Moacir Andrade

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13/10/2010

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eterno de formas e cores, uma poderosa energia injetada nas veias da história universal – presença permanente da Amazônia brasileira”. Cerca de 80 museus, pinacotecas públicas e particulares no Brasil e no Exterior dispõem, hoje, obras de Moacir Andrade e seus quadros estão avaliados em torno de quatro milhões de cruzeiros (aproximadamente 20 mil dólares). Mas toda essa “valorização” não parece entusiasmar muito o pintor. Ele diz que a arte tem que ser usada como veículo social, por isso que boa parte do que ganha com a venda dos quadros, ele reinveste ou “socializa”, através de projetos culturais ou ajudando amigos e parentes. No entanto, ele alimenta a esperança de chegar a ter o valor de Picasso, por exemplo. Não esquece também de todos aqueles que o ajudaram achegará notoriedade dentro e fora do país. A lista é enorme, vai desde sua mãe, Dona Jovina, até figuras famosas, como o filósofo Jean-Paul Sartre. São pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para torná-lo conhecido. Moacir Andrade também ostenta uma relação enorme de homenagens e prêmios recebidos ao longo desses anos de vida artística. Entre essas homenagens, está a que ele recebeu do Centro Internacional de Artes Visuais da Universidade de Berna, na Suíça e a Medalha de Ouro recebida em Portugal, como Mérito Cultural.

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Para jovens artistas que pretendem ver nele um exemplo, Moacir ensina que não basta apenas o artista procurar ajuda, ele mesmo tem que se ajudar, “basta ter um lápis e papel para desenhar, que pode ser emprestado ou até achado no lixo”. Além desse esforço natural, Moacir Andrade recomenda a busca constante pelo novo, pelo original, inusitado, tanto no traço, quanto na cor. ALEM DA IMAGEM – Se alguém se envolve com a Amazônia como Moacir Andrade se envolveu, não basta apenas mostrá-la através das telas, das gravuras e desenhos que produziu durante todo esse tempo. E foi isso ele fez, não só nas palestras, conferências que deu em várias instituições, órgãos em escolas de arte do mundo todo, mas também nos diversos artigos e livros publicados por ele a respeito da cultura amazônica. Ao todo, foram 23 livros. Na sua maior parte, são verdadeiros tratados antropológicos, extraídos da simples pesquisa; sem o embasamento sociológico típico que conhecemos, mas fiéis à abordagem que se pretendem, ou seja, dar a dimensão real da cultura dos povos amazônicos. Ele foi buscar no caboclo, nas lendas, nos costumes, todo o conteúdo de sua arte e de sua preocupação sociológica. Em decorrência disso, ele não acredita muito no “interesse” estran-

geiro pela floresta amazônica, mesmo porque, segundo ele, não vê o dinheiro eles (as fundações e outros organismos estrangeiros) estão investindo na região. “Se quiserem dar dinheiro, que dêem, mas não pensem defender ou ocupar a região”. “Sou visceralmente contra isso” diz Moacir, acrescentando que a defesa e ocupação da região são uma preocupação secular dos próprios amazônidas. Aliás, ele tem uma tese de que a Amazônia só não foi totalmente ocupada devido a três defesas naturais: o solo pobre, as doenças tropicais e o clima. Para Moacir, quando se fala de defesa do meio ambiente, não se deve pensar só em floresta, rios, plantas e animais. “Meio ambiente é tudo, principalmente a sua rua, sua casa. Se você joga lixo na rua, cospe nos rios, polui os igarapés, está também contribuindo para poluir o meio ambiente”, ensina o pintor. Moacir foi fundador de muitas sociedades culturais em todo o mundo. Fundou a associação para educação de crianças nos Estados Unidos e em Portugal a Associação Internacional dos Amigos de Ferreira de Castro. Depois, vem a Itália, Espanha, Alemanha e muitos outros países. A disposição para escrever também é grande. Já se encontra em fase de edição um livro sobre “Histórias, Artes, e costumes Desaparecidos ou a Desaparecer”, além de um projeto sobre “Len-

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José Roberto Girão de Alencar (Org.)

das Amazônicas” e um livro sobre teatro com título “Sala de Audiências”. PRÓXIMOS PASSOS: Chegar aos cinquenta anos de carreira artística não parece ter cansado Moacir Andrade. Ele já se prepara para mais uma série de exposições pelo Exterior, começando por Portugal, numa promoção da Unesco e da Associação Internacional dos Amigos de Ferreira de Castro. Depois, vem a Itália, Espanha, Alemanha e muitos outros países onde pretende deixar a sua marca. Moacir Andrade encara o futuro como “agora”, a cada passo que dá, a cada obra que cria. Mas não se pode deixar para trás facilmente toda a contribuição dele para o enriquecimento das artes na região amazônica. Quem sabe não lhe caberia um museu, ainda em vida, só para guardar aquilo que o ateliê dele já não comporta mais?


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