Vertigem Mag maio/2010

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Editorial O

Mundo

é

feito

de

vertigens.

E

privilegiamos é o espírito de quem se agarra à pequena pedra ou à gigante pedra. Pois é o escalador que faz a pedra e a montanha. Mas dentro desse espírito e ainda que seja tarefa difícil, queremos chegar a todos, vertiginosamente! O sucesso na

nossa

vida,

desta revista dependerá em primeiro lugar de nós próprios, da

constantemente nos assaltam as suas tonturas e o seu

nossa capacidade de passar para o papel virtual a chama e as

caos incontrolável de sensações. Também no mundo da

vertigens dos escaladores, mas dependerá também do despertar

escalada, em todas as suas modalidades, a vertigem está sempre

da comunidade para que dê um passo em frente em termos de

presente, ameaçando-nos com os seus abismos, redemoinhos

massa crítica e de colaboração criativa. Isto é, exigimos leitores

e desequilíbrios. Porque a vertigem é o que nos faz cair, a

atentos e apelamos à colaboração activa.

desconcentração, o abandono, o largar das rédeas dos nossos instintos primários para os deixar ir loucamente por onde querem. Mas não queiramos nunca viver sem a Vertigem! Porque ela tem o papel insubstituível da força bruta que desperta em nós a força criadora, ela é o desafio constante que temos de vencer e graças a ela podemos ser grandes, podemos obrigar-nos aos grandes gestos e obter as grandes vitórias, a começar pela mais bela, a de nos vencermos a nós próprios.

Nesta 1ª Vertigem, na impossibilidade de termos o artigo de fundo que se justificava sobre esse extraordinário feito que é a conquista dos 14 cumes de 8000 m sem oxigénio artificial, dedicamos uma merecida capa de homenagem ao alpinista João Garcia. Ainda, sobre esse feito maior, abrimos com um artigo de opinião, sobre o alpinista e as suas qualidades humanas, numa sincera e simples visão de um escalador e amigo que acompanhou o joão Garcia em escaladas por Gredos, Alpes e

Outros terão para si melhores definições de escalada ou de

Himalaias. De seguida, com uma entrevista a Paulo Alves, um

escalador. Nós, na Vertigem, temos esta: O escalador é aquele

dos pioneiros da escalada em Portugal, mergulhamos na história

que procura sempre a vertigem, para lhe resistir, para a vencer.

da escalada pelas palavras de um escalador que testemunhou

Ele é o senhor da vertigem.

com tranquilidade a transformação dos pitons em plaquetes

Desde a extinção da saudosa revista Montanha que existe

e das botas rígidas em sapatinhos de ballet. O resultado final

um espaço vazio entre a comunidade de escaladores. Sem

é uma extensa entrevista que, no entanto, é ainda curta para

pretensões, por enquanto, a sermos a continuação desse projecto

descrever 40 anos de escaladas e do sabor hoje desconhecido das

noutro formato, este arranque da Vertigem prende-se antes

escaladas dos anos 70. Desses tempos já perdidos transitamos

com a necessidade e a vontade de cimentar com experiências

para a história da emblemática parede do Espinhaço, ilustrada

verticais esse espaço vazio. Porque sabemos que a motivação

simultaneamente por imagens antigas e modernas, sendo estas

na escalada também se alimenta e que o que nos rodeia e

últimas, obra do fotógrafo e escalador, Ricardo Alves. Num leve

conhecemos pelo nome próprio tem um sabor especial que nos

texto de leitura rápida, como muitas vezes a própria actividade

marca mais profundamente. Assim, contamos somente partilhar

do bloco, João Magalhães conta-nos as suas impressões de uma

com a comunidade o sonho dos escaladores que sonham, para a

visita a esse local cada vez mais obrigatório para os crashpad-

ajudar a sonhar. Não queremos privilegiar nenhuma modalidade

men. Para finalizar, fomos perguntar ao escalador do bandolim

em particular dentro da escalada e, em havendo colaboradores,

e das paredes gigantes, o belga Nicolas Favresse, como via a

tudo encontrará aqui o seu lugar, desde as pequenas pedras de

escalada e os escaladores portugueses e o que o atrai nesta terra

2 m às montanhas de 8 mil. O que importa sempre e o que

de paredes pequenas. Filipe Costa e Silva Direcção Editorial

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Conteúdo 6>7

João Garcia Opinião

8>21

Paulo Alves Entrevista

22>37

Espinhaço Artigo

38>45

Albarracin Artigo

46>47

Nicolas Favresse Perspectiva

Galeria

Fotográfica

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48>50


www.vertigem-mag.com Direcção: Filipe Costa e Silva

Direcção Editorial: Filipe Costa e Silva

fcs@vertigem-mag.com

fcs@vertigem-mag.com

Frederico Hall Silva fred@vertigem-mag.com

Nuno Pinheiro nuno@vertigem-mag.com

Direcção de Arte: Frederico Hall Silva fred@vertigem-mag.com

Colaboração Especial: Ricardo Alves

Colaboradores: Agradecimentos: Alexandre Marques Francisco Silva Fernando Pereira Mário Inocêncio Francisco Ataíde Miguel Loureiro Isabel Boavida Paulo Roxo João Garcia João Magalhães Nicolas Favresse Paulo Alves Rodrigo Viana Machado Sérgio Martins

Publicidade: info@vertigem-mag.com

Colaborações: info@vertigem-mag.com

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O Jo達o Garcia e os 14 x 8000m

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C

onheço o João Garcia desde o tempo em que não tinha grandes patrocinadores. As expedições nacionais a montanhas nos Himalaias faziam-se com um conjunto de pequenos apoios e de verba pessoal que sempre tinha de existir. Já então, o João perseguia o sonho de escalar as 14 montanhas mais altas sem usar oxigénio artificial. E na altura, apesar de já ter feito 5 destes mais altos cumes e de se ter tornado um herói para nós portugueses, depois da conquista do Everest em 1999, fascinou-me a humildade com que encarava e preparava os seus grandes desafios. Cedo me apercebi de uma pessoa que sem a tentação de vedetismos, procurava sim transmitir aos outros os seus conhecimentos e o gosto da vida na montanha. E vi o João carregar, além da sua, a mochila de alguém mais cansado, para que esse também lá chegasse. Vi-o num dia, ascender sozinho aos 6000 m para equipar com cordas fixas uma via, para que no dia seguinte, guiados por ele, todos conseguíssemos escalar a montanha. Vi-o preocupado com o bem-estar e a saúde dos elementos do seu grupo e passar a noite ao lado de quem a saúde traíra, movendo tudo ao seu alcance sem descansar enquanto não conseguiu um helicóptero que evacuou o doente para um hospital. Impressionou-me esta dedicação e empenho para que os outros pudessem desfrutar das maravilhas das montanhas e vi como tirava prazer do sucesso dos outros.

Depois, também resultado do seu empenho e profissionalismo, veio a época dos grandes apoios que viabilizaram a conquista das 9 montanhas de 8000 m que lhe faltavam. Conseguindo-o em apenas 6 anos e tendo por três vezes escalado duas num ano. Melhores apoios deram lugar a melhores meios e a maiores possibilidades, mas com agrado continuei a assistir ao manter da mesma forma humilde e pura de conquista da montanha e superação de si próprio. Sempre me fascinou ver, João Garcia o grande conquistador das mais altas montanhas, tirar prazer e não dispensar de uma simples manhã de escalada no muro artificial no Monsanto, dando-nos o exemplo que o mais importante não é o atingir dos nossos objectivos, mas sim a forma como o fazemos. Nascido num país sem grandes montanhas e sem tradição de alpinismo, o João tornou-se o 10º homem no mundo a efectuar esta conquista. Admiramo-lo só por isso ou por ao cair ter sabido erguer-se ou por ter sempre acreditado sem desistir à primeira contrariedade ou por nos ter mostrado que quando nos dedicamos e nos esforçamos o impossível não existe. E nesta época conturbada que atravessamos, em que muitos de nós têm os seus “Everests” a conquistar, acredito que o exemplo do João nos empurrará montanha acima.

Rodrigo Viana Machado Idade: 41 anos Profissão/ocupação: Gerente Comercial (Loja Bivaque) Actividades: Alpinismo, Escalada, Trekking, Mountain Bike, Canoagem, Ciclo-Turismo

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Entrevista

Paulo Alves Paulo Alves no fim da via Renaudie, Face Leste do Dent du Requin, 3422 m. Chamonix, 1981 (foto: RogĂŠrio Morais)ďżź

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Paulo Alves, geólogo de profissão, com 56 anos de idade e 39 anos de escalada, foi actor e testemunha dos acontecimentos que marcaram a evolução da escalada em Portugal. Desde as botas rígidas, a corda de nylon, as fitas a servir de arnês, os pitons e martelo, até ao aparecimento dos friends, do material ultraleve e pés-de-gato hightec, vai uma grande distância. Para compreendermos melhor essa distância e quebrar o mistério que para muitos escaladores do presente são os anos 70 e 80 da escalada, fomos fazer uma cordada de perguntas com o Paulo Alves e tentar encadear a história da escalada e a sua evolução neste pequeno meio vertical.

Entrevista: Filipe Costa e Silva e Francisco Ataide Fotografia: Colecção pessoal Paulo Alves

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Paulo, quando e como é que começaste a escalar? Comecei em 1971, com 17 anos. Era uma ideia que vinha de trás, lia livros, via fotos. Havia o Paris Match com reportagens de alpinismo que eu via. De repente soube que havia uns cursos na antiga Mocidade Portuguesa. Lembro-me que quando fui obrigado a andar lá, tinha eu 10 anos, o pessoal via aquilo com uma certa desconfiança, era a imagem do regime, mas sobretudo na escalada era malta bastante aberta. Eles tinham cursos de iniciação e o meu pai ainda conseguiu que eu adiasse e não fizesse o primeiro curso… O monitor principal na altura era o Mário Mimoso, que até já se tinha magoado à grande, teve um dos primeiros acidentes. Ele estava a escalar em solo ali na zona da Cova Mijona na Arrábida (Azóia) e deu cabo da bacia, da cara e dos dentes. Foi talvez em 1970 e foi complicado, um acidente à séria. Fiquei um ano neste grupo, mas depois a maior parte da malta que tinha mais potencial mudou para uma nova estrutura do Ministério da Educação como formadores, o Secretariado para a Juventude. Foi quando o Veiga Simão foi para ministro e isso teve uma vantagem enorme porque quando mudaram entrouse numa grande fase de desenvolvimento. Uma das pessoas que animava esse grupo era o Orlando Garcia, um super professor do Instituto de Ciências Sociais, um modernaço, que tinha andado a viver na Suíça e tinha uma ideia formada do alpinismo. Depois, quando se quis de repente montar essa nova estrutura, ele trouxe um guia de alta montanha suiço, topo de gama, o Alphonse Darbellay. Para mim aquilo foi uma maravilha, tive imensa sorte, um ano depois do meu curso de iniciação, tive um curso de 30 dias em Portugal com este guia suíço e ao mesmo tempo veio também, de propósito para o curso, uma encomenda enorme de material de escalada do melhor que havia. Ninguém conhecia Paulo Alves na Via Fidel Fiasco, Face Oeste da Blaitière. Chamonix, 1985 (foto: Zé Luís Carvalho) isso em Portugal, a não ser no catálogo e era tudo caríssimo, sem contar com o guia. E de repente parecia que havia uma máquina de montanhismo, com mais um curso no ano seguinte e havia …e eram tudo aberturas novas? Sim, basicamente. Na material às toneladas. A ideia era ter monitores para todo o país, Meadinha ainda se fez uma via, mas que mais tarde nunca mas depois veio o 25 de Abril e isso não aconteceu. consegui reconstruir, passava muito à direita, assim em ziguezagues e terminava à direita por uma placa de aderência com os grattons do granito a saltar. Mas aquilo era complicado e o homem sentia-se muito responsável assim com 18 gajos atrás…

já ia em 1300 pitons postos desde que escalava! Pitonar fazia parte, tinha-se muito treino e já conseguíamos pô-los só com uma mão, mesmo no meio de um passo esquisito.

Nesses 30 dias com o guia suíço por onde é que andaram? Começámos com um dia na Arrábida e quatro dias em Santa Luzia, mas depois foi quase tudo na Serra da Estrela. Acampámos no Covão d’Ametade e logo aí foram uns 4 dias de escalada artificial; de resto era sempre no Cântaro Magro e no Raso. Ainda fizemos uma tentativa de ir ao Gerês, à Meadinha e passámos pelas Fisgas…

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Como era um dia de escalada nos anos 70? Para começar havia uma diferença enorme, que não tem nada a ver com escalada e montanha, que era que um gajo para ir para a Noiva ou para a Ursa, levantava-se de madrugada para apanhar o primeiro metro das 6:00, depois andar do Rossio ao Cais do Sodré, apanhar o comboio e em Cascais a camioneta até ao Cabo da Roca… Depois ao voltar, às vezes já não se apanhava a última camioneta do Cabo da Roca e tinha que se ir a acelerar por ali acima para apanhar a última camioneta de Sintra que só passava na estrada principal… eh pá, era complicado!

Quer dizer que eram sempre actividades de 2 dias? Não, muitas vezes era só um dia, mas eram de madrugada até à noite. Mas por exemplo para ir à Arrábida era de fim-de-semana, acampava-se ou dormia-se junto ao


“Aquele “respira quatro vezes para dar mais um passo” é uma seca bestial.”

Paulo Alves na Cascata do Inferno. Serra da Estrela, 1991 (foto: Vasco Pedroso)

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mar. Já agora, olha como isto mudou: agora todos têm carro; já me aconteceu ir ter com pessoal a Seia, para ir ao gelo, e às tantas vejo que somos 5 e estão lá 4 carros! Até é estranho, esta facilidade toda. Quando se ia à Serra nos anos 70 era uma estopada no comboio da noite, para chegar à Covilhã de manhã e ás vezes subir à pata lá para cima.

E o que é que ía dentro da mochila do escalador nos anos 70? Que material se usava na altura? Muitos pitons e sempre o martelo. Magnésio não havia e pés de gato só mais tarde. Os primeiros entaladores eram uns suíços de nylon, tipo plástico rijo só de 3 tamanhos e depois é que apareceram os normais, com cabo de aço. Havia cunhas de madeira e os Bong-Bong, feitos pela Chouinard, agora Black Diamond, que já davam para fendas maiores. No princípio usavam-se principalmente cabos marítimos com 8 e 10 mm de nylon, de gacheta e não aquele só entrançado, que era muito mais frágil e uns mosquetões já de alumínio, que se encontravam no Cais do Sodré…

…portanto eram cordas estáticas? Sim e

escudos (0,8 €), feitas pelo Paulo Gorjão e que eram boas. Eu hoje ainda tenho mosquetões com 20 anos que continuo a usar e tenho confiança total no material, nunca fui esquisito.

E esse material arranjavam aonde?

Na altura ia todos os anos aos Alpes e quase todos os anos renovava todo o material. Depois, vendia cá o antigo um pouco mais barato. Ainda não havia lojas com material de escalada e só pouco a pouco é que se começou a encomendar a quem ía lá fora. Por exemplo nos encontros do Neve Estrela, nos anos 80, havia um galego, o Santiago Sualonso que começou a vir com uma carrinha cheia de material da loja da família, em Vigo e vendia material ao pessoal porque cá não havia nada, roupas, piolets, cordas, pitons, entaladores…

Em que lugares escalavam na altura? Na Amizade e outros lugares em Sintra em que já não se escala agora, no Penedo Ferreira de Castro, no Penedo do Guerreiro, na Quinta da Penha Longa. E também na Praia da Ursa, no Espinhaço e a partir de 81/82, na Guia.

E que vias escalavam?

Às vezes repetíamos vias mais fazia-se como que uma ou menos conhecidas, mas cadeira só com fita, como quase sempre íamos tentar aquela cadeira que se usava vias novas, algumas até com no rappel. No princípio era estribos, como aquela via da encordamento directo à corda, gruta na Amizade. Às vezes à cintura. Com o guia suíço eram dias ali a tentar… Outra continuou-se com isso mas diferença muito grande é que já ensinou a fazer um arnês se fazia imenso escalada de completo com fita. Eram 5 ou chaminé que é uma coisa que 6 metros de fita por pessoa e hoje em dia já quase não se faz. era muito mais seguro. Todos os cursos tinham essa Também havia componente. Por exemplo, outras coisas que o pessoal na Quinta da Penha Longa, há Paulo Alves nos anos 80, no 4º largo da via Transatlântica. (foto: col. pessoal P. Alves) fazia. Por exemplo, o meu um penedo que é o Penedo padrinho tinha uma quinta para dos Ovos, aquilo tem imensas os lados de Castelo Branco que tinha uma carpintaria fantástica chaminés e o pessoal treinava ali. Na Serra da Estrela também. e eu comecei a ver as madeiras que ele lá tinha e comecei a Eu lembro-me da primeira vez que eu fui aos Alpes, até falei fazer cunhas de madeira em oliveira e em cerejeira, todas com disso com a Isabel Boavida, que há pouco ela esteve lá no Petit cuprinol, para ver se duravam. São aquelas que ainda se podem Clocher du Portalet, porque há lá uma via ED aberta pelo Michel ver no Espinhaço. O material começou a ficar muito caro e Vaucher com 200 m de chaminé, até 6º grau, aquilo custou-me aquelas cunhas que se compravam em França numa madeira imenso e foram 12 horas para sair de lá. Agora ninguém tem essa muito leve estragavam-se num instante. E assim podia fazer rodagem em chaminé. Chaminés ok, mas as fendas nunca foram cunhas com outros formatos, fazia-as muito largas, aí até 12 ou o meu forte, achei piada agora quando foi o encontro de Casal 15 cm. Os pitons eram mais difíceis de fazer, não tentei muito Pianos, que o (Rui) Rosado me emprestou aquelas luvas porreiras e ficavam mal, dobravam muito logo à primeira. Tenho umas para entalamentos e aquilo assim é uma maravilha! notas escritas de ter comprado em 86 três plaquetes por 160

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Paulo Alves no cimo do Petit Dru. Chamonix, 1985 (foto: Vasco Pedroso)

Há um estilo de escalada diferente hoje em dia? Uma pessoa que tem uma aprendizagem naquele tipo de cursos de guia está sempre naquela de que nunca pode cair, porque não pode confiar nada na pessoa que lhe está a fazer segurança. É muito diferente de quem aprende a escalar na desportiva. Eu ainda tentei fazer treino de queda, uma ou duas vezes, mas aquilo era muito suado! “Não cair” era um pouco a mentalidade na altura, também porque a segurança e os materiais eram muito diferentes. Mas ao mesmo tempo arriscava-se bastante e punham-se poucas protecções porque havia aquele paradigma da segurança de que se tinha que fazer as coisas com rapidez, para chegar lá acima a tempo e descer. Às vezes, por exemplo, eram 11 da manhã, vinha aí uma tempestade e tínhamos de baixar a meio, como aconteceu na Fissura Brown, uma via bastante conhecida, na Blaitiére, que baixámos em rappel no meio de um temporal. Por vezes temos noção de que estamos mesmo a arriscar, estamos no topo das nossas possibilidades e não temos quase protecções.

Era mais perigoso na altura do que agora?

Acho que isso é igual, aliás, mesmo esta história agora do Piolet de Ouro envolve níveis de risco que para mim são um bocado impensáveis. Mas também, isso dos Alpes tem outra componente que é a perda das pessoas, aliás, isto é uma actividade que tem riscos e a quantidade de pessoas que já morreram pelo caminho impressiona-me um bocado. Dos 8 ou 9 que éramos, na turma do curso de guias, 3 já morreram em acidentes e depois outros

com quem escalei. Uma vez estive a escalar em gelo com um Belga e duas semanas depois, quando o Zé Luís cá veio disseme: “Eh pá, o gajo matou-se!”. Um acidente quando escalava os Drus em solo. Isto é comum, entre o pessoal que faz muita alta montanha e é melhor é nem pensar muito nisso…

“Não cair” era um pouco a mentalidade na altura, também porque a segurança e os materiais eram muito diferentes.” Que tipo de escalada te atraía mais? Eu sempre tive dificuldades para aclimatar em altitude, depois com o frio também nunca me dei muito bem, aliás, já gelei um pé, mais um dedo duma mão e acho que o alpinismo tem uma componente masoquista que a mim me custa muito. Aquele “respira quatro vezes para dar mais um passo” é uma seca bestial. Acredito que muitas coisas que fazia era por uma super força de vontade e que se uma pessoa pensasse duas vezes, enfim, ia mas é para o cinema, não estava para ali a escalar. E nesse sentido eu sempre quis foi escalada técnica, fossem corredores já bastante inclinados ou com uma componente grande de gelo, ou então rocha mais ou menos técnica. Isto é que me atraía e com a escalada técnica, mesmo muito alto, já me distraía do cansaço enorme que era estar mal aclimatado.

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Como era o nível de dificuldade na altura? nível foi o Yoga. Faço yoga já há quase 30 anos e quase desde Aqui as coisas realmente avançavam muito devagar. E é uma coisa que é difícil de explicar e até mesmo de entender, como é que se pode estar num país e escalar quase no topo de gama, a fazer as coisas mais difíceis e não ter comparação com o que se faz lá fora. Quando fui para o curso de guias, estava o 6c a aparecer e um 6a para mim já era uma coisa do arco-da-velha. Lá fora, nos Alpes, começavam a aparecer as vias e os sítios equipados, muitos e aqui quase nada. A Guia só começou em 80/81 e ainda com alguma artificial. Quando apareceu pessoal mais virado só para a dificuldade, na Guia e em Sintra, sem montanha, isto mudou. Havia malta com estaleca, o Paulo Gorjão, o Zé Luís, Luís Fernandes, Pardal, Cabreira, Francisco Silva. Pessoalmente, uma coisa que teve uma influência um bocado determinante no meu

o princípio vi que passei a manter sempre o topo da forma, sem ter de treinar para subir o nível.

As motivações dos escaladores na altura eram diferentes das motivações de hoje? É diferente, agora é um desporto em que há várias componentes, há o boulder, as vias, há o gelo. As coisas estão mais divididas e na altura não era tanto assim. É difícil criar uma regra porque eu quase que só sei falar por mim, porque nesses primeiros 15 anos havia muito pouca gente. Por exemplo, o Carlos Teixeira com quem abri a primeira via do Espinhaço (Normal), vá lá que coincidiu que ele tinha mais tempo e me acompanhou nessa altura. Mas eu ia a todas com todos. De certo modo eu arranjava um assegurador. Ouve

As aberturas eram lentas, extremamente lentas. Eram muitas tentativas e avançava-se cada dia um pouco mais. E era um stress, pendurado em pitons metidos só na pontinha, a ver o que se conseguia meter a seguir um que foi diferente, que foi o Vasco Consiglieri Pedroso que durante vários anos me acompanhou, ele era um bocado gato e tinha imenso jeito em evoluir em terreno super instável (rocha podre).

Como era a comunidade de escalada da altura? Um problema era que havia muita dificuldade para arranjar pessoas para escalar. Eu mudei imenso de companheiros de cordada e é uma coisa que me faz inveja na actualidade porque hoje vejo grupos muito grandes, muita facilidade em trocar de cordadas. Eu tive a actividade muito limitada por não ter pessoas bem fixas e perfeitamente atinadas. Os grupos também eram muito diferentes. Hoje há um ambiente muito mais divertido na montanha e na escalada, na altura havia às vezes grupos maiores mas era por haver outros grupos que não eram propriamente da montanha que estavam misturados. Lembro-me de uma vez, pelo Carnaval, de ir à Serra da Estrela, em 73 ou 74 e aquilo foi divertido, mas porque estava malta que nem sequer escalava e se fizeram umas brincadeiras com fantasmas. Foi por isso que aquela parede abaixo do Covão d’Ametade ficou a chamar-se “Os Fantasmas”. Para quem queria ir naquela fuçanguisse de abrir vias às vezes era um bocado frustrante. Hoje há um grupo muito maior de pessoas que fazem actividades de dificuldade. Às vezes e às tantas, ia sozinho para os Alpes e não fazia nada, estava lá, por isso algumas vezes fiz uns solos e até atravessar glaciares, apesar de não gostar de me meter em alhadas…

Havia uma escola do Porto e uma escola de Lisboa?

Paulo Alves no Corredor Norte da Tête de l’Etret, 3559m. Ecrins, Alpes, 1983 (foto: Edward)

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Notei que havia uma certa diferença. Com o curso do guia suíço, a minha atenção foi virada para os Alpes, nem Espanha, nem Pirenéus, enquanto que os grupos do norte tiveram muita influência espanhola. Através desse guia, conheci o Jean Troillet e fiz amizade com ele e às tantas ia para casa


ele sempre teve medo de eu andar tanto nos Alpes e acho que assim sentia que garantia ao menos que eu tivesse a melhor formação que havia. Quando cheguei lá fizeram-me quase uma praxe; fui escalar com um e às tantas estava o grupo todo e era tipo uma autenticação de que tinha experiência e nível para o curso. Mas nunca fiquei a trabalhar no Montanhismo, também só se quisesse ir para os Andes ou Canadá, que era o que estava a dar. Na Suíça o curso era organizado pelo Ministério da Justiça e sem ser Suíço não se conseguia a carta. Hoje em dia é muito mais fácil trabalhar no desporto aventura. Mas esse curso de guias fez-me uma certa mudança. Antes, à menor alerta de mau tempo já não ia para a montanha. Havia dias e dias sempre cá em baixo em Chamonix. E a partir do curso já não, era sempre para cima, a tentar. Não havia quase dia que não se fizesse alguma actividade. E com essa atitude de aproveitar todas as janelas, foi incrível a quantidade de coisas que consegui fazer, enquanto antes passava 1 mês em Chamonix e só 4 ou 5 dias é que conseguia fazer algo. Outra coisa que para mim é impensável, é aquele pessoal que vai para os Alpes só para fazer o Monte Branco ou, por exemplo, a Directa Americana [nos Drus], “ Eu vim fazer a Directa Americana!” e depois estão vinte dias nos Alpes e não fazem nem essa nem mais nenhuma. Ficam ali à espera, em vez de fazer outras vias e ir treinando. Mas são maneiras diferentes de estar.

Paulo Alves no 3º largo da Via Normal. Espinhaço, anos 80 (foto: col. pessoal P. Alves)

dele e a partir daí era sempre a Suíça, no início nem sequer ia para Chamonix. Só depois é que comecei a ir lá muito, com o Vasco Pedroso, o Zé Luís. Só em 82 é que fui pela primeira vez ao Naranjo e aos Pirenéus só nos últimos 10 ou 15 anos é que lá fui fazer algumas cascatas de gelo. No Porto havia os irmãos Pacheco, que tinham muito jeito e abriam muitas vias, mas depois só o Pedro Pacheco é que continuou e que ficou mais conhecido; havia lá um grupo relativamente grande e forte. Mas havia pouco contacto com outros, talvez por o grupo de Lisboa ser relativamente grande e pesado, com aquela dinâmica toda de fazer alguns cursos e de sair para fora.

Pensaste em trabalhar como profissional na área do montanhismo? Eu na altura só pensava em escalada e montanha. Estava muito virado para o alpinismo. Quer dizer, não deitei o resto da vida abaixo. Acabei geologia, ainda fiz uma especialização em geotecnia e comecei quase logo a trabalhar. E tive sorte, porque até me deixavam às vezes tirar licença sem vencimento e assim tinha tempo. Gostava mesmo muito do Montanhismo e Alpinismo e fiquei com o bichinho de trabalhar naquilo. Como ia lá aos Alpes, esses amigos suíços que trabalhavam como guias disseram “vem cá fazer o curso de guias”. Eu tratei das coisas e o meu pai, coitado, lá pagou, apesar de aquilo na altura ser muito mais barato do que agora;

Quando fui para o curso de guias, estava o 6c a aparecer e um 6a para mim já era uma coisa do arco-da-velha. Que acontecimentos julgas que foram mais marcantes em termos de escalada cá em Portugal? Aquela fase em que apareceram, por exemplo, o Paulo Gorjão ou o Zé Luís, a partir de 81/82, com uma mentalidade mais desportiva, mais virados para o grau, para a dificuldade e com outras metodologias de treino. O pessoal começou a ir a Buoux para escalar, não só aos Alpes. Foi o aparecimento da desportiva em França que cá só chegou mais tarde. O tal curso de monitores foi outro marco. Foram umas 17 pessoas dos quais só uns poucos continuaram, mas aquilo abriu-nos os horizontes, mostrou-nos o material moderno (mosquetões leves, pitons, cordas de jeito, etc.). Também o aparecimento da Submate, a primeira loja, veio revolucionar um bocado a escalada em Lisboa, embora no Porto talvez já houvesse a Camping Shop. Mas é difícil individualizar acontecimentos. Isto avançou como um todo, uma evolução gradual… E cada um dos escaladores mais produtivos contribuiu para esse desenvolvimento. Eu faço parte desses. Mas muitos outros contribuíram. O João (Garcia) por fazer os 8000 e a visibilidade que isso dá. O Francisco Silva porque dirigiu a Desnível e mostrou a escalada a milhares de pessoas, tu e outros como tu porque se meteram a sério no grau, o Zé Pedro Lopes e a Vitória por causa do desporto escolar e das competições, o Roxo, o Pacheco, eu, pela quantidade de aberturas em clássica, o Rosado e a

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Isabel, pelos encontros que organizam, o Pardal pelas paredes artificiais que foram aparecendo por aí, sei lá, são mesmo muitos que se mexeram. Olha, fala agora o geólogo: é quase como na evolução da Terra, foram 4500 milhões de anos em que cada ano contou, mas houve de vez em quando uns eventos bem fortes!

Como foram as primeiras aberturas no Espinhaço? Que vias mais recordas? O Espinhaço era uma parede emblemática, difícil e muito bonita. As aberturas eram lentas, extremamente lentas. Eram muitas tentativas e avançavase cada dia um pouco mais. E era um stress, pendurado em pitons metidos só na pontinha, a ver o que se conseguia meter a seguir ou a pitonar e a ver a fenda a abrir...Demorava! O filão, a meio, era o mais lento e delicado, uma seca bestial para o que dava segurança, aí as fendas no basalto são cegas e havia muitos blocos soltos; atirou-se muita pedra de alguns sítios. Recordo a Transatlântica por exemplo que é fantástica, só que foi aberta em episódios e também a via da Direita por ser muito estética e rectilínea. Agora vou lá e é um tiro, dá um gozo enorme fazer uma via até ao filão, descer e voltar a subir por outra.

As vias eram abertas quase só com pitons? Sim, as plaquetes eram um caso muito raro. Havia um à-vontade em fazer artificial, nos cursos praticava-se bastante e quem abria muitas vias, como era o meu caso, habituava-

se imenso a usar pitons. Muitas vezes era só a pontinha que entrava, portanto um gajo desenrascava-se quase sempre sem plaquetes. Lembro-me de ver no meu diário que já ia em 1300 pitons postos desde que escalava! Pitonar fazia parte, tinha-se muito treino e já conseguíamos pô-los só com uma mão, mesmo no meio de um passo esquisito.

Tenho umas notas escritas de ter comprado em 86 três plaquetes por 160 escudos (0,8 €), feitas pelo Paulo Gorjão e que eram boas.. Como vês o uso das plaquetes no artificial e no Espinhaço? No Espinhaço há uma via que sempre me custou a engolir, mesmo à esquerda da via do Miradouro, acho que foi pouco antes do Encontro de Escalada de 89, pelo Luís Fernandes, com menos de 10 metros e cheia de chapas, que não tem nenhum sentido. Na altura houve uns desacordos com esses equipamentos mas que nunca chegaram a ser violentos, houve alguma polémica porque se usou um material que não foi assim muito bom, mudaram várias coisas de sítio – reuniões – e acrescentaram muitas plaquetes.

Equipamento a utilizar na abertura de uma via de cerca de 200m, a Oeste do Fojo (Serra da Arrábida). Na 1ª tentativa confirmou-se a necessidade de material de protecção para fendas largas, pelo que se incluem cerca de 15 cunhas de madeira, para abandonar, e pitons largos (os Bong-Bong Chouinard). Pitons diversos, entaladores, 2 martelos, estribos, punhos Petzl para subida em corda fixa, punhos artesanais para colocar spits de 8 mm e de 6 mm. Note-se o harnês Whillans, com porta-martelo, e o calçado, quer de botas rígidas (com uma placa de aço na estrutura, para rigidez quase total, o que facilitava a escalada em micropresas), quer pés de gato, com um dos primeiros pares trazidos para Portugal (marca EB, desde 1978). Saco-cama, mochilas, lanterna frontal e um depósto de água. (Foto: col. Pessoal P. Alves)

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Hoje em dia é impossível reviver as sensações das 1ªs aberturas, por exemplo, a via da Direita tem actualmente 8 plaquetes seguidas em poucos metros. Não houve respeito pelas primeiras ascensões?

Em 1986, Reinhold Messner é o 1º a fazer os catorze 8000 sem oxigénio e o João Garcia acaba de o fazer agora em 2010. Estamos no alpinismo de ponta ou 25 anos atrasados? Não sei se serão 25 anos porque

Talvez não. Eu acho que as pessoas nem pensam muito nisso, acho que há um certo gozo em andar a equipar, com uma máquina, é uma maneira de as pessoas sentirem como que uma auto-promoção, ”Eu estou a equipar!“. E depois há um nacional-porreirismo de aceitar tudo, mandar umas bocas e não passar daí, há vias ou equipamentos que se criticam na altura mas não passa disso...

as coisas talvez evoluam muito mais depressa do que isso, mas eu acho que o nosso país não é um país muito desportivo. As pessoas são mais de aplaudir quem consegue, mas daí a treinar para lá chegar… as pessoas são pouco de investir no treino para poder fazer qualquer coisa assim de forte. Se calhar há uma certa, não digo estupidez mas irracionalidade, às vezes penso que foi um bocado assim que o João Garcia continuou naquela coisa dos catorze 8000 ou que eu andei …E não te chocam esses no alpinismo, às vezes com reequipamentos nas tuas tanto sofrimento. As pessoas vias? Incomoda-me um aqui não estão muito nessa, bocado, mas também há outra mesmo noutros desportos. É coisa, quando uma via é muito talvez uma das características feita com pitons, a pôr e tirar psicológicas dos portugueses. vezes sem conta, as fendas Outra característica muito má vão alargando. Mas sensações que nós temos é as invejas de abertura, para mim, são e as guerras que as pessoas outra coisa. Uma vez aberta a arranjam. Vejo a mesma coisa via e que se sabe a dificuldade na montanha, mas acho que que se tem pela frente, já a agora está melhor. E depois sensação passa a ser o prazer as notícias que saem nos de fazer uma via bonita e não jornais ou telejornais são quase o sentir que se pisa terreno sempre pelo lado catastrófico, novo pela primeira vez, que é só saem noticias dos que vão um feeling fantástico. mesmo à portuguesa, saem às 2 da tarde para o Monte Concordas que existe uma Branco, não têm material falta de ética, um “cada nenhum, não conhecem a via, um faz o que quer”, uma depois têm uma enrascadela certa anarquia de valores e têm de ficar pelo caminho… na escalada portuguesa? e os jornais contam aquilo de Acho que sim, que vem uma maneira que é mesmo desse nacional-porreirismo. triste, nada positiva para a É bastante característico escalada, como se fosse uma do nosso país esse lado grande odisseia, à toureiro, anárquico, que tem a ver com que desafia a morte e safaa mentalidade ou a maneira de se, quando é um disparate estar portuguesa. Por exemplo, total. Quem faz montanha Paulo Alves na Via Súbita, Penedo da Amizade. Sintra, 1981 (foto: num encontro de canyoning com sabedoria não é notícia. col. pessoal P. Alves) que fiz nas Astúrias, espantouMas era assim que escreviam. me o pouco material que havia nos canyons, sendo uma zona Ciclicamente lá vinha mais uma notícia do 1º português a subir muito batida. O mesmo se passa com a quantidade de estradas e o Monte Branco ou do 1º no Toubkal. Disparates… auto-estradas que se fazem cá e não se fazem noutros países… e o mesmo se passa com o equipamento. A quantidade de Em 1994 fundaste a associação Desnível. Que equipamento que se põe cá e não se põe noutros países. No importância vês nesse tipo de associações? Canyon, por exemplo, vem um grupo e toca a fazer um slide A Desnível apareceu de uma forma não muito pensada, mas há por aqui e a pôr mais umas quantas plaquetes em cima e em coisas que pegam e funcionam. Na fundação esteve o Francisco baixo, depois mais rapeis e mais rapeis por ali abaixo, tudo com Silva, presidente da direcção durante 14 anos, eu e outras pessoas, chapas lado a lado. Aqui as pessoas têm um gozo em deixar uma todos com estilos diferentes, mas sempre a apoiar o estilo “salto assinatura de equipamento e de facto é exagerado comparado em frente”, que tem a ver com essa irracionalidade de que as com outros países. coisas são para fazer, enquanto outras pessoas desistiriam logo. O Francisco tinha mais esse estilo de “ir a todas”, eu se

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houve várias vezes que me safei no limite. Houve vários sustos à séria.

18 Paulo Alves na 1ª ascensão da Via dos Anos (Variante da Luso-Galaica), Cântaro Magro. Serra da Estrela, 1984 (foto: Vasco Pedroso)


calhar estava mais tranquilo e queria um clubesito. Mas aquilo foi tomando dimensão, fez-se o protocolo com a Câmara de Cascais, a Escola de Hotelaria do Estoril, a Escola de Desporto de Rio Maior, os congressos de montanha, eu sei lá. Criou-se um Centro de Formação acreditado e se calhar, como há outras entidades que deviam funcionar e não funcionam, há até aquelas invejas de que “os da Desnível pensam que são uma Federação” quando é apenas uma estrutura que funciona. O lado menos conhecido é o lado mais importante, a biblioteca, que cada vez é maior e mais completa, a divulgação enorme, 2000, 3000 ou 4000 pessoas por ano, a miudagem que experimenta a escalada ou que desce à Gruta de Alvide, as acções de solidariedade e a componente social através de actividades com grupos desfavorecidos e que justificam, só por si, manter a associação. Por exemplo, levar um grupo de miúdos do Bairro Alto, enquadrados por assistentes e psicólogas da Misericórdia e que alguns nunca tinham visto o mar; levá-los da Praia da Adraga ao Cabo da Roca, com uma pequena escalada pelo meio. Nós somos muito finos e não nos lembramos da quantidade de malta que não tem ninguém que lhes dê a chance que nós tivemos, de ter acesso aos sítios mais bonitos que há e à escalada.

ou pessoas que não têm ideia de como dar segurança. Conheço muito boa gente que escala topo-de-gama ou que anda em alta montanha e não sabe o mínimo de auto-resgate, de primeirossocorros ou que não faz a menor ideia como é que se saca um gajo que caiu numa crevasse, ou como é que se faz rappel sem um descensor.

Em 39 anos que escaladas mais te marcaram?

O Fojo. Quando no meu curso de iniciação, em 71, dei de caras com aquele paredão lá à direita, aquilo ficou sempre ali um bichinho. Depois, com várias pessoas, nunca havia uma pessoa fixa, foram anos e anos, primeiro os primeiros 10 metros e depois mais 5… e havia passagens chave como a saída para escalada livre depois do primeiro tecto. É um bocado estranho como uma coisa que para os parâmetros da escalada na Europa era uma cagada bestial, mas para mim… eu sempre tive um nível de prudência acentuado, mas lá se fez a Alampa, da primeira vez com um bivaque a meio numa plataforma. Aquilo foi um marco. As diversas vias da Noiva, também, das quais agora só se escala a da face Sul. E também a face Oeste do Cântaro, apesar da estrada. Nos Alpes, gostei A Desnível é importante imenso do Cervino, da também pelos cursos de travessia Charmoz-Grepon, formação? por ser extremamente Os cursos são uma longa, da Meije e do Dru muito pequena parte da que é fantástico, o Esporão Desnível. São 100 ou 200 Frendo. E as grandes vias de pessoas por ano. Eu acho que rocha. Acampar na base das é importante. A maioria das Agulhas de Chamonix ou na pessoas acaba por aprender Vallée Blanche a quase 4000 com os amigos, mas os m e ficar ali a fazer uma amigos não têm o costume de via diferente todos os dias. debitar a matéria toda, ou às Sair de madrugada, subir vezes nem sequer a sabem. 500 ou 800 m na ponta da Os cursos são discutíveis, unha, sempre quase ao nível mas se houver uma série de máximo de dificuldade e matérias para dar, tudo bem depois rappel para baixo e estruturado, isso é dado! amanhã há mais. E a sensação Paulo Alves na Face Norte do Gran Paradiso, 4061 m. Alpes Italianos, Enquanto quando se vai fantástica de fazer isso numa 1996 (foto: Pedro Pacheco) escalar com os amigos há cordada fixe, tudo bem feito muitas coisas que ficam por aprender, como o factor de queda, e depressa que em montanha não se brinca. a força de choque, auto-seguranças, conceitos ou coisas que convém ver ou fazer pelo menos uma vez na vida, porque às Também pelo facto da tua mãe ser americana o Yosemite vezes vêem-se coisas que não cabem na cabeça de ninguém. Por nunca te fascinou? Não, para mim era muito mais os exemplo, no Espinhaço é frequente ver pessoas francamente da Alpes e a escalada alpina. Talvez porque quando pensasse no El desportiva, com expresses extremamente curtas e passados uns Capitan, já não tinha equipa nem unhas para isso. A limitação metros estão com um atrito tal que nem conseguem ir para cima da equipa foi sempre muito determinante, mas eu penso

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as pedras e eu nunca. Tive sorte talvez. Outra vez foi com uma grande trovoada mesmo ao chegar ao cimo, numa aresta. O amigo com quem eu estava panicou com um relâmpago mesmo ali, estava numa aresta e atirou-se para fora da aresta. Não sei como é que o aguentei e não fomos os dois. Ainda era segurança ao ombro, sem reunião montada. Vi aquilo que se conta, de ver a vida a passar à frente, em câmara lenta, como se estivesse já do outro lado; isso acontece mesmo. Enfim, sorte.

E quedas?

Nos anos 80 lembro-me de duas palermices que foram semelhantes, uma na Guia e outra no Espinhaço. Por acaso com a corda por cima, em top-rope, e deu-me a fuçanguisse de começar a escalar, “eh pá, o gajo nunca mais me puxa a corda!” e começar a subir. Mas de repente qualquer coisa falha e venho por ali abaixo, por sorte o gajo já tinha recuperado um pouco da corda e fico mesmo por cima do chão, mesmo in-extremis. Nessa do Espinhaço ainda mandei a mão a um piton no meio do voo e rasguei a mão toda. Mas eu nunca fui de quedas, era muito raro. Em crevasses também nunca me afundei muito, embora por vezes andasse sozinho ou sem corda em glaciar. Nem nunca tive nenhuma queda séria em gelo.

Episódios divertidos? Houve uma vez que o Zé Luís deixou cair uma das Firé (primeiros pés de gato da boreal) ao mar no Espinhaço e teve que escalar mais de metade da Transatlântica sem uma num pé! … Mas é um divertido relativo… E outro que não tem a ver com a escalada propriamente. No final de umas férias de 15 dias no Covão d’Ametade, na Serra da Paulo Alves na Parede Negra, Cântaro Gordo. Serra da Estrela, 1987 (foto: Vasco Pedroso) Estrela, com um mochilão de 20 quilos, uma daquelas trovoadas e chuvadas que se tivesse tido as condições todas para fazer montanhismo incríveis já a chegar a Manteigas, vem um carro e o Vasco também já não estava vivo. Tenho perfeitamente essa sensação. Pedroso ao desviar-se, no meio daquela água toda não reparou Mesmo assim ainda houve várias vezes que me safei no limite. numa vala de uma conduta que estavam a fazer e caiu dentro, Houve vários sustos à séria. foi água quase até à cabeça!

Algum que recordes em especial? Só à conta de avalanches, dois ou três. Daquelas coincidências de estar sozinho na montanha num ano em que tinha nevado bastante e pouco depois de passar num sítio, haver uma grande avalanche. Dois minutos mais cedo e já não existia! As crevasses não tanto porque é um risco mais controlável. Não sei se há um sexto sentido na montanha porque várias pessoas comigo apanharam com

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Que projectos de vias ou paredes te ficaram atravessados? Houve coisas no alpinismo que me ficaram atravessadas por não ter feito, quando se calhar era mais um bocadinho e tinha feito. Algumas vias na Peneda, a Fraga de Anamão, mas sobretudo paredes alpinas, a face norte do Cervino e do Eiger, a Walker. Teriam sido bons episódios para culminar 3 ou 4 semanas de vias, mas não aconteceu.


Paulo Alves num bivaque antes da partida de madrugada para o Corredor Norte da Tête de l’Etret, 3559 m. Ecrins, Alpes, 1983 (foto: Edward)

Talvez por uma questão de personalidade eu sempre tive um hábito de ser bastante prudente e isso levou-me às vezes a um certo exagero, por exemplo nos Alpes ia sempre com um impermeável, com equipamento de frio caso tivesse de ficar lá no monte e com comida à séria, não é cá uma maçãzinha como vejo por aí. Digamos que me penalizava um bocado em termos de peso e isso terá sido uma das razões porque não fiz aquelas grandes vias que um dia gostava de ter feito. Se arriscasse mais em termos de ir um pouco mais leve, se calhar as coisas correriam um pouco melhor.

Que aspectos da escalada te atraem mais? Identificas-te com alguns escaladores actuais em Portugal? Escalar é contactar com sítios muito bonitos. É estar na paisagem. Arrábida, Serra, Alpes ou Andes tanto se me dá. É estar nesse ambiente. E é estar entretido com o movimento, os passos de escalada, seja rocha ou gelo. A Daniela (Teixeira) e o (Paulo) Roxo são uma dupla com quem eu simpatizo imenso e de quem eu me sinto muito amigo. Têm um pouco o espírito de antes, mas adaptado aos tempos de hoje. Os tempos mudam e os companheiros também e fazer uma boa equipa tem muito a ver com tolerância. Mas não me identifico com ninguém actualmente. Gosto do estilo do Doug Scott, que há poucos meses e já muito limitado esteve a escalar com o Pedro Pacheco. Do Jean Troillet, que há pouco abriu uma via na Face Norte

do Cervino. Gosto de escalar com a Daniela e o Roxo, com o Francisco Silva ou o Pedro Pacheco.

Paulo, para acabarmos, aos 56 anos, idade com a qual a maioria dos portugueses já só pratica o futebol de sofá, continuas a escalar e tens ainda alguns projectos? E já agora, é verdade que continuas a não usar magnésio? O magnésio era mais uma complicação, meter lá a mão a meio dum passo chato e cansar-me ainda mais. Claro que na sopa das presas da Guia, no Verão, era essencial, quando eu escalava lá. Usei durante uns anos e a pouco e pouco fui deixando. Às vezes emprestam-me, mas eu ando a poupar-me; gosto muito disto e evito passos muito duros para evitar mais lesões. Projectos não tenho, já não vivo isto com tanta intensidade. É mais ir escalando, tentar ir a sítios bonitos, algumas viagens, estar com pessoal que gosto e que também gosta disto. Mas gosto de ver que a escalada e a montanha estão bem por cá. Com muito mais gente, gente divertida, grupos amigos, grupos grandes e não só cordadas isoladas, pessoas que vejo que gostam mesmo disto. Há mais abertura, menos grupos fechados e parece-me que menos rivalidades feias. Talvez haja uma certa criancice do grau e da competição mútua, mas pareceme que sem grandes birras. E há muita gente a escalar, até no gelo, na Serra e a ir lá fora. Até nalguns anos há 3 ou 4 cordadas no Himalaia e muitas nos Alpes. Há futuro. FCS/FA

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O

Existirão no mundo outras paisagens, mais belas, mais grandiosas ou mais inacessíveis, cumes de montanhas, picos rochosos esculpidos contra os céus ou paredes virgens de rocha perfeita, mas ainda assim, por nenhuma outra trocava este pedaço único de paisagem da costa do Cabo da Roca. Pois é aqui, onde o horizonte não cabe inteiro no olhar, que o Ocidente toma o seu outro nome de Poente e que a infinita distância promete o que só o sonho pode cumprir, entre mar, vento e penhascos. Um lugar de fronteira, por vezes em caos inicial e por vezes em paz edénica. Um lugar como não há outro, onde o mar tenha tanto de mar, o céu tanto de céu e entre eles penhascos de granito dourado. Texto: Filipe Costa e Silva Fotografia: Ricardo Alves

P

or um caminho que vai descendo, cruzando um temporário ribeiro e contornando um monte, chega-se ao forte do Espinhaço ou às ruínas que restam dele… e há algo de melancólico nas ruínas, símbolos do tempo que destrói a matéria e a dizer-nos que somos perecíveis. (Afinal, também nós somos uma fortaleza sobre um penhasco, vigiando um oceano e esperando navios que virão ou não, ameaçados de ruína pelas tempestades dos anos). Mas o que hoje são apenas troços das muralhas e um resto do tecto abobadado do paiol, foi outrora um altivo forte que pertencia ao sistema defensivo da barra do Tejo. Edificado em meados do séc. XVII (a primeira

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planta do fortim data de 1693) manteve-se artilhado até 1831, ano em que foi desactivado e lhe retiraram os canhões de ferro e de bronze, os mosquetes e arcabuzes, os quintais de pólvora, os cartuxos e os pelouros. A partir dessa data, à mercê das chuvas e ventos da agreste costa, foi decaindo, pedra a pedra, até se tornar apenas em humilde abrigo de pastores e pescadores. Até um dia em que vieram os primeiros conquistadores do inútil e à beira dessas pedras velhas e cheias de outras histórias, bivacaram, sem sonharem ainda com o tesouro vertical que os separava do mar. Só na manhã seguinte, desse dia já perdido do ano de 1978, descobrem a parede e a partir daí sim, podem começar a sonhar.


um mar revolto, sempre a aรงoitar as rochas e a querer subir a parede, sempre a rugir lรก no fundo e a intimidar-nos, ou seja, sem eufemismos, a acagaรงar-nos,

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Velhas e novas conquistas Apesar de ter apenas uns 100 m de desnível a parede do Espinhaço tem uma grandeza própria que lhe empresta o mar e que torna a escalada especial. Para além dos dias perfeitos, frios e de aderência como lixa, rocha a parecer ouro, com um mar tranquilo e céu limpo, há também os outros dias, os mais habituais… Esses, são os dias com um Sol matador e um calor de torradeira ou os dias cinzentos e húmidos em que a parede ganha uma cor mais escura, reflectindo menos a luz e as colunas de sal cristalizado perdem a beleza diluindose em manchas brancas. Dias com uma omnipresente humidade, devoradora de magnésio, que nos causa suores frios enquanto uma mão escolhe um friend e a outra vai escorregando na presa. E como pano de fundo um mar revolto, sempre a açoitar as rochas e a querer subir a parede, sempre a rugir lá no fundo e a intimidar-nos, ou seja, sem eufemismos, a acagaçar-nos, quando mal saímos da reunião e deixamos de ouvir o assegurador para só ouvir essa máquina de lavar gigante. Outra particularidade da parede é o filão, uma linha de rocha basáltica decomposta que atravessa horizontalmente toda a parede de granito como um fosso de areia e presas movediças a querer impedir a passagem aos escaladores. Mas independentemente das condições da parede, uma coisa é certa, a escalada no Espinhaço deixa-nos sempre boas sensações e muitas das vias são autênticos tesouros por descobrir.

Após duas tentativas anteriores, foi a 19 de Setembro desse ano que estes dois escaladores, com um jogo sortido de 18 pitons, um jogo de entaladores e já com um ou dois friends, terminam em 9 horas e meia a via Normal. Vale a pena, como registo histórico, reportarmo-nos às notas do Paulo Alves sobre a via: “O guarda do refúgio continua filho-da-mãe” Ops, não era esta nota! Esta era sobre a escalada ao Dent du Requin a 5 de Setembro (3422 m, 4 pitons, 16h, Vº, seracs, etc.). Ora cá está a nota certa: “A parte mais delicada da via, em geral muito bonita, é o 3º largo de artificial com maus pitons, bastante aérea, em subprumo para a esquerda. Quatro pitons já lá tínhamos deixado e pus mais 8; duas passagens usando o friend nº 3”. Em três horas estava feito esse largo chave e ouvia-se o martelar de dois bong-bongs na reunião. Para o topo da parede faltava agora apenas uma trepada fácil de III grau.

Estava vencida a parede e iniciava-se assim a década de ouro da conquista deste novo penhasco. Os primeiros largos abertos foram resultado do esforço de muitos escaladores que iam forçando o caminho aos poucos, piton a piton, estribo a estribo, medo a medo, largo a largo, de aventura em aventura, às vezes demorando a conquista de uma via mais de um ano de tentativas dispersas de diferentes cordadas. Do grupo de escaladores mais activos fizeram parte, entre outros, por exemplo, Jorge Matos, Vasco Pedroso, Henrique Cabreira, José Luís Carvalho, Nuno Pardal, Luís Fernandes, Francisco Silva, Rui Neves e José Pereira. De entre todos, sem dúvida que o grande escalador dessa década foi o P. Hoje em dia é difícil ter a noção Alves, presente quase sempre em Paulo Alves em 1987 num passeio pela parede, à procura de do que terá sido para os primeiros todas as tentativas ou aberturas vias novas para abrir (foto: Jorge Matos) escaladores, chegar por baixo a esta de vias, que hoje em dia são parede que se ergue do mar, vê-la inteira de uma vez, virgem, literalmente as clássicas das clássicas. Senão vejamos, em 1984, inconquistada e ilimitada de possibilidades. E depois do espanto P. Alves em cordada com J. Matos e J. L. Carvalho, abrem a via e do esmagamento inicial, sentir a vontade nascer e começar a Direita e em 1985 a Mancha Branca (apenas com J. Matos). procurar com o olhar o que seriam as primeiras vias desta parede Em 1986, os dois agora com o N. Pardal, abrem a Miradouro. e as primeiras aventuras. Essa primeira conquista, privilégio, E para terminar as aberturas de linhas independentes dessa único e irrepetível, coube aos escaladores Paulo Alves e Carlos década, em 1987 com J. Matos, sai por cima da impressionante Teixeira. Estávamos no ano de 1981 e enquanto a maior parte da Transatlântica. Uma espécie de Titanic das vias, que merece bem comunidade actual de escaladores trocava de fraldas ou aprendia a o nome por cruzar para a esquerda grande parte da parede, num tabuada, nascia a escalada no Espinhaço. Presentemente, enquanto ambiente de viagem sobre o mar e com muito boas sensações a comunidade continua a trocar de fraldas e a estudar a tabuada de naufrágio eminente, que ainda hoje em dia impõe respeito do grau, o Espinhaço permanece um grande desconhecido e a sua mesmo aos marinheiros experimentados e bem curtidos. história resta por contar. Aliás, esta via deveria ser considerada como uma visita a um

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A iniciar a década de 90, Francisco Silva e Paulo Gorjão abrem com corda por cima uma das vias mais estéticas e emblemáticas da parede, a Lunática. O Paulo Gorjão, fazendo esta via totalmente em livre, marca também a introdução nesta parede da escalada de dificuldade. Já não se trata apenas de conquistar e de vencer a parede, mas de mudar o objectivo para a forma como se escala. A via, então cotada com o grau de 7a, anunciava um novo tempo, o da exigência de uma maior forma física e técnica de escalada, reservada por isso na altura a uns poucos escaladores. Em 95 e 97, Francisco Ataíde encarregar-se-ia também de repetir em livre as vias Normal (7a) e Miradouro (7a+), respectivamente.

Jorge Matos a fugir ao mar na Via Transatlântica,. Espinhaço, 1987 (foto: col. pessoal P. Alves)

vê-la inteira de uma vez, virgem, inconquistada e ilimitada de possibilidades. E depois do espanto e do esmagamento inicial, sentir a vontade nascer e começar a procurar com o olhar o que seriam as primeiras vias desta parede e as primeiras aventuras. No entanto, apesar do caminho futuro estar já aí indicado, os escaladores desta segunda década insistirão ainda nas conquistas custe o que custar, ou seja, nas linhas de artificial a cruzar os maiores extraprumos, vencidas a estribos, entre terror, medo ou suspense, consoante a qualidade das protecções que entram e das bolas de cada um, numa relação de tamanhos inversamente proporcional. Destas vias há a destacar a Cuba Livre, aberta em 1998 por Ricardo Nogueira e Paulo Roxo, não só por se tratar de uma linha que procura deliberadamente a dificuldade do artificial extremo mas, também, por se realizarem movimentos protegidos por chumbos com grande risco de quedas mais estéticas (do ponto de vista da queda bem-entendido). A via, cotada de A3+ ou A4, dependendo do optimismo de cada escalador, foi repetida em solitário no mesmo ano pelo Francisco Ataíde, feito que causaria horror e espanto a tantos quantos conheciam os temíveis chumbinhos em que era necessário pendurar-se. Dois anos depois seria a vez de Miguel Grilo e João Animado passarem sem serem chumbados, confirmando a horrorosidade da matéria.

Carlos Teixeira na Via da Mancha Branca. Espinhaço, 1985 (foto: col. pessoal P. Alves)

museu de arte da escalada, onde é possível encontrar não só os costumeiros pitons e spits de oito, mas também as elaboradas cunhas de madeira de oliveira e cerejeira, entaladas nas grandes fissuras. Toda uma via que, à medida que escalamos por ela e imaginamos os primeiros a fazê-la, nos ensina a tirar o chapéu ou a dizer como os putos, respect!

O ano 2000 chega e em vez do fim do mundo traz o P. Roxo que abre em solitário a via Kamikaze com um inspirado primeiro largo, logo ali à esquerda onde termina a parede e as ondas nos batem nos calcanhares nos dias mais calmos. Ainda não satisfeito, volta em 2003, desta vez com o M. Grilo e abrem a via Nómadas do Vento, que consegue ainda descobrir um caminho independente até ao topo, ziguezagueando entre extrapumos e diedros bem aéreos. Mas com a entrada do novo Milénio as vias de artificial têm os seus dias contados. Os escaladores que agora vêm experimentar as velhas vias trazem novas palavras no

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Leopoldo Faria (Leo) a fugir à gravidade no Corredor 8 (8a+). Espinhaço, 2008 (foto: Ricardo Alves)


cérebro: em livre, dificuldade, encadear. Em 2001, o F. Ataíde semi-equipa a via Tomatada (8a+) que saindo do 2º largo da Transatlântica aponta a direito para a proa mais estética da parede, um sólido e liso extraprumo que se revelaria um osso bem duro de roer. Este largo, assediado de tempos em tempos, seria encadeado em 2005 pelo Francisco e é ainda hoje o de maior dificuldade do Espinhaço. Nos anos seguintes, as velhas vias de artificial, conquistadas penosamente, a abrir caminho, a descobrir recantos virgens, a contornar blocos oscilantes (e a deixá-los lá!), vão aos poucos sendo vencidas em livre e agora reapreciadas e reavaliadas neste novo estilo. E assim, os “A” das cotações de artificial vão sendo também traduzidos em linguagem de escalada livre e cada vez mais ganham um significado enigmático e obscuro para as novas gerações, que aos pitons e aos estribos só os conhecem agora nas chuteiras de futebol e nos cavalos. Mas os conquistadores do 3º Milénio não se contentam com repetições e as libertações mais acessíveis das velhas vias de artificial depressa acabam. É altura de olhar para os recantos que sobram. E um dos muros extraprumados que sobram não podia ser mais óbvio, mesmo por cima de todas as vias mais clássicas e por onde passa o 3º largo da Cuba Livre. Por aí abrem em 2007 e desde baixo, a pequena via Telefuncken (7a+), a ecléctica tripla, moimême, Leopoldo Faria (Leo) e Fernando Pereira. Encostados na coragem uns dos outros vão vendo passar, umas atrás das outras, grandes, sólidas e boas televisões de marca alemã, onde dava um filme que era à vez de terror para um e de suspense para os outros dois. No mês a seguir o Leo abre também nesse

muro, mas com protecções fixas, a via Guantanamo (7c+) de belos movimentos dinâmicos e que, pela sua acessibilidade, foi palco de muitos fins de tarde de esplanada bem passados.

Mas esta via veio também mostrar-nos outra coisa, a pobreza constrangedora do nosso arnês no que dizia respeito à quantidade de friends, isto é, de “amigos”. E de facto, tamanho misantropismo do nosso arnês era inconciliável com a necessidade de amigos para proteger nesta “nova” modalidade, A abertura da via Telefuncken, sem protecções fixas e inicialmente mesmo sem reunião equipada, veio mostrarnos a existência de um possível mundo novo no Espinhaço de dificuldade aliada à auto-protecção de que até aí apenas se podia ter uma ideia na via Palácio da Lua. O entusiasmo de abrir uma via de baixo e com uma regra nova, pelo menos para mim, de custe o que custar “não usar chapas!”, fez-me perceber

F. Costa e Silva num passo duro e a avaliar o friend C3 verdinho nos pés. 2º largo da Cuba Livre (7c), Espinhaço, 2010 (foto: Ricardo Alves)

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Nuno Pinheiro a aplicar os ensinamentos de Indian Creek no 3ยบ largo da Cavalgar o Tigre (7c). Espinhaรงo, 2010 (foto: Ricardo Alves) 28


Nรฃo sobram desafios no Espinhaรงo? Pelo contrรกrio, cada pequeno triunfo abre novas perspectivas e ensina o olhar a procurar novos limites.

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Nuno Pinheiro a recordar a saída aérea da “Esta via não é para velhos” (7c). Espinhaço, 2010 (foto: Ricardo Alves)

intensamente que a verdadeira beleza da escalada clássica está ligada à progressão limpa e ao desafio da auto-protecção. Afinal a escalada podia ser astronomicamente mais interessante e ali, naquela via, agarrado à televisão, protegido por um friend que na altura julgava ser micro demais e hoje sei que aguentava um elefante numa queda de factor 2, redescobri que existe mais do que conquistar, mais do que a dificuldade e conseguir encadear, existe uma forma limpa de escalar que é indissociável do próprio jogo da clássica. Mas esta via veio também mostrar-nos outra coisa, a pobreza constrangedora do nosso arnês no que dizia respeito à quantidade de friends, isto é, de “amigos”. E de facto, tamanho misantropismo do nosso arnês era inconciliável com a necessidade de amigos para proteger nesta “nova” modalidade, pois para vencermos essa curta via tivemos que reunir amigos e entaladores emprestados de três abnegados proprietários. Para estes escaladores, que agora começavam a olhar para todos os buracos e na forma de lá enfiar um amigo, era chegada a altura de fechar os olhos e abrir os bolsos ao investimento na dispendiosa amizade de ferro.

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Ainda no ano de 2007, mas já com cinco amigos novos e imbuído deste novo espírito by fair means, roubado ao Messner e transposto para a escalada em rocha, abro com o Nuno Pinheiro a via Cavalgar o Tigre (7c). Apesar de ter sido basicamente uma experiência de conquista, essa abertura de baixo e à descoberta, a terminar numa reunião de amigos pendurada sobre o mar, era a confirmação das minhas suspeitas mais profundas, estávamos a aproximar-nos da essência da escalada clássica. Olhar para cima e apenas ver rocha, liberdade absoluta na escolha do caminho e dos movimentos, responsabilidade só nossa pelas decisões tomadas, passar sem deixar marcas como a ave no céu…Tudo isso me dizia intuitivamente que estávamos no caminho certo. Outra particularidade desta via seria também a de ser aberta segundo a fórmula já usada na Cuba Livre, a dois tempos, de cima para baixo mas sempre de baixo para cima, isto é, abriramse primeiro os 3º e 4º largos e só mais tarde o 1º e 2º largos. Em 2009, esta via seria encadeada em livre pelo F. Ataíde e em 2010, repetida a colocar o material pelo Nicolas Favresse e por mim, mas com a diferença que eu chegaria à reunião já sem ouvir nada desde o terceiro friend colocado. E este “sem ouvir nada”,


F. Costa e Silva desce da Cavalgar o Tigre com a máquina de lavar gigante ao fundo. Espinhaço, 2010 (foto: Ricardo Alves)

não era por estar num estado Zen de concentração absoluta que me impedia de ouvir o mundo, mas por ter os cotovelos tão apontados ao céu que me tapavam as orelhas!

existe mais do que conquistar, mais do que a dificuldade e conseguir encadear, existe uma forma limpa de escalar que é indissociável do próprio jogo da clássica. No ano de 2008, depois de fazermos em livre a Nómadas do vento, ficando esta com um desportivo grau de 7c, chama-nos a atenção a via JMN aberta em artificial por José Carlos e João Schiapa (1996) e que segue uma estética fissura extraprumada. O fanatismo (ou a “fuçanguisse”) de abrir esta linha em livre, mas com uma variante de entrada mais fácil de proteger, leva o

N. Pinheiro a comprar meia-dúzia de friends marcianos (a.k.a. alliens) de um dia para o outro para a podermos encadear. O resultado seria uma excelente e recomendável linha em livre, baptizada de “Esta via não é para velhos” (7c) e encadeada por velhos. E porque se fala em recomendações, é preciso também falar da via número 1 do best of, aquela que seja como for é preciso provar, saborear e levar para casa, a Palácio da Lua (7b). Porque se todas as paredes têm uma via emblemática, no Espinhaço é esta. E mesmo tratando-se de um largo isolado no topo da parede e sem grande vazio sobre o mar, esta fissura extraprumada oferece uma escalada de qualidade inigualável, num ambiente descontraído de cerveja e tremoços e com uma vista de luxo. Para mais, dela se conta uma história, transformada já em lenda, que teria sido aberta nos anos oitenta por um misterioso e fortíssimo escalador de fissuras japonês, oriundo de Shangri-la, descendente de Matusalém e assegurado pelo próprio Buda.

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Como mínimo, temos pelo menos o dever de salvaguardar o futuro, não cometendo o pecado mortal do Cesare Maestri, e deixar espaço para os grandes sonhadores,


Presente

Futuro

As velhas vias libertadas, a Tomatada encadeada e repetida, o Tigre cavalgado e domado… Não sobram desafios no Espinhaço? Pelo contrário, cada pequeno triunfo abre novas perspectivas e ensina o olhar a procurar novos limites. Ajudados pela evolução do material, como por exemplo, o aparecimento dos micros C3, proteger o antigamente impensável passa a ser sinónimo de BD (Bastante Divertido). A barreira do impossível retrocede vários passos e onde outrora era preciso passar medo, bolas de aço e protecções de chumbo, agora apenas é preciso dois ou três novos pequenos amigos. Assim, se por um lado algumas velhas vias terroríficas passam a ser um passeio no parque, os horizontes que se abrem prometem novos desafios para o futuro, porque é preciso ter sempre pelo menos uma linha para sonharmos com ela ou para não nos deixar dormir. No início de 2009, o Nuno Pinheiro vira-se para o possível último recanto do Espinhaço e abre duas linhas para o futuro no bem visível extraprumo por cima do 4º largo da Transatlântica. Mas o futuro chega bem depressa e uma das linhas, a via Cornudo (nome que evoca a facilidade de lá se malhar com os cornos na rocha), é provada, conquistada e resolvida no início de 2010, mas não encadeada. Resultado: sobe-se a fasquia da qualidade e da dificuldade e obtém-se mais uma linha potencial vendedora de prozacs. Também, fruto de uma rápida investida do Nico Favresse, surge uma vaga ideia de libertação da via Heróis da BD, mas esta seguramente com uma dificuldade estratosférica e por enquanto ainda no limbo dos sonhos por realizar. O seu comentário depois de experimentar essa via seria “a Cobra Crack cheira a leite ao pé desta!”. Um pouco mais à escala das nossas forças e fraquezas, o Nuno fala-me de ir ver a Cuba Livre e o que por lá se pode fazer em livre. Começamos pelo 2º largo e com surpresa e entusiasmo vamos descobrindo as presas e a melhor maneira de proteger a via. Uma específica mas das melhores sensações destes desafios é aquele misto de dúvida e optimismo da possibilidade ou não de fazer em livre uma via de artificial. Experimentar com alguma ansiedade os friends nos buracos mais raros, todos os tamanhos de entaladores na fenda que os cospe, calcular percentagens mentais entre o “à bomba” e o “mero enfeite” e no fim decidir pela positiva e aceitar os incertos riscos. Uma semana depois este largo tombava, encadeado em livre pelo Nuno. Infelizmente, o 1º largo, com os passos resolvidos a entrar numa fissura que evita as famosas “chapas do mal”, não se deixaria provar de baixo devido a uma insistente escorrência de um Inverno demasiado Inverno para o nosso gosto. Este 1º largo, se feito em livre e apenas com auto-protecções, vai merecer também destaque pela imponderável exposição e certa dose de adrenalina, contribuindo assim para a DDR (Dose Diária Recomendada) dos escaladores que dela necessitam. Para quem quiser repetir esta via em livre e sobretudo para o 2º largo, recomenda-se que siga a máxima: “friends of my friends are my friends”, especialmente os micros deles.

Nuno Pinheiro a encaixar um allien azul enquanto ordena aos cotovelos que se mantenham baixos. Cuba Livre (7c), Espinhaço, 2010 (foto: Ricardo Alves)

Para além desses desafios, uma tarefa também para o futuro é a de remover o material fixo que foi apodrecendo na parede, substituído, mas ficando por lá, como velhas reuniões e spits carcomidos. Outras remoções necessárias são as das plaquetes acrescentadas pelas vias, sem conhecimento dos abridores e ofensivamente ao lado de fissuras perfeitas. Como exemplo, esta pequena e verídica história: Um escalador nos anos 90, leva um principiante (hoje um catedrático da nossa praça) a escalar uma das vias mais clássicas da parede. Vai subindo e a dada altura, pela humidade, dificuldade ou outra razão qualquer, resolve abandonar. Deixar material ou desenrascarse? Não. Saca do burilador e trata de fazer um furo para deixar uma plaquete e abandonar tranquilamente. E assim ao longo dos anos, anarquicamente, sem ética definida, algumas vias foram perdendo as características do seu espírito original e sobretudo sofrendo em qualidade. A escalada clássica é sem dúvida um terreno de jogo muito sensível que sofre com as visões pessoais do “cada um faz o que quer” que por tendência natural impera na comunidade de escaladores. Como mínimo, temos pelo menos o dever de salvaguardar o futuro, não cometendo o pecado mortal do Cesare Maestri, e deixar espaço para os grandes sonhadores, para aqueles que precisam da liberdade absoluta, da rocha vazia, espaço para o impossível de hoje. Que tristeza maior pode haver, para quem na escalada clássica procura escapar à lógica limitada da desportiva, do que chegar a uma parede e ver chapas desnecessárias por todo o lado? Vias sinalizadas como ruas urbanas, balizadas com chapas a piscar ao sol e a indicar por onde ir como polícias de apito estridente, pronto a furar-nos os tímpanos da liberdade dos gestos. Porque se as paredes podem ser isso, reduzidas a desafios físicos e a máquinas de esticar os limites das fibras musculares, também podem ser outra coisa que transcende o simples desafio equacionado num número. As paredes podem ser palco de demónios internos, jogo de xadrez contra si próprio jogando com as pretas o medo, cave escura e varanda sobre abismos em nós, espalhafatos de circo ou silêncios de velórios na presença do morto que poderemos vir a ser, consultórios de psicanálise verticais que não se pagam, trombetas que acordam dos seus profundos sonos heróis que desconhecíamos ou bestas feitas de medos, invejas e coisas negras… E a pequena parede do Espinhaço consegue por vezes ser todas essas grandes coisas.

Acta est fabula

Quando ao final do dia, no lusco-fusco de um Sol que se afundou no Atlântico, saímos por cima da parede do Espinhaço, é como se viéssemos de um teatro onde estivemos a representar o nosso verdadeiro papel. E o Sol a Poente é o baixar do pano sobre nós próprios. Os dias no Espinhaço são sempre dias especiais.

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Guia do Espinhaço

Dormir Sintra e Cascais são lugares turísticos e dispõem de uma oferta hoteleira variada. Uma opção barata é ficar no Parque de Campismo do Guincho, um parque agradável, localizado junto à praia e a apenas 10 km do Espinhaço. Por estar inserido num parque natural, o campismo selvagem é proibido, especialmente nas zonas de perímetro florestal. Dormir em carrinhas ou autocaravanas, mesmo junto à costa, è tolerado.

Introdução No ponto mais ocidental da Europa e da serra de Sintra, a 40 km de Lisboa, localiza-se o Cabo da Roca. A Sul do cabo e na direcção da praia do Guincho estendem-se várias baías de paredes graníticas, das quais o Espinhaço se destaca.

Sintra/ Colares

Água e comida Na Azóia existe um bar, uma fonte e lojas de artesanato. Na Malveira da Serra, o café/padaria Panisol serve de ponto de encontro para os escaladores locais, existindo também um pequeno supermercado. Em Sintra e Cascais encontraremos de tudo.

Vias a não perder

Cabo da Roca

Via da direita e Normal, as mais clássicas;

Azoia

Lunática, incrível e estética; Peninha

Cavalgar o Tigre e Esta Via não é para Velhos, as melhores da nova geração, 100% desequipadas; Tomatada, incrível e difícil;

edi

nh

Palácio da Lua, a fissura mais perfeita, ideal para acabar o dia se ainda nos sobra alguma força;

B ol a

Rua da Pa r

a Ru

Espinhaço

m po

da

P

a do Ca

Bar O Moinho

Cascais/ Malveira

Acesso A melhor maneira de chegar é de carro, apesar de ser também possível chegar de comboio desde Lisboa, até Sintra ou Cascais e depois de camioneta até á povoação da Azóia (2 km antes do Cabo da Roca). Da Azóia em 20 minutos a pé chegamos ao Espinhaço. De carro, apanhar a A5 em direcção a Cascais e sair na saída 12 (Malveira/ Aldeia de Juso). Cruzar a Malveira da Serra e seguir em direcção a Colares e ao Cabo da Roca (N247). Depois de uns 8 km virar à esquerda na direcção do Cabo e uns 300 m depois, pouco antes da Azóia, virar de novo à esquerda por uma estrada de terra entre muros de pedra, passando pelo Bar “O Moinho”. Continuando por um estradão de terra, passar à esquerda de um campo de futebol e virar à direita na bifurcação seguinte (indicação “Westerra”) e imediatamente à esquerda. Seguir pela primeira à direita, pela Rua da Paredinha, e cerca de 200 m mais à frente estacionar ao pé de uma casa grande. Daqui, descer a pé, passando duas casas pequenas até o estradão se converter num caminho. Neste ponto temos duas opções: pela esquerda, seguindo um caminho evidente, se queremos descer até á base da parede ou pela directa se queremos chegar ao seu cimo e descer em rappel. Pela direita, atravessaremos a linha de água chegando ás ruínas do forte do Espinhaço que estão por cima da parede (10’).

Época A melhor época é de Outubro a Abril apesar de que o clima suave permite escalar todo o ano. No verão a parede está à sombra pela tarde e as temperaturas são razoáveis. O vento e a altura das ondas são os factores mais determinantes das condições de humidade. Em período de nidificação, a escalada pode estar sujeita a restrições pelo que o Parque Natural de Sintra-Cascais deverá ser consultado.

Cuba Livre, a mais extrema de artificial; Transatlântica, a mais longa e de maior aventura.

Material Para a maioria das vias, será suficiente um jogo de entaladores, um de microfriends e um de friends até ao Camalot 3, repetindo alguns números pequenos. Umas fitas e expresses longas são fundamentais e uns estribos para os largos de artificial.

Descida Pode-se descer a pé ou em rappel. Para o rappel, o mais prático consiste em deixar uma corda fixa até ao chão (70 m) desde a última reunião da Via da Direita (fácil de localizar por baixo do sector do Palácio da Lua) ou fazer um rappel suspenso de 50 m (com cordas duplas ou com uma corda fixa) até uma plataforma (1ª reunião da Normal) e depois outro rappel de 25 m. Também é possível, embora seja pouco prático, descer com uma corda de 60 m em 3 rapeis (atenção que o primeiro rappel extrapruma e é necessário colocar algum material).

A visitar Património: Sintra, Património da Humanidade, é local de visita obrigatória, destacando-se o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros, a Quinta da Regaleira e o Palácio e jardins de Monserrate. Natureza: a costa de Cascais até à praia Grande, pelas suas paisagens e praias, é fantástica. A Serra de Sintra pela sua magia e vegetação é outro local a não perder. Gastronomia: a Piriquita é a pastelaria mais famosa de Sintra, onde encontraremos os excelentes Travesseiros e as Queijadas de Sintra, mundialmente famosos. Alternativas: a poucos kilómetros está Sintra com as suas centenas de blocos e vias de excelente granito, a Guia, falésia de calcário com cerca de 100 vias e Casal Pianos, a Meca portuguesa das fissuras. O Guincho è também o paraíso do Surf, Windsurf e Kitesurf.

Download de Croqui 34

Francisco Ataíde a ver se esta via é para ele na “Esta via não é para velhos” (7c). Espinhaço, 2010 (foto: Ricardo Alves)


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ALBARRACIN

paraiso do boulder no levante espanhol 38


©Ricardo Alves

Um escalador espanhol a apertar num 7B do sector Techos

Texto: João Magalhães “Rasta” Fotografia: Ricardo Alves

Na província de Teruel da Comunidade de Aragon, mais precisamente na serra onde nasce um dos nossos rios mais importantes – o Tejo – encontra-se uma pitoresca vila medieval com as suas imponentes muralhas, casas e sinuosas ruas. Esta vila, rodeada de rocha calcária, esconde a escassos quilómetros uma imensidão de blocos de arenito vermelho com uma predominância de tectos e extraprumos para todos os níveis, gostos e feitios. Albarracín!

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Isabel Boavida no Danger block (6A+) do sector Sol com “spoting” da Teresa e Rita Silva

”Leo”poldo Faria a experimentar o clássico Apeadero (8A) no Sector Arrastradero

©Ricardo Alves ©Ricardo Alves

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Hoje em dia, quase todo o escalador que se preze já esteve ou já ouviu falar nesta actual Meca do bloco espanhola. Não tão longe como Fontainebleau, mas com qualidade e já longe o suficiente para merecer verdadeiras rock trips e para mover iguais multidões, ávidas de espremer presas em tectos, saltar de puxador em puxador, agarrar aplátes sem rasgar a preciosa pele ou contemplar e apreciar aquela rocha avermelhada de peculiares formas ao estilo Grand Canyon. Quando pela primeira vez ouvi falar desta zona, tinha começado a escalar há pouco tempo e o que ouvi deixou-me muito intrigado, pois apenas conhecia o granito sintrense e o calcário da Guia. Claro que logo na minha primeira grande rock trip, perto dos Pirinéus, depois de me separar dos meus companheiros de viagem, Pena e David, que seguiram até Itália numa grande rambóia, decidi ir conhecer Albarracín. Enquanto seguia pelo caminho, rumo a esta Meca

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©Ricardo Alves

tão falada, como ia sozinho deixei-me levar pelas fantasias de uma zona completamente diferente do que conhecia. À chegada, deparei-me com a pitoresca vila medieval, mas nada de blocos. Foi apenas com muita sorte, que ao seguir umas indicações para as pinturas rupestres através de uma pequena estrada que seguia para a montanha, encontrei os primeiros blocos do sector Cabrerizo. Claro que na altura não fazia a mínima ideia de onde estava e com o meu elevado grau de 6A, fiz força, apertei aplátes, matei regletes e desfrutei de puxadores, enfim, escalei. Senti tudo aquilo que os escaladores procuram sentir quando se aventuram pelos calhaus. Conheci uns espanhóis que também escalavam por lá e colando-me à trupe acabámos por escalar até altas horas da noite, com a luz da lua quase cheia, num ambiente que era no mínimo místico. Acompanhados de cerveja e gargalhadas, falando eu pouco ou nada de espanhol, bivacámos


©Ricardo Alves

©Ricardo Alves

Devido à constante “mutação” da rocha de Albarracin, Mário Inocêncio tem a hipótese de voltar a encadear o Jabayolas (7B) com novo método.

por ali, debaixo de um tecto e mais tarde fiquei a saber que era o “techo don pepo”, um dos famosos blocos do sector Cabrerizo. A estadia foi curta, pois voltei para Portugal no dia seguinte, mas o “bichinho” já estava plantado. Passaram-se os anos e Albarracín tornou-se mais conhecido, com muita gente forte a passar por lá (Iker Pou, Christian Core, Ivan Luengo, etc.), atraídos pela característica escalada, forte e atlética. Entretanto, expandiu-se, novos sectores foram descobertos, milhares de linhas foram abertas e nomes como Supernafamacho (7B+), Esperanza (7A) ou Karmancia (7C), ficaram inscritos nas mentes dos insaciáveis bloqueiros. E nós, cá no nosso canto da península, fomos sorrateiramente assediando os

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blocos. Sérgio Martins, Carla Dias e Júlio Braga, foram dos primeiros a ir experimentar este tipo de rocha que não existe nas nossas bandas, mais tarde, visita após visita, muitos outros escaladores viriam também para mandar abaixo muitos dos mitos bloqueiros da zona de Albarra. A fome de arenito vermelho cresceu dentro dos bloqueiros portugueses, fazendo-nos voltar todos os anos, quase como numa peregrinação à Meca bloqueira peninsular, para admirar linhas como La trav. de Klem (8A+) e Beautiful mind (8B+), tentar agarrar as inexistentes presas do Mardi Gras (7B+), lançar e voar no Campana (7C), acabar com os cotovelos no El

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O Belga Nicolas Favresse no espectacular Varano 8A

Carlos “Bibs” Barbosa, aplica-se na saida do Senhor das Moscas (7B)

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Mário Inocêncio a arquear e a “aplatar” com cara de comprometido

Succionador (7B+), descobrir a razão do nome do Senhor das moscas (7B) ou simplesmente disfrutar/passar medo no altíssimo País das bicicletas (7A). Às vezes, até escolhendo este belo local mais que uma vez no mesmo ano, não só pelas magníficas oportunidades para escalar como também pelo soberbo convívio que se vive por lá, entre o grupo em que se vai e entre todas as outras pessoas que lá estão, auxiliado também pela atitude muito descontraída dos espanhóis. Este convívio é ainda mais acentuado quando se escolhe ficar a dormir pelo estacionamento grande, onde todos os dias se conhece gente de todas as partes e se partilham truques e saberes da vida de escalador sovina ou sem dinheiro para grandes viagens.

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A altura propícia para se escalar, dizse, será entre Setembro a Novembro, mas como já comprovámos na nossa festa anual na altura da passagem de ano, mesmo com neve e muito frio, se escala e se aperta (geralmente até doerem as mãos) e quando assim é, a própria vila transparece coberta de branco envolta numa nova mística. Na realidade, devido à sua situação geográfica a escalada é ali possível durante todo o ano, como eu e o João Pena (aka, Pena ou ex-gordinho motivado) testemunhámos numa viagem por Espanha durante os quentes meses de verão. Enquando chovia em todo o lado ou estava tão quente que se estrelavam ovos na rocha, em Albarra não só estava seco como se mantinha uma temperatura fresca de manhã e à tardinha. Nesta altura mais quente, abrem-se também


André Neres a sobreviver ao Survivor (7B+) do Sector Sol

Gonçalo Franco na versão mais fácil do Apeadero (7B)

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Ricardo Alves a largar a máquina fotográfica e a apertar no Manu Chakra (7B+)

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outras oportunidades, viver durante uma semana ou duas no estacionamento grande, dormindo ao relento e tomando banho no rio mesmo à saída da vila ou na espectacular cascata no Molino de S. Pedro, perto de Toril. Ao pé de Albarracín, existe ainda o Molino Viejo que possui um abrigo de montanheiros com churrasco, lareira interior, cascata para banhos e um cenário espectacular no fundo do vale rodeado de rocha e árvores. Claro que depois de um dia a espremer sumo da rocha, para rematar e tornar o dia perfeito, não há nada como uma cervejinha fresca, estar quente e seco, rodeado de outros escaladores e gabar os feitos do dia. E para isso o Molino del Gato é o ponto de encontro para os orgulhosos guerreiros da pedra, com as suas cañas altas e inúmeras revistas de montanha, um excelente bar repleto de escaladores e amantes da montanha, sem contar que até há pouco tempo possuía croquis actualizados pelos

próprios escaladores. Mas para quem quiser, o Camping de Albarracín tem croquis e uns bungalows fantásticos, que já serviram para várias festas tugas. Para além da escalada atlética e dos blocos sem fim, existem percursos pedestres por toda a zona que na sua maioria percorrem as pinturas rupestres existentes, da idade do ferro, características desta zona e responsáveis pela fama cultural da vila, ou seja, uma óptima janela para a história antiga deste lugar. Albarracín é sem dúvida um destino a não perder para todos os fanáticos da rocha que prosperam por aí.

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Sérgio Martins a procurar a reglete do mal

©Alexandre Mar

©Alexandre Marques

©Alexandre Marques

es ©Alexandre Marqu

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Super-nafamacho (7B) num perfeito dia de frio

Rui Pereira, o maior escalador português num 7A+ do Sector Entre aguas


ALBARRACIN ZARAGOZA PORTO MADRID

ALBARRACIN TERUEL

LISBOA

rques

Teruel 38km

Camping Albarracin

Ciudad de Albarracin

6Km

Lisboa > 910 Km Porto > 836 Km Faro > 857 Km

Dormida:

A cidade de Albarracín tem ofertas de alojamento para todos os gostos: hotéis, aparthotéis, apartamentos e um camping com bungalows. Acampar fora do camping é proibido. No Inverno as temperaturas são muito baixas, algo a ter e conta para quem pretende dormir em carrinhas. Camping Ciudad de Albarracin > Link Croquis: Bungalow 4 pessoas - €69 noite E Bloc BoulderTopo > Link Bungalow 6 pessoas - €95 noite Croqui Gratuito > Link Hotéis com preços desde €30 por noite > Link

Compras/alimentação: Em Albarracín temos minimercados, talho, padarias e uma farmácia. Quem procurar um hipermercado com preços mais acessíveis terá que se deslocar a Teruel (38 km). No centro da cidade existem diversos bares e restaurantes e uma pequena discoteca. A Gastronomia Aragonesa é bastante característica, predominando a caça (ex. javali, veado, coelho) e peixes de rio como a truta. Esta região é também rica em fumados como o presunto e outros derivados. O bar mais frequentado pelos escaladores é o “Molino del Gato” onde podemos consultar croquis ou o livro de piadas enquanto se bebe uma caña.

Boulders

Piñar del Rodeno

Tempos de Descanso: Albarracín é uma cidade medieval de origem árabe. Há porém vários exemplos de presença humana, desde a idade do ferro, como o evidenciam as pinturas rupestres encontradas junto às zonas de boulder. A cidadela preserva a traça medieval como poucas cidades europeias e a este facto se deve a candidatura a património da humanidade da UNESCO. Há por isso razões suficientes para visitar a cidade e os seus monumentos. No entorno da Serra de Albarracín podemos também visitar a nascente do Rio Tejo com diversas cascatas e percursos pedestres. Para quem necessite de consultar o e-mail ou a previsão meteorológica, o camping e a Biblioteca Pública de Albarracín possuem internet wireless gratuita.

©Ricardo Alves

El Molino del Gato > Link

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©Nicolas Favresse

O cartão de visita de Nicolas Favresse poderia incluir detalhes como ser conhecido por “o campeão” na Bélgica, ter ficado em 6º lugar num campeonato do mundo, ter encadeado a famosa “Cobra Crack”ou ter escalado grandes paredes em Yosemite, Paquistão ou Torres del Paine. No entanto, para além disso tudo, ele é aquele escalador do Bandolim que connosco partilhou a sua saudável visão da escalada. Caros leitores, fiquem então com as palavras e a particular perspectiva do já nosso Nico “das febras”. 1. Depois das aventuras em Baffin Island, boulder em Sintra!?... O que é que te motiva em Sintra? A mulher de branco… Estou a tentar encontrá-la ;) Estou a brincar! Eu gosto muito de blocar e por isso fiquei super-motivado quando descobri que Sintra era tão bom. Eu nunca vivi perto de uma zona de bloco e assim foi uma excelente oportunidade para me dedicar ao bloco. Ainda por cima, em Sintra há linhas muito boas, existem imensos blocos, muitos projectos e é um sítio espectacular. Mesmo que não escale estou contente só por estar no meio da floresta. 2. Depois de escalar em diferentes falésias em Portugal, de

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Sagres à Serra da Estrela, passando por Poios, Meio Mango, Cabo da Roca… O que é que te surpreendeu mais? Fiquei altamente surpreso com a quantidade de diferentes tipos de escalada que podemos encontrar num país tão pequeno. Boas vias de clássica e de desportiva, falésias ao pé do mar e na montanha e em paisagens tão distintas. Eu acho que vocês têm quase todos os tipos de escalada num único país. 3. Se Portugal estivesse à beira de um cataclismo e tu pudesses salvar apenas um pedaço de rocha, qual seria? O “Spiniaso” (Espinhaço)… Eu gosto da paisagem e descobri aí algumas fissuras excepcionais. 4. Como estrangeiro e considerando todas as viagens que já fizeste pelo mundo fora e onde tiveste contacto com outras comunidades de escaladores, como vês a comunidade Portuguesa? Pareceu-me que a comunidade escaladora é muito unida… quase toda a gente se conhece. É bastante diferente de outros lugares onde há tantos escaladores que é impossível conhecer toda a gente. É uma comunidade muito acolhedora. Os escaladores estão sempre a encontrar-se, para ir beber um copo, numa festa, etc. Eu senti-me muito bem recebido pela comunidade, mais, senti mesmo que os escaladores portugueses se preocuparam com que eu apreciasse o meu tempo em Portugal e me divertisse enquanto escalava. 5. Embora a montanha mais alta da Bélgica tenha apenas 700 m e exista apenas uma grande zona de escalada – Freyr – a Bélgica tem uma grande tradição de montanhismo, alpinismo e escalada. Pelo contrário, Portugal tem muitos tipos de escalada,


e

desde bloco a vias e vias de largos, em calcário, granito, basalto e xisto, e tem a Serra da Estrela com uma altitude de quase 2000 m. Como explicas então que aqui a comunidade escaladora seja tão pequena? Deve ser porque Portugal fica muito longe dos Alpes e tem uma linha de costa muito grande. As pessoas viraram-se sempre mais para o mar do que para as montanhas. Também pode ser porque Portugal tem estado economicamente atrás de outros países europeus e por isso as pessoas preocupam-se mais com ganhar a vida do que com divertir-se. Mas penso que no futuro isto irá mudar. Mas para mudar também acho que é necessário que existam mais possibilidades de as pessoas começarem a escalar. 6. Sabemos que Freyr é uma das tuas zonas preferidas de escalada. Aqui em Portugal que zona de escalada se parece mais com Freyr? Nenhuma! Desculpem… Mas Portugal já tem muitas outras coisas que a escalada na Bélgica não tem… Vias tradicionais, falésias junto ao mar, psicobloco, etc. É impossível comparar. Freyr é demasiado diferente.

8. Vens do país da boa cerveja e das batatas fritas. O que é que gostas mais da cozinha portuguesa? As lambujinhas… é quase tão bom como as batatas fritas belgas! ;) 9. Se de repente tivesses de ficar a viver em Portugal para o resto da vida, aonde escolherias viver? Na serra de Sintra… Numa cova escondida e mística perto de um bom projecto. 10. Quais são as melhores e piores coisas na escalada em Portugal? O melhor: é uma comunidade muito pequena. Toda a gente se conhece. O pior: é uma comunidade muito pequena. Às vezes não encontras ninguém disponível para escalar.

12. Diz-nos uma coisa relacionada com escalada que tenhas vivido pela primeira vez em Portugal. Os encontros de escalada. Eu nunca vi encontros como os de aqui. Toda a gente se reúne para descobrir uma nova zona de escalada e depois toda a gente se junta num bom jantar. É uma boa fórmula e mantém a comunidade unida. 13. O SEA dá-te um berbequim, um monte de pernos e de plaquetes para equipares uma via. Aonde a equipavas e porquê? Provavelmente no Meio Mango porque ainda existem

Claro que sim! Sobretudo para um escalador de espírito aberto e disposto a adaptar a sua escalada ao clima e às condições de humidade.

eQueda

Sinto sempre falta de ter mais zonas de escalada à volta.

A vantagem é que podes ser um escalador e também um surfista... Por isso não é preciso trocar nada, apenas combinar a escalada com o surf.

14. Há rocha suficiente em Portugal para motivar um bom escalador a vir e ficar por cá algum tempo?

Tiro

7. Como escalador do que é que sentes mais falta vivendo num país tão pequeno.

11. Vês alguma vantagem em um escalador viver em Portugal? Ou deveríamos trocar as cordas e o material de escalada pela prancha e o fato de surf?

algumas excelentes linhas para equipar.

1. 2.

Qual é para ti a melho Meca e Mei r zona de bl o Mango. oco e de es calada?

A melhor vi a que fizest A fissura no e até agora? to Melhor bloc um bloco “s po do “Spiniasio” (Pal o? ácio da Lua lab” de 7B que fiz o FA no Espinhaç acesso à Es , junto ao po trada da M o) e eca. Placa rtão verde do Merlin que dá Melhor proj ecto em Si Em São Pe ntra? dro, à direit a do Dia da Besta. NailB itter O que é qu e é mais extr Island ou em emo: abrir Casal Pian uma via em os? Em Casal Pi Baffin anos de ce rteza, com a falésia to da a cair ;) Numa pala vra: Meio Mango? Lambujinha s

3. 4.

5. 6. 7. 8. 9.

Em duas pa lavras: Casa Indian Cree l Pianos? k

Em três pa lavras: Serr “Trad”, gran a da Estrel a? ito, fresco

Com quem gravarias um Com qualqu álbum de m er um disp úsica? osto a part ilhar uma “jam sessio n” Ainda acre ditas que o Bélgica? clima em Po rtugal é m elhor que Não. na

10. 11. 12.

Lambujinha s ou batata As batatas s fritas belg fritas. as?

Cervejas: Sa gres ou “D Sagres mas uvel”? só se for nu ma praia po rtuguesa. O que é qu e é mais fá O Portuguê cil: o Portug s, mas apen uês ou o Fl as se vocês vras. amengo? articulassem melhor as palaQual é a ex pressão po “Calme mul rtuguesa qu hiere!” (Cal e mais usas ma mulher! ? )

13. 14.

As montanh as dos Alp Mmm, é co es ou as on mo pergun das do Atlân tar a uma Não posso tico? mãe qual do escolher, pr s filhos pref incipalmen ere… te sob esta pressão po rtuguesa!

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Galeria Fotogrรกfica


André Neres aperta e saca o 1º 8b+ do Meio Mango, tornando-se n’O Senhor das Anilhas.

Fotografia: Alexandre Marques

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Galeria Fotogrรกfica


João e Ricardo Miquel na Baía do Promontório riem-se do largo que os espera.

Fotografia: Fernando Pereira

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Galeria Fotogrรกfica


Uma linha é tanto mais pura, quanto mais original e criativa é! Aqui vemos o Pena e o Bruno a provarem um dos blocos que melhor representa isso em Sintra, a ‘’Loira Insubmissa’’ – 7B/B+.

Fotografia: Ricardo Alves

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Galeria Fotogrรกfica


Carla Dias na Iron man Traverse na Meca mundial do bloco, Bishop!, E.U.A.

Fotografia: SĂŠrgio Martins

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