O Mundo Mágico dos Anhangás

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Figura 36: Guy e seu alter-ego SheZow

Contexto: SheZow é uma série animada desenvolvida por Obie Scott Wade – originalmente um curta para o Disney Chanel em 2007 – que estreou nas TVs australianas em dezembro de 2012. A animação não nasceu de um desejo explícito em se discutir questões de gênero. A ideia surgiu despretensiosa, apenas por um apelo divertido, sem propósito político. Eu cresci assistindo a desenhos animados sábado de manhã e eu amava super-heróis no geral. (...) Eu apenas pensei que seria uma inversão engraçada em uma mitologia clássica… Quando criança, eu assistia Shazam nas manhãs de sábado (...) e eu pensei que seria interessante ver o que aconteceria se ele acidentalmente dissesse “SHE-zam”... Ele receberia um traje diferente ou se tornaria um herói diferente? (REIHER, 2013, tradução nossa)

Nesse sentido, seu criador ficou surpreso com a recepção ao desenho, considerado controverso por diversos grupos conservadores dos Estados Unidos. Wade inclusive precisou declarar que o desenho não é sobre um menino transgênero, já que o gênero de Guy permanece o mesmo após a transformação: Sim, há uma série de experiências que vão ampliá-lo como personagem (...), mas predominantemente trata-se de uma criança descontraída que de repente se vê forçada a salvar o mundo. É mais sobre a responsabilidade que ele precisa ter, e menos sobre gênero. (ANDERS, 2013)

Wade considera a animação apropriada para crianças, já que ele a idealizou em sua infância (REIHER, 2013). Formato: Animação, disponível no serviço Netflix. Linguagem: A série utiliza-se de típicos tropos de histórias de super heróis, como as armas, equipamentos de luta e veículos, o ajudante, o esconderijo secreto, o computador super inteligente, o conselheiro, até mesmo “a força policial que desconfia do super herói e ressente-se por ele receber toda a glória”. Em estilo cartoon, com uma animação simples, a tramas dos episódios geralmente se situam no lugar comum dessa temática: o super herói contra um super vilão, com o diferencial do dilema sobre gênero do protagonista. Relevância: Apesar da declaração de seu criador, é inegável que a série trabalha com a questão de gênero de maneira mais ou menos evidente. O nome do personagem principal (Guy, “Cara” em inglês); a sua personalidade bastante masculina, desenvolvida para gerar conflito com a trama; além da apresentação criativa de “características femininas” como capazes de “salvar o mundo”, tudo isso faz de SheZow uma animação bastante peculiar (ANDERSON, 2013; ANDERS, 2013). Ao produzir um herói masculino que precisa colocar essa “masculinidade” de lado e acessar “qualidades femininas” para fazer o bem, a animação passa uma preciosa mensagem aos garotos que a acompanham: não há problema em ser feminino e feminilidade não precisa ser

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