podemos es-

language which implies experimentation and

os Ikpeng, os Panará, os Ashenika, os Xavante, todos esses

promise than a fact – this project explores the

quecer, como enfatizam os coordenadores, que os reali-

research. As the coordinators remind us, the

que viemos a chamar, por esquecimento, “índios”, como

actuality of a time-frame in which the imaginary

zadores são aprendizes e que num processo de formação,

filmmakers are apprentices and, as in any training

quem diz ‘os outros’, quando fomos nós que, a depender

and the real become increasingly indiscernible.

a interferência ou a influência dos instrutores é real e,

process, the interference and influence of the instructors is real and – in this case at least – fully

desses filmes, nos tornamos outros.

truth about the Indians – an idea forever more a

A project in which we absorb the words of the Ikpeng, the Panará, the Ashaninka, the

neste caso, plenamente assumida. A câmera aqui instiga

assumed. Here the camera induces and creates the

Xavante – all those who we came to call, through

e cria o fato que ela está documentando, rompendo de

‘facts’ being documented, diverging radically from

forgetfulness, ‘Indians,’ another way of saying

forma radical com a forma de fazer filmes sobre índios,

the more usual way of producing films about

‘others,’ when it was actually we who, as these films

sobretudo nos documentários etnográficos mais clássicos.

Indians, especially in classical ethnographic

suggest, made ourselves others.

Trata-se de um cinema cujo dispositivo é extremamente

documentaries. This generates a cinema whose workings are extremely porous, enabling everyone

poroso, para que cada um possa percebê-lo como próxi-

to sense its proximity, a transparent and accessible

mo, ao alcance de sua mão.

process always within touching distance.

Há toda uma força do gesto que representa o projeto Vídeo nas Aldeias, força esta que é anterior às histórias que tais filmes contam. Creio que esse gesto precisaria ser bem

A unique conception of film pervades the Vídeo nas Aldeias project as a whole, an originality of approach anterior to the histories told by the films themselves. I think this approach needs to be much

mais compreendido, levado muito mais a sério, no seu enga-

better comprehended and taken much more

jamento, na sua poesia, nas indagações éticas e estéticas

seriously in terms of its engagement, its poetry,

que traz consigo. São filmes cujos realizadores estão estrei-

and the ethical and aesthetic questions it provokes.

tamente integrados a todo processo de produção; pesqui-

These are films whose producers are closely bound

sam e escolhem seus personagens, filmam e editam suas

up with everything that happens, who research and select their protagonists, film and edit their

narrativas, suas relações com o corpo, com a comida, com

narratives and their relations to the body, food and

o trabalho, supervisionados por instrutores que questionam

work. In turn, these filmmakers are supervised by

suas escolhas, discutem, sugerem, acolhem e aprendem. Po-

instructors who question their choices, discuss and

deríamos dizer, sem medo de exagerar, que a grande questão

make suggestions and equally take heed and learn.

que atravessa o Vídeo nas Aldeias é: como propor aos índios

Undoubtedly the central question traversing Vídeo nas Aldeias is: how to propose to the Indians a

um projeto através do qual os documentários feitos se tor-

project through which the documentaries become a

nem um documentários “deles”?

documentary ‘of them’ and ‘by them’?

Porque dar a palavra ao outro (pobre, índio, minorias)

Simply allowing the other (the poor, Indians,

para que eles se exprimam não basta, dizem esses filmes.

minorities) to speak is not enough – or so these

É necessário que estes personagens reais sejam capazes

32

indigenous films presume that the filming process

films tell us. These real protagonists need to be capable of inventing their own language, provoking

de fabular, inventar, fazer emergir a imaginação no mun-

the imagination to emerge from the world of

do da razão. Diria, por isso mesmo, que estes filmes estão

reason. For this reason, I think these films take us

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

33


Conversa a cinco For the english version, see the website www.videonasaldeias.org.br

pas? Isso será sempre uma tendência? Haverá uma

ESCOREL

versão ou não para eles? Até que ponto eles se

gindo ou editando, e acho que isso é quase que es-

divertem mais com o bruto? E como é que eles vêem

sencial.

esse produto? São questões essenciais para mim e que EDUAR DO ESCOR EL

eu não conheço a resposta.

MARI CORRÊA

que a gente fez. É um filme feito por vários reali-

VINCENT CARELLI

C

onvidamos os cineastas Eduardo Coutinho e Eduardo Escorel para conversarem conosco sobre os filmes dos realizadores indígenas produzidos pelo Vídeo nas Aldeias. Enviamos vários filmes a cada um, além dos textos do primeiro catálogo. Nossa intenção era recolher suas “impressões cinematográficas” sobre essa produção indígena que ainda é pouco conhecida no pano-

– Ele está falando do caso específico de

ESCOREL

– No documentário, hoje em dia, cada vez

mais o diretor assina com o montador.

zadores, índios do Acre mas de etnias diferentes. Eram

VINCENT

– O mistério que fica para mim é que em

exercícios de filmar o cotidiano de alguém, sem ro-

sença do diretor.

vários filmes vem escrito “oficina de vídeo”, e eu não

teiro pré-estabelecido. Essa montagem é uma das que

sei bem o que é oficina de vídeo. Como é que são feitos

é assinada por vários e comigo junto. No filme há uma

os filmes? Quanto tempo dura a oficina? Como são

introdução em que eu apareço mostrando a um deles

escolhidas as pessoas? O que eu quero colocar é o

onde é o “in” e o “out”2, tem eles se apresentando,

seguinte: o diferencial que vocês têm – mas que eu

porque eles estão ali, o que eles estão fazendo, o que

ESCOREL

acho que não está tanto nos filmes como deveria estar

eles estão a fim de mostrar. É um filme que começa…

os dois, sempre, porque a concepção do filme, de ma-

COUTINHO

– Mas nenhum filme é montado sem a pre-

– Um montador pode intervir muito ou pouco

MARI

num filme. Eu acho que tem filmes que são uma coautoria. Outros não ... – Por isso é que eu acho que deviam assinar

neira mais ou menos explícita, está presente no mo-

rama do documentário brasileiro. Embora a antropologia

– é que vocês fazem filmes com índios. E que eles não

seja um campo riquíssimo (e inevitável) para pensar e

são iguais, para começar. Tem tribos do lado do Peru,

discutir esses filmes, queremos que eles circulem num

tem os Waimiri… Devem ser distâncias incríveis. Mas

MARI

– É uma introdução. Cada um pré-editou a sua

na reelaboração, na remanipulação. E eu acho impor-

espaço mais amplo e não fiquem restritos à uma só abordagem. Nosso esforço atual, e o sentido dessa mostra, é de ampliar sua visibilidade. Foi exatamente por aí que começamos a discussão, com a pergunta do Coutinho: “Por onde circulam esses filmes?” Falamos dos festivais internacionais e nacionais, lembrando que apesar de muitos deles ainda imporem limite de tempo (injustamente, pensamos) para docs em vídeo, os filmes até que passeiam bastante, ganham prêmios… Mas o que planejávamos ser uma entrevista deles feita por nós, rapidamente se tornou o contrário. Eles

como se passa uma oficina? O que vocês dizem ou não

parte, e para costurar o tema, eles fizeram uma en-

tante para quem vê os filmes entender isso. Se é um

para eles? Esses filmes são feitos para nós, mas há uma

trevista com três velhos contando o que eles faziam e

projeto em que eles aprendem a usar a câmera e pas-

versão para eles?

deixavam de fazer no tempo das chuvas. Agora, para

sam a ser diretores é importante indicar que eles par-

Há uma questão aí que eu acho essencial: as con-

cada filme vamos usar o mesmo procedimento? São

ticipam da edição. A meu ver, isso não diminui em

dições de produção de um filme são sempre impor-

filmes híbridos. São pessoas que estão aprendendo a

nada a importância e a contribuição de quem estiver

tantes em um documentário. Nesses são essenciais.

lidar com uma linguagem cinematográfica, que é o

ali como editora ou como editor.

nos fizeram perceber a que ponto os filmes e o projeto suscitam questões, das mais básicas às mais complexas. Muitas perguntas ficaram sem resposta ou foram respondidas parcialmente, às vezes perdidas no calor da discussão animada. Certamente haverá outras oportunidades de discutir e aprofundar os temas aqui esboçados. O encontro foi na casa de Beth Formaggini num dia de escaldante calor no Rio de Janeiro. Ele durou três horas e foi gravado em vídeo por Sérgio Bloch, que, além de cineasta, é membro do Vídeo nas Aldeias e instrutor das oficinas. O texto foi editado e organizado por mim. Todos o leram e deram seus palpites e sugestões de corte. MARI CORRÊA

34

– Eu não sei se vocês chegaram a ver No Tempo

Das Chuvas, que foi fruto da primeira oficina regional

SÉR G IO BL OCH

COUTINHO

vocês. No cinema profissional, sei lá...

EDUAR DO COU T INHO MARI

– Hoje em dia, eu tenho assinado, sim. Diri-

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

E aí vem a questão da montagem, que eu sei que é o processo mais difícil de fazer. Dos quatro filmes que eu

COUTINHO

– Com uma auto-reflexão deles?

mento que você está gravando. Eu não acredito muito

que a gente se propõe a fazer. A perspectiva deles é VINCENT

diferente da nossa. E eles nunca foram ao cinema.

vi, um tinha quatro indígenas e você [Mari], eu acho,

Além disso, nos créditos você lê: “O filme foi feito

não é isso?1 A questão mais complicada de todas é a

durante a oficina sob a coordenação de fulana e de

MARI

seguinte: os tempos dos filmes que a gente vê são os

fulano”, quer dizer, não há uma vontade nossa de ficar

articulam.

nossos tempos.

se escondendo atrás dos índios. Como se fossem filmes

Tempos de um documentário que tem, como você me falou, regras: não tem zoom, não tem nada a ver com o que é mostrado na televisão. Mas é muito bem filmado, a câmera nunca erra, não tem um erro de diafragma, a câmera não treme. Etnograficamente você filma uma hora para fazer uma embira. Mas esses filmes tem um tempo que é o tempo que eu posso aceitar. Isso tende a mudar ou não? Até que ponto esses filmes são feitos – como você [Vincent] de-

ESCOREL

– muda a forma de filmar. As idéias se

VINCENT

“puros”.

– O cara que está aprendendo a filmar, na

hora que ele descobre a montagem…

– É o grande momento da formação dele. Aí

ele dá um salto de qualidade… – Eu posso te fazer uma pergunta sobre

isso? Eu teria muitas outras coisas para dizer antes, mas já que você está falando disso… Quando você

MARI

– para o entendimento da coisa...

VINCENT

– Eles descobrem os truques da montagem...

assina a edição e não põe o nome do diretor, eu leio que ele não acompanhou a edição, que ele não estava presente, e isso me causa estranheza por dar impres-

MARI

– E para uns isso é mais fascinante do que para

outros, assim como é fora do mundo indígena.

são que a edição foi feita sem a participação de quem assinou a direção.

clarou uma vez – para o público civilizado entre asMARI 1. No Tempo das Chuvas, montagem assinada por Mari Corrêa, Lullu Manchineri, Isaac Pinhanta, Valdete Pinhanta e Marú Kaxinawá.

– Mas nos teus filmes, você assina a edição?

2. Como se corta o começo e o fim de um plano

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

35


A QUEM SE DIRIGEM OS FILMES? COUTINHO

– O público preferencial para essa rece-

pção é o público não indígena? MARI

– É para outros povos indígenas – porque eles

têm essa necessidade, essa vontade de se comunicar entre si, eles têm pouca oportunidade de se conhecerem. E para os outros, os não índios, digamos assim. COUTINHO

– Mas eles mesmos, eles vêem? Eles se in-

teressam? MARI

mes ganhassem mais com isso. Agora, a verdade é que

público...?” “Eu sinto falta de saber onde eu estou”.

exemplo: “Olha por razões econômicas, ou por razões

para nós é impossível falar do projeto. Eu vi só oito fil-

“Que povo é esse?” Se você pensa explicitamente em

gramaticais universais, não filma uma cena de mais de

mes de um trabalho que vocês vêm fazendo há dezes-

fazer um filme para divulgar a realidade indígena, com

um minuto, quando não está acontecendo nada”. Vo-

sete anos.

um público completamente...

cês dão essa instrução?

MARI

– O trabalho de formação tem oito anos.

ESCOREL

– variado e heterogêneo…

VINCENT

– Eu vi quatro recentemente…

VINCENT

–... e ao mesmo tempo você quer trazer

COUTINHO

COUTINHO ESCOREL

– O primeiro filme que eu vi foi Ou vai ou

racha, de 98 e o último é O Amendoim da Cutia, que é de 2005. Dá para ver uma transformação. Não sei se ela

– É o que eles mais querem ver. E eles também

gostam muito do material bruto, além dos filmes. Gostam de assistir e re-assistem centenas de vezes, por exemplo quando se trata de uma festa, um ritual deles.

reflete o projeto como um todo. Mas nesses oito dá para ver uma transformação entre o cinema que talvez possa ser chamado de um cinema mais militante no início, para um outro tipo de cinema que está sendo feito hoje em dia. Uma militância menos explícita. Mas

longo se o cara filma trinta segundos aqui e vinte

são direções um pouco contraditórias. A gente não

segundos ali.

quer botar mapa. Não quer dizer onde está e que rio que é. Pouco importa se a gente disser: “a tribo tal, na beira do rio Araguaia...” O cara não sabe onde é uma tal cidade, não conhece o rio Araguaia, enfim... A gente procura justamente não botar essas informações. E ao mesmo tempo se fala da montagem e do tempo...

eu acho que no máximo dá para a gente discutir os

blema complicado. A montagem é universal e não é

filmes que nós vimos. Eu vejo os filmes e fico na dúvida

universal. São códigos que são criados para nós. Mas

para quem eles estão falando. Quando eu vejo a

eu me pergunto o seguinte: vocês dão a eles regras,

vídeocarta das crianças3, eu leio na capa do dvd, mas

que são regras de uma linguagem mais ou menos uni-

não vejo no filme, nenhuma indicação de que aquilo é

versal, rejeitando um modismo ou outro… Então se

uma resposta a uma videocarta que eles receberam. Eu

COUTINHO

você fala: “Falta um plano para ligar”, isso é a nossa

fico pensando: “Estão falando para mim?”.

que é possível tratar melhor a questão do tempo.

lógica de linguagem documentária. Por que você não pode ter um corte descontínuo? Porque você não pode ter um plano extraordinário fora de foco? Por que a câmera não pode tremer? E o problema não é de fazer que não trema, tem que fazer sempre melhor. E aí

COUTINHO

– Não está no filme. Eu não sei o método

que vocês podiam ter… podia ter um trecho, dois trechos da carta dos cubanos. Que já dava o seguinte, “Alguém mandou para eles…” – É um pouco na linha da coisa de integrar

COUTINHO

– Eu acho que é há um meio termo. Acho

Diminuindo a nossa necessidade de: “Não, isso saturou...” Ter filmes que tenham isso, que permitam isso. Porque tem uns que não permitem isso, tem uns que pedem isso.

para o mundo, eu conheço o material bruto. E os

isso faz falta.

Ikpeng – que é o povo com quem eu mais trabalho –

situação foi feito aquele filme.

diferentes, com hábitos diferentes? Eu tenderia a dizer que acho difícil, num mesmo filme, conseguir atender a uma gama de públicos tão grande. MARI

– Alguns que funcionam mais para fora e outros

agradam mais para dentro... ESCOREL

– Com certeza, mas me parece dar aos filmes

uma certa indefinição que que se reverte contra os pró-

ESCOREL

– Me incomoda não saber onde eu estou,

CADA FILME SEU TEMPO

COUTINHO

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

ESCOREL MARI

– É, ou isso.

– Acadêmico.

– O filme em tempo real.

MARI

decifrar certas coisas que estão já dadas ali. Não é você

– O tempo de certa maneira está impreg-

COUTINHO

– Ele varia, com certeza. Mas deve ter al-

deias não taquicárdicas.

– O Escorel fala, por exemplo: “Quem é o MARI

– A nossa experiência com documen-

tário... com o câmera... é que às vezes você não tem escolha pelo seguinte: uma pessoa começa a se afastar da câmera, e aí o cameraman corta e você está fodido.

– Como a aldeia do Shomõtsi.

COUTINHO

impor. Por isso que eu reclamo um pouco de certas edições.

– Exatamente. É aí que eu queria chegar.

ESCOREL

– Você tem razão, nesse sentido. Eu acredito

terial gravado. E acredito que editar é um pouco

– Os filmes não precisam ser iguais…

ESCOREL

prios filmes. Se o foco fosse mais preciso, talvez os fil-

36

– Isso se aproxima muito do filme etnográfico

profundamente que o tempo esteja impregnado no ma-

“Como é que foi feito esse filme?” Às vezes é óbvio,

3. Das crianças Ikpeng para o mundo

Não é isso que eu estou dizendo.

ESCOREL

ESCOREL

VINCENT

vocês vão se danar.” Tem dez planos de dez minutos.

deles é outro.

nado no material que foi gravado.

né? Mas nos casos “extra nosso mundo”…

nos de 12 minutos , “porque o nosso tempo é outro,

são taquicárdicos, eles são a mil por hora, o tempo

estou, tudo isso me incomoda. – Todo documentário me interessa saber:

intelectual de origem navajo que se autoriza fazer pla-

COUTINHO

– Fui eu também que editei Das crianças Ikpeng

me incomoda não saber a que distância de onde eu

COUTINHO

“É o tempo navajo”. Pode ser até verdade, mas já é o

MARI

MARI

se dirija a tantos públicos diferentes, com códigos

– Uma vez tinha um festival não sei a

clássico.

espectador, aqui no Rio de Janeiro, vendo os filmes,

os filmes se dirigem. Será possível fazer um filme que

nada, você corta”, a gente não teria aquela cena.

era navajo para caralho. Era um plano de doze minutos.

Eu acho que em certos momentos, para mim como

– Te incomoda não saber exatamente em que

ensinasse para o cara: “Olha, um minuto sem acontecer

vajo, um cara que provavelmente fazia universidade,

entendeu?

SÉRGIO

aquilo só funciona porque não tem corte. Se a gente

o cara que fica sentindo a falta de contextualização...

ESCOREL

ta ambigüidade em relação à questão de saber a quem

sai e diz: “Fiquei quinze minutos dentro d’água...”,

onde, que ia passar um filme navajo. Estava lá o Na-

o processo dos filmes como o Coutinho estava falando.

– Na verdade, eu veria esse problema de

– Aquela cena do Shomõtsi que ele mergulha, a

câmera não corta e espera o cara sair da água – daí ele

– ... do que dar as informações para situar

VINCENT

fazer, que não se fazem na linguagem tradicional,

ESCOREL

MARI

COUTINHO

– Isso é muito mais importante…

então entra o problema das mil coisas que você pode

uma outra maneira. Vendo os filmes eu sinto uma cer-

– Porque você não pode montar mais

para a edição o “tempo” dos índios, eu penso que isso

– Pois é, mas veja bem, aí tem um pro-

COUTINHO

– Não.

– Você limita a duração do plano? Por

– É porque nós todos fomos condicionados

a fazer isso.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

37


COUTINHO

– É uma não ação? Não. A ação é boa, é

uma pessoa que vai e entra no mato. Você deixa três, quatro segundos mudos. Eu posso precisar na montagem. Então é nesse sentido que eu acho que nas oficinas tem que ter o tempo além do tempo morto, para poder ou não usar depois – salvo se você não tem dinheiro. Porque na TV Globo era assim: você não podia filmar porque era em dezesseis milímetros, entendeu?

O BACANA É A IMPUREZA COUTINHO

COUTINHO

– Porque é isso que está acontecendo e o

cara continua índio. Até que ponto então nas filma-

o outro é essa coisa da impureza. Você tem num filme

gens eles decidem o que vão filmar?

um professor na aldeia, no final um cara dá um artesanato para ele vender e fala: “cento e cinqüenta reais” em português4. Tem essa coisa extraordinária… – “Deposita na minha conta.”

– Mas quando eles aparecem com o filme, eu não quero que eles façam o que eu estou dizendo para eles fazerem. Um dia, alguém vai fazer um filme maravilhoso com zoom. Espero eu, não sei...

ESCOREL

MARI MARI

– Nós também esperamos isso deles!

– A gente não participa das filmagens. – É gozado, como as mesmas coisas têm leituras completamente diferentes. Tem a tua leitura, a leitura do Coutinho. O Coutinho acabou de dizer exatamente o contrário.

VINCENT COUTINHO

– Não? Você está vendo como é importan-

te mostrar as condições de produção. E a todo momento eles falam com a câmera. Olhando ou não olhando.

– Deposita na minha conta! É sensacional.

E sempre eles dizem o que vão fazer, o que estão fa-

coloquei naquele texto do catálogo sobre essa expe-

E daí tem outra mulher que pede para ele uma havaia-

zendo e o que acabaram de fazer. É uma coisa impres-

COUTINHO

riência de filmar o cotidiano. É um exercício legal por

na. Isso daí eu acho um aspecto extraordinário. Porque

sionante, isso aí deve ser de todos, esse negócio de

ESCOREL

conta disso. O cara vai filmar o personagem na roça.

é exatamente o contrário de todos os filmes que se faz

metalinguagem natural, “Se eu cair me filma”. A mu-

Volta para casa cansado, deita na rede. Puff! Ele corta,

sobre o outro. E está povoado de coisas desse tipo, “o

lher extraordinária que fala no filme – maravilhoso isso

não filma mais, porque não tem nada acontecendo.

branco faz assim, faz assado…” O cara está fazendo um

– a mulher que fala: “Você me filmou pelada, vai me

Mas como não tem nada acontecendo? Esse tempo,

troço, mas tem bacia de alumínio, o que não é ruim

pagar”.

que é o tempo da não-atividade – não é uma coisa

nem é bom, é um fato. Não adianta esse negócio de

que eles filmam espontaneamente. Esse entendimento

ficar na lamentação, tirar a bacia de alumínio. É uma

de que as coisas acontecem também no não-acon-

posição absolutamente retrógrada, essa coisa da pure-

tecimento não vem naturalmente.

za. Então isso está salpicado no filme e eu acho genial.

MARI

COUTINHO

– Quanto mais tiverem contato com a

televisão, vão ter... MARI

–… menos ainda.

COUTINHO

– Porque eles vão ver só o que é do Fan-

tástico... E vão ficar malucos. Porque realmente nada dura 30 segundos. MARI

– Exatamente...

VINCENT

– O cara quando começa a filmar fica cor-

tando. Ele tem que aprender a escutar: “O cara estava falando e você cortou?”. Aí ele começa a escutar, até chegar a esse ponto em que ele deixa o cara sair de quadro. COUTINHO

MARI

COUTINHO

Que dizer o fato de ter isso não impede que passe a paca na barriga, e que faça feitiço e etc... É seu mundo estranho mas que tem objetos que foram feitos no contato com o branco. Tem toda a referência aos brancos

ESCOREL

– Mas mesmo isso, Coutinho, eu acho que

não dá para generalizar, porque em certos filmes me dá impressão de uma certa interdição de se relacionar com a câmera. Por exemplo, tem uma cena que há uma mãe com a filha e a filha olha para câmera. E a câmera. COUTINHO

agressividade… de repente aparece no lugar um cara

cena.

que eles matavam antes e que não vão mais brigar6. Não é verdade? Então tem um avião… a convivência com esse tipo de coisa. Aí vem meu problema: o que é que vocês filmam ou não filmam? São os caras que decidem? Você

– Se o cara fizer um discurso de vinte mi-

– Quem tem a prática da narração são, em geral,

os mais velhos. E quando eles começam a narrar é por uma ou duas horas seguidas. Não tem narraçõeszinhas, não tem frases curtas. E eles filmam até o final, até o

dios? Por exemplo, uma hora as meninas vêm correndo, acho que é na hora do futebol, e um cara diz uma frase

– É mal educada. Eu acho ótima essa

ESCOREL

– A cena é muito boa, mas vendo o filme

me dá a impressão que alguém disse para essas pessoas que não podiam olhar para a câmera. E eu acho que em vários filmes dá impressão que há essa interdição, dá impressão da interdição porque não tem zoom, acho que tem um zoom em oito filmes. MARI

– Não tem zoom.

tuguês. Então minha pergunta é o seguinte: até que ponto vocês permitem que a impureza invada?

– Eu queria fazer umas colocações um pouco mais gerais sobre o projeto para dar uma situada. É um projeto que nasce de uma militância política sem dúvida. Uma das preocupações – nossa, e deles, porque isso é um desejo deles – é ter uma visibilidade nacional. Também é uma questão de auto-estima – “Pô, eu sou diferente. Quer saber como é que eu sou?” Eles circulam de uma maneira completamente anônima, e a vida que eles têm na aldeia não podem trazer para cidade, enfim. Então há da parte deles um desejo profundo de aparecer, de se mostrar, de ser conhecido, e de serem reconhecidos…

– É proibido ter zoom.

COUTINHO

– Aí é o dogma. – Eu acho que eles têm um grande prazer de serem filmados.

COUTINHO ESCOREL

– E aí eu discordo de todas as interdições,

eu acho que... ESCOREL SÉRGIO

– Quando você dá uma aula no seu curso…

– E de serem vistos também.

– Eu acho que eles conhecem o valor da imagem rapidamente.

SÉRGIO

cara acabar de falar. 4. O Amendoim da cutia 5. Um dia na aldeia 6. Das crianças Ikpeng para o mundo

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

SÉRGIO

em português para as garotas: “Vamos jogar futebol”, alguma coisa assim... De repente tem uma fala em por-

– Isso não me incomoda – o que eu acho que poderia fazer parte é o seguinte: O que é que se ensina na oficina? O que é dito, não é dito ou não precisa ser dito ? Porque eu não conheço eles, entende? COUTINHO

VINCENT

que atira uma flecha lá, “Estamos matando os brande um cara que fala um troço desses com outra tribo

– Eu vejo em um ou dois filmes uma grande naturalidade com essa questão da câmera mas que me parece também resposta a uma direção, e tudo bem. E sinto em alguns outros momentos as pessoas evitando olhar para câmera, como se tivesse recebido uma interdição. É a minha impressão.

O DESEJO DE SER FILMADO

que é até curioso, uma delas é uma referência de uma

cos”5. Mas tem outra mais interessante ainda que é a

– O contrário de mim mesmo é comum.

mãe repreende a filha porque ela está olhando para a

tira na montagem os problemas de vocês com os ín-

nutos ele aprende a ficar até o final ?

38

– Estimulamos a invasão da impureza.

filmes em comparação ao filme que o branco faz sobre

VINCENT

– É, mas tem uma coisa, Coutinho, que eu já

– O que eu acho original e bacana nesses

MARI

ESCOREL

– Eu odeio zoom e digo isso pros alunos.

(risos)

– É interessante essa colocação do Escorel, quando ele sente uma ambigüidade. Quem é o público?

VINCENT MARI

– Mas para os índios não se pode dizer?

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

39


Na nossa idéia seria um público geral, quer dizer, o público da aldeia se assiste, participa da filmagem, vê o bruto e pode ter uma segunda versão extensa, quando são registros importantes em termos de memória. E tem também, como eu disse, a vontade de ter uma visibilidade nacional. E nesse sentido, a grande preocupação é desconstruir os grandes clichês, porque o índio é um ser exótico, está enquadrado em clichês. Uma das coisas a desconstruir é a projeção da pureza: “Índio tem que ser puro. Esse está de celular.” Já cria um constrangimento. As pessoas se incomodam porque não é assim que elas imaginam ele. MARI

– Isso é nocivo para eles.

COUTINHO

– Mas daí eu acho que justamente o pro-

cesso de filmagem e de escolha da oficina é que pode mostrar um pouco isso, para sentir o que você disse.

COUTINHO

– Essa questão é uma complicação pra

mim… MARI

A D I TA D U R A D O C O L E T I V O – O C A S O X AVA N T E E P A N A R Á VINCENT

– Por exemplo os Xavante – que é um povo

guerreiro – que tem uma importante iniciação entre as crianças, é um verdadeiro exército. Tem prova de for-

COUTINHO

– Cada um é uma coisa…

velha. Eu não sei se ele é o cacique, acho que é… COUTINHO

– O cara engraçado do Amendoim da Cutia

VINCENT

VINCENT

que o documentarista, ou não?

COUTINHO

SÉRGIO

– Sim. – Depois de pronto o cara pode dizer:

COUTINHO

tem suas normas, tem que formar os jovens e é evi-

acontece?

ga pra falar com a câmera e o guarda vem e puxa ele. Então o jovem se rebela e o câmera corta. Eu: “Pô Di-

COUTINHO

– Isso é maravilhoso.

– Isso não está no filme, infelizmente.

– Não.

COUTINHO MARI

fazer o som, se você não chegar perto não capta o som. Então já tem uma questão aí que é intrínseca da forma de filmar. Você tem que se aproximar.

– Cada povo é um povo.

COUTINHO

– Eu vejo que alguns são muito desor-

ganizados, ou pelo menos mostram…

– Sim, mas “cada um é uma coisa” significa o quê? O que quer dizer “cada um é uma coisa”?

COUTINHO

decer. “Divino, mas essa briga é fantástica! Sai da li-

antes era melhor”. Daí vem uma velha ótima, uma

nha. Tudo que é acidental é muito melhor do que o

mulher que fala assim: “Pôxa, o chão está duro, está

dogma, assim o seu filme vai ficar muito chato. Vai

doendo o pé”8. É do cacete isso. Você quebra a coisa

ser a aula de como se respeita o ritual”. E aí começa

do ritual, com uma mulher que se queixa que o chão

uma discussão com ele na edição. E ele tem que se

está duro e está doendo os pés dela. Aí eu me pergun-

remeter aos velhos, faz a edição e leva para a aldeia.

to, o cara vê isso e não tem problema?

MARI

– É que eles são muito diferentes.

– É, são, mas ao mesmo tempo não são diferentes entre eles como são de nós. Em que o valor do indivíduo é sagrado… Faça um filme, em qualquer lugar que você vá passar, pode ser na favela, pode ser em Copacabana, não tem unanimidade nenhuma. Imagino que na sociedade tribal isso seja menor. É diferente, porque tem um coletivo muito maior.

COUTINHO

VINCENT

– Sem dúvida.

COUTINHO

– Agora, assim mesmo cada um é a uma

coisa? – Claro. Tem uma identidade coletiva e uma identidade individual. Eu acho que o coletivo, a identidade coletiva indígena tem uma força que pra gente não tem...

– Em parte não. Ele queria tirar isso do fil-

MARI

VINCENT COUTINHO ESCOREL SÉRGIO

– Ah, é isso que eu quero ver.

– Isso é importantissímo…

– Todo filme tem seu off.

COUTINHO

– Tem uma autoridade que existe e você

– Os velhos sempre falam “Não era assim,

– E do ponto de vista ético, não vale roubar a

pessoa… que essa pessoa esteja a fim de ser filmada. Eu não vou ficar aqui, do lado esquerdo da margem do rio, filmando escondido o cara que está do outro lado. COUTINHO VINCENT MARI

– Isso podia ser um problema com um

– Essas questões que você está falando,

– Mas vocês não vão à filmagem?

– Não.

– A idéia é jamais estar presente no local da

filmagem. COUTINHO

Coutinho, éticas, são questões que a gente olha na

ESCOREL

– Daí vocês se trancam com cadeados?

– O Coutinho gosta de coisas concretas, já

perceberam?

hora da montagem. Se alguma coisa pode prejudicar alguém, você tira.

quase não vê. Não só os Xavante, todos têm. Tem uma

COUTINHO ESCOREL

SÉRGIO

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

– Mas o som é muito bom.

imagem de ninguém. Vai e cria uma relação com a

Xavante, mas não é com os Panará. SÉRGIO

ESCOREL MARI

– Aparentemente.

Está aprovado ou não está?

– É, de início, sim. Eu acho que a questão do

cê está fazendo câmera sozinho, sem uma pessoa pra

– Em geral as aldeias têm um conselho?

– Não tem “em geral”. Não é assim.

VINCENT

– Mas já receberam a proibição de usar zoom.

dogma é muito relativa. Primeiro, o zoom. Quando vo-

me porque não é o dogma. As crianças têm que obe-

VINCENT

– Sozinhos.

– Frequentemente, ou não? MARI

vino, por que você cortou?” “Ah! Porque o cara veio tinuar filmando eles vão falar que a culpa é minha”.

Eles vão e ficam sozinhos…

ESCOREL

MARI

– Daí eles vão filmar na aldeia, é isso?

– Acontece.

COUTINHO

uma briga entre um jovem e um guarda7. O jovem che-

– Quanto tempo dura a oficina?

– Três semanas, um mês.

COUTINHO

MARI VINCENT

ESCOREL

COUTINHO

40

MARI

“Isso eu não quero. Isso é ruim pra aldeia”? Isso

sacaneando a gente”. De repente na filmagem pinta

– Essa é a primeira semana.

pois da filmagem, o cacique tem uma autoridade maior

E aí tem um embate com a gente, tipo assim: o ritual

apertam a rosca e os jovens reclamam, “Pô, eles estão

– Esse é o bê-a-bá.

– Eu imaginei. Depois da projeção ou de-

–… Cada um é um desejo, uma idéia, uma maneira de reagir… VINCENT

– Vocês fazem a oficina para ensinar co-

mo maneja a câmera, esse é o ponto de partida? MARI

COUTINHO

ça… E eles têm um desejo de construir uma imagem.

falar com a câmera e o velho não gostou. E se eu con– Qual?

COMO FUNCIONAM AS OFICINAS

é o chefe.

dente que os jovens se rebelam. Uma hora os velhos –… O Coutinho vê um monte de impurezas que ele acha maravilhoso e a gente insiste mesmo para que o real esteja ali. E cada um é de um jeito, tem uma forma diferente de reagir, valoriza uma coisa, não valoriza outra…

VINCENT

hora que o homem gordo faz umas piadas com aquela

– É, dogma, dogma...

– O Coutinho quer coisas objetivas e con-

cretas… 7. Wai’a Rini e Daritizé, aprendiz de curador, de Divino Tserewahú – dois filmes sobre o ritual Wai’a Rini em duas aldeias xavante diferentes.

SÉRGIO 8. O Amendoim da Cutia

– Tem um lugar onde fica a oficina, onde está

a ilha de edição, as câmeras…

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

41


– É um espaço aberto e toda aldeia fica desfilando lá o dia inteiro.

VINCENT

COUTINHO SÉRGIO

– É uma espécie de espaço público?

– É uma associação, um lugar deles...

– Enquanto eles estão filmando vocês fazem o quê?

ESCOREL

COUTINHO VINCENT MARI

– Essa é uma pergunta genial!

– A gente vai cozinhar...

–… vai tomar banho...

VINCENT

–... ler, descansar…

ESCOREL

– Tudo bem, ninguém é de ferro.

COUTINHO

– Vocês visionam todo dia?

VINCENT

– Mandamos sim.

MARI

ESCOREL

– O pessoal que participa da oficina assiste

COUTINHO

aos filmes de outras procedências durante a oficina, ou

MARI

COUTINHO

MARI

– Sobre índio ou não?

– O que eles mais gostam é sobre índios, o que

tões, talvez dúvidas interessantíssimas…

– Todos vão. Todos têm que estar.

ESCOREL

– Nanouk é o sucesso?

MARI

VINCENT

– É. Nanouk é um sucesso.

SÉRGIO

– A gente passou Nanouk e em seguida passa-

MARI

– Eles têm que traduzir pra gente…

O QUE ELES QUEREM FILMAR

– E comentam coisas que a gente não tem

caras estão falando. Mas estão ali atentos.

– No começo das visionagens a gente fala muito, “pôxa, o cara ainda ia falar um negócio e você cortou”… e no fim da oficina a gente não fala mais nada. É claro que você dá um padrão, se é bom ou se não é. E às vezes no começo da oficina se você fala que alguma coisa está boa, a coisa vira padrão. E aí você tem que desconstruir aquilo. Se a gente elogia um plano, no dia seguinte…

pois vem o outro com os caras de moto na neve e tal.

– Mas o elogiado? Os outros ficam magoadinhos ou não? COUTINHO

MARI

– Às vezes vira uma competição

VINCENT

– Pode criar uma competição estimulante.

ESCOREL

– Tem mais de uma câmera em cada oficina?

SÉRGIO

– Umas três ou quatro câmeras

COUTINHO

– E toda oficina gera um filme?

– Nem sempre. No fim da oficina tem uma discussão e cada um traça seu projeto de filme. “O que você vai fazer?” VINCENT

– Então vocês sabem mais ou menos o que esses vinte estão fazendo? Vocês vão recebendo coisas? Aí mandam uma resposta?

MARI

– Há candidatos? Como é que é isso?

– Há candidatos. São selecionados pela aldeia.

documentário em que esse processo, e todas essas questões… Isso, garanto a vocês, para pessoas que trabalham nessa área, é fascinante, importante…

COUTINHO

COUTINHO MARI

– Eles indicam quem vai fazer.

ESCOREL MARI

– E quantas pessoas participam?

– Até seis. A oficina é assim: eles começam me-

xendo, aprendendo a fazer o foco, a gente não traba-

– Para antropólogo, para todo mundo que

lida com isso aí. ESCOREL

– Inclusive para entender e permitir a visão

dos filmes. Sem que isso apareça em todos os filmes. MARI

– Nosso desejo é que esses filmes possam exis-

lha com o foco automático, faz balanço de branco. Na

tir para além daquilo que a gente possa dizer sobre

hora que eles dominaram essas duas coisinhas, já co-

eles. Mas quando pessoas que não têm conhecimento

meçam a trabalhar fazendo exercícios. O exercício que a gente tem costume de dar é esse de filmar o cotidiano de alguém. Alguém que eles escolhem na aldeia para acompanhar, de manhã até de noite. E no final do dia, quando eles terminaram de filmar, a gente se

nenhum da realidade indígena assistem, isso evoca

COUTINHO

– Na frente de todos?

VINCENT

– A gente é procurado por eles e responde

a uma demanda, ao interesse deles. Mas a gente é procurado por vinte e aceita trabalhar com um ou dois. Depende do grau de organização deles. – Há uma escolha por logística? Lugares

sem terra demarcada, ou com questões graves desse tipo, ou madeireiros? Tem um critério? VINCENT

– Acho que depende das pessoas. Uma al-

deia que tem uma grande liderança, um cara visionário, que tem um projeto de resistência, ou que está preocupado, sentindo que está tudo se desintegrando, “A gente não está mais fazendo as coisas...”. COUTINHO

– Tem esse tipo de argumento ai?

tantas questões que eu penso: “Pô, mas então esses

VINCENT

filmes não conseguem …eles não têm vida própria.”

de transformação...

É isso o que eu sinto, quer dizer, é isso o que eu estou sentindo agora.

junta numa sala, que é aberta à comunidade toda, assistimos o material e fazemos uma visão crítica.

– Agora, porque escolher uma aldeia e

não outra? Vocês não vão escolher, por exemplo, os

COUTINHO

– Pelos velhos?

SÉRGIO

– Sem introdução eles não teriam vida

própria.

– Tem essa consciência aguda do processo

COUTINHO MARI

– Essa coisa é forte...

– A gente trabalha bastante no Xingu que é um

lugar privilegiado comparado a outros. A preocupação deles é em relação ao que já estão perdendo. Mas

– Eu acho que eles têm vida própria. Dos

quando você compara os xinguanos com o pessoal do

oito que eu vi, eu acho que três, claramente, têm vida

Acre... Os índios acreanos há cem anos foram mas-

9. Nanouk, o esquimó de Robert Flaherty

própria. Shomõtsi, Aprendiz de curador, e O amendoim

sacrados e claro, não é o mesmo grau de perda. Então

10. Documentário inuit de Bobby Kenuajuak.

da Cutia.

quando eles querem o vídeo na aldeia e fazer filme, é

ESCOREL

COUTINHO

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

– Acho que está ficando cada vez mais

evidente que esse documentário que o Coutinho exige que vocês façam, tem que ser feito. Pelo menos um

COUTINHO

COUTINHO

guaranis que se suicidam? Qual é o critério?

meiro tem o trenó com cachorro, aquela coisa... E deFoi bárbaro.

– Me faltam coisas… Porque é um outro

ber alguma coisa dele.

– Riem, comentam entre si…

ESCOREL

COUTINHO

mundo, entende? Esse outro mundo eu tenho que sa-

há um certo nível de…?

ESCOREL

MARI

– E há participação, comentam, discutem,

filmado por um Inuit. Foi muito legal, porque o pri-

– Todo mundo faz igual!

– Sem dúvida nenhuma são filmes que po-

dem ser vistos em qualquer lugar. Vão levantar ques-

– Durante o dia eles filmam e no final da tarde a gente se junta e assiste o material.

ESCOREL E MARI

ESCOREL

eles mais querem ver… S É R G I O – Eles gostam de Nanouk9.

– Não, não. Veja bem, eu estou dizendo

todos muito interessantes…

– “A câmera está tremendo.” “Não tem fo-

acesso, porque são feitas na língua. Eu sei lá o que os

VINCENT

foi feito?

que isso te provoca questões, você vê coisas… São

co.” Mas enfim, vocês fazem na frente dos outros? MARI

– Você se incomoda porque não sabe como ele

COUTINHO

mos Mon Village au Nunavik10, que é o Inuit de hoje MARI

42

– Vocês dizem: “a câmera não está boa”.

– É, tem.

– De noite tem cinema na aldeia.

COUTINHO

MARI

Tem coisa desse tipo?

depois? VINCENT

– Todo mundo vem.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

43


para “resgatar a cultura”. Os Xavante dizem que “é

MARI

– O humor é uma constante... às vezes mais es-

para registrar a cultura, para não perder, porque os

cancarado, às vezes mais discreto. Eu acho que esses

velhos vão morrer”. Têm uma preocupação imensa com

filmes captam isso porque os realizadores têm familia-

o processo de mudança, de querer registrar, de querer

ridade com as pessoas que estão sendo filmadas. Fa-

utilizar o vídeo como um instrumento de revitaliza-

lam a mesma língua. Eles estão ali interagindo com o

ção, é muito forte, muito forte mesmo. E daí a discus-

cara que está atrás da câmera e não esquecem em ne-

são sobre o que é cultura com eles. Porque senão a

nhum minuto que quem está detrás da câmera não é

cultura de repente é só ritual. Daí a gente só iria para

um branco, é um deles. E eu acho que esse é um as-

a aldeia quando tem ritual.

pecto interessante. As pessoas quando assistem esses

VINCENT

– Se você vai à aldeia e está todo mundo se

suicidando, está tudo em baixa e ninguém tem projeto de nada, o que você vai fazer? Você só pode levar o vídeo pra alguém que tem uma vontade, um desejo… COUTINHO

– É por isso que eu digo, pegar os

guaranis se matando é complicado demais... VINCENT

– Aí você dá um instrumento na mão do

cara, potencializa o empenho do projeto dele. Mas você pode ir num lugar onde as pessoas estão se suicidando e tem um cara visionário que pensa: “Va-

COUTINHO MARI

a ver comigo. Mas não é tão diferente de mim, porque a gente tem traços comuns. O humor é uma coisa com a qual você se identifica. Eles querem ser vistos como

visão. É por causa do futebol. VINCENT

MARI

tebol. Depois vem todo o resto junto no pacote.

anos, quando eu comecei, a idéia era que o vídeo seria um instrumento de troca de informação, denúncia… Quando eu fui a campo na aldeia Nambiquara, tinha roubo de madeira, problemas é que não faltavam. Mas eles não estavam minimamente interessados em fazer denúncia: “Nós queremos fazer a furação de orelha.” O que eles queriam que eu filmasse não era nada do que eu pensava, para que ia servir o filme. E isso eu

bol, né? E o cara que diz: “Marca bem!” é o mesmo ca-

usam em português.

gar num público que não sabe nada de antropologia,

que chega mais... Isso eu acho que é uma coisa bacana.

COUTINHO

MARI

– O que a gente acha mais legal nas reações das

pessoas que não conhecem nada dos índios é o comentário: “Puxa, eu nunca vi os índios desse jeito”. Eu acho

44

– Aquela corrida da tora, foi inventada

por um cacique quando viu o futebol? Ele fala: “O futebol é a bola e a gente tem a tora”. Aí tem eles levando a tora.

O FUTEBOL E A TORA COUTINHO SÉRGIO

– Quase todos vêem tv?

MARI

ESCOREL

não assiste televisão na aldeia. COUTINHO MARI

– Não se interessam?

– Não têm energia elétrica. – Quando tem um gerador, tem uma nove-

VINCENT

– E eles quase não conseguem carregar a

– Os Panará viram em outro filme uma cor-

COUTINHO MARI

aquela que estava no outro filme.

– Não. Mas é uma atitude... o cinegrafista

vai filmar na aldeia e quer um personagem. Então o cara fala: “Você quer ser meu personagem?” “Como é que vai ser?” “Eu vou filmar você trabalhando, etc...”.

– Às vezes a pessoa não está afim.

COUTINHO

– Uma mulher diz: “Não, eu não quero ser

– “Quanto é que você vai me pagar?”.

COUTINHO

– Isso é extraordinário. Tem isso?

MARI

– Tem. – Ah, isso tem que ter num filme...

– Coutinho adora essa discussão.

– Isso aparece naquela hora que ela fala: “Você

me filmou pelada... Agora você vai ter que me pagar”. VINCENT

– Então quando a pessoa assume ser perso-

– E aí quase não conseguem carregar.

VINCENT

– Eles se lascaram... Porque todo mundo saiu

COUTINHO

levou o filho dela quando ele tinha seis anos. A crian-

COUTINHO

mais próximas você sabe que rola muita brincadeira.

çada gostava de ver “Power Rangers”…

ra que é malvada.

– E o extraordinário é a destruição da to-

12. O Amendoim da cutia

– O efeito câmera é uma coisa extraor-

dinária.

completamente fodido...

MARI

– É, e ao mesmo tempo, claro, é a forma da pa-

jelança deles. COUTINHO

11. Das crianças Ikpeng para o mundo

– Às vezes a pessoa não autoriza?

ESCOREL

na vida da aldeia. Quando você começa a criar relações

– Eles vão rir.

VINCENT

nagem, ela passa a representar o que ela quer ser.

são meninos que já têm uma cultura televisiva. A Mari

ESCOREL

– E a pajelança, não é?

MARI

– E eles quiseram fazer a tora maior do que

deles, é o humor e as sacanagenzinhas, que são típicas

– O primeiro tropeço que você der...

ESCOREL

ESCOREL

– Fazem.

VINCENT

VINCENT

– É.

COUTINHO

– Os Panará também fazem?

que uma coisa bacana, que permeia toda essa produção

– Os meninos da vídeocarta11, por exemplo,

– Aquilo é uma representação ?

MARI

zem. Eles também quiseram mostrar a deles.

blema de energia, eles vêem e têm interesse? Jogo do Brasil…

– É extraordinário...

porque viram no outro filme que os outros também fa-

VINCENT

– Onde a televisão chega sem esse pro-

ESCOREL

rida de tora... É Krahô... E aí eles resolveram fazer

linha. Mas o gerador sempre quebra… COUTINHO

– Ela está brincando.

filmada”.

– Os Ashaninka não têm… Conhecem a televi-

são mas não têm a cultura da televisão. A comunidade

VINCENT

MARI

tora. COUTINHO

MARI

– Aquilo tudo é uma representação? Tem uma

senhora deitada fingindo que está sendo cortada...

COUTINHO

– É deles mesmo.

– Conhecem televisão.

VINCENT

COMO AS PESSOAS REAGEM AOS FILMES

– Tem um monte de palavras novas que eles

– Eles vêem os dos outros?

– Vêem, e adoram ver.

ESCOREL

MARI

É maravilhoso quando ele fala isso12.

são marcianos. E os filmes deles têm essa força de che-

cobre um lance maravilhoso ali. E que se aproxima, e

outros filmes.

ra que fala: “Eu sou técnico”. “Técnico” em português.

MARI

tive que entender na hora. Eles estavam interessados nas suas riquezas culturais.

– O que é bacana é que eles adoram fute-

pessoas que têm as suas especificidades mas que não

que não sabe nada de cinema, e que de repente, des-

e às vezes eles começam a representar as cenas dos

MARI

– Novela não?

– A razão para comprar uma parabólica é o fu-

COUTINHO

– Eles vão assistindo aos filmes dos outros

COUTINHO

– Futebol e Jornal Nacional…

COUTINHO

mos fazer, vamos acontecer, vamos resistir” Aí vale, vamos dar uma força para esse cara, não é? Há dezoito

VINCENT

– Ah, futebol… É por isso que querem a tele-

filmes sentem uma certa proximidade com os índios. É estranho, é exótico, é diferente, não tem grande coisa

– Futebol…

MARI

– E eles entram em transe mesmo?

– Entram.

11. Das crianças Ikpeng para o mundo

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

45


COUTINHO VINCENT

– Mas tinha um cara doente?

– Tinha. É representado, mas não é fake.

vez que ele estava filmando. E a gente ficava como dois bobos de queixo caído. COUTINHO

SHOMÕTSI

ESCOREL

– Ele não cursou a ECA.

– A sorte dele foi essa.

receber aposentadoria. Eu fiquei absolutamente estar-

– Durante dez dias ele viu a gente fazendo crítica à filmagem dos outros. Quando ele começou...

recido no Shomõtsi… Eu não tinha essa informação.

MARI

ESCOREL

– Olha, eu não sabia que índios poderiam

COUTINHO

– Ele parece um pouquinho marginal,

sabe? É o que fascina. ESCOREL

– A maneira como o dinheiro aparece no

filme, é extraordinária. A maneira como eles falam do dinheiro, a estrutura do filme é muito interessante... COUTINHO ESCOREL

– É, o filme é todo muito fascinante.

–... Porque ao contrário do que qualquer

um de nós faria, demora muito para ter a viagem para a cidade. Então a viagem pra cidade é surpreendente dentro da estrutura do filme. Eu acho que qualquer um de nós faria a viagem muito mais cedo no filme e exploraria muito mais a cena... COUTINHO

dinheiro da aposentadoria... – O fato dele levar um presente para o ami-

go, é muito bom. O filme é cheio de coisas... COUTINHO ESCOREL

– Trezentos reais...

COUTINHO ESCOREL

– Ele recebe seiscentos ou trezentos?

– Eram dois salários mínimos.

– E gasta cem em dois minutos.

COUTINHO

– Não, e aí é que está. Eu queria ver os

outros duzentos, e aí é montagem ocidental. Ele compra um tecido e o plano é cortado, e já são cem reais. Eu queria ver o que ele tinha comprado mais. MARI

– Eu gostaria de contar uma coisa sobre o Sho-

le, e ele ficava assistindo de fora. A gente percebeu e convidou ele para entrar no grupo. E ele já saiu filmando muito bem, nos nossos moldes. Era a primeira

46

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

– O começo e o final.

MARI

– Ali eu acho que também houve um pouco de censura da parte dele, porque visivelmente...

VINCENT

MARI

– Não, não. Partiu de mim.

COUTINHO

– É porque aí seria um nível de sofistica-

ção... um nível de individualização do relato que eu imagino que é muito difícil para qualquer índio ter...

–… o tio estava bêbado…

VINCENT

–… e ele não quis filmar. VINCENT

jeito. COUTINHO

– Daí vocês falaram assim: “Valdete, o que é que você quer fazer?”

– Ah, sim, agora entendi.

– O filme foi montado sem a narração. Quan-

do a Mari acabou, ela achou que estava faltando algo.

COUTINHO

– “Vou fazer o personagem do Shomõtsi”. Ele começou a filmar o Shomõtsi e chegava com o bruto que era de uma qualidade assim... não é só que a câmera é boa, que não tem “fora de foco”, é que tinha uma qualidade do olhar dele que era extraordinário. Um verdadeiro olhar. E a gente ficava de queixo caído com as imagens que ele fazia. Não era aquele negócio de um filme que você vai pinçando pequenos momentos interessantes a partir de uma constelação de coisas que podem ir para qualquer lado. O filme que saiu – Shomõtsi – são quarenta minutos de um bruto de quatro horas.

MARI

COUTINHO VINCENT

– A média lá é quanto? Filmar sete...?

– Em geral é muito mais.

– Ele fazia planos mais longos que os outros ou as durações são muito parecidas? O cara filma um minuto de um plano? Não pode filmar mais? Tem algum limite desse tipo? COUTINHO

– Teve um dia que ele foi fazer o banho do Shomõtsi. Era final de fita, não dava tempo dele voltar para a oficina pegar uma outra. Ele falou: “Eu vou fazer o banho dele em três, quatro minutos de fita”. E ele fez os planos e é aquilo que está montado, aquilo não tem corte. É exatamente como ele filmou. A cena que ele vai comprar tecido, ele estava extremamente constrangido de filmar dentro da cidade, não estava dentro da aldeia, com toda a liberdade de filmar. Ele filmou muito pouco. MARI

mõtsi. O Valdete, que fez o filme, entrou de gaiato na oficina. Quem estava fazendo a oficina era o irmão de-

COUTINHO

idéia dele narrar, que também para nós é muito boa, se partiu dele...

mas porque é fantástica. – … pegou a câmera e saiu filmando daquele

– Na cidade o branco não trata ele como

cachorro, o que seria o normal de fazer. Não chega o

ESCOREL

VINCENT

tem ali praticamente. E aquela cena da compra do tecido, troca do dinheiro, é praticamente o bruto aquilo lá.

COUTINHO

– Ele se sentiu mal de filmar na cidade...

M A R I – Constrangido, porque é um município que não é acolhedor aos Ashaninkas. E filmar naquelas circunstâncias… realmente ele filmou muito pouco, é o que

E S C O R E L – Ele dá a impressão de ter um domínio da linguagem que pelo o que você conta é surpreendente porque seria uma coisa instintiva da parte dele. VINCENT

– Ele é um grande desenhista. É professor.

MARI

– E eu dizia para o Valdete que ele precisava se

colocar mais, e ele lá, travadão, sem saber o que dizer... A gente conhecia um filme inuit13, também um filme de oficina, que tem uma narração em decalagem com o que está sendo mostrado.

– Na cena do banho, ele começa a tirar uma coisa que ele tem por cima... ESCOREL

MARI

VINCENT MARI

– A cusma, a túnica tradicional.

– A gente assistiu o filme com ele…

–… e depois gravamos uma narração sem es-

crever e sem preparar. –... para entrar na água. Aí há um corte para a imagem da margem do rio e há uma panorâmica, e ele já está dentro da água. Quer dizer, é um procedimento que qualquer um de nós faria para não mostrar eventualmente ele tirando a roupa, pelado. Ele não está pelado, e depois tem ele saindo da água e se vestindo. Então você percebe que não foi para esconder. Por qualquer motivo ele resolveu... ESCOREL

MARI

COUTINHO ESCOREL MARI

– Sem escrever o que ia dizer.

– Ele improvisou o texto.

– A narração começou a ser feita na ilha de edi-

ção. Ele com o microfone. Aí começamos a falar sobre o tio e eu perguntei: “O que quer dizer Shomõtsi?” “Bom, Shomõtsi é o nome de um passarinho...” Aí ele ligou para a aldeia para saber que passarinho era, que

– Fim de fita. Esse foi o motivo.

tipo de colibri... – Para economizar fita. Então ele revela realmente um instinto realmente impressionante. ESCOREL

– Agora, esse cara que é um talento desse tipo, ele tem alguma coisa de diferente em relação aos outros, não sei, viveu na cidade...? Porque é surpreendente. COUTINHO

ESCOREL

– Muito bom, isso.

COUTINHO ESCOREL

– Essa é maravilhosa.

– Essa cena é extraordinária.

COUTINHO

– É checar para não ficar feio... Vir os ve-

lhos depois e dizer: “Não... você não fazia nada...”. MARI

– Ele é muito apegado à aldeia... Não gosta de MARI

sair... COUTINHO ESCOREL MARI

– Ele narrava na língua dele – que eu não enten-

dia nada – aí a gente parava, ele me traduzia, a gente

– Não é um marginal...

discutia, guardava ou não. “Você está satisfeito... o que você acha?” Ele: “Essa está legal”. Então passava

– A idéia da narração é dele?

para a próxima.

– A narração foi feita na montagem...

– A gente sente que ela tem um tom um pouco artificial, que ela foi feita depois, mas se foi

ESCOREL

13. Mon village au Nunavik

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

47


ESCOREL

– No início tem um efeito narrativo e dra-

mático muito forte, muito eficaz. VINCENT

– A contribuição que a gente deu no pro-

cesso de filmagem foi num dia que ele chegou e falou:

curte fazer, é o negócio dele. Para o Valdete não é primordial fazer filme. Faz parte, se insere num mundo de coisas que ele faz, que ele se interessa...

“Dançou. Ele vai para a cidade tirar a aposentadoria”.

ESCOREL

“Maravilha. Vai com ele”. No dia seguinte ele volta

que talvez ele seja tão bom.

sozinho... MARI

MARI

– triste e cabisbaixo.

VINCENT

– “O que foi que houve?” “Ah, o dinheiro

não chegou.” COUTINHO VINCENT

– Putz, que maravilha...

– “E cadê seu tio?” “Ah, ficou lá esperando”.

“Volta lá!” “Mas a gente não tem nada para comer”. ”Está aqui o dinheiro.Volta para lá. Fica lá mesmo se não chegar o dinheiro... Mas você volta com o seu tio...” ESCOREL

– E ele aos poucos foi entendendo porque

isso era importante. MARI

– Sim. E na montagem isso se sedimenta. Quer

dizer, na hora que a gente começa a ver o material. Eram seqüências bem definidas. Tinha a seqüência do banho, a seqüência do artesanato, a seqüência da roça... “E aí, o que nós vamos escolher?” Aquela conversa toda deles sobre a coca é uma escolha dele. É longa toda a explicação lá. E a gente foi construindo. “E aí, nós vamos cortar?” “Onde é que corta?” Quer dizer, na verdade é uma pessoa que está aprendendo, como qualquer uma outra que esteja aprendendo. Eu fazia esse trabalho antes, não com os índios, eu fazia isso com outro tipo de público. É uma interação mesmo. É um diálogo. Um diálogo de edição. E é claro que se você tem mais experiência, você conduz mais o negócio da edição. Eu acho que num segundo filme… VINCENT

– O Divino já está editando sozinho. Está

com Final Cut lá na aldeia. MARI

– Com ele já estamos numa situação de menos

presença, não é? Faz oito anos que a gente começou esse programa de formação de realizadores e eu penso que ainda estamos bem no começo. Eu não sinto que a gente chegou a um patamar. Adquiriram autonomia? Não é isso. Eu acho que a gente ainda está na fase da experimentação. E cada um tem um jeito de querer

48

fazer vídeo. Para o Divino é fundamental, é o que ele

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

– Bem mais saudável isso. (risos) Por isso

– A gente lida com idéias muito diversas, inte-

resses diversos e entendimentos diversos... ESCOREL

– Eu acho que o espectador mais desinfor-

mado, não tem realmente nenhuma idéia da diversidade de situações... VINCENT

– E um pouco da ambição do projeto é

construir um grande panorama dessa diversidade...


realizadores indígenas a recente produção audiovisual de autoria indígena

native videomakers the recent native documentary production


realizadores indígenas | native videomakers

“Filmar é a minha profissão, é para isso que eu nasci... não foi para trabalhar de machado, eu não nasci para plantar. É isso que eu sempre digo para a minha mulher”.

“Making videos is my profession, I was born for it... I wasn’t born to work

Divino Tserewahú

with an axe nor plant fields. And this is what I always tell my wife.”

29 anos, Xavante da aldeia de Sangradouro (município de General Carneiro, Mato Grosso), seguiu o trabalho iniciado pelo irmão: durante

HEPARI IDUB’RADA, Obrigado irmão

anos, Divino registrou cerimoniais e eventos para o público da aldeia. Em 1995 ele parti-

29 YEARS OLD, IS A XAVANTE FROM THE SANGRADOURO

cipou da equipe do “Programa de Índio” e no

VILLAGE (MUNICIPALITY OF GENERAL CARNEIRO, MATO

Desde a primeira vez em que viu uma câmera

seu primeiro trabalho para o público não Xa-

GROSSO STATE), HE FOLLOWS THE WORK INITIATED BY

de vídeo nas mãos de seu irmão, Divino Tsere-

HEPARÍ IDUB'RADÁ, Thank you brother

vante – “Obrigado Irmão” –, Divino narra a sua

HIS BROTHER: FOR YEARS, DIVINO REGISTERED MOSTLY

wahú, teve certeza de que seria “filmador”.

S INCE

iniciação de videasta. Líder do coletivo de

CEREMONIES FOR THE VILLAGE. HE PARTICIPATED IN THE

Hoje, Divino domina a linguagem e as técnicas

1HIS BROTHER´S HAND, DIVINO TSEREWAHU KNEW

autores de “Wapté Mnhõnõ, A iniciação do jo-

PRODUCTION OF “INDIAN PROGRAM” AND HIS FIRST

de gravação e edição e nos conta a trajetória

THAT HE WOULD BE A FILMMAKER. TODAY, DIVINO

vem Xavante”, premiado em vários festivais,

WORK FOR A NON XAVANTE AUDIENCE WAS “THANK YOU

de seu trabalho em parceria com a sua comu-

DOMINATES THE LANGUAGE OF VIDEO AND ITS

Divino realizou mais dois documentário sobre

BROTHER”, DIVINO NARRATES HIS INITIATION AS A

nidade.

FILMING AND EDITING TECHNIQUES. HE TELLS

rituais de iniciação Xavante, “Waiá Rini, o po-

VIDEO MAKER. HE WAS THE LEADER OF THE COLLECTIVE

der do Sonho” (2001) e “Aprendiz de curador”

PRODUCTION “WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION”

17 MIN., 1998 | DIREÇÃO E IMAGENS: DIVINO TSEREWAHÚ |

(2003). Em 2002, Divino fez uma reportagem

WHICH WON AWARDS IN VARIOUS FESTIVALS. RECENTLY,

EDIÇÃO E ROTEIRO: TUTU NUNES

sobre os índios Makuxi que resultou no vídeo

DIVINO MADE ALONE TWO MORE DOCUMENTARIES ABOUT

17 MIN., 1998, | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO

“Vamos à luta!”

XAVANTE INITIATION RITUALS – “WAI´Á RINI, THE POWER

TSEREWAHÚ | EDITION AND SCRIPT: TUTU NUNES

THE FIRST TIME HE SAW A CAMERA IN

ABOUT THE DEVELOPMENT OF HIS WORKS IN PARTNERSHIP WITH HIS COMMUNITY.

OF THE DREAM” (2001) AND “TRAINEE CURATOR”

Vídeos

50

(2003) AND IN 2002, HE DID A REPORT ABOUT THE

P ROG RAM A D E Í N D IO 1 , 2 , 3 , 4

MAKUXI FIGHT FOR THEIR LAND DEMARCATION

HEPARI IDUB´RADÁ, OBRIGADO IRMÃO

“THE STRUGGLE GOES ON!”

WAPTÉ MNHÕNÕ, A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE

WAI´ Á RIN I , O P O D E R D O S O N HO

Videos

VAMOS À L U TA !

INDIAN PROGRAM 1, 2, 3, 4

DARIT I DZ É, A P R E N D I Z D E C U R A D O R

HEPARI IDUB´RADÁ, THANK YO U B R OTH ER

WA PTÉ MNH Õ N Õ , TH E XAVA NTE’ S I N I TI ATIO N

WA I ´Á R I NI , TH E PO WER O F TH E D R EA M

THE STRUGGLE GOES ON!

DA R I TI D ZÉ, TR A I NEE CU R ATO R

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

51


realizadores indígenas | native videomakers

Divino Tserewahú

WAPTÉ MNHÕNÕ, Iniciação do jovem Xavante

WAI’Á RINI, O poder do sonho

Documentário

A

Xavante, realizado durante as oficinas de ca-

WAPTÉ MNHÕNÕ, The Xavante’s Initiation

cerimônias de iniciação do povo Xavante, é

WAI’Á RINI, The power of the dream

pacitação do projeto Vídeo nas Aldeias. A con-

A

aquela que introduz o jovem na vida espiritual,

W ITHIN

vite de Divino, da aldeia Xavante Sangradouro,

OF YOUNG XAVANTE INDIANS, REALIZED DURING A

no contato com as forças sobrenaturais. O di-

CEREMONIES OF THE XAVANTE PEOPLE, THE WAI’Á

4 Xavantes e um Suyá realizam, pela primeira

TRAINING WORKSHOP. INVITED BY DIVINO, ONE SUYÁ

retor Divino Tserewahú vai dialogando com o

CELEBRATION IS THE ONE THAT INTRODUCES YOUNG

vez, um trabalho coletivo. Durante o registro

AND FOUR XAVANTES INDIANS SHOOT COLLECTIVELY

seu pai, um dos dirigentes deste ritual, para

MEN TO SPIRITUAL LIFE AND PUTS THEM IN CONTACT

do ritual, diversos membros da aldeia eluci-

FOR THE FIRST TIME. AS THE RITUAL GOES ON,

revelar o que pode ser revelado desta festa

WITH SUPERNATURAL FORCES. FILMMAKER DIVINO

dam o significado deste complexo cerimonial.

VARIOUS MEMBERS OF THE VILLAGE EXPLAIN

secreta dos homens, onde os iniciandos pas-

TSEREWAHÚ INTERVIEWS HIS FATHER, ONE OF THE

THE SIGNIFICANCE OF THIS COMPLEX CEREMONY.

sam por muitas provações e perigos.

LEADERS OF THIS RITUAL, TO DISCLOSE WHAT CAN

sobre a iniciação dos jovens

DOCUMENTARY ABOUT THE INITIATION RITUAL

festa do Wai’á, dentro do longo ciclo de

Prêmios ■

BE REVEALED ABOUT THE SECRET CELEBRATION OF

T ROFÉU JAN GA DA , P R Ê M IO DA O C IC – B R A S I L

Awards

(ORGAN I Z A Ç Ã O C AT Ó L IC A I N T E R N AC IO N A L D E C I N E MA )

RIO DE JAN E I R O, 1 9 9 9

ETH NO GR A PH IC FI LM FESTI VA L, R IO D E JA NEI R O, 1999

NAÇÕES DE ABYA YALA, EQUADOR, 2001

MANUEL DIÉGUES JUNIOR AWARD, 6TH INTERNATIONAL

MANY TRIALS AND TRIBULATIONS.

Awards

PRÊMIO ANACONDA, II ANACONDA 2002, BOLÍVIA ■

PRIZE KICHWA NATIONALITY, IV FIRST NATIONS FILM AND VIDEO FESTIVAL OF ABYA YALA, EQUADOR, 200 1

P RÊM IO NO X I N T E R N AT IO N A L F E S T I VA L O F

B EST D O CU MENTA R Y AWA R D , XTH I NTER N ATIO N A L FESTI VA L O F ETH NO GR A PH IC FI LMS, N U O R O, I TA LY, 2000

65 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA:

ANACONDA AWARD, II ANACONDA 2002, BOLIVIA

DIVINO TSEREWAHÚ | EDIÇÃO: VALDIR AFONSO

ETHNOGRAPHICAL FILMS, NUORO, ITÁLIA, 2000 ■

ANACONDA AWARD, BOLIVIA, 2000 65 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY:

G RAN P RÊMIO A N AC O N DA , B O L Í V I A , 2 0 0 0 75 MIN., 1999 | DIRECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y:

75 MIN., 1999 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: CAIMI WAIASSÉ,

CAIMI WAIASSÉ, DIVINO TSER EWA H Ú , JO R GE PR OTO D I ,

DIVINO TSEREWAHÚ, JORGE PROTODI, WINTI SUYÁ |

WI N TI SU YÁ | PR O D U CTIO N: BA R TO LO MEU PATI R A |

PRODUÇÃO: BARTOLOMEU PATIRA | EDIÇÃO: TUTU NUNES

EDITION: TUTU NUNES

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

MEN. MEANWHILE, THE INITIATED GO THROUGH

ETH NO GR A PH IC FI LM FESTI VA L, R IO D E JA NEI R O, 1999 ■

52

PRÊMIO NACIONALIDADE KICHWA, IV FESTIVAL CONTINENTAL DE CINEMA E VÍDEO DAS PRIMEIRAS

RIO DE JANE I R O, 1 9 9 9

CATHO LIC FI LM O R GA NI ZATIO N ) , 6TH I N TER N ATIO N A L

6ª MOSTRA INTERNACIO N A L D O F I L M E E T NO G R Á F IC O,

JANGADA TROPHY, O CIC AWA R D ( I N TER N ATIO NA L

Prêmios

NA 6ª MOS T R A I N T E R N AC IO N A L D O F I L M E E T NO G R ÁFICO,

P RÊM IO M A N U E L D I É G U E S J Ú N IO R N A

THE LONG CYCLE OF INITIATION

DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION: VALDIR AFONSO

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

53


realizadores indígenas | native videomakers

Divino Tserewahú

Vamos à luta! Em

DARITIZÉ, Aprendiz de curador The struggle goes on!

Com a divulgação do seu vídeo “Wai´a rini, o

DARITIZÉ, Trainee curator

Raposa Serra do Sol comemoram 25 anos de

IN

APRIL 2002, THE MAKUXI INDIANS IN THE

poder do sonho” em outras aldeias Xavante, os

S INCE

luta pelo reconhecimento definitivo da reser-

RAPOSA SERRA DO SOL RESERVE COMMEMORATE

moradores da Aldeia Nova da reserva de São Mar-

RINI, THE POWER OF DREAM” IN OTHER XAVANTE

va. Divino Tserewahú, realizador Xavante, vai

25 YEARS OF STRUGGLE FOR THE FINAL RECOGNITION

cos pediram ao Divino que filmasse o mesmo

VILLAGES, THE PEOPLE OF ALDEIA NOVA FROM THE

ao encontro dos seus “parentes” e registra as

OF THEIR RESERVE. DIVINO TSEREWAHÚ GOES

ritual em sua aldeia. “Aprendiz de curador” des-

SÃO MARCOS RESERVATION ASKED DIVINO TO MAKE

comemorações e a demonstração de força do

TO MEET HIS “RELATIVES” AND REGISTERS THE

creve o cerimonial do Wai´á, no qual os jovens

A FILM ON THE SAME RITUAL, THE WAI´Á CEREMONY.

exército de fronteira para intimidar os índios.

COMMEMORATIONS WHILE THE ARMY DEMONSTRATES

são iniciados ao mundo espiritual para desen-

IN THIS CEREMONY THE YOUNG MEN ARE INITIATED

Divino manifesta a sua surpresa diante de tal

ITS STRENGTH AT THE BORDERS TO INTIMIDATE THE

volver o seu poder de cura. Filmar numa aldeia

INTO THE SPIRITUAL WORLD TO DEVELOP THEIR

confrontação.

INDIANS. THE DIRECTOR HIMSELF IS AMAZED BY

que não é a sua é uma nova experiência para

CURATIVE POWER. A NEW EXPERIENCE FOR HIM WHO

SUCH A CONFRONTATION.

este realizador, e uma oportunidade para se

HAS TO SHOOT IN A DIFFERENT VILLAGE BUT ALSO

aprimorar no trabalho de edição.

A WAY TO TRY NEW TRACKS AND TO DEVELOP

abril 2002, os índios Makuxi da reserva

1 8 M I N ., 2 0 0 2 | R E A L I Z A Ç Ã O E F OTO G R A F I A :

THE SCREENING OF HIS FILM “WAI´A

18 MI N. , 2002 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: DIV I NO TSERE WA H Ú | E D I Ç Ã O : L E O N A R D O S E T T E

HIS EDITING SKILLS.

D I VI NO TSER EWA H Ú | ED I TIO N : LEO NA R D O SETTE 35 MIN., 2003 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: DIVINO TSEREWAHÚ | EDIÇÃO: DIVINO TSEREWAHÚ E LEONARDO SETTE

35 MIN., 2003 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: DIVINO TSEREWAHÚ | EDITION: DIVINO TSEREWAHÚ AND LEONARDO SETTE

54

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

55


realizadores indígenas | native videomakers

“O que eu espero, é que o vídeo dentro da aldeia não fique como uma estátua, parada lá. Espero que o vídeo seja bem aproveitado, para passar coisas legais, para movimentar a aldeia.”

“What I hope is that video doesn’t turn into something static, like a statue in the village. I hope that video will be well used so that it can show good things about us

Caimi Waiassé

and help the village to grow.”

Tem que ser curioso

25 anos, Xavante da aldeia de Pimentel Barbosa (município de Água Boa, Mato Grosso), começou muito jovem a trabalhar com uma câmera

25 YEARS OLD, IS A XAVANTE FROM THE PIMENTEL

de vídeo. Por anos registrou para a sua comu-

BARBOSA VILLAGE (MUNICIPALITY OF ÁGUA BOA IN

Caimi Waiassé fala sobre a sua iniciação ao

ONE MUST BE CURIOUS

nidade as cerimônias, os encontros, as visi-

MATO GROSSO STATE). HE BEGAN WORKING WITH

vídeo na aldeia Xavante de Pimentel Barbosa

C AIMI

tas... No seu primeiro vídeo para um público

VIDEO CAMERA WHEN HE WAS STILL VERY YOUNG.

em Mato Grosso. Este vídeo nos dá a oportu-

OF VIDEO IN HIS VILLAGE OF PIMENTEL BARBOSA

maior – “Tem que ser curioso” –, Caimi narra a

FOR YEARS, HE HAS REGISTERED CEREMONIES,

nidade de ver um videasta fazendo uma retros-

IN MATO GROSSO, BRAZIL. THIS MOVIE IS AN

sua trajetória de videasta. Caimi integrou a

MEETINGS AND VISITS FOR HIS COMMUNITY. IN HIS

pectiva da sua trajetória. Um belo documento

OPORTUNITY TO SEE A DIRECTOR COMING BACK

equipe do “Programa de Índio”, na TV Univer-

FIRST VIDEO FOR A MAJOR PUBLIC – “ONE MUST BE

sobre como um realizador aprende a dominar o

ON HIS FIRST STEPS, FROM THE FIRST RUSHES

sidade em Mato Grosso e da realização de “Wapté

CURIOUS” –, CAIMI COMES BACK ON HIS TRAJECTORY

seu instrumento para expressar a sua visão de

TO A MORE ELABORATED WORK. A BEAUTYFUL

Mnhõnõ, A iniciação do jovem Xavante”, além

AS A VIDEO MAKER. CAIMI JOINED THE CREW OF

mundo. “Através da câmera, tive a oportuni-

DOCUMENT ON HOW A DIRECTOR DOMINATES ITS

de realizar um vídeo sobre saúde bucal para as

“INDIAN PROGRAM”, AT TV UNIVERSITY IN MATO

dade de conhecer vários tipos de cultura, vá-

TOOL TO EXPRESS ITS PERCEPTION OF WORLD.

aldeias Xavante. Hoje, Caimi é também profes-

GROSSO STATE AND THE PRODUCTION OF “WAPTÉ

rios povos indígenas, tanto aqui no Brasil

”THROUGH THE CAMERA, ONE GETS THE

sor da sua aldeia.

MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION”. CURRENTLY,

como fora.”

OPPORTUNITY TO KNOW SEVERAL TYPES OF CULTURES, SEVERAL TYPES OF INDEGENOUS

CAIMI IS ALSO A TEACHER AT HIS VILLAGE. 16 MIN., 1997 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: CAIMI WAIASSÉ |

Vídeos ■

P ROG RAM A D E Í N D IO 1 , 2 , 3 , 4

Videos

T EM QUE SE R C U R IO S O

INDIAN PROGRAM 1, 2, 3, 4

WAP T É M N H Õ N Õ , A I N IC I A Ç Ã O D O J O V E M X AVA N T E

O NE MUST B E CU R IO US

WA PTÉ MNH Õ N Õ , TH E XAVA NTE´S I N I TI ATIO N

WAIASSÉ COMMENTS ON HIS DISCOVER

PEOPLE, IN BRAZIL AS WELL AS ABROAD.”

ROTEIRO E EDIÇÃO: TUTU NUNES E CAIMI WAIASSÉ 16 MIN., 1997 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: CAIMI WAIASSÉ | SCRIPT AND EDITING: TUTU NUNES

56

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

AND CAIMI WAIASSÉ

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

57


realizadores indígenas | native videomakers

Natuyu Yuwipo Txicão

Kumaré Txicão

Karané Txicão

17 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato

26 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato

21 anos, Ikpeng do Parque do Xingu no Mato

Grosso, é a primeira mulher a integrar a equipe

Grosso. Depois de sua iniciação ao vídeo em

Grosso, já participou de três oficinas no Xingu

do Vídeo nas Aldeias. Iniciada na oficina de

1997, Kumaré e seu companheiro Karané regis-

e de três oficinas de edição. Com Kumaré reali-

1999, Natuyu foi a grande revelação da oficina

traram o cerimonial de iniciação e tatuagem

zou seu primeiro vídeo, “Moyngo, o sonho de

de 2001, sendo a aluna mais jovem do projeto.

das crianças de sua aldeia, o “Moyngo”. Na ofi-

Maragareum”. Karané também participou, jun-

Ela é co-autora da Vídeo-carta das crianças

cina de 99, os Ikpeng encenaram o mito de

to com Kumaré e Natuyu, da filmagem do ritual

Ikpeng e da refilmagem do ritual Moyngo.

origem desta festa. O filme “Moyngo, O sonho

Wagré em 2001, bem como da vídeo-carta das

de Maragareum”, misto de ficção e documen-

crianças Ikpeng.

17 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM THE XINGU

tário, foi sua primeira realização. Em 2001, com

PARK IN MATO GROSSO STATE, NATUYU IS THE FIRST

a participação de Karané e Natuyu, filmou o

KARANÉ IS A 21 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM

WOMAN TO INTEGRATE THE VIDEO IN THE VILLAGES’

ritual Wagré e o vídeo “Moyngo” foi remontado

THE XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE, WHO

TEAM. INTRODUCED TO VIDEO DURING THE WORKSHOP

em 2002. Na oficina de 2001, Kumaré, Karané

HAS ALREADY PARTICIPATED IN THREE WORKSHOPS

IN 1999 AS THE YOUNGEST STUDENT OF THE PROJECT,

e Natuyu também realizaram a vídeo-carta das

IN XINGU AND THREE EDITING WORKSHOPS.

SHE BECAME THE GREAT REVELATION AT THE 2001

crianças Ikpeng.

HE REALIZED HIS FIRST VIDEO “MOYNGO, THE

WORKSHOP. CO-AUTHOR OF THE “FROM THE IKPENG

DREAM OF MARAGAREUM” TOGETHER WITH KUMARÉ.

CHILDREN TO THE WORLD” AND THE RE-FILMING

KUMARÉ IS A 26 YEARS OLD IKPENG INDIAN FROM

KARANÉ ALSO PARTICIPATED, WITH KUMARÉ AND

OF THE MOYNGO RITUAL.

THE XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE. AFTER HIS

NATUYU IN THE MAKING OF THE WAGRÉ RITUAL

INITIATION TO VIDEO IN 1997, KUMARÉ AND HIS FRIEND

VIDEO IN 2001, AS WELL AS THE VIDEO-LETTER

KARANÉ REGISTERED THE INITIATION AND TATTOOING

OF THE IKPENG CHILDREN.

CEREMONY OF THE CHILDREN OF HIS VILLAGE, THE “MOYNGO”. DURING THE 1999 WORKSHOP, THE IKPENG PEOPLE STAGED THE ORIGIN MYTH OF THIS CELEBRATION.

Vídeos

THE FILM, “MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM”, A

MOY NGO, O SONHO DE MARAGAREUM

MIXTURE OF FICTION AND DOCUMENTARY WAS HIS FIRST

MARANGMOTX ÍNGMO MÏRANG, DAS CRIANÇAS IKPENG PARA O MUNDO

REALIZATION. IN 2001, HE FILMED THE WAGRÉ RITUAL WITH THE PARTICIPATION OF KARANÉ AND NATUYU. THE

MOY NGO, THE DREAM OF MARAGAREUM

WORKSHOP, KUMARÉ, KANARÉ AND NATUYU ALSO

MARANGMOTX ÍNGMO MÏRANG,

REALIZED THE VIDEO-LETTER OF THE IKPENG CHILDREN.

58

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

Videos

VIDEO WAS RE-EDITED IN 2002. DURING THE 2001

FROM THE IKPENG CHILDREN TO THE WORLD

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

59


realizadores indígenas | native videomakers

Natuyu Yuwipo Txicão | Kumaré Txicão | Karané Txicão

MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG, Das crianças Ikpeng para o mundo

MOYNGO, O sonho de Maragareum Durante uma oficina de vídeo, a comunidade

Quatro crianças Ikpeng apresentam sua aldeia

Ikpeng resolve encenar o mito de origem do

MOYNGO, The dream of Maragareum

respondendo à vídeo-carta das crianças da

cerimonial de tatuagem das crianças. O herói

D URING

Sierra Maestra em Cuba. Com graça e leveza,

mítico, Maragareum, sonha com a morte cole-

COMMUNITY DECIDES TO ACT OUT THE MYTH OF

A VIDEO WORKSHOP, THE IKPENG

elas mostram suas famílias, suas brincadeiras,

F OUR

ANSWERING A VIDEO-LETTER FROM THE CHILDREN

tiva dos habitantes da aldeia do seu compadre

THE ORIGIN OF THE TATTOOING CEREMONY. THE

suas festas e seu modo de vida. Curiosas em

Eptxum. Ao chegar nesta aldeia, ele encontra

MYTHICAL HERO, MARAGAREUM, DREAMS ABOUT

conhecer crianças de outras culturas, elas pe-

de fato todos mortos. Ao cair da noite, Mara-

THE COLLECTIVE DEATH OF THE INHABITANTS OF

dem para que respondam à sua vídeo-carta.

gareum, escondido na maloca, presencia e

EPTXUM´S VILLAGE. ARRIVING IN THIS VILLAGE, HE

aprende o cerimonial do Moyngo realizado pe-

FINDS IN FACT EVERYONE DEAD. AS NIGHT FALLS, HE

Prêmios

los espíritos dos mortos.

HIDES IN THE HUT, AND OBSERVES AND LEARNS THE

MELHOR FILME NA CATEGORIA DOCUFIC Ç Ã O, III ANACONDA 2004, BOLÍVIA

FROM SIERRA MAESTRA IN CUBA. THEY SHOW THEIR FAMILIES, THEIR TOYS, THEIR CELEBRATIONS AND THEIR WAY OF LIFE WITH GRACE AND

MENÇÃO HONROSA DO JÚRI OFICIAL DO CINESUL 2002,

FROM OTHER CULTURES, THEY ASK THAT THEIR VIDEO–LETTER BE ANSWERED.

RIO DE JANEIRO ■

PRÊMIO MELHOR DOCUMENTÁRIO, II ANACONDA 2002,

Awards

BOLÍVIA

Awards

■ ■

IKPENG CHILDREN INTRODUCE THEIR VILLAGE

LIGHTHEARTEDNESS. CURIOUS TO KNOW CHILDREN

MOYNGO CEREMONY FROM THE SPIRITS OF THE DEAD.

Prêmios

MARANGMOTXÍNGMO MÏRANG, From the Ikpeng children to the world.

PRÊMIO REVELAÇÃO, TROFÉU TATU DE PRATA, X X IX

HONOURABLE MENTION BY THE OFICIAL JURY, CINESUL 2002, RIO DE JANEIRO

B EST D O CU FICTIO N AWA R D , I I I A NACO N DA 2004, B O LI VI A JORNADA INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA, 2002.

M EN ÇÃO HO N R O SA NO 6 º A L U C I N E , F E S T I VA L D E C IN EMA E V Í DEO DE TO R O N TO, 2 0 0 5 , C A N A D Á

HONO R A B LE MENTIO N , A LU CI N E TO R O NTO LATI NO FI LM ■

BEST DOCUMENTARY, II ANACONDA 2002, BOLIVIA

NEW TALENT AWARD, THE SILVER TATU, X X IX JORNADA

PRÊMIO MANOEL DIEGUES JÚNIOR, 9ª MOSTRA

AND VIDEO FESTIVAL, 2005, CANADA INTERNACIONAL DO FILME ETNOGRÁFICO DEZEMBRO 2003,

INTERNACIONAL DE CINEMA DA BAHIA, BRAZIL, 200 2 RIO DE JANEIRO 4 4 M IN ., 2 0 0 3 | D I R E Ç Ã O E F OTO G R A F I A : K U M A R É , KAN ARÉ E N AT U Y U I K P E N G | E D I Ç Ã O : L E O N A R D O S E T TE

44 MI N . , 2003 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: K U MA R É,

■ ■

MANOEL DIEGUES JUNIOR AWARD, 9TH INTERNATION AL

MELHOR DOCUMENTÁRIO, ALL ROADS FILM FESTIVAL, ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO,

KARANÉ AND NATUYU IKPENG | EDITION: LEONARDO SETTE

NATIONAL GEOGRAPHIC, 2004, EUA BRAZIL, 2003 ■

PRÊMIO VALOR DOCUMENTAL, VII FESTIVAL ■

BEST DOCUMENTARY, ALL ROADS FILM FESTIVAL, NAT ION AL

INTERNACIONAL DE DE CINEMA DOS POVOS INDÍGENAS, GEOGRAPHIC, 2004, USA 2004, CHILE ■

35 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: KUMARÉ, KARANÉ

BEST DOCUMENTARY AWARD, CLACPI VII INTERNATIO N AL FILM FESTIVAL, 2004, CHILE

E NATUY U Y UWIPO TX ICÃO | EDIÇÃO: MARI CORRÊA 35 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: KUMARÉ, KARANÉ AND NATUY U Y UWIPO TX ICÃO | EDITION: MARI CORRÊA

60

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

61


realizadores indígenas | native videomakers

Isaac Pinhanta

Jaime Lullu Manchineri

Maru Kaxinawá

28 anos, é do povo Ashaninka e mora na

38 anos, nascido em Pampa Hermossa, no Perú,

25 anos, Maru nasceu na aldeia Nova Fronteira,

aldeia do rio Amônia, afluente do rio Juruá

professor formado pela Comissão Pró-Índio do

no rio Purús (município de Santa Rosa do Purús

(município de Marechal Taumaturgo no Acre).

Acre, Jaime mora na aldeia Jatobá, no rio Iaco

no Acre). Professor formado pela Comissão Pró-

Professor formado pela Comissão Pró-Índio do

(município de Sena Madureira no estado do

Índio do Acre, já participou de três oficinas de

Acre, Isaac é presidente da OPIAC – Organiza-

Acre). Ele já participou de três oficinas do pro-

vídeo, sendo co-autor de dois vídeos: “No

ção dos Professores Indígenas do Acre. Ele tra-

jeto e trabalha atualmente no registro da me-

tempo das Chuvas” e “Dançando com Cachorro”

balha com o seu irmão Valdete, num documen-

mória dos poucos anciões do seu povo que

e participou da realização do vídeo “AGENDA

tário sobre o trabalho de manejo de recursos

recordam das tradições. Em março 2001, Jaime

31” sobre os agentes agroflorestais indígenas

naturais da comunidade Ashaninka. “O profes-

viaja com Valdete Pinhanta, para rever os seus

do Acre. É atualmente tesoureiro da UNI-Acre

sor indígena é um pesquisador da cultura do

parentes Manchineri do Perú com a missão de

(União das Nações Indígenas).

seu povo, e o vídeo é mais um instrumento

registrar a cultura do seu povo ainda viva lá e

nesta pesquisa”.

trazer as imagens para o Brasil.

25 YEARS OLD, MARU WAS BORN IN THE NOVA FRONTEIRA VILLAGE, ON THE PURÚS RIVER IN THE

28 YEARS OLD, ISAAC IS AN ASHANINKA INDIAN

38 YEARS OLD, JAIME WAS BORN IN PAMPA

STATE OF ACRE. HE IS A PROFESSOR GRADUATED

AND LIVES IN A VILLAGE ON THE AMÔNIA RIVER,

HERMOSSA IN PERU. HE IS A PROFESSOR GRADUATED

BY THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION. HE

A BRANCH OF THE JURUÁ RIVER IN THE STATE OF

BY THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION AND LIVES

PARTICIPATED IN THREE WORKSHOPS, AND CO-

ACRE. HE IS A PROFESSOR GRADUATED BY THE

IN THE JATOBÁ VILLAGE ON THE IACO RIVER IN THE

PRODUCED TWO VIDEOS: “THE RAINY SEASON” AND

ACRE PRO-INDIAN COMMISSION. ISAAC SAYS:

MUNICIPALITY OF SENA MADUREIRA IN THE STATE

“DANCING WITH A DOG”. HE PARTICIPATED TO THE

“AN INDIGENOUS TEACHER IS A CULTURAL

OF ACRE. HE HAS ALREADY PARTICIPATED IN THREE

PRODUCTION OF “AGENDA 31” AND IS ACTUALLY

RESEARCHER OF HIS PEOPLE AND THE VIDEO

WORKSHOPS AND CURRENTLY IS WORKING ON

TREASURER OF UNI-ACRE (NATIVE PEOPLE

IS ANOTHER TOOL IN HIS RESEARCH.” ISAAC IS

REGISTERING THE MEMORY OF A FEW OF HIS PEOPLE’S

ASSOCIATION OF THE STATE OF ACRE, BRAZIL).

WORKING ON A THESIS ABOUT THE 100 YEAR-

ELDERS WHO REMEMBER THEIR TRADITIONS. IN

HISTORY OF HIS PEOPLE WHICH IN ADDITION TO

MARCH 2001, JAIME WENT BACK WITH VALDETE

BEING WRITTEN WILL ALSO BE MADE INTO A VIDEO.

PINHANTA TO SEE HIS RELATIVES THE MANCHINERI

HE IS ALSO WORKING WITH HIS BROTHER VALDETE

OF PERU, AND RECORD HIS PEOPLE’S CULTURE

ON A DOCUMENTARY ABOUT THE ASHANINKA

THERE AND BRING THE IMAGES BACK TO BRAZIL.

COMMUNITY’S HANDLING OF NATURAL RESOURCES.

62

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

Vídeos ■

NO TEMPO DAS CHUVAS

DANÇANDO COM CACHORRO

Videos ■

THE RAINY SEASON

DANCING WITH A DOG

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

63


realizadores indígenas | native videomakers

Isaac Pinhanta | Jaime Lullu Manchineri | Maru Kaxinawá

Dançando com cachorro

No tempo das chuvas Crônica do cotidiano da comunidade Ashaninka

The rainy season

Bandeirão, Mato, seu filho, e Kowire, seu irmão,

Dancing with a dog

na estação das chuvas a partir dos registros

A

são os três Ashaninka do rio Amônia cujo coti-

B ANDEIRÃO,

realizados durante a oficina de vídeo na aldeia

DURING THE RAINY SEASON RECORDED DURING A

diano está descrito neste documentário. A quie-

KOWIRE ARE THE THREE ASHANINKA INDIANS FROM

do rio Amônia no Estado do Acre. A cumplici-

WORKSHOP IN A VILLAGE ON THE AMÔNIA RIVER IN

tude nos seus roçados e da mata durante a se-

RIO AMÔNIA, WHOSE DAILY LIFE IS DESCRIBED

dade entre os realizadores e os Ashaninka faz

THE STATE OF ACRE. THE INTIMACY BETWEEN THE

mana contrasta com a algazarra do futebol e

IN THIS DOCUMENTARY. DURING THE WEEK,

o filme ir além da mera descrição das ativida-

FILMMAKERS AND THE ASHANINKA COMMUNITY

das festas do fim de semana, quando todos se

THE TRANQUILITY OF THEIR FIELDS AND FOREST

des, refletindo o ritmo da aldeia e o humor de

MAKES THE FILM GO BEYOND A MERE DESCRIPTION

encontram na aldeia principal.

CONTRASTS WITH THE NOISE OF THE SOCCER

seus habitantes.

OF ACTIVITIES, REFLECTING THE RHYTHM OF THE

DAILY CHRONICLE OF THE ASHANINKA COMMUNITY

VILLAGE AND THE HUMOR OF ITS INHABITANTS.

HIS SON MATO AND HIS BROTHER

GAMES AND THE WEEKEND PARTIES, WHEN 44 MIN., 2001 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: MARU KAX INAWÁ,

EVERYONE GETS TOGETHER AT THE MAIN VILLAGE.

ISAAC PINHANTA, JAIME LULLU MANCHINERI |

Prêmio ■

EDIÇÃO: MARI CORRÊA, VALDIR AFONSO

P RÊM IO M A N U E L D I E G U E S J Ú N IO R N A 6 ª MO S T R A

Award

I N T ERN ACIO N A L D O F I L M E E T NO G R Á F IC O,

RIO DE JAN E I R O, 2 0 0 0

MANUEL DIEGUES JÚNIOR, 6TH INTERNATIONAL

44 MIN., 2001 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: MARU KAXINAWÁ, ISAAC PINHANTA, JAIME LULLU MANCHINERI | EDITION: MARI CORRÊA, VALDIR AFONS O

ETH NO GR A PH IC FI LM FESTI VA L, R IO D E JA NEI R O, BRAZIL, 2000

3 8 M I N ., 2 0 0 0 | D I R E Ç Ã O E F OTO G R A F I A : ISA AC E VALDETE PINHANTA, TS I R OTS I A S H A N I N K A ,

38 MIN., 2000 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: ISA AC

L UL L U M AN CH I N E R I , M A R U K A X I N AW Á |

A N D VA LD ETE PI NH A N TA , TSI R OTSI A SH A N I N K A ,

EDIÇÃO: MARI CORRÊA

LU LLU MA NCH I NER I , MA R U K A XI NAWÁ | ED I TIO N : MA R I CO R R ÊA

64

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

65


realizadores indígenas | native videomakers

Takumã Kuikuro

Maricá Kuikuro

Mahajugi (Jairão)

Amunegi Kuikuro

Asusu Kuikuro

22 anos, filho mais velho de

25 anos, é o jovem kuikuro

É mais conhecido pelo seu

É filho de Tahukulá, hoje o

Asusu significa ‘abacaxi silves-

Vídeo

Samuagü Kuikuro e Tapualu

com maior experiência fora da

apelido: Jairão. Estuda na es-

principal chefe Kuikuro. É ele

tre’. Sua mãe é Auná, chefe das

Kalapalo, vive, como os outros

aldeia. Viveu mais de um ano

cola da aldeia de Ipatse, assim

mesmo, com 22 anos, um jo-

mulheres da aldeia de Ipatse e

realizadores Kuikuro, na aldeia

longe do Parque Indígena do

como Amunegi e Asusu. Tem

vem chefe em formação e,

filha mais velha de Tahukulá,

de Ipatse, na Terra Indígena do

Xingu, jogando pela seleção

20 anos e é irmão de Takumã.

por isso, cultiva o equilíbrio

atual chefe principal. Com 16

Xingu, Estado de Mato Grosso.

indígena de futebol. É filho de

Brincalhão, sempre de bom

e a generosidade, contribuin-

anos, é o membro mais recente

Video

Fascinado pela câmera de ví-

Ugissapá Tabata, um dos prin-

humor e pronto a ter uma boa

do para a harmonia da equipe.

e mais jovem da equipe dos

deo desde a primeira oficina de

cipais líderes kuikuro da al-

idéia, não deixa a temperatura

video em 2002, tem sido um

deia de Ipatse. Hoje, tenta

do trabalho esfriar ou o céu

IS THE SON OF TAHUKULÁ, TODAY THE

panha o trabalho dos colegas

obstinado e inspirado ‘film

conciliar seu trabalho de ví-

sobre a câmara escurecer.

MAIN KUIKURO CHIEF. AT 22, HE IS

e amigos mais velhos com a

NGUNÉ ELÜ, O DIA EM QUE A LUA MENSTRUOU

maker’. Agora divide seu tempo

HIMSELF A YOUNG CHIEF IN THE

deo com o estudo e serviços prestados na área de assistên-

IS BETTER KNOWN BY HIS NICKNAME:

que o ligam à família da jovem

cia de saúde. Gosta de música

JAIRÃO. HE STUDIES IN THE IPATSE

esposa.

e de computadores.

entre a câmara e as obrigações

VILLAGE SCHOOL, LIKE AMUNEGI AND ASUSU. HE IS 20, AND THE BROTHER OF TAKUMÃ. PLAYFUL BY NATURE, HE IS

66

AT THE AGE OF 22, TAKUMÃ IS THE

25, IS THE YOUNG KUIKURO WITH THE

ELDEST SON OF SAMUAGÜ KUIKURO

MOST EXPERIENCE OUTSIDE OF THE

AND TAPUALU KALAPALO. HE LIVES IN

VILLAGE. HE LIVED FOR MORE THAN

THE KUIKURO VILLAGE OF IPATSE, NEXT

ONE YEAR AWAY FROM THE XINGU

TO THE LAKE OF THE SAME NAME, IN

INDIGENOUS PARK, PLAYING FOR THE

THE XINGU INDIGENOUS PARK IN THE

INDIGENOUS FOOTBALL TEAM. HE IS

STATE OF MATO GROSSO. FASCINATED BY

THE SON OF UGISSAPÁTABATA, ONE OF

THE CAMERA SINCE THE FIRST VIDEO

THE MOST IMPORTANT KUIKURO CHIEFS

WORKSHOP IN 2002, HE HAS SINCE

OF THE VILLAGE OF IPATSE. HE IS

BECOME AN OBSTINATE FILMMAKER.

CURRENTLY TRYING TO RECONCILE HIS

HE HAS RECENTLY MARRIED AND NOW

VIDEO WORK WITH THE SCHOOL AND

DIVIDES HIS TIME BETWEEN THE

HIS JOB IN THE AREA OF HEALTH

CAMERA, HIS WIFE AND HIS

ASSISTANCE. HE LOVES MUSIC AND

OBLIGATIONS TOWARDS HIS IN-LAWS.

COMPUTERS.

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

‘videomakers’ kuikuro. Acom-

ALWAYS IN A GOOD MOOD AND READY TO HAVE A GOOD IDEA, NOT LETTING THE WORK TEMPERATURE DROP, NOR THE SKY DARKEN OVER THE FILM CAMERA.

MAKING AND, AS SUCH, CULTIVATES BALANCE AND GENEROSITY,

IMBÉ GIKEGÜ, CHEIRO DE PEQUI

NGUNÉ ELÜ, THE DAY WHEN THE MOON MENSTRUATED

IMBÉ GIKEGÜ, THE SMELL OF PEQUI

atenção persistente dos bons aprendizes.

CONTRIBUTING FOR THE HARMONY OF THE TEAM.

ASUSU MEANS ‘WILD PINEAPPLE’. HIS MOTHER IS AUNÁ, CHIEF OF THE WOMEN IN THE IPATSE VILLAGE AND OLDEST DAUGTHER OF TAHUKULÁ, THE CURRENT MAIN CHIEF. AT 16, HE IS THE YOUNGEST AND NEWEST MEMBER OF THE TEAM OF KUIKURO ‘VIDEOMAKERS’. HE ACCOMPANIES THE WORK OF HIS OLDER COLLEAGUES AND FRIENDS WITH THE ATTENTION AND PERSISTENCE OF ALL GOOD LEARNERS.

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

67


realizadores indígenas | native videomakers

Takumã Kuikuro | Maricá Kuikuro | Mahajugi (Jairão) Kuikuro | Amunegi Kuikuro | Asusu Kuikuro

NGUNÉ ELÜ, O dia em que a lua menstruou

IMBÉ GIKEGÜ, Cheiro de pequi

Durante uma oficina de vídeo na aldeia kuikuro,

É tempo de festa e alegria no Alto Xingu. A

no Alto Xingu, ocorre um eclipse. De repente,

NGUNÉ ELÜ, The day when the moon menstruated

estação seca está chegando ao fim. O cheiro

IMBÉ GIKEGÜ, The scent of pequi fruit

tudo muda. Os animais se transformam. O san-

D URING

de chão molhado mistura-se ao doce perfume

I T’S

gue pinga do céu como chuva. O som das flautas

VILLAGE IN THE UPPER XINGU, BRAZIL, AN ECLIPSE

de pequi. Mas nem sempre foi assim: se não

IN THE ALTO XINGU. THE DRY SEASON IS COMING

sagradas atravessa a escuridão. Não há mais tem-

TAKES PLACE. SUDDENLY, EVERYTHING CHANGES. THE

fosse por uma morte, o pequi talvez jamais

TO AN END. THE SMELL OF THE DAMP EARTH IS

po a perder. É preciso cantar e dançar. É preciso

ANIMALS TAKE NEW FORMS. BLOOD FALLS FROM THE

existisse. Ligando o passado ao presente, os

MIXED WITH THE SWEET PERFUME OF PEQUI. BUT

acordar o mundo novamente. Os realizadores kui-

SKY LIKE RAIN. THE SOUND OF THE SACRED FLUTES

realizadores kuikuro contam uma estória de

IT HAS NOT ALWAYS BEEN LIKE THAT: IF IT HA D

kuro contam o que aconteceu nesse dia, o dia

CROSSES THE DARK NIGHT. THERE IS NO TIME TO

perigos e prazeres, de sexo e traição, onde ho-

NOT BEEN FOR A DEATH, THE PEQUI WOULD

em que a lua menstruou.

LOSE. ONE MUST SING AND DANCE. THE WORLD

mens e mulheres, beija-flores e jacarés cons-

POSSIBLY NOT EXIST. LINKING THE PAST TO THE

MUST BE AWAKENED. IN THIS VIDEO, THE KUIKURO

tróem um mundo comum.

PRESENT, KUIKURO FILM-MAKERS TELL A TALE OF

Prêmios ■

P RÊM IO CH IC O M E N D E S D O M E L HO R D O C U M E N T Á R IO,

A VIDEO WORKSHOP IN THE KUIKURO

MELHOR FILME DE OFICINA NA MOSTRA DO FILME LIVRE 2 0 0 5 , CCBB , R IO D E JA N E I R O

THE MOON MENSTRUATED.

Awards ■

P RÊM IO DA A B D D E M E L HO R D O C U M E N T Á R IO N A 1 0 ª MO STR A IN T ERN ACIO N A L D O F I L M E E T NO G R Á F IC O NO RIO DE JA N E I R O, 2 0 0 5 .

M EL HOR V Í D E O NO I I F E S T I VA L D E J O V E N S R E A L I Z A D O R ES DE AUDIOVIS UA L D O M E R C O S U L , C E A R Á

CH ICO MEND ES AWA R D , B EST D O CU MENTA R Y, CI NE

36 MIN., 2006 | DIREÇÃO: TAKUMÃ E MARICÁ KUIKURO |

WHERE MEN AND WOMEN, HUMMING BIRDS AND

FOTOGRAFIA: TAKUMÃ, MARIKÁ, AMUNERI, ASUSU, JAIRÃO

ALLIGATORS BUILD A SHARED WORLD.

E MALUKI | EDIÇÃO: LEONARDO SETTE E VINCENT CARELLI | PRODUÇÃO: MUSEU NACIONAL / VÍDEO NAS ALDEIAS

36 MIN., 2006 | DIRECTION: TAKUMÃ AND MARICÁ

AMAZÔNIA 2005, RONDÔNIA, BRAZIL

KUIKURO | PHOTOGRAPHY: TAKUMÃ, MARIKÁ, AMUNERI ,

B EST WO R KSHO P VI D EO, MO STR A D O FI LME LI VR E 2005,

ASUSU, JAIRÃO AND MALUKI | EDITION: LEONARDO SE T T E

CCB B , R IO D E JA N EI R O, B R A ZI L

AND VINCENT CARELLI | PRODUCTION: MUSEU NACIONAL /

ABD AWARD, BEST DOCUMENTARY, 10TH INTERNACIONAL

VÍDEO NAS ALDEIAS

ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, 2005, BRAZIL

T ROFÉU UN E S C O N A X X X I I J O R N A DA I N T E R N AC IO N A L DE CINEMA DA BAHIA,

DANGERS AND PLEASURES, OF SEX AND BETRAYAL,

VIDEO MAKERS TELL US WHAT HAPPENED WHEN

CINE AMAZÔNIA 2005, RONDÔNIA

THE TIME OF CELEBRATION AND MERRIMENT

B EST VI D EO, I I FESTI VA L D E JO VENS R EA LI ZA D O R ES D E AU D IO VISUA L D O MER CO SU L, 2005 CEA R Á , B R A ZI L

2 8 M IN ., 2 0 0 4 | D I R E Ç Ã O : TA K U M Ã E M A R IC Á K U I K U R O |

U N ESCO AWA R D , XXXI I JO R N A DA I NTER N ACIO NA L D E CI NEMA DA BA H I A , 2005, SA LVA D O R , B R A ZI L

FOTOGRAFIA: TA K U M Ã , M A R I K Á , A M U N E R I , A S US U , JA I R Ã O E M AL UKI | E D I Ç Ã O : L E O N A R D O S E T T E | P R O D U Ç Ã O : MUSEU N ACION AL / V Í D E O N A S A L D E I A S

28 MI N. , 2004 | D I R ECTIO N: TA K U MÃ E MA R ICÁ K U I K U R O | PHOTO GR A PH Y: TA K U MÃ , MA R I K Á , A MU N ER I , A SUSU , JA I R Ã O E MA LU K I | ED I TIO N: LEO NA R D O SETTE | PR O D U CTIO N: MUSEU NACIO NA L / VÍ D EO N A S A LD EI A S

68

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

69


realizadores indígenas | native videomakers

Araduwá Waimiri

Iawusu Waimiri

Kabaha Waimiri

Sawá Waimiri

Wamé Atroari

Sanapyty Atroari

16 anos, reside na aldeia Maré

31 anos, residente na aldeia

42 anos, líder fundador da al-

33 anos, líder indígena da

47 anos, líder indígena da al-

33 anos, reside na aldeia Mai-

no alto rio Camanaú, afluente

Curiaú no rio Camanaú, afluen-

deia Cacau no rio Camanaú

aldeia Mynawa, na BR 174 com

deia Iawara, no rio Alalaú com

kon, alto rio Alalaú, no estado

do rio Negro, no estado do

te do rio Negro no estado do

afluente do rio Negro, no es-

o rio Alalaú, na divisa dos es-

a BR 174, na divisa dos esta-

do Amazonas. É líder indígena,

Amazonas. Araduwá é o mais

Amazonas. É professor de sua

tado do Amazonas. Kabaha já

tados do Amazonas e Roraima,

dos do Amazonas e Roraima,

já participou de duas oficinas

jovem aluno do projeto e já

comunidade e participou em

participou de duas oficinas de

Sawá já participou de três ofi-

Wamé também já participou

de vídeo e trabalha também

participou de duas oficinas

2002 de sua primeira oficina

vídeo na sua área e deu uma

cinas, a primeira no Xingu em

de três oficinas, a primeira no

como professor de sua comu-

de vídeo. Ele está sendo tam-

de vídeo.

contribuição significativa na

1997 e duas na reserva Wai-

Xingu em 1997 e duas na re-

nidade.

edição de “Um dia na aldeia”.

miri-Atroari, e realiza traba-

serva Waimiri-Atroari. Seu pro-

lhos de registro de sua cultura.

jeto é realizar um documen-

AGE 33, SANAPYTY LIVES IN

tário sobre o ritual de inicia-

THE VILLAGE MAIKON, ON THE

ção dos jovens meninos.

UPPER ALALAÚ RIVER, IN THE

bém capacitado para ser professor de sua comunidade.

31 YEARS OLD, IAWUSU LIVES IN THE VILLAGE CURIAÚ,

AGE 42, KABAHA IS THE

16 YEARS OLD, ARADUWÁ

ALSO ON THE RIVER CAMANAÚ,

FOUNDING LEADER OF

AGE 33, SAWÁ IS AN INDIGENOUS

LIVES IN THE VILLAGE MARÉ,

IN THE STATE OF AMAZONAS.

THE VILLAGE CACAU, LOCATED

LEADER OF THE VILLAGE MYNAWA,

ON THE UPPER CAMANAÚ RIVER,

HE IS A TEACHER IN HIS

ON THE RIVER CAMANAÚ,

ON THE HIGHWAY BR 174, NEAR

AGE 47, WAMÉ IS AN INDIGENOUS

PARTICIPATED IN TWO VIDEO

OFFSHOOT OF THE RIVER NEGRO,

COMMUNITY AND, IN 2002,

IN THE STATE OF AMAZONAS.

THE RIVER ALALAÚ, AT THE

LEADER OF THE VILLAGE IAWARA,

WORKSHOPS AND ALSO WORKS AS

IN THE STATE OF AMAZONAS.

PARTICIPATED IN HIS

HE PARTICIPATED IN TWO

BORDER OF THE STATES

LOCATED ON THE RIVER ALALAÚ,

A TEACHER IN HIS COMMUNITY.

HE IS THE YOUNGEST OF THE

FIRST VIDEO WORKSHOP.

VIDEO WORKSHOPS IN HIS

AMAZONAS AND RORAIMA.

NEAR THE HIGHWAY BR 174,

PROJECT’S STUDENTS AND HAS

REGION AND GAVE A SIGNIFICANT

SAWÁ, WHO HAS PARTICIPATED

AT THE BORDER OF THE STATES

ALREADY PARTICIPATED IN

CONTRIBUTION TO THE EDITING

IN THREE WORKSHOPS – THE

AMAZONAS AND RORAIMA.

Vídeo

TWO VIDEO WORKSHOPS. HE IS

OF “A DAY IN THE VILLAGE”.

FIRST IN THE XINGU IN 1997

HE PARTICIPATED IN THREE

ALSO BEING TRAINED TO BE A

AND TWO ON THE WAIMIRI-

WORKSHOPS, THE FIRST IN

TEACHER IN HIS COMMUNITY.

ATROARI RESERVATION – WORKS

XINGU, IN 1997, AND TWO

Video

TO DOCUMENT HIS CULTURE.

OTHERS ON THE WAIMIRI-

STATE OF AMAZONAS. HE HAS

ATROARI RESERVATION.

KINJA IAKAHA, UM DIA NA AL DE I A

KINJA IAKAHA, A DAY IN THE VILLAGE

HIS PROJECT NOW IS TO PRODUCE A DOCUMENTARY ABOUT THE INITIATION OF THE YOUNGSTERS.

70

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

71


realizadores indígenas | native videomakers

Araduwá Waimiri | Iawusu Waimiri | Kabaha Waimiri | Sawá Waimiri | Wamé Atroari | Sanapyty Atroari

Komoi Paraná

KINJA IAKAHA, Um dia na aldeia

Paturi Paraná

27 anos, conhecido também como Kiampo-pri,

29 anos, também mora na aldeia Panará

mora na aldeia Panará Nasepotiti, no municí-

Nasepotiti, no município de Guarantã do Norte,

pio de Guarantã do Norte, no Mato Grosso. Já

no Mato Grosso. Companheiro de Komoi, traba-

participou de três oficinas do Vídeo nas

lhou nas três oficinas de vídeo para os Panará.

Atroari, na Amazônia, registram o dia-a-dia de

KINJA IAKAHA, A day in the village

Aldeias e exerce a função de tratorista da

Ao acompanhar como ouvinte da mostra de

seus parentes da aldeia Cacau. Estes registros,

S IX

aldeia. Komoi é agora o coordenador da equipe

2004, Paturi se encantou com os aplausos e o

sintetizados em “Um dia na aldeia”, nos trans-

VILLAGES, LOCATED IN THE AMAZON, DOCUMENT

de fiscalização da área Panará, para tentar

glamour de cineasta, e se empenhou com entu-

portam para a intimidade do cotidiano indígena

THE DAY-TO-DAY LIFE OF THEIR RELATIVES IN THE

conter a invasão e o roubo de madeira na

siasmo na realização do seu próprio vídeo.

com a sua interação intensa com a natureza.

CACAU VILLAGE. THESE IMAGES, STITCHED TOGETHER

reserva.

Seis

índios de diferentes aldeias Waimiri e

INDIANS OF DIFFERENT WAIMIRI AND ATROARI

IN “A DAY IN THE VILLAGE” TRANSPORT US TO

Prêmios ■

P RÊM IO DE M E L HO R F I L M E NO MO S T R A C O M P E T I T I VA

INTIMATE SCENES OF THEIR LIFESTYLE AND

27, ALSO KNOWN AS KIAMPO-PRI, LIVES IN THE

29, ALSO LIVES IN THE PANARÁ NASEPOTITI

THEIR INTENSE RELATIONSHIP WITH NATURE.

PANARÁ NASEPOTITI VILLAGE, IN THE MUNICIPALITY

VILLAGE, IN GUARANTÃ DO NORTE, IN MATO GROSSO.

OF GUARANTÃ DO NORTE, IN MATO GROSSO STATE. HE

COMPANION TO KOMOI, HE WORKED IN THE THREE

HAS TAKEN PART IN THREE VÍDEO NAS ALDEIAS

VIDEO WORKSHOPS FOR THE PANARÁ.

B EST D O CU MEN TA R Y, FO R U MD O C. B H . 2003, 7TH

WORKSHOPS AND PERFORMS THE ROLE OF TRACTOR-

ON ACCOMPANYING THE 2004 SHOWING AS AN

DOCUMENTARY AND ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL,

DRIVER IN THE VILLAGE. KOMOI IS NOW THE

OBSERVER, PATURI WAS ENCHANTED BY THE

COORDINATOR OF THE PANARÁ AREA SURVEILLANCE

APPLAUSES AND GLAMOUR OF FILM-MAKING, AND

TEAM, IN THE ATTEMPT TO CONTROL THE INVASION

HAS BEEN ENTHUSIASTICALLY ENDEAVOURING TO

OF THE RESERVE AND THE THEFT OF TIMBER.

COMPLETE HIS OWN VIDEO.

N ACION AL NO F O R U M D O C . B H . 2 0 0 3 – 7 º F E S T I VA L DO FILME DOCUMENTÁRIO E E T NO G R Á F IC O D E

Awards

BEL O HORIZ O N T E , D E Z E M B R O 2 0 0 3 ■ ■

M EN ÇÃO ES P E C I A L N A 9 ª MO S T R A I N T E R N AC IO N A L DO FILME ETNOGRÁFICO, R IO D E JA N E I R O 2 0 0 3 B ELO HO R I ZO N TE, B R A ZI L, D ECEMB ER 2003

40 MIN., 2003 | DIREÇÃO E FOTO G R A F I A : ARADUWÁ WAIMIRI, IAW US U WA I M I R I ,

HO NO U R A B LE MENTIO N, 9ª I NTER N ATIO NA L ETH NO GR A PH IC FILM FESTIVAL, RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2003

KABAHA WAI M I R I , SA N A PY T Y AT R OA R I , SAWÁ WAIMIRI E WAMÉ AT R OA R I | EDIÇÃO: LEONARDO SETTE

40 MI N. , 2003 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: ARADUWÁ WAIMIRI, IAWUSU WAIMIRI, K A BA H A WA I MI R I , SA NA PYTY ATR OA R I , SAWÁ WA I MI R I E WA MÉ ATR OA R I | ED I TIO N : LEO NA R D O SETTE

Vídeos ■

O AMENDOIM DA CUTIA

Videos ■

72

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

THE AGOUTI´S PEANUT

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

73


realizadores indígenas | native videomakers

Komoi Paraná | Paturi Paraná

Benki Pinhanta

KIARÃSÂ YÕ SÂTY,O amendoim da cutia

32 anos, Ashaninka, mora na aldeia Apiwtxa

AN ASHANINKA OF 32, HE LIVES IN THE APIWTXA

no rio Amônea, afluente do rio Juruá, no Acre.

VILLAGE ON THE RIVER AMÔNEA, AFFLUENT OF THE

Agente agroflorestal, Benki é um dos respon-

RIVER JURUÁ, IN ACRE. FOOD-FOREST AGENT, BENKI

sáveis pelo plano de manejo de recursos natu-

IS ONE OF THOSE RESPONSIBLE FOR THE

amendoim, apresentado por um jovem profes-

KIARÃSÂ YÕ SÂTY, The agouti´s peanut

rais da sua reserva, além de ser compositor e

MANAGEMENT PLAN FOR THE NATURAL RESOURCES

sor, uma mulher pajé e o chefe da aldeia.

T HE

cantor. Neste momento ele é Secretário do

OF HIS RESERVE, IN ADDITION TO BEING

PEANUT HARVEST, PRESENTED BY A YOUNG TEACHER,

Meio ambiente do município de Marechal Tau-

A COMPOSER AND SINGER. AT THE MOMENT HE

A WOMAN SHAMAN AND THE VILLAGE CHIEF.

maturgo, no alto rio Juruá.

IS SECRETARY FOR THE ENVIRONMENT FOR THE

O cotidiano da aldeia Panará na colheita do

Prêmios ■

DAILY LIFE OF THE PANARÁ VILLAGE DURING THE

MUNICIPALITY OF MARECHAL TAUMATURGO,

TAT U DE OU R O D E M E L HO R D O C U M E N T Á R IO E M V Í D EO NA XXXII JORNADA I N T E R N AC IO N A L D E C I N E M A

Awards

Vídeos

IN THE UPPER JURUÁ.

DA BAHIA, 2005 GOLDEN TATU, BEST VIDEO DOCUMENTARY AT THE

CAMINHO PARA A VIDA

MELHOR DO C U M E N T Á R IO DA C O M P E T I T I VA N AC IO N A L

XXXI I JO R N A DA I NTER N ACIO NA L D E CI NEMA DA BA H I A ,

APRENDIZES DO FUTURO

PARA O AMENDOIM DA CUTIA NO FORUMDOC.2005,

Videos

SA LVA D O R 2005, B R A ZI L ■

FLORESTA VIVA

A PATH TO LIFE

TRAINEES FOR THE FUTURE

LIVING FOREST

■ ■

BELO HORIZONTE ■ ■

M EN ÇÃO HO N R O SA N A 1 0 ª MO S T R A I N T E R N AC IO N A L

B EST D O CU MEN TA R Y AT TH E FO R U MD O C. 2005, B ELO HO R I ZO NTE, B R A ZI L

DO FI L M E E T NO G R Á F IC O NO R IO D E JA N E I R O, 2 0 0 5 ■

HO NO U R A B LE MENTIO N, 10TH I NTER N ACIO N A L ETH NO GR A PH IC FI LM FESTI VA L, R IO D E JA NEI R O,

51 MIN., 2005 | DIREÇÃO E FOTO G R A F I A : KO MO I E PATU R I

2005, BRAZIL

PAN ARÁ | EDI Ç Ã O : L E O N A R D O S E T T E E V I N C E N T C A R E LLI 51 MI N . , 2005 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: PATU R I A ND KO MO I PA N A R Á | ED I TIO N: LEO NA R D O SETTE A ND VINCENT CARELLI

74

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

75


realizadores indígenas | native videomakers

Benki Pinhanta

Valdete Pinhanta

Caminho para a Vida | Aprendizes do Futuro | Floresta Viva

25 anos, Ashaninka do rio Amônia, afluente

25 YEARS OLD, VALDETE IS AN ASHANINKA

do rio Juruá no município de Marechal Tauma-

INDIAN FROM THE AMÔNIA RIVER, A BRANCH

turgo no Acre, Valdete é professor de sua al-

OF THE JURUÁ RIVER IN THE STATE OF ACRE.

deia, formado nos cursos da Comissão Pró-

HE IS A PROFESSOR AT HIS VILLAGE AND CONTINUES

Índio do Acre em Rio Branco. Além de professor

HIS STUDIES AT THE ACRE PRO-INDIAN COMMISSION

no rio Amônia, Acre. “Caminho para a vida”

Path to Life Learners of the Future Live Forest

e realizador de vídeo, Valdete é um talentoso

IN RIO BRANCO. IN ADDITION TO BEING A TEACHER

mostra a experiência de manejo de tracajás,

THESE THREE FILMS RELATE TO THE ASHANINKA’S MANAGEMENT

desenhista. Já participou de três oficinas de

AND A VIDEOMAKER, VALDETE IS ALSO A TALENTED

espécie que se tornou escassa devido ao gran-

OF THE FOOD-FOREST IN THEIR COMMUNITY ON THE RIVER

vídeo, duas na sua aldeia e uma na aldeia

CARTOONIST. HIS SECOND MOVIE “SHOMÕTSI”

de consumo de seus ovos e sua carne. “Apren-

AMÔNIA, ACRE. “PATH TO LIFE” SHOWS THE EXPERIENCE OF

Yauanawá. Seu segundo vídeo sobre o cotidi-

WAS A SUCCESS THANKS TO HIS SENSIBILITY AND

dizes do Futuro” mostra o trabalho de recu-

BREEDING RIVER TURTLES, WHICH HAVE BECOME SCARCE DUE

ano do seu tio “Shomõtsi”, fez sucesso pela

POETICAL SENSE. TODAY, VALDETE IS WORKING ON

peração de solo degradado realizado com a

TO THE LARGE-SCALE CONSUMPTION OF THEIR EGGS AND MEAT.

sua sensibilidade e seu senso poético. Valdete

A DOCUMENTARY ON ALTERNATIVE TEACHING IN THE

participação das crianças da aldeia. “Floresta

“LEARNERS OF THE FUTURE” SHOWS THE INVOLVEMENT OF THE

agora prepara um documentário sobre o ensino

VILLAGE OF YAUANAWÁ AND ANOTHER ONE ON THE

Viva” relata a experiência de consórcio de es-

VILLAGE CHILDREN IN THE WORK OF RECUPERATING SOIL THAT

diferenciado na aldeia Yauanawá e outro sobre

NATURAL RESSOUCES OF THE ASHANINKA TERRITORY.

pécies realizada com a participação de toda a

HAS SUFFERED DEGRADATION. “LIVE FOREST” TELLS THE

o trabalho de manejo de recursos naturais do

comunidade para proporcionar melhor alimen-

EXPERIENCE OF CULTIVATING A PRODUCTIVE COMBINATION OF

território Ashaninka.

tação a todos.

SPECIES WITH THE PARTICIPATION OF THE WHOLE COMMUNITY

Os três filmes relatam o manejo agroflorestal realizado pelos Ashaninka na sua comunidade

TO PROVIDE A BETTER DIET FOR EVERYONE.

Vídeos ■

NO TEMPO DAS CHUVAS

SHOMÕTSI

Videos ■

THE RAINY SEASON

SHOMÕTSI

1 2 M I N UTOS C A DA , 2 0 0 4 | D I R E Ç Ã O : B E N K I P I A N KO | ROT EI RO: ISA AC P I N H A N TA , VA L D E T E P I N H A N TA E B E NK I

12 MINUTES EACH, 2004 | DIRECTIO N: B EN K I PI A NKO |

PIANKO | FOTO G R A F I A : ISA AC P I N H A N TA E VA L D E T E

SCRIPT: ISA AC PI NH A N TA , VA LD ETE PI N H A N TA A ND B ENK I

P I N HAN TA | E D I Ç Ã O : M A R I C O R R Ê A

PI A N KO | PHOTO GR A PH Y: ISA AC PI N H A N TA A ND VA LD ETE PINHANTA | EDITION: MARI CORRÊA

76

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

77


realizadores indígenas | native videomakers

Valdete Pinhanta

SHOMÕTSI

Winti Suyá

Crônica do cotidiano de Shomõtsi, um Asha-

SHOMÕTSI

32 anos, Suyá do Parque do Xingu, Mato Grosso,

32 YEARS OLD, WINTI IS A SUYÁ INDIAN FROM

ninka da fronteira do Brasil com o Perú. Pro-

S HOMÕTSI

Winti se incorporou ao projeto em 97, na pri-

XINGU PARK IN MATO GROSSO STATE WHO JOINED

fessor e um dos videastas da aldeia, Valdete

THE BORDER OF BRAZIL AND PERU. THE MOVIE

meira oficina nacional, já com experiência

THE PROJECT IN 1997 DURING THE FIRST NATIONAL

retrata o seu tio, turrão e divertido.

IS A REPORT ON HIS DAY TO DAY LIFE AND HIS

anterior. Tem participado de várias produções

WORKSHOP, AFTER PREVIOUS VIDEO EXPERIENC ES.

JOURNEY TO THE NEIGHBOURING CITY TO GET HIS

em outras aldeias, como Xavante e Ikpeng, onde

HE HAS PARTICIPATED IN VARIOUS PRODUCTIONS

PENSION. IT’S ALSO AN OPPORTUNITY FOR VALDETE

é co-autor dos vídeos “Wapté Mnhõnõ, A inicia-

IN OTHER VILLAGES SUCH AS XAVANTE AND

TO PORTRAY HIS HARD-HEADED AND WITTY UNCLE.

ção do jovem Xavante” e “Moyngo, O sonho de

IKPENG, AND IS CO AUTHOR OF TWO VIDEOS:

Maragareum”. Hoje Winti é membro da diretoria

“WAPTÉ MNHÕNÕ, THE XAVANTE´S INITIATION” AND

da ATIX, Associação Terra Indígena Xingu, sobre

“MOYNGO, THE DREAM OF MARAGAREUM”. CURRENTLY,

a qual realizou o documentário “SOS Rio Xingu”.

WINTI IS A MEMBER OF THE BOARD OF ATIX, THE

Prêmios ■

P RÊM IO UNE S C O, 8 ª MO S T R A I N T E R N AC IO N A L D O F ILME

IS AN ASHANINKA INDIAN LIVING ON

ET NOG RÁFIC O, R IO D E JA N E I R O, B R A S I L , 2 0 0 1 ■

G RAN DE P R Ê M IO ” R IG O B E R TA M E N C H Ú T U M ” , N A

Awards

CATEGORIA COMUNIDADE NO F E S T I VA L P R E S E N Ç A ■

UNESCO AWARD, 8TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC

AUT ÓCTON E , MO N T R É A L , C A N A D Á , 2 0 0 2 FI LM FESTI VA L, R IO D E JA NEI R O, B R A ZI L, 2001 ■

XINGU INDIGENOUS LAND ASSOCIATION, ON WHICH

MENÇÃO HONROSA DO JÚRI OFICIAL DO CINESUL 2002, ■

“R IGO B ER TA MEN CH Ú TU M AWA R D ”, I N CO MMU NI TY

RIO DE JAN E I R O

Vídeos

HE MADE A DOCUMENTARY CALLED “SOS XINGU RIVER”.

CATEGO R Y, FESTI VA L PR ESEN ÇA AU TÓ CTO N E, ■

P RÊM IO “ RIG O B E R TA M E N C H Ú ” , I I A N AC O N DA 2 0 0 2,

WAPTÉ MNHÕNÕ, A INICIAÇÃO DO JOVEM XAVANTE

MOY NGO, O SONHO DE MARAGAREUM

Videos

SOS RIO X INGU

WAPTÉ MNHÕNÕ, THE X AVANTE’S INITIATION

“R IGO B ER TA MEN CH Ú AWA R D ”, I I A N ACO N DA 2002,

MOY NGO, THE DREAM OF MARAGAREUM

BOLIVIA

SOS XINGU RIVER

MO N TR ÉA L, CA N A D Á , 2002

BOLÍVIA ■ ■

PRÊMIO ESPECIAL DO PÚBLICO INDÍGENA, II ANACONDA

HO NO U R A B LE MENTIO N BY TH E O FICI A L JU R Y, CI N ESU L 2002, R IO D E JA N EI R O

2002, BOLÍVIA ■ ■

M EL HOR DO C U M E N T Á R IO DA MO S T R A C O M P E T I T I VA N ACION AL D O F O R U M D O C . B H . 2 0 0 2 , M I N A S G E R A IS ■

SPECI A L AWA R D FR O M TH E I N D IGENO US PU B LIC, I I A NACO N DA 2002, B O LÍ VI A

4 2 M IN ., 2 0 0 1 | D I R E Ç Ã O E F OTO G R A F I A : VA L D E T E ASHANINKA | EDIÇÃO: MARI CORRÊA

B EST D O CU MEN TA R Y AT TH E FO R U MD O C. B H . 2002, MI N A S GER A IS, B R A ZI L

42 MI N . , 2001 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: VA LD ETE PI NH A N TA A SH EN I K A | ED I TIO N : MA R I CO R R ÊA

78

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

79


realizadores indígenas | native videomakers

Winti Suyá

SOS Rio Xingu O

Zezinho Yube

SOS Xingu River

23 anos, também conhecido como José de

23, ALSO KNOWN AS JOSÉ DE LIMA KAXINAUA,

o Mato Grosso ainda era uma grande mata,

F OUNDED

Lima Kaxinaua, é um índio Hunikui da terra in-

IS A HUNIKUI INDIAN OF THE INDIGENOUS LANDS

deixou fora dos seus limites as cabeceiras do

STILL A VAST FOREST, THE XINGU NATIONAL PARK

dígena Praia do Carapanã, aldeia Mucuripe, no

OF PRAIA DO CARAPANÃ, MUCURIPE VILLAGE,

rio Xingu e de todos os seus formadores. Qua-

LEFT OUT OF ITS BOUNDARIES THE HEADWATERS

rio Tarauacá no estado do Acre. Agente agro-

ON THE TARAUACÁ RIVER IN THE STATE OF ACRE.

renta anos mais tarde, o processo de ocupação

OF THE XINGU RIVER AND ALL OF ITS TRIBUTARY

florestal formado pela Comissão Pro-Índio do

FOOD-FOREST AGENT TRAINED BY ACRE’S COMISSÃO

e desmatamento começa a chegar junto do

STREAMS. FORTY YEARS LATER, THE PROCESS OF

Acre, Zezinho milita na AMAAIAC, Associação

PRO-ÍNDIO, ZEZINHO IS AN ACTIVIST IN THE

Parque, e revela a incrível fragilidade ambiental

COLONIZATION AND DEFORESTATION BEGINS TO

do movimento dos agentes agroflorestais Acre.

AMAAIAC, THE ASSOCIATION OF THE FOOD-FOREST

deste oásis. A ATIX – Associação Terra Indígena

SET INTO THE PARK, REVEALING THE INCREDIBLE

Ele está agora elaborando uma cartilha sobre

AGENTS’ MOVEMENT IN ACRE. HE IS NOW PREPARING

Xingu, em parceria com o IBAMA e o ISA –

ENVIRONMENTAL FRAGILITY OF THIS OASIS. THE

o manejo e criação de quelônios em cativeiro

A BOOKLET ON THE MANAGEMENT AND BREEDING OF

Instituto Sócio Ambiental, tentam disciplinar

XINGU INDIGENOUS LAND ASSOCIATION (ATIX), IN

na língua Hunikui. Zezinho já participou de

RIVER TURTLES IN CAPTIVITY IN THE HUNIKUI

a ocupação do seu entorno para tentar salvar

PARTNERSHIP WITH THE BRAZILIAN ENVIRONMENTAL

duas oficinas do Vídeo nas Aldeias, uma entre

LANGUAGE. ZEZINHO HAS TAKEN PART IN TWO VÍDEO

o Parque e garantir a sobrevivência dos seus

INSTITUTE (IBAMA) AND THE SOCIAL-ENVIRONMENTAL

os índios Yauanawá e outra entre os Hunikui

NAS ALDEIAS WORKSHOPS, ONE AMONG THE

habitantes.

INSTITUTE (ISA) ARE TRYING TO CONTROL THE

do rio Jordão.

YAUANAWÁ INDIANS AND ANOTHER ON THE RIVER

Parque do Xingu, criado em 1961, quando

IN 1961, WHEN MATO GROSSO STATE WAS

JORDÃO AMONG THE HUNIKUI.

SPREAD OF THIS OCCUPATION AND SAVE THE RIVER, 33 MIN., 2002 | REALIZAÇÃO: WINTI SUYÁ |

IN ORDER TO GUARANTEE THE SURVIVAL OF

Vídeo

IM AG EN S: W IN T I S U Y Á , K A R A N É E K U M A R É T X IC Ã O |

THE INHABITANTS OF THE PARK.

XINÃ BENA, NOVOS TEMPOS

Video

EDIÇÃO: LEONARDO SETTE ■

XINÃ BENA, NEW ERA

33 MI N . , 2002 | R EA LI ZATIO N: WI NTI SU YÁ | PHOTO GR A PH Y: WI NTI SU YÁ , K A R A NÉ, A N D K U MA R É TXICÃ O | ED I TIO N: LEO NA R D O SETTE

80

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

81


Zezinho Yube

XINÃ BENA, Novos tempos Dia-a-dia da aldeia Hunikui de São Joaquim,

XINÃ BENA, New era

no rio Jordão no estado do Acre. Augustinho,

T HE

pajé e patriarca da aldeia, sua mulher e seu so-

SÃO JOAQUIM, ON THE RIVER JORDÃO IN THE

gro, relembram o cativeiro nos seringais e fes-

STATE OF ACRE. AUGUSTINHO, VILLAGE SHAMAN

tejam os novos tempos. Agora, com uma terra

AND PATRIARCH, HIS WIFE AND FATHER-IN-LAW,

demarcada, eles podem voltar a ensinar as suas

REMEMBER THE FETTERS OF THE RUBBER

tradições para seus filhos e netos.

PLANTATIONS AND CELEBRATE A NEW ERA.

DAILY LIFE OF THE HUNIKUI VILLAGE OF

NOW, WITH THEIR LAND DEMARCATED, THEY 5 2 M IN ., 2 0 0 6 | D I R E Ç Ã O : Z E Z I N HO Y U B E | F OTO G R A FI A :

CAN ONCE AGAIN TEACH THEIR TRADITIONS

Z EZ I N HO Y UBE , Z É M AT E US I TSA I R U , VA N E S SA AYA N I ,

TO THEIR CHILDREN AND GRANDCHILDREN.

FERN AN DO SI Ã , J O S I A S M A N A , TA D E U S I Ã | E D I Ç Ã O : MARI CORRÊA, PEDRO PORTELLA E VINCENT CARELLI | P RODUÇÃO: CU LT U R A V I VA / V Í D E O N A S A L D E I A S

52 MIN., 2006 | DIRECTION: ZEZINHO YUBE | PHOTO GR A PH Y: ZEZI NHO YU B E, ZÉ MATEUS I TSA I R U , VA NESSA AYA N I ,

vídeo nas aldeias O vídeo como veículo de troca de informação e de conhecimento recíproco entre as aldeias de diferentes povos. Os vídeos contam também a trajetória do projeto desde a sua proposta inicial até a sua forma nos dias de hoje

FER N A ND O SI Ã , JO SI A S MA NA , TA D EU SI Ã | ED I TIO N: MARI CORRÊA, PEDRO PORTELLA AND VINCENT CARELLI | PR O D U CTIO N: CU LTU R A VI VA / VÍ D EO N A S A LD EI A S

video in the villages The video as a medium of information exchange and mutual knowledge between villages of different people. These movies tell also the trajectory of the project since its initial proposal until its curent shape

82

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA


vídeo nas aldeias | video in the villages

PEMP

A festa da moça O

The girl’s celebration

A saga dos índios Parakatêjê/Gavião para man-

PEMP

própria imagem durante um ritual de iniciação

C HIEF

ter sua identidade cultural e sua autonomia

T HIS

feminina. A “moça nova“ permanece reclusa

BOTH THE PROCEEDINGS AND THE SHOOT ITSELF,

política frente aos megaprojetos de desenvol-

OF THE PARAKATÊJÊ (GAVIÃO) DURING THEIR 25-

desde sua primeira menstruação, até as aldeias

DESCRIBES THE NECESSITY OF STRENGTHENING THE

vimento implantados pelo governo no sul do

YEAR STRUGGLE TO MAINTAIN AUTONOMY IN THE

aliadas virem celebrar o fim da sua reclusão. Ao

GIRLS OF HIS VILLAGE BY SECLUDING THEM AFTER

Pará. Os índios conquistaram sua indepen-

FACE OF HUGE DEVELOPMENT PROJECTS IN THE

assistirem suas imagens na TV, eles se decep-

THEIR FIRST MENSES. AFTER SEVERAL MONTHS,

dência econômica exigindo indenizações das

SOUTH OF PARÁ – FROM THE INITIAL RECOVERY

cionam e criticam o excesso de roupa. A festa

THE VILLAGE THROWS A PARTY, WITH SINGING,

estatais por estes projetos. Kokrenum, líder

OF THEIR LANDS IN 1957,TO THEIR CURRENT

seguinte é realizada e registrada com todo o

FEASTING, AND THE SYMBOLIC ABDUCTION OF

do grupo e um dos poucos depositários das

NEGOTIATIONS WITH GOVERNMENT. AGAINST THIS

rigor da tradição. Eufóricos com o resultado,

THE GIRL BY AN ALLIED VILLAGE. WHEN THE

tradições, luta incansavelmente para “segu-

BACKGROUND, “PEMP” SHOWS THE PARAKATÊJÊ’S

eles resolvem retomar, diante da câmera, a fu-

NAMBIQUARA OF MATO GROSSO SEE VIDEOTAPE

rar” este patrimônio cultural para as próximas

MOST PRECIOUS PROJECT – THE PRESERVATION

ração de lábio e de nariz dos jovens, costume

OF THEMSELVES PERFORMING THIS RITUAL,

gerações. Agora ele tem no vídeo o seu me-

OF THEIR CEREMONIES AND SONGS – AND HOW

que haviam abandonado há mais de vinte anos.

THE EXCESS OF WESTERN CLOTHING MAKES

lhor aliado nesta empreitada.

KOKRENUM, CHIEF AND KEEPER OF THE GROUP’S

encontro dos índios Nambiquara com a sua

PEDRO MÃMÃINDÊ, WHO CONDUCTED

THEM UNCOMFORTABLE. THE RITUAL IS THEN 8 MIN., 1987 | DIREÇÃO E FOTO G R A F I A : V I N C E N T C A RELLI |

MOVIE TRACES THE RESISTANCE AND STRATEGY

TRADITIONS, USES VIDEO TO TRANSMIT THEM

RE-ENACTED WITH TRADITIONAL BODY PAINTING

27 MIN., 1988 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |

AND ADORNMENT. EUPHORIC, THEY RESOLVE TO

EDIÇÃO: TUTU NUNES

TO FUTURE GENERATIONS.

EDI ÇÃO: CL EI TO N C A P E L O S S I , VA L D I R A F O N S O E AN TON IO J O R D Ã O

TAKE UP THE LIP AND NOSE-PIERCING OF BOYS AGAIN IN FRONT OF THE CAMERA, RE-ESTABLISHING

27 MIN., 1988 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES

A TRADITION ABANDONED FOR OVER 20 YEARS.

18 MI N. , 1987 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y: VI NCENT CA R ELLI | ED I TIO N: CLEI TO N CA PELO SSI , VA LD I R A FO SO A N D A NTO NIO JO R D Ã O

84

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

85


vídeo nas aldeias | video in the villages

O espírito da TV

Vídeo nas aldeias Uma apresentação do projeto Vídeo nas Aldeias

Video in the villages

As emoções e reflexões dos índios Waiãpi ao

The spirit of TV

no seu início, mostrando como quatro povos

AN

verem, pela primeira vez, a sua própria imagem

B EGINNING

indígenas diferentes (Nambiquara, Gavião, Tiku-

PROJECT, THIS SHORT DOCUMENTARY SHOWS HOW

e a de outros grupos indígenas num aparelho

TV AND VCR IN THEIR VILLAGE, THE SPIRIT OF TV

na e Kaiapó) incorporaram o uso do vídeo nos

FOUR DIFFERENT AMAZONIAN NATIVE GROUPS

de televisão. Os índios refletem sobre a força

DOCUMENTS THE EMOTIONS AND THOUGHTS OF THE

seus projetos políticos e culturais.

(NAMBIQUARA, GAVIÃO, TIKUNA AND KAIAPÓ)

da imagem, a diversidade dos povos e as semel-

WAIÃPI AS THEY FIRST ENCOUNTER THEIR OWN TV

HAVE EMBRACED VIDEO AND INCORPORATED

hanças entre suas estratégias de sobrevivência

IMAGES AND THOSE OF OTHERS. THEY VIEW A TAPE

IT IN THE SERVICE OF THEIR PROJECTS

e as de outros povos frente aos não índios.

FROM THEIR CHIEF’S FIRST TRIP TO BRASILIA TO

Prêmio ■

P RÊM IO DO J Ú R I P O P U L A R NO 1 4 º G UA R N IC Ê D E

OVERVIEW OF THE VIDEO IN THE VILLAGES

FOR POLITIC AND ETHNIC AFFIRMATION.

CINE E VÍDEO, M A R A N H Ã O, 1 9 9 1

EDIÇÃO: TUTU NUNES

SPEAK TO THE GOVERNMENT, NEWS BROADCASTS,

Prêmios Award

1 0 M IN ., 1 9 8 9 | D I R E Ç Ã O E F OTO G R A F I A : V I N C E N T C A R ELLI |

PU B LIC’ S AWA R D AT TH E 7TH GUA R N ICÊ VI D EO A N D FI LM

AND VIDEOS ON OTHER BRAZILIAN NATIVE PEO PLES.

SOL DE OURO, 8º FESTIVAL RIO CINE, BRASIL, 1992

THE TAPE TRANSLATES THE OPINIONS OF INDIVIDUAL

TERCEIRO PRÊMIO, 9º VÍDEOBRASIL, SÃO PAULO,

WAIÃPI ON THE POWER OF IMAGES, THE DIVERSITY

BRASIL, 1992

OF NATIVE PEOPLES, AND NATIVE PEOPLES’ COMMON

PRÊMIO NO LATIN AMERICAN VÍDEO FESTIVAL,

STRUGGLES WITH FEDERAL AGENTS, GOLDMINERS,

FESTI VA L O F MA R A NH Ã O, B R A ZI L, D ECEMB ER 1989. ■

NY, E.U.A., 1992

10 MIN., 1989 | DIRECTION AND PHOTO GR A PH Y: VI N CENT CA R ELLI | ED I TIO N: TU TU N U NESO

WITH THE ARRIVAL BY CANOE OF A

TRAPPERS AND LOGGERS.

PRÊMIO NO IV FESTIVAL DOS POVOS INDÍGENAS, PERU, 1992

Awards

PRÊMIO EM VÍDEO E TELEVISÃO, VIII FESTIVAL DE

CINEMA LATINO AMERICANO, TRIESTE, ITÁLIA, 1993

GOLDEN SUN, 8 TH RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, 199 2 THIRD AWARD, 9TH VIDEOBRASIL, SÃO PAULO, BRAZIL, 1992

18 MIN., 1990 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI | ■

BEST DOCUMENTARY, IV INDIGENOUS PEOPLE

EDIÇÃO: TUTU NUNES FILM FESTIVAL, PERU, 1992 ■

VIDEO AND TV AWARD, VIII LATINAMERICAN FILM FESTIVAL, TRIESTE, ITALY, 1993

18MIN., 1990 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES

86

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

87


vídeo nas aldeias | video in the villages

A arca dos Zo’é

Eu já fui seu irmão

Os índios Waiãpi, que conheceram os Zo’é através

MEETING ANCESTORS

Um documentário sobre o intercâmbio cultural

We gather as a family

de imagens em vídeo, decidem ir ao encontro

C HIEF

entre os Parakatêje do Pará e os Krahô do To-

T HIS

destes índios recém contactados no norte do

A RECENTLY CONTACTED GROUP WHOM THE WAIÃPI

cantins, que embora falem a mesma língua,

BETWEEN THE PARAKATÊJÊ (GAVIÃO) OF PARÁ AND

Pará e documentá-los. Os Zo’é proporcionam

MET THROUGH VIDEO. THE ZO'É ARE CURRENTLY

nunca haviam se encontrado antes. Kokrenum,

THEIR “RELATIVES,” THE KRAHÔ OF TOCANTINS.

aos visitantes o reencontro com o modo de

EXPERIENCING PHENOMENA OF CONTACT THAT

líder dos Parakatêjê e preocupado com a desca-

KOKRENUM, THE CHARISMATIC CHIEF OF THE

vida e os conhecimentos dos seus ancestrais.

THE WAIÃPI EXPERIENCED TWENTY YEARS AGO.

racterização do seu povo, resolve ir conhecer

PARAKATÊJÊ, ORGANIZES A VISIT TO THE KRAHÔ,

Os Waiãpi, em troca, informam os Zo’é sobre

THE ZO'É AFFORD THEIR VISITORS THE CHANCE TO

uma aldeia Krahô, que conserva muitas de suas

WHO SPEAK THE SAME LANGUAGE AND MAINTAIN

os perigos do mundo branco que se aproxima,

RE-ENCOUNTER THE WAY OF LIFE AND WISDOM OF

tradições. Um ano depois, os Paraktêjê retri-

THEIR TRADITIONS. THE 50 YOUNG PARAKATÊJÊ

que os isolados estão ansiosos por conhecer.

THEIR ANCESTORS. THE WAIÃPI, ON THE OTHER

buem o convite. No final, os chefes selam um

HE BRINGS ALONG PARTICIPATE IN A CEREMONY

HAND, BRING THE ZO'É INFORMATION ON THE

pacto de amizade entre os dois povos.

CONSISTING OF SINGING, BODY-PAINTING AND

Prêmios ■ ■

SOL DE OURO, 9º FESTIVAL RIO-CINE, BRASIL, 1993

DANGERS OF THE WHITE WORLD THAT THIS ISOLATED GROUP WAS EAGER TO UNDERSTAND.

JVC PRESIDENT’S AWA R D , 1 6 º TO K YO V Í D E O F E S T I VAL, JAP ÃO, 1 9 9 3

M EL HOR CU R TA M E T R AG E M , 1 6 º F E S T I VA L I N T E R N AC IO N A L

Awards

M EL HOR V Í D E O, I I MO S T R A N AC IO N A L D E C I N E M A

RACE THROUGH THE SAVANNAH. THE FOLLOWIN G

MELHOR VÍDEO (JÚRI POPULAR), TROFÉU SÃO LUÍS

YEAR, THE PARAKATÊJÊ RETURN THE INVITATION

E TROFÉU JANGADA NO 17º GUARNICÊ DE

AND THE KRAHÔ TRAVEL TO KOKRENUM’S VILLAGE. THE TWO CHIEFS DISCUSS CULTURAL ISSUES

SO L D E O U R O ( FI R ST PR I ZE) , 9TH R IO -CI N E FESTI VA L, R IO D E JA N EI R O, B R A ZI L, 1993

E VÍDEO DE CUIABÁ, BRASIL, 1994 ■

AND SEAL A PACT OF FRIENDSHIP BETWEEN

JVC PR ESI D ENT’ S AWA R D , 16TH TO K YO VI D EO FESTI VA L,

32 MIN., 1993 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |

TO K YO, JA PA N, 1993

EDIÇÃO: TUTU NUNES

PR I X D U CO U R T MÉTR AGE, 16ÈME FESTI VA L

22 MIN., 1993 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI E

I N TER N ATIO N A L D E FI LMS ETH NO GR A PH IQ U ES ET

DOM IN IQUE GA L L O IS | F OTO G R A F I A : V I N C E N T C A R E L L I |

SO CIO LO GIQ U ES / CI NÉMA D U R ÉEL, PA R IS, FR A NCE, 1994

EDIÇÃO: TUTU NUNES

Prêmio

CINE-VÍDEO, MARANHÃO, 1994 ■

TAPE DOCUMENTS A CULTURAL EXCHANGE

PREPARATIONS FOR THE LONG, STRENUOUS RELAY

CINÉMA DU RÉEL, PARIS, FRANÇA, 1994 ■

WAI-WAI GOES A TRIP TO MEET THE ZO'É,

THEIR GROUPS.

Award ■

BEST VIDEO (PUBLIC’S AWARD), SÃO LUIS TROPHY AND JANGADA TROPHY AT THE 17TH GUARNICÊ VIDE O

B EST VI D EO, I I NATIO N A L FI LM A N D VI D EO FESTI VA L, AND FILM FESTIVAL, MARANHÃO, BRAZIL, 1994 CUIABÁ, BRAZIL, 1994

32 MIN., 1993 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: 22 MI N . , 1993 | D I R ECTIO N: VI NCENT CA R ELLI A ND VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES DOMINIQ U E GA LLO IS | PHOTO GR A PH Y: VI N CENT CA R ELLI | EDITION: TUTU NUNES

88

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

89


vídeo nas aldeias | video in the villages

Antropofagia visual

Vídeo nas Aldeias se apresenta

O projeto Vídeo nas Aldeias introduz o vídeo

Video cannibalism

Apresentação da trajetória recente do Vídeo

entre os índios Enawênê Nawê, grupo ainda

T HE

nas Aldeias, suas oficinas de formação e a pro-

Video in the Villages presents itself

isolado no norte de Mato Grosso. Extrovertidos,

VIDEO AMONG THE ENAUÊNÊ NAUÊ INDIANS, A

dução indígena. Criado em 1987, o projeto co-

V IDEO

os índios reagem à presença da câmera com

GROUP STILL ISOLATED IN THE NORTH OF MATO

meçou a introduzir o vídeo em comunidades

RECENT PROGRESS, ITS INDIGENOUS WORKSHOPS

um espírito performático surpreendente: muita

GROSSO. THESE INDIANS ARE VERY EXTROVERTED

indígenas que produziam registros para consumo

OF TRAINING AND PRODUCTION. FOUNDED IN 1987,

palhaçada e uma encenação de ataques dos

AND RESPOND WITH A SURPRISING, HIGH-SPIRITED

interno. Em 1995, a abertura de um espaço na

THE PROJECT BEGAN WITH THE INTRODUCTION

seus vizinhos, os Cinta-Larga. A medida em que

PERFORMANCE INCLUDING A LOT OF CLOWNING

TV educativa de Cuiabá, levou o projeto a pro-

OF VIDEO IN INDIGENOUS COMMUNITIES THAT

se acostumam a assistir filmes de ficção, eles

AROUND AND A REENACTMENT OF AN ATTACK THEY

duzir o “Programa de Índio”, uma experiência

PRODUCED DOCUMENTARIES FOR THEIR OWN

resolvem produzir o seu...

SUFFERED AT THE HANDS OF THEIR NEIGHBORS,

inédita na televisão brasileira. Desde 1997, o

PURPOSES. IN 1995, THE OPENING OF A SPACE

THE CINTA-LARGA, NOT LONG AGO. HAVING BECOME

Vídeo nas Aldeias investe, através de oficinas

ON EDUCATIONAL TV IN CUIABÁ, LED THE PROJECT

1 7 M I N ., 1 9 9 5 | D I R E Ç Ã O : V I N C E N T C A R E L L I | F OTO G RA FI A :

USED TO WATCHING MOVIES ON VIDEO, THEY

nacionais e regionais, na formação da primeira

TO PRODUCE THE "INDIGENOUS PROGRAM", AN

ALTAIR PAIX Ã O, V I R G I N I A VA L A D Ã O E V I N C E N T C A R E LLI |

DECIDE TO PRODUCE THEIR OWN...

geração de documentaristas indígenas.

ORIGINAL EXPERIENCE FOR THE FIRST TIME ON

VIDEO IN THE VILLAGES PROJECT INTRODUCES

EDIÇÃO: TUTU NUNES

IN THE VILLAGES PRESENTS ITS

BRAZILIAN TELEVISION. SINCE 1997, VIDEO IN THE 17 MI N. , 1995 | D I R ECTIO N: VI NCENT CA R ELLI |

33 MIN., 2002 | REALIZAÇÃO: MARI CORRÊA

VILLAGES HAS BEEN INVESTING IN THE FORMATION

PHOTOGRAPHY: ALTA I R PA I XÃ O, VI R GI NI A VA LA D Ã O

E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: MARI CORRÊA

OF THE FIRST GENERATION OF INDIGENOUS

A ND VI N CENT CA R ELLI | ED I TIO N: TU TU N U NES

DOCUMENTARY FILMMAKERS, THROUGH THE USE OF NATIONAL AND REGIONAL WORKSHOPS.

33 MIN., 2002 | REALIZATION: MARI CORRÊA AND VINCENT CARELLI | EDITION: MARI CORRÊA

90

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

91


vídeo nas aldeias | video in the villages

Meu primeiro contato

IAUARETÊ, Cachoeira das onças Um relato mítico ilustrado nas pedras de uma

Quando eu era criança, meu avô me contava a

My first contact

cachoeira, a reconstrução de uma grande ma-

IAUARETÊ, Waterfall of the jaguars

história de um pássaro barulhento que transfor-

W HEN

loca, a tentativa de reaver objetos há anos guar-

A

mou para sempre a nossa vida. Contou como foi

ME THE STORY OF A NOISY BIRD THAT CHANGED

dados em um museu de Manaus. Em "IAUARE-

A WATERFALL, THE RECONSTRUCTION OF A GREAT

o primeiro contato com os brancos e a nossa

OUR LIFE FOR EVER. HE TOLD OF THE FIRST CONTACT

TÊ, Cachoeira das onças" os índios Tariano, do

COMMUNAL HUT, THE ATTEMPT TO RECOVER OBJECTS

transferência para o Parque Indígena do Xingu.

WITH THE WHITES AND OUR TRANSFER TO THE

noroeste da Amazônia, após décadas de cate-

KEPT FOR YEARS IN A MUSEUM IN MANAUS.

Esse exílio é o maior drama da nossa história.

XINGU INDÍGENOUS PARK. THIS EXILE HAS BE EN

quese missionária, resolvem fazer um registro

IN "IAUARETÊ, WATERFALL OF THE JAGUARS"

cultural dirigido às futuras gerações.

THE TARIANO INDIANS, OF THE NORTH-WESTERN

56 MIN., 2005 | DIREÇÃO: MARI CORRÊA E KUMARÉ TX ICÃO |

AMAZON, AFTER DECADES OF MISSIONARY

FOTOGRAFIA: MARI CORRÊA, KARANÉ E NATUY U TX IKÃO |

56 MIN., 2005 | DIRECTION: MARI CORRÊA AND KUMAR É

EDIÇÃO: AURÉLIE RICARD | PRODUÇÃO: ZARAFA FILMS

TXICÃO | PHOTOGRAPHY: MARI CORRÊA, KARANÉ AND NATUYU

E VÍDEO NAS ALDEIAS

TXIKÃO | EDITION: AURÉLIE RICARD | PRODUCTION: ZA R AFA

48 MIN., 2006 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | FOTOGRAFIA: V I N CEN T CARE L L I E A LTA I R PA I X Ã O | E D I Ç Ã O : J OA N A

MYTH ILLUSTRATED ON THE STONES OF

CATECHISM, DECIDE TO MAKE A CULTURAL RECORD FOR FUTURE GENERATIONS.

I WAS A CHILD, MY GRANDFATHER TOLD

THE GREATEST DRAMA IN OUR HISTORY.

FILMS AND VÍDEO NAS ALDEIAS

COLLIER | PRODUÇÃO: IPHAN / VÍDEO NAS ALDEIAS 48 MIN., 2006 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | PHOTO GR A PH Y: VI NCENT CA R ELLI A ND A LTA I R PA I XÃ O | EDITIO N : JOA N A CO LLI ER | PR O D U CTIO N : I PH A N / VÍDEO NAS ALDEIAS

92

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

93


rituais e mitos | rituals and myths

YÃKWÁ, O banquete dos espíritos Um documentário em quatro episódios sobre o mais importante ritual dos índios Enauênê

YÃKWÁ, The banquet of the spirits

Nauê, o Yãkwa. Todo ano, ao longo de sete me-

T HIS

ses, os espíritos são reverenciados com alimen-

THE YÃKWA, THE MOST IMPORTANT RITUAL OF

tos, cantos e danças.

THE ENAUÊNÊ NAUÊ INDIANS. FOR SEVEN MONTHS

IS A FOUR-PART DOCUMENTARY ABOUT

EVERY YEAR, THE SPIRITS ARE VENERATED WITH

rituais e mitos

Prêmios ■

”SELECTED WORK” NO 18º TOKYO VIDEO FESTIVAL,

OFFERINGS OF FOOD, SONGS AND DANCES SO THEY WILL PROTECT THE COMMUNITY.

JAPÃO, JANEIRO 1996 ■

Documentários sobre rituais e encenações de mitos pelos próprios índios.

PRÊMIO PIERRE VERGER DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

Awards

DE ANTROPOLOGIA, BRASIL, JULHO 1996 ■ ■

MELHOR DOCUMENTÁRIO – 12º RIO CINE FESTIVAL,

SELECTED WORK - 18TH TOKYO VIDEO FESTIVAL, JAPAN, JANUARY 1996

BRASIL, JULHO 1996 ■ ■

rituals and myths

PRÊMIO DO JÚRI POPULAR – TVE FESTIVAL RIO CINE –

PIERRE VERGER AWARD, BY THE BRAZILIAN ANTHROPOLOGIST’S ASSOCIATION, BRAZIL, APRIL 1996

JULHO 1996 ■ ■

MELHOR VÍDEO DA X X III JORNADA DE CINEMA

BEST DOCUMENTARY – 12º RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, JULY 1996

DA BAHIA, OUTUBRO 1996

Documentaries about rituals and myths performed by the Indians themselves.

54 MIN., 1995 | DIREÇÃO E ROTEIRO: VIRGINIA VALADÃO |

PUBLIC’S AWARD – RIO CINE FESTIVAL, BRAZIL, JULY 1 9 9 6

BEST VÍDEO, X X III JORNADA DE CINEMA DA BAHIA, SALVADOR, BRAZIL, OCTOBER 1996

FOTOGRAFIA: ALTAIR PAIX ÃO E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES 54 MIN, 1995 | DIRECTION AND SCRIPT: VIRGINIA VALADÃO | PHOTOGRAPHY: ALTAIR PAIX ÃO AND VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

95


Segredos da mata Quatro fábulas sobre monstros canibais narradas

Jungle secrets

e interpretadas pelos índios Waiãpi da aldeia

F OUR

de Taitetuwa. “Fizemos o vídeo”, dizem eles,

AND PERFORMED BY THE WAIÃPI INDIANS. “WE HAVE

“para alertar os incautos. Até um não-índio

MADE THE VIDEO”, SAY THE WAIÃPI, “TO TEACH

pode ser devorado por estes monstros ao en-

PEOPLE TO BE MORE CAREFUL WITH MONSTERS

trar na mata”.

THEY NEVER HEARD ABOUT. EVEN A WHITE MAN

TALES ABOUT CANNIBAL MONSTERS NARRATED

CAN BE EATEN AS HE GOES INTO THE FOREST.”

Prêmios ■

P RÊM IO DE P R ATA NO 2 0 º TO K YO V Í D E O F E S T I VA L ,

Awards

JAP ÃO, 1 9 98

P RÊM IO V I T R A L DA D O P E L O MO V I M E N TO N AC IO N A L D E V ÍDEO DE C U BA NO V I F E S T I VA L A M E R IC A NO D E C I NEMA E VÍDEO DOS POVOS INDÍGENAS, GUATEMALA, 1999

“SILVER AWARD”, 20TH TOKYO VIDEO FESTIVAL, JA NUA R Y, 1998

VI TR A L AWA R D , NATIO N A L O R GA NI ZATIO N O F VI D EO

xamanismo A relação do xamanismo com a medicina moderna e as novas tecnologias

A ND FI LM O F CU BA , VI I ND IGENO US FI LM A ND VI D EO FESTI VA L O F TH E A MER ICA S, GUATEMA LA , 1999

shamanism

3 7 M I N ., 1 9 9 8 | D I R E Ç Ã O E F OTO G R A F I A : DOMINIQUE GALLOIS E VINCENT CARELLI |

37 MI N . , 1998 | D I R ECTIO N A ND PHOTO GR A PH Y:

EDIÇÃO: TUTU NUNES

D O MI N IQ U E GA LLO IS A ND VI N CENT CA R ELLI | ED I TIO N: TU TU N U NES

96

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

The relationship between shamanic tradition, modern medecine and new technologies


xamanismo | shamanism

Morayngava

O corpo e os espíritos

Morayngava, o “desenho das coisas”, Yngiru,

Morayngava

No Parque Indígena do Xingu, médicos e pajés

The body and the spirits

a “caixa das almas”, os filmes, sonhos dos pa-

M ORAYNGAVA,

tentam conciliar medicina moderna e xamanis-

IN

jés. Assim os Asurini definem o vídeo recém

YNGIRU, “THE BOX OF THE SPIRITS”, THIS IS

mo. O filme enfoca esse convívio: a tentativa

SHAMANS TRY TO RECONCILE MODERN MEDICINE AND

chegado em sua aldeia. Ao descobrirem que é

HOW THE ASURINI DEFINE VIDEO, AND THE

de diálogo intercultural e o confronto de cos-

SHAMANISM. THE FILM FOCUSES ON THIS EXCHANGE:

possível guardar suas imagens, os velhos la-

CAMERA WHICH HAS JUST ARRIVED IN THEIR

movisões antagônicas. Para o pajé Prepori, o

THE ATTEMPT AT INTERCULTURAL DIALOGUE AND THE

mentam não ter gravado seus antepassados,

VILLAGE. THE FILMS ARE JUST LIKE XAMAN DREAMS.

filme se torna uma forma de testamento oral

CONFRONTATION OF ANTAGONISTIC VISIONS OF THE

mas resolvem registrar a iniciação de um pajé,

AFTER DISCOVERING THAT IT IS POSSIBLE TO STORE

destinado aos seus filhos, netos e descenden-

COSMOS. FOR THE SHAMAN PREPORI, THE FILM

tradição ameaçada pelos novos tempos.

THEIR IMAGES, THE OLD MEN LAMENT THAT THEY

tes, instrumento contra o esquecimento de

BECOMES A FORM OF ORAL TESTIMONY ADDRESSING

NEVER STORED IMAGES OF THEIR ANCESTORS

suas tradições. Do lado da equipe médica, o

HIS CHILDREN, GRANDCHILDREN AND DESCENDANTS,

16 MIN., 1997 | DIREÇÃO : REGINA MÜLLER

AND DECIDED TO REGISTER THE INITIATION OF A

Dr. Douglas, coordenador do Programa de Saú-

A TOOL AGAINST THE LOSS OF THEIR TRADITIONS.

E V IRG IN I A VA L A D Ã O | F OTO G R A F I A :

XAMAN, A TRADITION THREATENED BY NEW TIMES.

de, reflete sobre a inevitável interferência que

FROM THE SIDE OF THE MEDICAL TEAM, DR. DOUGLAS,

provoca a medicina no universo indígena, sua

COORDINATOR OF THE HEALTH PROGRAMME, REFLECTS

16 MIN., 1997 | DIRECTION: REGINA MÜLLER AND

eficácia e seus limites. O filme questiona as

ON THE INEVITABLE INTERFERENCE THAT PROVOKES

VI R GI N I A VA LA D Ã O | PHOTO GR A PH Y: VI R GI N I A VA LA D Ã O |

possibilidades desse diálogo entre culturas.

THE INDIGENOUS MEDICINAL UNIVERSE, ITS

THE “DESIGN OF THINGS”,

V I RG IN I A VAL A D Ã O | E D I Ç Ã O : T U T U N U N E S

EDITION: TUTU NUNES

THE XINGU INDIGENOUS PARK, DOCTORS AND

EFFECTIVENESS AND ITS LIMITS. THE FILM

Prêmios ■

PRÊMIO DE MELHOR DOCUMENTÁRIO EM VIDEO

QUESTIONS THE POSSIBILITIES OF THIS DIALOGUE BETWEEN CULTURES.

NO FESTIVAL BILAN DU FILM ETHNOGRAPHIQUE / MUSÉE DE L’HOMME, PARIS, 1996

Awards ■

54 MIN., 1996 | DIREÇÃO E EDIÇÃO: MARI CORRÊA |

BEST VIDEO DOCUMENTARY AT THE BILAN DU FILM ETHNOGRAPHIQUE / MUSÉE DE L’HOMME, PARIS, 199 6

PRODUÇÃO: LES FILMS DU VILLAGE 54 MIN., 1996 | DIRECTION AND EDITION: MARI CORRÊ A | PRODUCTION: LES FILMS DU VILLAGE

98

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

99


conflitos | conflicts

Boca livre no Sararé

conflitos Conflitos fundiários e de expansão da frente econômica envolvendo áreas indígenas na Amazônia

conflicts

Em 1991, mais de seis mil garimpeiros invadem

Free-for-all in Sararé

a reserva dos índios Nambiquara do Sararé.

M ORE

Ao mesmo tempo, madeireiras saqueiam suas

PROSPECTORS HAVE INVADED THE RESERVE OF

matas ricas em mogno, madeira em extinção

THE NAMBIQUARA OF SARARÉ, WHILE LOGGERS

na Amazônia. Pressionando o Banco Mundial,

RAID THEIR MAHOGANY RICH FORESTS, STEALING

com o qual o governo de Mato Grosso negocia

WOOD WHICH IS BECOMING EXTINCT IN AMAZONIA.

um empréstimo, consegue-se a retirada dos

ONLY PRESSURE ON THE WORLD BANK, WITH WHOM

invasores. Mas o roubo de madeira prossegue

THE GOVERNMENT OF MATO GROSSO IS NEGOTIATING

e a volta dos garimpeiros pode ocorrer a qual-

A LOAN, COULD HAVE BROUGHT PROSPECTING

quer momento...

TO A CLOSE... BUT THE PILLAGE OF THE

THAN SIX THOUSAND GOLD AND MINERAL

FOREST HAD CONTINUED. 27 MIN., 1992 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI, MAURIZIO LONGOBARDI E VIRGÍNIA VALADÃO |

27 MIN., 1992 | DIRECTION: VINCENT CARELLI,

EDIÇÃO: TUTU NUNES

MAURIZIO LONGOBARDI AND VIRGÍNIA VALADÃO | EDITION: TUTU NUNES

Conflicts caused by land fights or economic expansion involving indigenous areas in Amazon

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

101


Ou vai ou racha! 20 anos de luta Em abril de 1997, os índios Macuxi do norte de Roraima comemoram vinte anos do movi-

It's now or never! Twenty years of struggles

mento pelo reconhecimento da área indígena

IN

Raposa Serra do Sol onde vivem cerca de treze

RORAIMA, CELEBRATE TWENTY YEARS OF STRUGGLES

mil índios. Para a festividade, os estudantes

TO HAVE THEIR RESERVATION "RAPOSA SERRA

da escola indígena encenam os episódios mais

DO SOL" RECOGNIZED BY THE GOVERNMENT.

importantes de sua história e de sua luta, co-

THE INDIANS STUDENTS OF MATURUCA’S COLLEGE

mentados por seus protagonistas. O documen-

REPRESENT THEIR HISTORY FROM THE OLD DAYS

tário foi concluído com a participação dos ha-

TO NOW AND THE ELDERS GIVE THEIR TESTIMONIES.

ABRIL 1997, THE MAKUXI INDIANS OF NORTH

bitantes da aldeia Maturuca, sede da resistência Macuxi, durante uma oficina de edição e de

Award

desenho animado.

DOCUMENTARY AWARD, NATIO NA L O R GA N I ZATIO N

projetos amazônicos Projetos de proteção ambiental e experiências inovadoras de desenvolvimento sustentável em áreas indígenas na Amazônia

O F VI D EO A ND FI LM O F CU BA , VI FESTI VA L

Prêmio

A MER ICA NO D E CI N EMA E VÍ D EO D O S PO VO S I ND Í GEN A S, GUATEMA LA , 1999

P RÊM IO VA L O R D O C U M E N TA L DA O R GA N I Z A Ç Ã O N ACIO N A L DE CIN EM A E V Í D E O D E C U BA , NO V I F E S T I VA L D E C I N EMA E V ÍDEO DO S P O V O S I N D Í G E N A S , 1 9 9 9 , G UAT E M A L A

31 MI N. , 1998 | D I R ECTIO N: MA R I CO R R ÊA A N D VI N CENT CA R ELLI | ED I TIO N: MA R I CO R R ÊA

31 MIN., 1998 | REALIZAÇÃO: MARI CORRÊA E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: MARI CORRÊA

102

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

amazonian projects Environmental protection projects and innovative experiences of sustainable developpement in indigenous areas of Amazon


projetos amazônicos | amazonian projects

Placa não fala

Agenda 31

Os índios Waiãpi narram sua história desde os

Signs don't speak

“Nós, os Agentes Agroflorestais Indígenas do

Agenda 31

primeiros contatos com uma frente garimpeira

T HE

Acre, estamos começando a reflorestar as Terras

“W E,

na década de 70, até a demarcação de suas

FROM THE FIRST CONTACTS TO THE DEMARCATION

Indígenas de fartura e alegria para todos os

ACRE, ARE BEGINNING TO REPLANT OUR INDIGENOUS

terras, concluída em 1996. Numa experiência

OF THEIR LAND, CONCLUDED IN 1996. IN THIS

seres viventes”. Combinando conhecimento tra-

LAND WITH PLENTY AND HAPPINESS FOR ALL LIVING

piloto do Projeto de Demarcação de Terras

INNOVATIVE EXPERIENCE OF NATIVE LAND

dicional e pesquisa de novas tecnologias, o

BEINGS”. BY COMBINING TRADITIONNAL KNOWLEDGE

Indígenas, os Waiãpi dirigiram e executaram

DEMARCATION, THE WAIÃPI EXECUTED THE

programa de formação de índios agentes agro-

AND NEW TECHNOLOGIES, THE TRAINING PROGRAM

os trabalhos demarcatórios. Eles fazem aqui

DEMARCATION WORK THEMSELVES. THEY REFLECT

florestais no Acre tem trazido uma nova cons-

FOR THE FOREST INDIGENOUS AGENTS IN ACRE STATE

uma reflexão sobre a evolução de seu con-

ON HOW THEY CHANGED THEIR CONCEPT OF

ciência de manejo ambiental, revertendo o pro-

BRINGS A NEW CONSCIENCE OF ENVIRONMENTAL

ceito de território desde antes do contato até

TERRITORY FROM THE OLD DAYS UP TO NOW.

cesso de degradação dos recursos naturais das

MANAGEMENT, INVERTING A PROCESS OF DAMAGING

reservas indígenas.

OF NATURAL RESSOURCES IN THE INDIGENOUS

WAIÃPI INDIANS NARRATE THEIR STORY

os dias de hoje.

THE ENVIRONMENTAL AGRICULTURE AGENTS OF

RESERVES.

27 MI N. , 1996 | D I R ECTIO N: D O MI NIQ U E GA LLO IS 27 MIN., 1996 | DIREÇÃO: DOMINIQUE GALLOIS E

A N D VI N CENT CA R ELLI | PHOTO GR A PH Y: VI N CENT CA R ELLI |

49 MIN., 2003 | DIREÇÃO: MARI CORRÊA E VINCENT CARELLI |

VINCENT CARELLI | FOTO G R A F I A : V I N C E N T C A R E L L I |

EDITION: TUTU NUNES

FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI E MARU KAX INAWA |

49 MIN., 2003 | DIRECTION: MARI CORRÊA AND

EDIÇÃO: MARI CORRÊA | REALIZAÇÃO: MINISTÉRIO

VINCENT CARELLI | PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI

DO MEIO AMBIENTE

AND MARU KAXINAWA | EDITION: MARI CORRÊA |

EDIÇÃO: TUTU NUNES

REALIZATION: MINISTRY OF THE ENVIRONMENT

104

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

105


índios no brasil | indians in brazil

Quem são eles?

índios no brasil A série de dez programas educativos “Índios no Brasil”, produzida para renovar o curriculum escolar, é apresentada pelo líder indígena Ailton Krenak, e mostra, sem intermediários, como vivem e o que pensam os índios de nove povos dispersos no território nacional

O primeiro programa da série traz à tona, por

Who are they?

meio de entrevistas com populares em diversas

T HROUGH

partes do país, o desconhecimento e os estereó-

THE FIRST PROGRAM OF THE SERIES SHOWS US

tipos do senso comum sobre a realidade indígena

THE MISUNDERSTANDING AND COMMON SENSE

que está na base do processo de discriminação

STEREOTYPES THAT PEOPLE HAVE ABOUT THE

sofrido por estas comunidades. O índio é aquele

INDIAN REALITY. IS AN INDIAN SOMEONE WHO

que anda pelado no mato? O índio está aca-

GOES NAKED THROUGH THE JUNGLE? IS THE INDIAN

bando? O índio está deixando de ser índio? Os

BECOMING EXTINCT? IS THE INDIAN ABANDONING

nove personagens escolhidos para representa-

HIS CULTURE? THE NINE INDIANS, CHOSEN TO

rem seus povos vão rebatendo um a um estes

REPRESENT THEIR PEOPLE, ARE GOING TO DEBATE

equívocos.

THESE MISUNDERSTANDINGS ONE BY ONE.

18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /

EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

MINISTRY OF EDUCATION

INTERVIEWS WITH ORDINARY PEOPLE,

indians in brazil A serie of ten educational programs designed for the Brazilian distance learning channel. Presented by the Indian leader Ailton Krenak,“Indians in Brazil” shows, without intermediaries, what nine Indian people think and how they live

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

107


índios no brasil | indians in brazil

Boa viagem Ibantu!

Nossas línguas Relata a repressão histórica às línguas indígenas

Our languages

Para vivenciarem a diversidade cultural, quatro

Have a nice trip Ibantu!

praticada ao longo destes 500 anos por inter-

R ELATES

jovens, de diferentes regiões do Brasil, são

F OUR

médio das missões religiosas, dos funcionários

LANGUAGES CARRIED OUT FOR THE PAST 500 YEARS

convidados a viajarem até a aldeia dos Krahô,

BRAZIL WERE INVITED TO VISIT THE VILLAGE OF THE

de governo ou da população não índia. E, apesar

BY RELIGIOUS MISSIONARIES, GOVERNMENT

situada no estado do Tocantins. Os jovens che-

KRAHÔ IN THE STATE OF TOCANTINS TO EXPERIENCE

de toda esta repressão, os índios resistiram:

OFFICIALS AND THE NON INDIAN POPULATION.

gam cheios de expectativas e idéias preconce-

CULTURAL DIVERSITY. THE YOUNGSTERS ARRIVED

ainda são faladas mais de 180 línguas indígenas

IN SPITE OF ALL THIS REPRESSION, THE INDIAN

bidas. Os Krahô os recebem de braços abertos

FULL OF EXPECTATIONS AND PRECONCEIVED IDEAS.

no Brasil. A Constituição de 1988 finalmente

HAS RESISTED: THERE ARE STILL MORE THAN

e a integração é imediata. Os jovens participam

THE KRAHÔ’S RECEIVED THEM WITH OPEN ARMS AND

lhes reconhece o direito à diferença e ao en-

180 INDIGENOUS LANGUAGES SPOKEN IN BRAZIL.

das cerimônias e dos trabalhos realizados na

INTEGRATION WAS IMMEDIATE. THE YOUNGSTERS

sino de suas línguas em suas escolas, como

THE CONSTITUTION OF 1988 HAS FINALLY GIVEN

aldeia. Têm o corpo pintado com urucum e je-

PARTICIPATED IN CEREMONIES AND DAILY ROUTINES.

vemos na Escola da Floresta do professor Joa-

INDIANS THE RIGHT TO BE DIFFERENT AND TEACH

nipapo. São batizados e recebem nomes indí-

THEY HAD THEIR BODIES PAINTED WITH ANNATTO

quim Kaxinawá no estado do Acre.

THEIR LANGUAGE IN THEIR OWN SCHOOLS, AS

genas. A despedida é pura emoção.

DYE AND JENIPAPO. THEY WERE BAPTIZED AND

THE HISTORIC REPRESSION OF INDIGENOUS

GIVEN INDIGENOUS NAMES. THE DEPARTURE

WE SEE AT THE FOREST SCHOOL OF PROFESSOR 20 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

JOAQUIM KAXINAWÁ IN THE STATE OF ACRE.

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /

Prêmio ■

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

TEANAGERS FROM DIFFERENT REGIONS IN

IS A HEARTBREAK.

PRÊMIO DA ABDEC, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

20 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |

DE DOCUMENTARISTAS NA 6ª MOSTRA INTERNACIONAL

EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /

DO FILME ETNOGRÁFICO, RIO DE JANEIRO, 2000

Award ■

MI NISTR Y O F ED U CATIO N

ABDANDC AWARD, BRAZILIAN DOCUMENTARY ASSOCIAT ION , 6TH INTERNATIONAL ETHNOGRAPHIC FILM FESTIVAL ,

18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

RIO DE JANEIRO, BRAZIL, 2000

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION

108

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

109


índios no brasil | indians in brazil

Quando Deus visita a aldeia

Uma outra história

Os mesmos jovens visitam a tribo dos Kaiowás,

When God visits the village

O Brasil foi descoberto ou invadido? O filme de

Another history

no Mato Grosso do Sul, esperando encontrar algo

T HE

Humberto Mauro de 1940 dá a sua versão sobre

W AS

similar à aldeia dos Krahô. Mais uma vez suas

TRIBE IN MATO GROSSO DO SUL STATE, HOPING

o Descobrimento do Brasil. Mas os índios são

THE NATIVE PEOPLE ARE UNANIMOUS IN CLAIMING

expectativas caem por terra. Já nas primeiras

TO FIND SIMILARITIES WITH THE KRAHÔ VILLAGE.

unânimes em afirmar que o país foi invadido

THAT THEIR COUNTRY WAS INVADED, BECAUSE THEY

impressões os jovens sentem as diferenças: as

ONCE AGAIN THEIR EXPECTATION ARE SHATTERED.

porque eles já estavam aqui. Dependendo do

WERE ALREADY THERE. DEPENDING ON THE POINT OF

casas dispersas, já não existem mais matas ao

THE YOUNG PEOPLE FEEL THE DIFFERENCE ALREADY

ponto de vista de cada um, existem várias ver-

VIEW, THERE ARE VARIOUS VERSIONS OF BRAZILIAN

redor e as pessoas estão maltrapilhas. Para além

IN THEIR FIRST IMPRESSION: THE HOUSES ARE

sões da história do Brasil, e aqui os índios con-

HISTORY. THE WORKBOOKS OF INDIGENOUS SCHOOLS

das aparências, eles descobrem a intensa vida

SCATTERED, THERE IS NO FOREST NEAR THE VILLAGE

tam as suas. A cartilha de história das escolas

IN ACRE, FOR EXAMPLE, DIVIDE THE HISTORY IN

religiosa dos Kaiowá e a opressão de que são

AND THE PEOPLE LOOK WASTED. HOWEVER, BEYOND

indígenas do Acre, por exemplo, divide a his-

FOUR PERIODS: THE PERIOD OF THE HUT, BEFO RE

vítimas por parte dos colonos que tomaram as

THESE APPEARANCES, THEY DISCOVER AN INTENSE

tória do Brasil em quatro períodos: o tempo das

CABRAL’S ARRIVAL; THE PERIOD OF ESCAPING,

suas terras. No final, eles concluem que cada

RELIGIOUS LIFE OF THE KAIOWÁ AND THE

malocas, antes da chegada de Cabral; o tempo

WHEN INDIANS WERE MURDERED FOR THEIR LAND;

povo indígena é único, tão diferente entre si

OPPRESSION WHICH THEY ARE VICTIMS TO ON

das correrias, quando os índios foram caçados à

THE PERIOD OF CAPTIVITY, WHEN THEY WERE USED

como o povo japonês do alemão.

PART OF THE SETTLERS THAT TOOK THEIR LAND.

bala para a ocupação dos seus territórios; o

AS SLAVES TO TAP RUBBER TREES; THE PERIOD

tempo do cativeiro, quando eles foram usados

OF THEIR RIGHTS, WHEN THEY FINALLY CONQUERED

SAME YOUNGSTERS VISIT THE KAIOWÁS

BRAZIL DISCOVERED OR WAS IT INVADED? ALL

18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |

como mão de obra escrava no corte de seringa;

THEIR RIGHTS TO OWN LAND AND PURSUE

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /

EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /

e finalmente o tempo dos direitos, quando final-

THEIR OWN CULTURE.

M I N IST ÉRIO DA E D U C A Ç Ã O

MI NISTR Y O F ED U CATIO N

mente conquistaram o direito à terra e à sua cultura própria.

17 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA

17 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

110

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

111


índios no brasil | indians in brazil

Primeiros contatos

Nossas terras

O processo de conquista iniciado por Cabral

First contacts

Nos últimos 20 anos a maior parte das notí-

Our territories

prossegue, com a ocupação do Planalto Central

T HE

cias sobre os índios foi sobre a questão de ter-

IN

na década de 50 e da Amazônia na década de 70.

HASN’T STOPPED AND PROCEEDED WITH THE

ras, o maior problema na relação entre índios

NEWS ABOUT INDIANS DEALS WITH THE QUESTION

Retratados em imagens históricas da “pacifi-

OCCUPATION OF THE CENTRAL HIGHLANDS IN

e brancos. Muita gente diz que “o índio tem

OF LAND, THE PRINCIPAL PROBLEM BETWEEN

cação” de tribos do Mato Grosso, Rondônia e

THE 50’S AND THE AMAZON IN THE 70’S. ARCHIVE

muita terra”. Os grandes territórios indígenas

INDIANS AND WHITES. MANY PEOPLE SAY THAT

sul do Pará, assistimos à catástrofe do contato

SHOOTS SHOW THE “PACIFICATION” OF THE XAVANTES

se encontram na região amazônica, e correm o

“THE INDIAN HAS TOO MUCH LAND.” THE BIG

que dizima as suas populações. Para concluir,

PEOPLE, THE CINTA LARGA PEOPLE IN RONDÔNIA

risco de se tornarem as únicas reservas flo-

INDIGENOUS TERRITORIES ARE LOCATED IN THE

o caso de pequenos grupos atropelados pelo

STATE AND THE PARAKANAS IN THE SOUTH OF

restais deste país. Em compensação, nas áreas

AMAZON REGION AND RUN THE RISK OF BECOMING

desenvolvimento no sul de Rondônia, até um

PARÁ STATE AND HOW THIS CATASTROPHIC CONTACT

mais colonizadas, os índios perderam quase

THE LAST FOREST RESERVES OF BRAZIL IN A FEW

único sobrevivente de um povo que se recusa

DECIMATED ITS POPULATION. FINALLY, WE SEE

tudo e travam uma luta incessante para a re-

DECADES. IN COMPENSATION, INDIANS ARE LOSING

ao contato até os dias de hoje.

THE CASE OF SMALL GROUPS UNDERMINED BY

conquista do espaço mínimo necessário ao

ALMOST ALL THEIR LAND IN MOST SETTLED AREAS

THE DEVELOPMENT OF THE SOUTHERN REGION

crescimento de suas populações.

AND ARE INCESSANTLY FIGHTING TO RECOVER THE

19 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINIST ÉRIO DA E D U C A Ç Ã O

CONQUERING PROCESS INITIATED BY CABRAL

SPACE NECESSARY FOR THE GROWTH OF THEIR

OF RONDÔNIA STATE UP TO THE LAST SURVIVOR OF A PEOPLE THAT REFUSES TO MAKE CONTACT IN THE YEAR 2000.

THE LAST TWENTY YEARS, THE MOST PART OF

20 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

POPULATION.

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 20 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |

19 MI N. , 2000 | D I R ECTIO N: VI NCENT CA R ELLI |

EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA /

EDITION: TUTU NUNES | REALIZATIO N: TV ESCO LA /

MINISTRY OF EDUCATION

MINISTRY OF EDUCATION

112

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

113


índios no brasil | indians in brazil

Filhos da terra Como

Do outro lado do céu Mother earth

A religiosidade e o sentido místico da cultura

The other side of heaven

territórios ancestrais? O uso sustentável dos

H OW

DO INDIGENOUS PEOPLE RELATE TO THE

indígena, tendo como referência as tribos Yano-

T HE

recursos da natureza é um conceito milenar

TERRITORY OF THEIR ANCESTORS? THE SUSTAINABLE

mami (RR), Pankararu (PE) e Maxacali (MG).

SENTIMENT OF INDIGENOUS CULTURE, USING

das populações indígenas. Agora, ingressando

USE OF NATURAL RESOURCES IS A MILLENNIAL

No caso da tribo Maxacali, o índio José Ferreira

AS A REFERENCE POINT THE YANOMAMI (RORAIMA

na economia de mercado, muitos povos desen-

CONCEPT OF INDIGENOUS PEOPLE. CURRENTLY,

discorre sobre o conceito de religiosidade para

STATE), PANKARARU (PERNAMBUCO STATE), AND THE

volvem experiências de desenvolvimento sus-

BY JUMPING ON THE MARKET BANDWAGON, MANY

a sua etnia. Acreditam em seres espirituais

MAXACALI (MINAS GERAIS STATE). JOSÉ FERREIRA

tentável com a exploração não predatória dos

INDIAN NATIONS HAVE DEVELOPED SUSTAINABLE

bons, que vivem acima do céu, e ruins, que

MAXACALI EXPLAINS THE RELIGIOUS CONCEPT

recursos da floresta, inspirada na filosofia dos

EXPERIENCES OF NON-PREDATORY EXPLOITATION

vagam pela terra. Os bons protegem os índios

OF HIS ETHNIC GROUP. YANOMAMI SHAMANS,

seus antepassados.

OF FOREST RESOURCES, WHICH WERE INSPIRED

da tribos e exterminam doenças. Os xamãs da

TRUE SPIRITUAL DOCTORS, EXPOUND THE

BY THEIR ANCESTORS’ PHILOSOPHY.

tribo Yanomami, verdadeiros “médicos espiri-

RELATIONSHIP BETWEEN THE WORLD OF MAN

tuais” tratam da relação do mundo dos homens

AND THE FORCES OF NATURE. THE CELEBRATIONS

os índios se relacionam com os seus

18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

RELIGIOUSNESS AND THE MYSTICAL

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /

18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI |

e com as forças da natureza. Também são mos-

OF THE PANKARARU’S EVOKE THE ENCHANTED

MINIST ÉRIO DA E D U C A Ç Ã O

EDITIO N: TU TU N U NES | R EA LI ZATIO N: TV ESCO LA /

tradas as festas realizadas pela tribo Pankararu,

SPIRITS THAT PROTECT THEM.

MINISTRY OF EDUCATION

onde os índios invocam os espíritos encantados que os protegem.

18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES | REALIZATION: TV ESCOLA / MINISTRY OF EDUCATION

18 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA / MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

114

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

115


Nossos direitos Depoimentos sobre os direitos já conquista-

Our rights

dos e legitimados pela constituição atualmente

S TATEMENTS

vigente: o direito à terra, à saúde, ao ensino

LEGALIZED AND IN FORCED BY THE ACTUAL

de suas línguas e à livre organização de suas

CONSTITUTION: RIGHT TO LAND, HEALTH,

comunidades. Lideranças indígenas reiteram a

EDUCATION IN ITS OWN LANGUAGE AND FREE

necessidade de se respeitar os direitos con-

ORGANIZATION OF THEIR COMMUNITIES.

quistados pelos povos indígenas. Há depoi-

INDIGENOUS LEADERS REITERATE THE NECESSITY

mentos do líder da federação das Organizações

OF RESPECTING THE RIGHTS ALREADY GAINED

Indígenas do Rio Negro (FOIR), Pedro Garcia e

BY NATIVE PEOPLES. THERE ARE STATEMENTS

lideranças das tribos indígenas Kaiowá, Kaxi-

FROM THE LEADER OF THE FEDERATION OF

nawá, Yanomami, Ashaninka e Kaingang.

INDIGENOUS ORGANIZATIONS FROM RIO NEGRO

ABOUT THE RIGHTS ALREADY GAINED,

índio na tv Como o índio é tratado na TV e como poderia ser a participação indígena na televisão brasileira

(FOIRN), PEDRO GARCIA AND LEADERS FROM 17 MIN., 2000 | DIREÇÃO: VINCENT CARELLI |

INDIGENOUS TRIBES SUCH AS KAIOWÁ, KAXINAWÁ,

EDIÇÃO: TUTU NUNES | REALIZAÇÃO: TV ESCOLA /

YANOMAMI, ASHANINKA AND KAINGANG.

MINIST ÉRIO DA E D U C A Ç Ã O

indian on tv

18 MIN., 2000 | DIRECTION: VINCENT CARELLI | ED I TIO N : TU TU N U NES | R EA LI ZATIO N: TV ESCO LA / MINISTRY OF EDUCATION

116

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

How Indians are showned by Brazilian TV. Analyse and alternative propositions


índio na tv | indian on tv

Programa de índio 1, 2, 3, 4

Índio na TV

O projeto realizou, em conjunto com a TV Uni-

Indian program 1, 2, 3, 4

No dia 18 de setembro de 2000, aniversário

Indian on TV

versidade do Mato Grosso (UFMT), uma expe-

T HE

de 50 anos da TV brasileira, Hiparendi Xavante

ON

riência inédita na TV brasileira: a abertura de

MATO GROSSO UNIVERSITY (UFMT), REALIZED AN

exibe vídeos indígenas na estação de metrô da

OF BRAZILIAN TV, HIPARENDI XAVANTE SHOWS

um espaço genuinamente indígena numa tele-

ORIGINAL EVENT FOR THE FIRST TIME ON BRAZILIAN

Praça da Liberdade em São Paulo, e entrevista

INDIGENOUS VIDEOS IN THE UNDERGROUND STATION

visão pública. Cada programa traz: o retrato de

TV: GIVING TELEVISION SPACE FOR AN AUTHENTIC

os passantes sobre a presença do índio na TV.

OF THE PRAÇA DA LIBERDADE (FREEDOM SQUARE)

um povo; o perfil de uma personalidade indí-

INDIGENOUS PROGRAM ON PUBLIC TELEVISION.

gena; matérias de atualidade sobre educação,

THE STUDENTS OF THE PROJECT PARTICIPATED

Prêmio

conflitos fundiários, cultura e meio ambiente;

ACTIVELY IN THE ELABORATION AND PRODUCTION

entrevistas de rua onde o povo expressa a sua

OF THE PROGRAMS WITHOUT EVER HAVING CONTACT

visão sobre o índio e a respostas das comuni-

PROJECT, TOGETHER WITH TV CHANNEL OF

WITH TELEVISION PRODUCTION BEFORE.

IN SÃO PAULO, AND INTERVIEWS PASSERS-BY ABOUT THE PRESENCE OF THE INDIAN ON TELEVISION.

MELHOR DIREÇÃO E PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI PARA O PROJETO VÍDEO NAS ALDEIAS,

Award

XII CINE CEARÁ, FORTALEZA, 2002 ■

BEST DIRECTION AND SPECIAL PRIZE OF THE JURY FOR THE PROJECT VIDEO IN THE VILLAGES,

dades. Os alunos do projeto participam ativa5 MIN., 2000 | DIREÇÃO E FOTOGRAFIA: VINCENT CARELLI |

mente na elaboração e produção dos programas,

EACH PROGRAM 26 MINUTES, 1995/1996 |

tomando, pela primeira vez, contato com a lin-

D I R ECTIO N : GLO R I A A LB U ES A ND VI N CENT CA R ELLI |

guagem televisiva.

18TH SEPTEMBER, 2000, THE 50TH BIRTHDAY

X II CINE CEARÁ, FORTALEZA, 2002

EDIÇÃO: TUTU NUNES ED I TIO N : TU TU N U NES

5 MIN., 2000 | DIRECTION AND PHOTOGRAPHY: VINCENT CARELLI | EDITION: TUTU NUNES

26 MIN. CADA PROGRAMA, 1995/1996 | DIREÇÃO: GLORIA ALBUEZ E VINCENT CARELLI | EDIÇÃO: TUTU NUNES

118

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS: UM OLHAR INDÍGENA

VIDEO IN THE VILLAGES EXHIBITION: THROUGH INDIAN EYES

119


PR OJETO GR ÁFICO

Traço Design FOTOS

Vincent Carelli IMPRESSÃO

Sol Gráfica

apoio:

Ministério da Cultura

patrocínio:

realização:

Vídeo nas Aldeias R UA D E SÃ O FR A NCISCO 162 5 3 1 2 0 -0 7 0 - O LI N DA - PER N A MB U CO - B R A SI L T E L/FA X 0**81-3493-3063 V I D E O N A SA L DEI A S@VI D EO NA SA LD EI A S. O R G. B R W W W. VI D EO N A SA LD EI A S. O R G. B R


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.