Estados em Poesia - Antologia (2)

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Estados em

Poesia (Antologia)

Vida

Secreta PUBLICAÇÕES



Estados em

Poesia (Antologia)

Vida

Secreta PUBLICAÇÕES


© Vários autores, 2016 Organização Luna Vitrolira Edição, capa e projeto gráfico João Gomes Imagem de capa Jimmy Marble Dados do e-book Estados em Poesia / Antologia. 48 páginas. ISBN — Pendente. I. Poesia brasileira.

Os textos podem ser reproduzidos, desde que mencionada sua autoria. Esta publicação está impressa no selo da Mariposa Cartonera, aqui do Recife, em parceria com a antologia. Contatos e mais edições issuu.com/vidasecreta vidasecreta.weebly.com vidasecretacontato@gmail.com


Sumário / Mapa de viagem Bobby Baq, 11 “Guardei dentro do envelope”, “Tem uma versão” e “ps: Pode ser que não sobre nenhum” Diego Dourado, 14 “De olho no lince”, “Haicai doméstico”, “As coveiras” e “Em torno de” Elizeu Braga, 16 “Era tanto ódio”, “Seu amigo secreto” e “O mercado” Everton Behenck, 19 “De amar o vento”, “O calendário é uma foto do que não tivemos” e “Para tudo o que não é amor” Luna Vitrolira, 27 “Blattaria”, “Loop” e “Há dias” Maria Rezende, 32 “Desatre natural”, “Travessia” e “Penso” Nícolas Nardi, 36 “Não quero amor”, “Seus lindos olhos servidos” e “De que me adianta tudo que escrevo” Samuel Luis Borges, 40 1 “palavras do sonho dos pássaros ”, “palavras do 2 sonho dos pássaros ” e “canto à mulher árvore ou mais palavras do sonho dos pássaros” Sobre os autores, 46


O Estados em Poesia é um projeto colaborativo de zona literária itinerante que, idealizado em parceria – com poetas, coletivos, saraus e movimentos literários da cena contemporânea, objetiva possibilitar o encontro de artistas de diferentes localidades, sob o intento de promover o intercâmbio cultural entre os Estados. O Estados em Poesia surgiu inspirado nas rodas de poesia que acontecem tradicionalmente no interior de Pernambuco e impulsionado pelo encontro de poetas de diferentes lugares no Festival da Macuca Jazz – 2015, na cidade de Correntes/PE, organizado por Zé da Macuca. Hoje o projeto se configura como uma roda de poesia itinerante a ser realizada, a cada edição, em um Estado diferente de acordo com sua cena artística, seu ritmo, sua dinâmica, seu sotaque. Considerando a conjuntura artística atual, no país, observa-se a diversidade de movimentos, de coletivos e de saraus comandados por jovens que estão produzindo, publicando e buscando visibilidade de forma independente, tentando construir e consolidar espaços alternativos para fazer e divulgar sua arte. Desse modo, o Estados em Poesia busca fortalecer a integração da nova geração, estreitar os limites impostos entre as divisas territoriais do país, bem como motivar o diálogo entre movimentos, artistas, produtores e público em geral.

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A primeira edição aconteceu no dia 15 de janeiro de 2016, no Bistrô do Artista, em Aracaju, organizada pelo poeta e anfitrião Pedro Bomba, que uniu os Estados BH, PE e SE. A 2ª edição do Estados em Poesia foi realizada em Recife no dia 23 de Abril de 2016 e reuniu os Estados RJ, BA, PE, SE, PB sob a curadoria e organização da anfitriã Luna Vitrolira e dos anfitriões Fred Caju, Giuseppe Mascena e Gleison Nascimento. Agora, o Estados em Poesia parte ao sul do país para sua 3ª edição, que será realizada na Festipoa Literária, dia 21 de maio de 2016, na cidade de Porto Alegre/ RS, e reunirá poetas dos Estados PE, RO, RS, RJ e SP sob a organização do anfitrião Fernando Ramos e Luna Vitrolira. Esta antologia se configura como símbolo desse encontro de estilos e sotaques em convergência, construído conjuntamente sob o princípio da soma e da união para celebrar a poesia. Viver de arte é difícil, promover a arte é difícil, mas juntos mostramos que é possível transformar, se nos unirmos e colaborarmos uns com os sonhos dos outros. Que seja apenas o começo de uma nova história escrita por muitas mãos, por muitas vozes, por muitos rostos. É preciso dar as mãos para ir adiante. Evoé. Luna Vitrolira Organizadora

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Este segundo volume do Estados em Poesia reúne mais uma vez a poesia que se faz agora, no Brasil, por esses jovens de todas as partes. Poesia viva, sim. Urgente, diria. Essa à beira do abismo. O poeta, esse funambulista sem rede de proteção. Não precisam, que a juventude brinda essa imprudência de quem devora o dia e cospe no olho do amanhã. Há algo aqui que se move, se elevando sobre o tempo que desaba sobre a gente com nuvens castanhas, com essa gente séria com rostos de cera. Já esses jovens vieram para se molhar na lava e derreter tudo. Vão por mim. Ou melhor, não vão. O caminho é outro, o caminho vocês que fazem. Wellington de Melo

Escritor / Editor da Mariposa Cartonera

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Estados em

Poesia (Antologia)



Guardei dentro do envelope um papel branco dobrado ao meio. Sem destinatário, sem nome, sem selo. Sem saliva que lacra o envoltório, sem registro em cartório, sem borrifo de perfume pra fazer lembrar de cheiro. Um papel branco e um vinco no meio. A carta mais honesta é a dor em alto-relevo. Bobby Baq

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Tem uma versão de mim que vive dentro de você. E uma versão sua inventada toda por mim. Eu só quero dizer que, no fim, se o eu inventado por você for igual sua versão de mim criada por minha versão de você, se esses caras horríveis decidem se parecer: Mate todos um a um eu vou ser o que mesmo ferido conseguiu sobreviver. Bobby Baq

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Ps: pode ser que não sobre nenhum PsII: pode ser que nem sobre você. A roda foi inventada, a poesia não. O fogo foi descoberto, a poesia não. O espaço foi conquistado, a poesia não. Eu te persigo. A poesia te persegue. Você me escapa, a poesia não. Bobby Baq

São Paulo/SP

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 De olho no lince No jogo do amor Uma regra clara: Quem nunca jogou Sempre faz falta.

 Haicai doméstico cama mesa e banho

 As coveiras Uma borboleta bate asas contra uma lâmpada durante a noite toda.  No dia seguinte, as formigas preparam o enterro. Diego Dourado

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 Em torno de a terra gira o tempo passa cada giro um dia cada dia um a menos os ponteiros também giram marcando o tempo a cada momento sem parar e nós por nossa vez também giramos mesmo parados no mesmo lugar Diego Dourado São Luiz/MA

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era tanto รณdio que dava pra ver a Globo nos olhos Elizeu Braga

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seu amigo secreto seu pai seu calo seu choro saindo pelo ralo meu medo sendo covarde mostrando os dentes essa obrigação de não ser problema meu eu sei meu pau me arrastando meu susto meu engano o grito no pé do ouvido como posso ter sido toda minha ingratidão de graça não mereço nem a solidão de nós dois tomara que essa dor me renasça e não seja a cachaça que me disfarça pra eu morrer novamente depois Elizeu Braga

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o mercado não dá pão pra ninguém é que dizem, que o padeiro, sente fome também no mercado não tem nada de graça nem a roupa colorida da palhaça no mercado é preciso vender até a mãe, dependendo pra quê o mercado tá por toda parte dita suas regras, expõe sua arte é um monstro imenso e invisível compra Deus e o Diabo tem mais seguidores que Cristo é nike é adiddas smartfone o mercado manda até no jogo de bola imagine só quantos discípulos não tomam coca cola do mercado não se pode falar mal se for falar tem de ser bem baixinho senão, meio mundo vira as costas e te deixa falando sozinho é que pra quem cultua o mercado é mais aceitável gritar com uma máquina do que apreciar o canto de um passarinho Elizeu Braga Porto Velho/RO

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 De amar o vento Amar o vento É entender que não sabemos Quando se aproxima Nem porque termina Amar o vento É se declarar ao invisível Sem saber se está sendo ouvido E não ver nenhum mal Nisso O amor quando precisa Ser dito Nem sempre precisa Ser ouvido O amor sempre tem O direito De existir em si mesmo Amar o vento É nunca tentar contê-lo É saber usá-lo Para inflar as velas 19


Saber ir aos remos Quando o perdemos Amar o vento É saber guardar para sempre A lembrança Da tarde mais quente Em que ele soprou mais forte E espantou a morte E a morte é o tédio E o tédio É o contrário do vento Amar o vento É amar o movimento Entender o ritmo das árvores E o verde em sua música Amar o vento É saber dizer adeus Às nuvens É abrir mão dos seus desenhos Para nunca perdê-los

Everton Behenck 20


 O calendário é uma foto do que não tivemos Sei que a velocidade se atira sobre minha pele e deixa marcas. Cada vez mais fundas. E elas não dizem nada. Minha pele não é nenhuma escritura. Mais um ano avança faminto sem que eu perceba e já é novembro e janeiro ainda esquenta os cabelos, que não tenho tempo de cortar. Será que o homem que trabalha cortando cabelos, no salão da praça Alves, pensa no tempo caindo no chão? Pensa na vida perdida ali enquanto passa a vassoura? E joga no lixo os meses de outra pessoa. Quem sabe vividos? Quem sabe desperdiçados? Uma amiga se oferece para me ouvir. Não sei o que dizer. Digo apenas que sou forte. Ao mesmo tempo, procuro a força dentro de mim como alguém atrasado procura as chaves de casa. Busco só para mostrar a ela. Não encontro. Não vou sair de casa hoje. A distância me impressiona por sua estatura e as vezes parece que nunca saltaremos sobre ela. Mas eu ouço a voz do amor, como uma criança perdida do outro lado de um muro que divide cidades. Meu peito é a Berlim dos anos 80. Pelo menos há o alento de viver no futuro daquele tempo. Sei que o muro cairá. E nós, essa família separada pela guerra, nos encontraremos. 21


Tenho vendido caro meu tempo para fazer com que outros queiram coisas que eu mesmo não quero. Tenho vendido caro meu tempo. Mentira. O tempo não tem preço e sempre fará falta. O tempo falta. E quando acabar? O que restará de mim além do meu nome? Quanto tempo dura o nome de um homem? Cravo essas palavras no nada, querendo que elas digam mais que meu batismo. Que elas me esperem passar. Que não se dissipem tão cedo como a fala ao vento. O mundo todo está morrendo em silêncio. Não me acorde. Everton Behenck

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 Para tudo que não é amor É preciso Amar o outro Ao ponto de mandá-lo Embora É preciso amar o outro E não o que ele lhe causa Quem ama o amor do outro Não está amando Quem ama o prazer que sente Não está amando Quem ama o gozo Que emana do outro Não está amando Quem ama no outro Suas próprias qualidades Não ama nem a metade Quem ama os defeitos que o outro perdoa Não ama Se confessa 23


Quem ama Por promessa Não tem fé Quem ama por decreto Nunca ama certo Quem ama a vaidade Que o outro lhe devolve Acreditará que ama enorme Quem ama o que o outro Absorve Se julga forte E ama doente Quem ama a fraqueza do outro Pelo gozo do cuidado Ama sua bondade Não ao outro Quem ama tudo o que entrega Ama sua generosidade E isso é bonito Mesmo não sendo amor De verdade 24


Quem ama mais do que pode Ama o excesso E o que isto custa E por isso ama Ter esta carta na manga Quem ama Mentindo a si mesmo Ama a imagem que inventa E tudo que ela representa Quem ama sem que o outro queira Ama ao contrário A vontade alheia Quem diz que ama O tempo inteiro Ama o som de sua voz Quem ama a sós Sabendo disso Ama a solidão Em sua fidelidade Quem ama o que o outro Não reparte Ama sua pouca sorte 25


E se orgulha dela Quem ama a fidelidade Ama a ideia De controlar o sexo E com o sexo a vida E com a vida o tempo E nada nos afasta mais do amor Do que ser deus SĂł ama de verdade Quem ama o outro AtĂŠ quando o outro Parte Everton Behenck Porto Alegre/RS

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 Blattaria Hoje me senti mais humana: Libertei uma vida da morte Impedi que ela fosse punida pela minha raiva pelo meu nojo pelo meu desejo psicótico de ver um corpo se esvaziando Eu a libertei e enquanto segurava sua vida nas mãos olhava friamente imaginando suas vísceras escapulirem o seu dentro posto pra fora o seu amarelo Sem piedade sem meiguice lástima ou consternação Sem pêsames clemência compadecimento misericórdia ou comiseração Era um resto de humanidade que me encarava que tinha pena de mim sem devoção nem crença enquanto eu mirava sua existência exata 27


trêmula de meus instintos é preciso coragem uma voz me falou Eu libertei uma vida da morte Impedi que ela fosse punida diante dos meus olhos pelas minhas mãos mas não pela distração dos passos de alguém Luna Vitrolira

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 Loop Já desisti de dormir todos os dias a mesma cama o mesmo lençol a mesma fronha todos os dias a mesma espera a mesma noite o mesmo dia todos os dias a mesma poesia a mesma vida o mesmo cansaço todos os dias as mesmas horas a mesma obrigação a mesma cadeira todos os dias o mesmo café a mesma fome o mesmo sonho todos os dias a mesma saliva a mesma descrença o mesmo impasse todos os dias a mesma falta de perspectiva a mesma janela a mesma grade 29


todos os dias a mesma certeza o mesmo rosto o mesmo riso todos os dias a mesma condição o mesmo atraso o mesmo imprevisto todos os dias o mesmo corpo a mesma bula a mesma morte todos os dias o mesmo enfado todos os dias os mesmos todos os dias para frente para trås para o resto da vida Luna Vitrolira

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 Há dias Há dias em que necessito silêncio e não quero me mexer e não quero falar e não quero abrir os olhos nem sair de dentro de mim Há dias em que sou paz e guerra tumulto condensado em meu túmulo alguém que tenta ler o futuro no lodo das horas procurando sonhos dentro de um balde Há dias tenho sono vivo exausta da ignorância alheia E sinto saudade do pé de manga da minha rua onde eu empinava pedras e não pensava na morte Luna Vitrolira Recife/PE

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 Desatre natural Eu sobrevivi a furacões
 troquei as telhas depois do vento
 e enxuguei de joelhos o chão da casa Eu xinguei palavrões
 mas agradeci a dimensão dos estragos construí um porão fundo e respirei aliviada Quando o céu mudou de novo eu estava deitada achei que era a chuva da tarde
 aquela que embala o sono
 e depois da qual a gente se encontra — dizem as camisetas do mercado Não vi o peso das gotas
 não tirei do varal a roupa branca ficaram abertas portas e janelas O estrondo da barreira rompendo estremeceu a cama de repente cadê rede?
 cadê quarto? cadê parede?
 cadê telha? joelho? chão? O que era porão virou poço
 a onda de lama leva na proa meu coração Maria Rezende

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 Travessia Dormir num berço sobre as ondas
 como um búfalo cruzando a nado o estreito da glória como o homem de pé sobre o búfalo que nada
 um boto cor de rosa
 uma buceta em flor Dormir e acordar num berço sobre o mar os medos prateando a profundeza enchendo de espanto a noite equatorial O azul do fim de tarde
 do tom exato do vestido imaginário esse azul
 esse esse aquele passou Dormitar entre carros sobre as águas
 em meio à floresta Dormir nos braços da maré morta entre voos macios e falsas certezas no aconchego do rio que chora Maria Rezende

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 Penso Maracujá e árvores vão resolver, penso
 e adentro o parque como quem entra o mar o arrulho de crianças correndo
 bambus rangendo com o vento o vento
 e os pássaros sonoros Maracujá acalma, penso
 sentar num banco com os pés na terra também me sabe bem homens uniformizados sorriem boa tarde
 e seguem suados Meus olhos gostam do que veem enquadram fotografias
 testam legendas
 sábia, desisto, fico lenta deixo, deito Palpitação pode ser bom, penso coração lembrando que existe
 ainda que à custa das tarefas do dia Maracujá e árvores
 dedos dos pés cavucando a terra sorrisos alheios
 os gorjeios

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Nada resolve, penso
 o desejo Ê uma åguia em rasantes arrasadores penso, o mundo se curva sob a sombra do seu voo Maria Rezende Rio de Janeiro/RJ

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não quero amor só quero sexo atração um pedaço de carne não quero amor nem embalado pra presente em plástico bolha marmita pra levar jogo no primeiro lixo que aparecer não quero amor jantinha romântica luz de velas promessinhas do fundo do meu coração não quero amor quero só alguém que saiba fazer café transar e abrir a porta sem beijo de tchau só quero alguém que depois do sexo deite longe de mim pode dormir aqui dorme logo mas fica longe conchinha é a mãe caralho não quero amor e se você não entendeu se você insistir se você insistir, meu bem, que eu te ame é melhor a gente transar mais 36


uma vez antes de vocĂŞ sumir NĂ­colas Nardi

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seus lindos olhos servidos com creme de leite seus dedos fritos em um palito de churrasquinho tua boca recheada com parmesão teu rim assado numa fogueira teu pulmão defumado num molho de cachorro quente quem proibiu a antropofagia nunca amou ninguém como eu te amo Nícolas Nardi

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de que me adianta tudo que escrevo se amanhã ou depois atravessando uma esquina um carro me acerte e me deixe atirado no meio do [asfalto minha mãe deixe eu levar tudo que escrevi coloca meus cadernos do meu lado no caixão para que os vermes se deliciem com o que não deixei [pra humanidade talvez não seja um carro que me mate mas minha casa pegando fogo fazendo tudo virar pó meus cadernos virando carvão meu corpo todo decomposto não sendo nem mais possível identificar quem sabe até eles enterrem os destroços do meu guarda-roupa [pensando que era eu Nícolas Nardi Novo Hamburgo/RS

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 Palavras do sonho dos pássaros1 o mais perto que cheguei do sonho dos pássaros foi você suspensa por um tecido com os olhos cerrados sem medo ensaiando quedas guardando-se com toda a força de seus passos o corpo o mais perto que cheguei do céu à boca quem olha pra fora sonha quem olha pra dentro acorda e nosso acordo é esse de ter acesso ao que é nosso cada espinho, acerto e falhas bem às claras e também o corpo não é a toa que ofereço a tua cigana o primeiro gole [do meu copo uma gerbera por vez feito quem pede licença você tem todos os arquétipos reunidos entre a mente e o peito canto há pelos lindos por tuas coxas eu não lido com a falta sou dado a lê-la somos um barco uma piroga amazônica onde só nos cabe navegar 40


sem peso nada do que juntamos ao longo do tempo importa o horizonte, ela disse ĂŠ um lugar para se estar Samuel Luis Borges

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 Palavras do sonho dos pássaros2 Estive observando a imagem fracassada de nosso [ninho parece verdade que o momento mais íntegro das [coisas é o fim é quando todos estamos cientes dos limites pelo sim, pelo não, finitos cada qual com a centelha de lembrança que tiver [coragem de carregar seja para não errar de novo, seja apenas pra saber que nada nunca poderá ser igual o que sei é que em nossa arrogância enumeramos [defeitos feito quem pretende inventar uma nova proposta feito quem não sabe que a todos cabem os mesmos [acertos e consequentemente vez ou outra os mesmos erros. Isso de se perceber pequeno faz caber em todo [quanto todo espaço, seja físico ou de tempo abriga o ser pequeno você adivinharia que cabe um voo pelo céu dentro de [um ovo? Samuel Luis Borges

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 Canto à mulher árvore ou mais palavras do sonho dos pássaros Um amor apneia cheio de medo pra ser superado cheio de falha pedindo conserto cheio de caco pra ser recolhido caminho longo pra andar distância sem culpa e nenhuma dessas perguntas prontas gente torta junta, tropeçando e deixando cair a louça um amor que cante bregas que brigue muito brigue junto por causas justas cheio de duvidas duas pessoas fiéis a si de si plenos sem nenhuma disciplina a impor se expondo pondo em risco todo o requinte amor de mar feito quem navega e sabe que não é sua a força que feito um mantra repita desde o inicio até o sempre o mesmo zelo e seja zeloso até se acabar já disse que na 43


o se desama? um amor desarmado um amor que desabe feito lua em câncer que faça sorrir, chorar e ver gente que se desperta outras partes que se perca pra saber da beleza do reencontro que se esconda, mas permita alguém desvelar verdadeiro ao ponto de já começar pedindo desculpas cedo ou tarde erraremos feio isso também somos porém a que se ter o outro inteiro um amor que saiba na cama ou nos dias não se trata de troca não é sobre dar nem é receber prazer poder estrada e muros de casa de taipa são coisas que se constroem junto acima dos astros um amor só teu pra que nunca se perca 44


sob o risco do outro se perder um amor que não prenda afinal há duas maneiras de se ter pela manhã os pássaros: comprando gaiolas ou plantando árvores frutíferas Samuel Luis Borges São Paulo/SP

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Sobre os autores Bobby Baq é paulistano, 24 anos. Sente muito por ser de poucas palavras. Diego Dourado nasceu em 1986 em São Luís do Maranhão. Iniciou sua trajetória artística na metade da década de 90 a partir de cursos livres de pintura. Centrado nas relações entre poesia e arte, vive e trabalha como artista e poeta em Porto Alegre. Elizeu Braga é poeta, contador de historias, atuador da cia beradera de teatro, articulador da casa Arigóca em Porto Velho-RO. Nasceu na comunidade de Tacoã na beira do rio Madeira. Everton Behenck é poeta, redator e músico. Mantém sua página no Facebook, além do blog Apesar do Céu. Gravou com a Banda Casamadre e publicou o livro “Os Dentes da Delicadeza”. Sua gaveta tem muita fome. Luna Vitrolira vive impulsivamente, odeia beterraba e nunca teve coragem de tomar café. Maria Rezende é poeta, atriz, montadora de filmes e celebrante de casamentos com três livros publicados "Substantivo feminino (2003), "Bendita palavra" (2008) e "Carne do umbigo" (2014). www.mariadapoesia.weebly.com Nícolas Nardi monta livrinhos em casa. tem o sangue mostarda, participa do quarto ambiente e do zineylandia. Mora em Novo Hamburgo, RS, e organiza a revista bomba tomate que reúne vários artistas. Samuel Luis Borges é planta crescida sob a falha no asfalto. Suas obras transitam nos campos das artes visuais, da poesia, da música e da performance. Vive no mundo, às reticências das artes e dos fatos. 46


“Capsular”. da revista Acrobata evolume do blog LeiaEditor também o primeiro Janelas em Rotação. Dudu Morais dedica-se a um livro de sonetos. Destaca-se ainda usando de sua oratória no tribunal do júri, atuando como advogado. Entre a poesia e a justiça, sonha. Fred Caju possui livros, poemas, cronicontos, vídeos e récitas na página: http://fredcaju.tumblr.com/. Também é editor e do blog Cronisias. Giuseppe Mascena tenta misturar Recife com Tabira-PE para ver no que vai dar. Publicou o cordel “Invasão de favelado na casa de comunista” e só o vende olho no olho. Gleison Luiz Nascimento, escritor. Graça Nascimento possui dois livros editados em produção independente por ideologia antieditorial da poetisa que na sua arte prima por revolução e liberdade em todos os sentidos. “Na nudez da poesia” “Outras Graças”. Ícaro Tenório é poeta, escritor, ator, cantor e compositor. Isabelly Moreira é autora do cordel “Carta a Tião”, dentre outros voltados para a literatura infantil. Através das declamações e produções, repassa a arte da cultura popular, enquanto constrói o seu legado. Jaflety Pedro é cofundador do “Sarau da Caixa d’Água” e fundador do selo editorial artesanal “Osso de Baleia”. João Gomes é recifense, de 1996, e editor da revista eletrônica e selo Vida Secreta. Está nas antologias “Granja”, “Sub-21” e “Capibaribe Vivo”. Guarda, abaixo das costas, seu “Falo enterrado”. Jonatas Onofre é poeta e músico, lançou o poema “Opsufabula”, participou das antologias “Desvio para o vermelho: b treze poetas brasileiros contemporâneos” 47


Bobby Baq Diego Dourado Elizeu Braga Everton Behenck Luna Vitrolira Maria Rezende Nícolas Nardi Samuel Luis Borges Textos Luna Vitrolira Organização João Gomes Edição e projeto gráfico

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Secreta Secreta

PUBLICAÇÕES PUBLICAÇÕES cebook.com/lei avidasecreta

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