Jornal Marco - Edição 294

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Fundação Sara conta com a participação de voluntários (f) de idades variadas no trabalho com jovens portadores de câncer. Página 7

TAMARA ELEOTÉRIO

RAQUEL DUTRA

RAQUEL DUTRA

Participantes das oficinas do programa Arena da Cultura, realizado nos centros culturais, fazem presépios com materiais recicláveis. Página 10

Por meio do Programa Valores de Minas, jovens desenvolvem o talento nas artes circenses, cênicas, visuais e também na música. Página 16

marco jornal

Ano 40 • Edição 294 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Novembro • 2012

SURDOCEGOS SUPERAM BARREIRAS DA nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

Comunidades ciganas compõem cenário da capital Há mais de 20 anos acampados em terrenos da Região Nordeste da capital, comunidade cigana sofre com falta de infraestrutura. Sem serviços básicos de saneamento e com instalações elétricas improvisadas, a comunidade aos poucos começa a ser assistida pela Prefeitura. Mas os ciganos ainda reclamam do preconceito, que, segundo eles, se manifesta nas escolas, no comércio e na vizinhança. A cultura e os hábitos pouco conhecidos pela população, geram receio das pessoas em se relacionar com o povo cigano. Página 2 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

COMUNICAÇÃO CÍNTHIA RAMALHO

As limitações que sofrem os surdocegos não são barreiras para o desenvolvimento do aprendizado, desde que sejam diagnosticados e tenham estímulo e acompanhamento profissional neces-

sários. A deficiência é causada na maioria das vezes pela Síndrome de Usher, que ainda não tem cura. Inseridos no mundo acadêmico, são cada vez maiores as possibilidades de uma vida ativa. Atividades

artesanais feitas com as mãos são exemplos do que é aprimorado. Para o médico Agnelo Franco, da Santa Casa, o mais importante é a “inclusão” social dessas pessoas. Páginas 8 e 9

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

Lixo e entulho em áreas públicas causam problemas Apesar da manutenção periódica feita por parte da Prefeitura de Belo Horizonte, pessoas jogam lixo indevidamente em locais impróprios nos bairros Dom Cabral e São Gabriel, nas regiões Noroeste e Nordeste, causando problemas para as respectivas comunidades. Diariamente são

despejados lixo e entulho em canteiros e calçadas, o que gera a proliferação de pragas. No canteiro do Anel Rodoviário (f), são jogados até móveis, confor me relatado por moradores do local. No São Gabriel, placa que proíbe o despejo de lixo tem sido ignorada. Página 3

YASMIN TOFANELLO

Voluntários que levam alegria Seja levando alegria a pacientes de hospitais, como é feito pelo Grupo Doutores da Alegria, ou por meio da construção de sonhos, como faz o grupo Engenheiros da Alegria, os voluntários levam esperança à muitas pessoas. Vestidos de palhaço e tocando músicas, os Doutores da Alegria visitam os pacientes e os motivam a con-

tinuar lutando pela saúde do corpo e do espírito. Da mesma forma, caracterizados por fantasias de personagens infantis, levam carinho e atenção às crianças da creche Sementes do amanhã. Os Engenheiros da Alegria (f) vão além e utilizam o conhecimento adquirido na universidade para realizar reformas solidárias. Página 15


2 Comunidade

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• 2012

EDITORIAL

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É sempre bom receber elogios, críticas e sugestões

REGIÃO NORDESTE ABRIGA COMUNIDADES CIGANAS Mesmo depois de duas décadas morando na Região Nordeste, comunidade de nômades ainda divide opiniões de vizinhos MARCOS TADEU

n

n MARCOS TADEU TIAGO BARBOSA

FABIANA GATTI, 3º PERÍODO

1° E 2º PERÍODOS

A elaboração de um jornal é feita a partir da demanda dos moradores de uma comunidade. Por isso, é válido lembrar que vocês, leitores, têm participação fundamental na construção de um jornal. Não há como fazê-lo sem dialogar com a comunidade, com os leitores, para saber o que de fato é relevante para estar presente nas páginas de nosso jornal. Aqui, na redação, nós, ainda estudantes de jornalismo, aprendemos muito sobre a importância dos personagens que compõem nossas matérias. Não há como escrever uma matéria sem ouvir as pessoas que vivenciam a história contida nela. A palavra crítica soa como algo negativo. As pessoas têm o costume de se ofender com ela e levam, quase sempre, para o lado pessoal. Porém, essa palavra não significa o mesmo que falar mal, tanto que para retirar essa má impressão, surgiu a expressão "crítica construtiva". Na crítica, é possível amadurecer uma ideia e, até mesmo, aperfeiçoá-la. "Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero", reflete o escritor francês do século XVIII, Pierre Beaumarchais. Por sermos estudantes, com média de idade de 22 anos, ainda temos muito o que aprender com os nossos erros e com as críticas recebidas ao longo de nossa caminhada. Ser monitor no Jornal MARCO é passo importante para o nosso aprendizado como alunos de jornalismo e futuros jornalistas. Todo processo envolve o saber ouvir críticas, elogios e aceitar sugestões. É aqui que temos a oportunidade de trabalhar nossas habilidades, de aperfeiçoar aquilo que nos é sugerido e aprender com quem tem muito a nos ensinar. Além disso, na redação, podemos pôr em prática o que exercitamos em sala de aula, o que torna ainda mais enriquecedora a nossa experiência e formação. A prática é etapa relevante, pois é através dela que se pode vivenciar o dia a dia de um jornalista e conhecer a rotina de uma redação de jornal. Estamos em constante aprendizado, desde o início da definição de quais matérias irão compor uma edição até o fechamento. E vocês, leitores, nos ajudam nessa caminhada quando se dispõem a ler nossas matérias, sugerir reportagens, a criticar, a elogiar, a nos receber para uma entrevista, a reclamar, a solicitar e, principalmente, a nos motivar. Agradecemos a vocês que fazem parte de nossas matérias e nos ajudam a fazer um jornal sério e respeitoso. É assim que sentimos a importância do nosso trabalho e a certeza de que sempre haverá pessoas zelando para que ele seja capaz de cumprir o objetivo de origem, que é o jornalismo comunitário.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Profº. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Alessandra Girardi Coordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Profº. Jair Rangel Editor: Profº. Fernando Lacerda Subeditores: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa e Profº Mário Viggiano Editor Gráfico: Profº. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Carolina Sanches, Fabiana Gatti, Felipe Augusto Vieira, Ígor Passarini, Joana Aragão, Michelle Oliveira (São Gabriel) Monitoras de Fotografia: Yasmin Tofanello e Raquel Dutra Monitora de Diagramação: Marcela Noali Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

Mais de 100 famílias ciganas, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, vivem na Região Nordeste da capital, muitas delas no Bairro São Gabriel, há mais de 20 anos, mas, apesar do tempo, a convivência nem sempre tem sido harmoniosa. Os integrantes da comunidade cigana local se consideram vítimas de preconceito. Em contrapartida, moradores vizinhos relatam problemas causados com instalações elétricas irregulares, bebedeiras e brigas. A cigana Cristina Aparecida do Amaral, 25 anos, conta que as crianças da comunidade sofrem nas escolas do bairro discriminação pela cultura e os adultos, ao visitarem as lojas de tecido no centro da cidade, são seguidos por funcionários. "Nós não precisamos roubar. Do mesmo jeito que existe cigano bom, existe cigano ruim, do mesmo jeito que tem os brasileiros bons, tem os ruins. Se estamos na rua para comprar alguma coisa, é porque estamos com dinheiro, e não precisamos fazer isso. Mas pelo fato de sermos ciganos, ninguém acredita", desabafa. Ao ser perguntada sobre a rotina de sua cultura, Cristina afirma que as mulheres cuidam dos filhos e dos afazeres domésticos, enquanto os homens tratam dos cavalos de manhã cedo. "As meninas estudam até os 10 anos. Quando completam 11 ou 12 anos vem o pai do rapaz e pede para casar. Daí armamos uma barraca e fazemos festa durante um mês, com forró e bebida", relata. A cigana também informou

A cigana Cristina Aparecida, de 25 anos, diz que enfrenta dificuldades em períodos frios e chuvosos que há certo suporte da prefeitura em relação ao seu povo. Segundo ela, todos têm liberdade para frequentar o Centro de Saúde do bairro. "Em junho de 2010, a assessora do prefeito veio a uma reunião e pediu no posto para que acabasse o preconceito", relata. Para Cristina, a população cigana tem mudado alguns hábitos nos últimos anos. "Somos conhecidos por viajar, mas agora não estamos viajando mais não. Vivemos em lugares da prefeitura", conta ela. A cigana ainda relata que as maiores dificuldades são o frio e a chuva. "Nós já acostumamos aqui. O ruim é quando chove. Molha tudo. Quando chove granizo, fura toda a lona e aí temos que comprar outras", explica Cristina. Alguns moradores da região de maior concentração de ciganos, na altura da Via

240, não escondem o incômodo causado pela presença de ciganos. Eles relatam que já houve muito problema com instalações irregulares nos fios de energia elétrica e que é comum os homens ciganos se embebedarem no bar, e depois causarem brigas. "Há uso de drogas entre alguns da comunidade cigana", conta Breno Welbert de 19 anos. Ainda na opinião do estudante, o número dos ciganos tem crescido muito. Ele acredita que logo a população vai estar exageradamente grande. Outros moradores, ao contrário, elogiam os vizinhos e garantem que eles não causam transtorno algum. Morador do bairro Belmonte, José Orlando de Almeida, 49 anos, diz não se incomodar com a presença do povo cigano. "Eles são legais, não perturbam ninguém nem nada, são tranquilos. Fazem festa e

chamam todos do bairro", conta José. O problema, segundo o morador, é que a comunidade cigana necessita de maior atenção da prefeitura para o saneamento. "A única coisa que falta é um lugar para eles se higienizarem", explica. De acordo com Altemas de Oliveira, 57, outro morador e barbeiro na região há 25 anos, os ciganos são tranquilos e não apresentam problemas. Segundo informações da Prefeitura de Belo Horizonte, têm havido muitas tentativas de inserir a cultura e o povo cigano nas políticas públicas. Uma dessas iniciativas foi a realização do Seminário de Promoção de Igualdade Racial da Regional Nordeste, ocorrido em junho deste ano, em que uma enorme tenda foi erguida na sede da secretaria, à semelhança das habitações ciganas.

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“Venho parabenizar toda equipe do jornal pelas importantes matérias veiculadas. Sou leitora do jornal há mais ou menos uns três anos, desde que me mudei para o bairro. Esta edição 293 está especial! A matéria sobre a Eva me emocionou! Os esclarecimentos sobre a questão de animais nas calçadas e os dejetos deixados por seus donos irresponsáveis. Fiz um recorte e coloquei na minha geladeira sobre a lei e os direitos e deveres dos donos de cães (aqui em casa tenho 2 cadelas e um gato). Continuem firmes nessa missão de divulgação de midia escrita e física (não sei se é assim que se diz). Com o advento da internet, achei sinceramente que os jornais e livros teriam um fim eminente, mas vejo que estava enganada. Deixo uma sugestão de matéria, posso? Tenho circulado pelas ruas do bairro próximo ao EPA e percebo a presença de inúmeros mendigos. Que tal o jornal levantar essa questão? O que fazer para amenizar o sofrimento dessas pessoas? Qual a história delas? O que os abrigos e Prefeitura estão fazendo para que eles tenham tratamento digno? De onde vêm? Para onde vão? Espero estar contribuido. Quero deixar aqui o meu mais carinhoso abraço a todos voces, guerreiros e guerreiras do MARCO!”, Leda Silveira A Equipe do Jornal MARCO agradece os elogios e a sugestão de matéria que está contemplada nesta edição, na página 4. Sentimos-nos honrados por termos leitores como você. Afinal, são situações como essa que nos motivam a continuar trabalhando com e para a comunidade. Atenciosamente, Equipe do Jornal MARCO


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Comunidade

Novembro • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas FELIPE AUGUSTO VIERA

LIXO É DESPEJADO NO CANTEIRO CENTRAL DO ANEL Diáriamente são despejados desde materiais de construção a móveis velhos no local, o que gera inúmeros transtornos, como a proliferação de ratos e escorpiões nas residências n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 5º PERÍODO

Diariamente, os moradores da Avenida Itaú, via marginal do Anel Rodoviário que liga os bairros João Pinheiro e Dom Cabral, na Região Noroeste de Belo Horizonte, observam o despejo de lixo e entulho no canteiro que divide as duas vias, sobretudo, conforme observado pelo MARCO, em frente à passarela que liga o Dom Cabral ao Bairro Dom Bosco. Anteriormente, segundo Maria das Graças Borges dos Santos, mais conhecida entre os vizinhos como Lia Borges, vice-presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, o lixo era despejado na passarela mesmo, e atualmente, por mais que os moradores peçam para não despejarem lixo lá e que a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) limpe periodicamente, o local está sempre sujo. Em nome da associação Lia entrou com um pedido de plantio de árvores e flores

no canteiro, com o intuito de inibir a degradação do local. Segundo o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura de Belo Horizonte, (SAC), o pedido de Lia foi protocolado em 31 do agosto de 2012, e está em andamento. Foi feita uma vistoria pela Gerência Regional de Jardins e Áreas Verdes da Regional Noroeste (Gerjav-NO), e o plantio foi autorizado entre os números 671 e 947 da Avenida Itaú. Como os plantios na cidade são feitos entre os meses de setembro e fevereiro, ainda está no prazo para que a solicitação de Lia seja atendida. "O que tem que se fazer é o plantio, o mais rápido possível", diz Lia, esperançosa por uma solução. Enquanto não é feito o plantio no canteiro, Lia queixa-se do agravamento da sujeira. "O pessoal já jogava lixo e entulho antes, só que agora está pior, e, por isso, agora tem buracos de rato no barranco do canteiro central. Os ratos atravessam a via, e tem tido

barata e escorpião também", descreve. Sobre a origem do despejo, Lia diz que são tanto pessoas de fora do bairro quanto os próprios moradores do Dom Cabral que jogam lixo e entulho no canteiro. "São pagas pessoas que levam entulho com carrinho de mão para despejar no canteiro. É jogado guarda-roupa, sofá, colchão, enfim, tudo que é velho jogam lá", afirma. Adilson Ló, 49 anos, tem uma serralheria às margens da via, e diz que sempre pede às pessoas que vê despejando entulho e lixo para que não o façam, já que às vezes são os próprios moradores da via que fazem a manutenção do local, com capina e limpeza. "Eles jogam entulho e móveis. Mais para o final do ano aparece sofá, cama, tudo, porque isso o lixeiro não leva. O ponto de coleta de lixo é na esquina, que é da rua, e o pessoal daqui chega e leva o lixo ali na esquina. Mas quando eles colocaram mobílias, os próprios lixeiros já chegaram e censuraram e o pessoal não colocou mais. E

Moradores das proximidades relatam ver pessoas com carrinhos de mão levando entulho para o canteiro o que fizeram? Jogaram do outro lado", afirma. Ele também se lembra que antes havia um bota-fora junto a um ferro-velho que não era cercado, onde o entulho era despejado, onde ainda podem ser vistas várias caçambas, há alguns metros de sua serralheria, próximo à passarela que liga os bairros João Pinheiro e Califórnia, próximo à BR-040, mas, quando o proprietário do local fechou a área é que o problema piorou. Assim como Lia, Adilson se incomoda com os ratos oriundos da sujeira do local. "Dá muito rato, e eu nem vou dizer rato não, é preá! É cada rato enorme", descreve. Ele recorda que às vezes, mal tinha sido feita a limpeza, com um trator e um caminhão de coleta, meia

hora depois já havia despejo de entulho. A vendedora de hortaliças, Eni Moreira Elias, 70 anos, moradora do outro lado da passarela, no Bairro Dom Bosco, contou que uma vizinha foi recentemente picada por um escorpião, oriundo do entulho. Zélia de Souza Assis, 78 anos, há 30 anos no bairro, suspeita que o despejo é feito à noite, já que sempre observa o caminhão de limpeza passar de manhã, enquanto Lúcia de Oliveira, 77 anos, diz já ter visto jogarem animais mortos no canteiro. "Junta mosquito, rato, eles jogam bicho morto, e às vezes nem é gente daqui, porque costuma parar carros de madame, que jogam sacolas com bicho morto, e eu já vi várias

vezes saírem do carro, jogarem e irem embora. Às vezes vem o pessoal, limpa, junta o lixo, e quando é noutro dia, aparece o lixo que jogaram a noite. O caminhão vem, o pessoal varre, mas à noite aparece mais lixo", conta. Segundo a Assessoria de Comunicação Social da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (SLU), na última vistoria feita pela fiscalização do orgão, o local se encontrava limpo. É feita coleta domiciliar na Avenida Itaú todas as segundas, quartas e sextas-feiras, e a varrição, todas as quintas-feiras. Já quanto à limpeza do Anel Rodoviário, é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Lixo em calçada gera problemas n DIEGO COTA PEDRO FONSECA TIAGO BARBOSA WELLINGTON PEREIRA 1 ° E 2° PERÍODOS

As calçadas do Bairro São Gabriel tem sido alvo de reclamações à Prefeitura de Belo Horizonte, devido ao fato de possuírem grande quantidade de entulhos e lixos. Moradores insatisfeitos têm reclamado da reincidência dos locais afetados e do risco para a população provocado por trechos de calçadas cobertos de entulho, tendo o pedestre que caminhar pelas ruas dividindo espaço com os carros. A continuação da Rua São Dimas, atrás do campus da PUC Minas, é alvo de algumas pessoas que jogam principalmente entulho de construções e animais mortos, o que causa transtorno a outros moradores, como conta José de Assis, 69 anos. "Uns jogam (lixo), a Prefeitura vem e limpa, aí outros tornam a jogar, cortam uma árvore,

limpam um lote aí joga os 'trem' ali (sic)", conta. Segundo Assis, vereadores do bairro enviam caminhões para recolher o lixo quando há reclamações de moradores. Ele diz ainda que a placa "Proíbido jogar lixo e entulho", instalada pela PBH, há mais ou menos seis meses não fez com que pessoas deixassem de jogar entulho no lote. A placa em questão traz em letras grandes a inscrição "PONTO LIMPO", além de advertir que "lançar resíduos neste local constitui crime ambiental". Quanto a outras informações presentes na placa é difícil a visualização por estar pichada. Está pichado também o número da lei que rege tal advertência e o número para o qual os moradores devem ligar para informações e reclamações: 156. Placas como essa, segundo a PBH, são colocadas em pontos já críticos e mapeados pelas regionais. José de Assis conta que há projetos de vereadores para asfaltar a rua há mais de quatro anos, mas nada PEDRO FONSECA

Moradores insistem em jogar entulho e lixo na Rua São Dimas, mesmo com placa de proibição

ainda foi feito e informa também que animais nocivos à saúde estão surgindo por causa do descaso. "Rato, está fazendo fila", diz. "Até material de hospital eles já jogaram aqui", acrescenta Maria Azevedo, 57, também moradora do local. A continuação da rua segundo os moradores foi bloqueada pela prefeitura para evitar o acúmulo de lixo e entulho, mas não foi suficiente. Flávia Cristiane, 37, possui comércio próximo ao local de reclamação, e se diz insatisfeita com o problema que não é resolvido "Eles colocaram essa placa, mas não está adiantando porque o pessoal joga lixo ali, denuncia e não resolve nada", salienta. Ela ainda diz que as mesmas pessoas que jogam lixo, às vezes, colocam fogo, causando assim mais transtorno aos moradores e pedestres que passam pelo local nestas horas. "Antes tinha lixo que fedia mesmo, agora não, eles colocam mais são esses galhos, outro dia colocaram guarda-roupa, coisas desse tipo", afirma a comerciante. Flávia também relata que a falta de fiscalização no lote atrai mendigos, usuários de drogas e assaltantes, assim, ela diz que evita transitar pelo local. "A última vez que eu passei fui roubada, aí eu parei. Isso foi onze e meia da manhã.", conta. Ela ainda diz que a prefeitura "demora muito" para cortar o mato e podar as árvores, o que facilita a ação de assaltantes. Luiz Fernandez, 52, é morador do bairro há 25 anos, diz que sempre passa pelo local para ir trabalhar e que a situação já foi pior antes da placa implantada pela Prefeitura. "Aqui eles colocavam era caminhão de entulho, colocaram essa barreira para o pessoal não colocar lixo aqui", conta. Segundo Luiz, tratores já tiveram que retirar entulho certas

vezes devido ao grande acúmulo e diz que o quadro piora muito com chuva. "Tem um bueiro ali, lá na ponta, ele é bem grande para suportar esse tipo de coisa, mas vira e mexe entope", afirma. Raquel Cindra, 35, é moradora do bairro e se diz insatisfeita com as condições que se encontram as calçadas do bairro, principalmente, da Rua Djalma Cassimiro de Araújo que está nesta situação "há muitos anos". Em um determinado trecho da rua pode-se constatar dois aglomerados de entulho há menos de 50 metros um do outro que segundo a moradora, se encontra ali há mais de quatro meses. "Minhas meninas caem direto, eu agora seguro é no braço dessa pequena aqui", afirma Raquel Cindra, para mostrar sua insatisfação com os buracos e desníveis das calçadas por que passa para buscar as filhas na escola. Filomena Campos, 62, moradora do bairro há 44 anos, diz que o trecho mais crítico da rua, é "um depósito de lixo", e a situação é recorrente há quatro anos. Ela diz que já fez denúncias à Prefeitura, mas a situação volta a se repetir. Ernildo Batista, 37 anos, conta um pouco sobre a dificuldade de um cadeirante pelas ruas do bairro. "Com certeza não é fácil não, têm muitos lugares aí que a Prefeitura tem que adaptar", afirma. E ainda mostra sua indignação maior devido ao período eleitoral. "Em época de eleição têm muitos vereadores que vêm aqui e fazem várias promessas, mas fazer que é bom nada", completa. A Gerência Regional de Comunicação Social Nordeste (GercomNE) diz que as informações foram repassadas para as gerências de Limpeza Urbana e de Regulação urbana, que são responsáveis. De

acordo com a Gercom-NE, todas as medidas possíveis são tomadas para evitar o acúmulo de entulhos em vias urbanas. As ações são periódicas, porém, é preciso realizar campanhas de conscientização para que as pessoas entendam os riscos de acumular entulhos em vias públicas e lotes vagos. O gerente Júlio Cesar Soares ainda afirma que são mapeados os pontos mais críticos, para uma fiscalização efetiva, e para o recolhimento quando há necessidade. Segundo Júlio Soares, a conscientização é algo que influi na cidadania das pessoas. "A gente vai na segunda, na terça, na quarta e na quinta, as pessoas continuam jogando entulho lá, então sempre vai ter entulho, isso é uma questão de cidadania das pessoas", afirma. Quanto aos buracos, ele observa que o período chuvoso 2011/2012 foi um dos mais intensos nos últimos anos, o que contribuiu para o surgimento de buracos e acrescenta que a PBH faz um trabalho constante para tentar atender as solicitações dos moradores. "A Regional Nordeste foi a que melhor atendeu, a gente tem um índice de redutividade de buracos próximo a 85%", afirma Júlio Soares. "A partir do momento que o cidadão reclama que abriu um buraco na sua rua, e ele faz reclamação na Prefeitura, a gente tem no máximo um prazo de dez dias úteis pra tapar este buraco. Então, é importante entrar em contato e deixar o registro no SAC pelo 156". Segundo o gerente há no Bairro São Paulo uma URPV (Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes) onde os moradores podem solicitar carroceiros que levam para a unidade o lixo que, depois, é destinado a aterros, e tem funcionamento de 8h as 17h.


4 Comunidade

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SÃO GABRIEL ENFRENTA ROTINA DE CRIMES Apesar de fazer parte do projeto Rede de Vizinhos Protegidos e mesmo com a redução no número de homicídios, a insegurança ainda é grande. Região sofre com a falta de efetivo militar AMANDA NOVY

n EMANUEL GONÇALVES IZABELLA SIQUEIRA LUCIANO CRUZ 2º PERÍODO

Pouca iluminação, casas e construções abandonadas, lotes vagos e grande movimentação de estudantes e moradores na área comercial. Favorável para a ocorrência de crimes, esse é o cenário de algumas das ruas do Bairro São Gabriel, na Região Nordeste. Em meio ao clima de insegurança, moradores e alunos da PUC Minas reclamam da falta de policiamento. Apesar da 24ª Companhia do 16º Batalhão da Polícia Militar estar localizada no bairro, assaltos são comuns, principalmente à noite, nas ruas principais e na passarela que dá acesso à unidade da universidade, no Anel Rodoviário. Foi o que aconteceu com Lorenne Liziane Rodrigues Lauton Spínola, 29 anos, aluna do 6º período do curso de Comunicação Social da PUC Minas. A estudante diz que foi abordada por um assaltante quando cruzava a passarela, por volta das 19h30min. "Eu estava falando ao telefone, quando um rapaz de aproximadamente 18 anos puxou meu cabelo por trás. Quando me virei, ele estava armado e já anunciou que era um assalto. Na hora eu não pensei muito bem, dei um soco nele e a arma dele desequilibrou. Ele ainda tentou dar uma equilibrada, mas eu comecei a correr. Quando olhei ele estava

correndo para o outro lado", conta. Lorenne afirma ainda que chegou a relatar o ocorrido à 24ª Companhia, que fica em frente à unidade da PUC Minas, na Rua Walter Ianni, 80, mas não sabe dizer se isso foi devidamente registrado. A aluna acredita que deveria haver mais policiamento na área. Desde 2009, o Bairro São Gabriel faz parte do projeto Rede de Vizinhos Protegidos, implantado pela Polícia Militar em conjunto com os moradores. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Bairro São Gabriel, Sebastião José de Freitas, 82 anos, o projeto funciona bem, mas existe o problema da falta de efetivo militar. "A PM aqui sempre tem reclamado muito da falta de efetivo, mas a associação tem sempre exigido e cobrado deles. Aqui (no São Gabriel) o local mais perigoso é no final da Rua Guarabira. Ali há matança por causa de dinheiro, de drogas. Quando não matam, deixam o corpo em um lote vago. Mas como a rua é fechada, as viaturas não conseguem passar naquele local", afirma. Sebastião diz que já chegou a ligar para a 24ª Companhia e escutar do policial que o atendeu que não havia nenhum outro policial no local. "O povo cobra da associação mais segurança e eu tenho cobrado da PM, com ofícios pedindo mais segurança. Se não resolver, já deixei

avisado (na 24ª Companhia) que iremos ao Comando Geral (da PM). E eu observo que eles não têm cumprido, sempre usando como desculpa a falta de efetivo", observa. Segundo o Tenente Abílio César da Conceição, da 24ª Companhia, a Polícia Militar trabalha com prioridades. "A Polícia otimiza recursos. Não adianta colocar 20 viaturas num bairro. Isso vai coibir o crime ali, mas e os outros bairros? Uma viatura patrulha três ou quatro bairros dentro de um determinado intervalo, com itinerários programados. A 24ª Companhia, por exemplo, é responsável pelos bairros São Gabriel, Dom Silvério, Ouro Minas e os aglomerados do entorno, como a Vila da Sopa, Vila Esportiva e Três Marias", afirma. Apesar disso, o tenente diz que houve, por exemplo, uma queda no número de homicídios na região. "Nós temos monitorado esses crimes. Toda ocorrência registrada vai para o banco de dados, para monitorarmos a incidência criminal. Nos primeiros 14 dias do mês de outubro, houve uma queda de crimes violentos em relação ao mesmo período do ano passado. Nós tivemos dez crimes nesses primeiros dias de outubro, assim como no mesmo período do ano passado. Contudo, não houve homicídios. Portanto, houve uma redução de crimes violentos em geral, mas não em relação a roubos. E os assaltos

Passarela sobre o Anel Rodoviário, que dá acesso à PUC Minas do Bairro São Gabriel, costuma ser alvo de bandidos têm se concentrado mais na área comercial", conta. Ainda segundo o Tenente Abílio, alguns dos locais de maior risco do Bairro São Gabriel estão próximos à PUC. "Esses bairros (São Gabriel, Dom Silvério e Ouro Minas) estão cercados por aglomerados e pelo Anel Rodoviário, que é um local de fuga fácil. No São Gabriel, por exemplo, os locais em que ocorrem mais crimes são as Ruas Ilha de Malta e Anapurus e a BR 262, na altura do Posto Verona", destaca. Sobre a situação na Rua Guarabira, o tenente diz que a Polícia Militar trabalha com o sistema de polícia comunitária, com o envolvimento de segmentos da sociedade como estudantes, moradores e co-

merciantes. "O que acontece na Rua Guarabira é que lá há o que eles (moradores) chamam de parque abandonado. Ali ficam usuários de drogas. A polícia vai lá abordar, mas para eles não voltarem para o local, alguém tem de cercar (o terreno), por exemplo. De quem é a responsabilidade? Da prefeitura, de um particular? Um lote vago com capim alto é um local propício para esconder bandidos. Esse envolvimento comunitário é para delegar responsabilidades. A sociedade precisa distinguir o que é função da polícia e o que é função da própria sociedade", diz. No caso da passarela que dá acesso à PUC Minas, sobre o Anel Rodoviário, o Tenente Abílio afirma que não é um dos lo-

cais de maior incidência de crimes. "Aquela passarela é um local propício para a ação do bandido. Mas pelo nosso acompanhamento, os crimes acontecem nos pontos de ônibus, dos dois lados do Anel, entre 22h e meia-noite. Esse é o horário em que mais ocorrem crimes por aqui", aponta. Segundo o tenente, o próprio aluno pode tomar algumas medidas para sua maior segurança. "O estudante, ao atravessar a passarela, não deve fazer isso sozinho, mas em uma turma de cinco ou seis, por exemplo. Celular é moeda para o tráfico de drogas. Correntes de ouro, relógios caros, tudo é moeda para o tráfico. Se o cidadão se proteger, ele vai deixar de ser uma vítima em potencial do crime", finaliza.

Moradores de rua incomodam comércio e clientes YASMIN TOFANELLO

n JOANA ARAGÃO 3º PERÍODO

Não é de hoje que as pessoas que circulam pelo Bairro Coração Eucarístico vêm enfrentando problemas relacionados à presença de moradores de rua e pedintes na região. Eles se sentem acuados e precisam, muitas vezes, alterar as rotinas para amenizar os medos, enquanto proprietários e funcionários de estabelecimentos comerciais da área reclamam, principalmente, das consequências sofridas nos negócios por conta dessa situação. Na edição 289 do MARCO, de maio de 2012, a reportagem "Comerciantes do Coreu reclamam de pedintes" já denunciava essa situação. A presença de moradores de rua na porta de estabelecimento comerciais já era tida como incômodo, tanto para proprietários e funcionários como para os clientes dos locais. Em

muitos casos a abordagem por parte dos pedintes trazia desconforto e até mesmo receio a essas pessoas, que se sentiam incomodadas, também, com o mal cheiro exalado por alguns. À época, o Capitão Nilson da Silva Porto, da 4ª Delegacia de Polícia da Região Noroeste, foi contactado pela equipe do MARCO e afirmou que todas as medidas possíveis, como a instalação de câmeras de segurança pelo bairro e a circulação de uma viatura da polícia, já haviam sido tomadas. Seis meses depois, a situação ainda se mantém a mesma. Hugo Eugênio Alves, 48 anos, há 24 anos gerente do restaurante A Granel, conta que os clientes ficam incomodados com os pedintes. "Eles ficam incomodando os clientes, pedem para tomar conta de carro, mas não tomam e só aprontam. Tem muita gente que não gosta", descreve. Ele acrescenta, ainda, uma expe-

Hugo Eugênio acredita que pedintes podem ser um incômodo para clientes riência pessoal ocorrida há poucas semanas que acarretou em um grande prejuízo financeiro. "Há um mês quebraram o parabrisa do meu carro, me deu um prejuízo de R$ 2 mil e eu não pude fazer nada. Os clientes reclamam bastante disso. Já morei aqui no bairro e esse problema acontece desde

que eu me entendo por gente", finaliza. Para Geralda Teixeira, 43anos, funcionária da Droganorte, a situação já foi pior. "Antes eles frequentavam essa área com mais frequência, todos os dias ficavam sentados na porta, mexendo na balança e incomodavam bastante. Mas, ultimamente, eles

sumiram, não tenho visto. Não foi preciso tomar nenhuma atitude", diz. Apesar de concordar que a presença dos pedintes pode causar incômodos e constrangimentos para os clientes, ela afirma que o estabelecimento em que trabalha nunca passou por situações constrangedoras relacionadas à isso. "Nunca houve um problema maior, nem com cliente nem conosco da drogaria. O que incomodava era mais a invasão do espaço, porque a maioria dos clientes tem medo, por mais que a gente fale que já conhece e que eles não fazem nada", afirma. Ambos concordam, parcialmente, que em algumas situações basta conversar e pedir que eles se retirem dos estabelecimentos para que o quadro seja revertido. "Às vezes, eles pediam água ou alguma outra coisa e a gente procurava dar. Porque é melhor fazer amizade do que ficar ameaçando. Por isso,

com a gente, eles obedeciam, se pedíssemos pra não ficar na porta, eles saiam", relata Geralda. Já para Hugo, a conversa nem sempre rende resultados positivos com tanta facilidade. "Os mais velhos atendem quando pedimos para saírem dos passeios. Agora os mais novos, quando usam drogas, são um pouco mais complicados, a gente tem que saber como falar com eles", finaliza. Luiz Henrique Santana, 33, é funcionário da loja Perfil, morador do bairro e também afirma que os problemas que enfrentou nunca foram de grandes proporções. "A presença deles deixa os clientes um pouco receosos. Já tive problemas com urina e fezes no passeio e somos nós que precisamos limpar", conta. Apesar disso, ele diz não ter recebido nenhuma reclamação por parte daqueles que frequentam a loja em que trabalha.


Comunidade Novembro • 294

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ACADEMIA A CÉU ABERTO NO COREU Instalados há cerca de três meses, na pista de cooper localizada na Via Expressa, os aparelhos de ginástica estão sendo cada vez mais utilizados por pessoas de diferentes faixas etárias FELIPE AUGUSTO VIEIRA

n FELIPE AUGUSTO VIEIRA 5º PERÍODO

Há cerca de 90 dias, foram instalados 13 aparelhos de ginástica na área de lazer localizada entre a Avenida Presidente Juscelino Kubitscheck e a Rua Craveiro Lopes, ao lado da Via Expressa, no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste da capital, como parte do projeto da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da Prefeitura de Belo Horizonte, Academia a Céu Aberto. O espaço já era muito utilizado pelos moradores dos bairros do entorno, como Coração Eucarístico, Minas Brasil, Padre Eustáquio, Gameleira e Salgado Filho, para caminhadas, além de ter também uma pista para montain bike, uma pista de skate e um half pipe. Dos aparelhos instalados, tem um alongador para músculos superiores, de rotação dupla vertical, rotação dupla diagonal e rotação vertical, também para membros superiores, um simulador de remo, simuladores de cavalgada e de caminhada, esqui, que exercitam os músculos inferiores, um multi-exercitador, com cargas para as pernas e braços e um chamado surf, para exercitar quadris e abdome. Agora, com os aparelhos instalados, cada vez mais pessoas estão frequentando a área de lazer para fazer atividades físicas. Thays Gomes, 16 anos, moradora do Bairro Alto dos Pinheiros, apreciou muito os aparelhos. "Eu acho melhor que academia viu! Primeiro porque é bem mais espaçoso, é em uma área livre, e também porque não é tão chato como estar em uma academia", afirma. Thereza Raquel Monteiro, 19 anos, moradora do Bairro Coração Eucarístico, já frequentava o local para fazer caminhadas e frequentava também academias, e pela primeira vez estava experimentando os aparelhos. Ela acha que a carga dos aparelhos é leve para quem já está acostumado a se exercitar, e que o entorno da área de lazer é um pouco poluído, por estar entre vias com fluxo intenso de veículos. "A pista, eu

Pessoas de várias faixas etárias e bairros do entorno do Coração Eucarístico utilizam os aparelhos para complementar a atividade da caminhada frequentei muito pouco, porque acho que aqui em volta é muito poluído, tem muito barulho e é muito cheio. Para fazer caminhadas não era legal. Quanto aos aparelhos, tem um que simula corrida que eu achei muito leve. E esses de carga para as pernas também são bem leves, mas, para o pessoal de mais idade, acho que vale", diz. Opinião compartilhada por Rafael Lima, 27 anos, morador do Bairro Gameleira, também frequentador há mais tempo e que faz musculação. Ele acha que um pouco mais de peso nos aparelhos seria o ideal. "São excelentes os aparelhos, ainda mais para as pessoas idosas, mas, mais um pouquinho de peso seria o ideal, e para as pessoas de terceira idade e que não têm condições de pagarem a uma academia, é muito bom", ressalta. Wilma Maria Guimarães, 55 anos, moradora do Coração Eucarístico, usa os aparelhos desde que foram instalados, e vai todos os dias da semana, entre 4h30 e 5h ao local. "Depois que colocaram os aparelhos, todo mundo

adorou, inclusive minha amiga que vem comigo, assim como todo mundo com quem converso aqui no Coreu, que dizem ter gostado muito. Achei que ficou muito bom, pois fazemos meia hora de caminhada e meia hora de exercícios, então fazemos tipo um circuito", comemora. Raimunda Santos, 69 anos, do Bairro Salgado Filho, que pratica exercícios com seu marido, Mauro Campelo, 75, passou a frequentar o local quando ficou sabendo dos aparelhos. "Andávamos na Avenida Tereza Cristina, mas lá tem sujeira de cachorro, tem esgoto na rua, que a gente tinha que ficar pulando toda hora. Então aqui é um lugar mais limpo, arejado, e não temos tanta preocupação com acidentes também", justifica. Já Amósio Gomes Rodrigues, 50 anos, passou a ir menos à academia que frequentava de três a quatro vezes por semana. "Eu acho que isso aqui melhora a qualidade de vida do pessoal. Isso aqui deu oportunidade para muitas pessoas fazerem certos exercícios que nunca fizeram na

vida", observa. Porém, ele ressalta as diferenças entre os exercícios praticados ao ar livre e os que são feitos em academias. "Aqui atende um pouco, não é tudo do que precisamos fazer na academia, que é totalmente diferente", pondera. "Aqui está dando um ibope legal. Nós que estamos aqui no dia a dia, estamos vendo diversas caras novas que não vinham aqui antes e que agora estão vindo", diz Evandro Pinto Silva, 53 anos, morador do Dom Cabral e frequentador do espaço, junto com o filho, Rodrigo Pace, 14 anos. "Para quem está começando, os aparelhos são bons, o peso é ideal, mas depois, por exemplo, no meu caso, que quero ganhar massa muscular, o ideal são os exercícios feitos em academias mesmo", afirma Rodrigo, que pretende ingressar em uma academia. Visitando a família que mora no Bairro Padre Eustáquio, Augusto Jesus Filho, 67 anos, residente em São Paulo, também gostou de se exercitar nos aparelhos, na primeira vez que visitou

a área de lazer. "Em São Paulo tem um pouco, muito mais simples que esses no Parque Ibirapuera, que é um lugar que o pessoal procura mais para fazer caminhadas. Aqui, é como uma academia, só que ao ar livre", compara. Muitos idosos também têm utilizado os aparelhos, para quem na verdade eles foram projetados, segundo Marcelo Araceli, chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da Prefeitura de Belo Horizonte explicando o motivo de a carga ser mais leve. "O foco dos equipamentos é para a terceira idade. O peso é igual à média de um corpo humano, e deve ser assim para não haver riscos de lesão", afirma. Ainda segundo Marcelo, de 2010 até julho deste ano, eram 14 locais com os equipamentos, e, por meio da emenda parlamentar do deputado estadual Marques Abreu, ex-jogador do Atlético-MG, que, por meio de parceria com o Governo do Estado de Minas Gerais, ajudou a viabilizar o projeto Academias a Céu Aberto nas praças, foram instalados equipamentos em mais 34 locais da cidade, totalizando 48 academias. "A expectativa geral é que todas as praças da cidade tenham os aparelhos até o final de 2014", diz. Já quanto ao uso correto dos aparelhos pelos usuários, Marcelo diz que, além das placas contendo orientações sobre a finalidade e para quais músculos serve cada equipamento, a secretaria pretende disponibilizar profissionais de educação física para orientar os exercícios, em dias alternados se for o caso, dependendo da demanda. Quinzenalmente, por meio de outro programa da Prefeitura, o Caminhar, seis profissionais e dois estagiários vão aos locais para fazer monitoramento das atividades físicas e da pressão arterial dos usuários. "Esse monitoramento é feito de 7h às 10h, de segunda a sexta-feira, podendo variar o dia da semana. É afixado nos locais quando vai haver o Programa Caminhar", informa Marcelo Araceli.

Rua escura é motivo de preocupação no Coreu n MATEUS SANTOS TEIXEIRA 1º PERÍODO

Os moradores da Rua Dom Joaquim Silvério, no Bairro Coração Eucarístico, estão insatisfeitos com a falta de iluminação pública. Eles alegam que o problema causa insegurança e facilita a ocorrência de assaltos. Com o pôr do sol e a chegada da noite, a rua fica escura e em determinados horários deserta. Segundo uma funcionária de um estabelecimento no local, e que não quis se identificar, assaltos ali são comuns. "Há um mês houve um assalto aqui na porta e levaram o carro do cliente", diz. Ela também fala

do pouco movimento nas ruas. "A partir de quintafeira e depois de certos horários, como depois das nove da noite, o local fica mais vazio e os ladrões aproveitam", acrescenta. O problema é notado por outros moradores, como é o caso do estudante Túlio Henrique Coelho Coura, 19 anos, que estuda durante a noite na PUC Minas. "Eu saio da faculdade às 22h30, e a rua está deserta e escura", relata. Ele também mostra preocupação. "Isto é ruim para comunidade, principalmente para os estudantes que moram nas proximidades da faculdade. Eles poderiam aumentar o policiamento até solucionar o problema",

pede. O presidente da Associação de Moradores do Bairro Coração Eucarístico, Iracy Firmino da Silva, 77 anos, diz que vem observado o problema não só na Rua Dom Joaquim, mas em outras, como a Avenida Ressaca. "Há cerca de quatro anos, eu fiz uma reclamação por escrito para a Companhia Energética de Minas Ferais (Cemig), eles mandaram os engenheiros que discordaram e disseram que a iluminação era suficiente", conta. Em alguns lugares, não há iluminação nenhuma, enquanto em outros as copas das árvores alcançaram os postes e dificultaram a claridade no local.

Alguns prédios chegaram a instalar holofotes por conta própria. Para Maria Augusta, moradora de um desses prédios, a intenção de instalar os holofotes se deve ao fato da insuficiência da iluminação pública. "Foi feita uma reunião com os moradores e nós decidimos que iríamos instalar os holofotes por conta própria para evitar os altos e furtos", explica. Mas a instalação desses também tem ponto negativo. "O reforço que fizemos na iluminação pública é pago pelos moradores no condomínio e nem todos concordam já que pagamos uma taxa na conta de luz para os postes", salienta. Segundo a Cemig, eles resolvem o problema ape-

nas se as árvores estiverem encostando na fiação, quando são feitas as podas. Caso contrário, a situação deve ser solucionada pela Prefeitura de Belo Horizonte. Já a PBH, re-

passou o problema para a Secretária Municipal de Meio Ambiente, que diz que as podas são realizadas após vistoria e com o laudo técnico feito pelo engenheiro da Prefeitura. YASMIN TOFANELLO

Árvores prejudicam a iluminação da Rua Dom Joaquim Silvério


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• 2012

MUITO ALÉM DAS QUATRO LINHAS Associação Esportiva Santa Tereza realiza trabalho com meninos da comunidade e os prepara para serem muito mais do que jogadores de futebol, tornando-os melhores cidadãos BÁRBARA RIBEIRO

n BÁRBARA RIBEIRO CAIO LIRIO GABRIEL LOMASSO FELIPE RENNÓ WÉSLIKA QUEIROZ 1º E 5º PERIODOS

Há um ano e meio, Bruno Henrique Coelho Cardoso, de 11 anos, treina no campinho de Santa Tereza e, recentemente, recebeu proposta para fazer teste na divisão de base do América Futebol Clube, cuja peneira será ainda em dezembro. "O teste será durante 15 dias. Se eu passar, pretendo alcançar outros times", comentou o garoto. Bruno é um dos 120 meninos carentes, com idade entre quatro e 15 anos, que participam de treinos físicos, técnicos e coletivos, tendo foco no desenvolvimento da cidadania, incentivo ao processo escolar, promoção da igualdade social, desenvolvimento do espírito de trabalho em equipe, além de transformar crianças e adolescentes em potenciais atletas profissionais. Esses são os objetivos do trabalho desenvolvido pela Associação Esportiva Santa Tereza, que ajuda a retirar crianças das ruas e contribui para a formação de futuros atletas, desde setembro de 1994, revelando jogadores para os grandes clubes de Minas e do Brasil. Entre outros, foram descobertos pelo Santa Tereza Irênio, ex-América-MG,

Garotos treinam na Associação Esportiva Santa Tereza na expectativa de conseguir chances em clubes profissionais no Brasil Ronaldo Luiz, ex-São Paulo, Palhinha, ex-Cruzeiro e São Paulo, e Enrico, atual jogador do Coritiba. De acordo com o presidente da Associação Santa Tereza, Ademilson dos Santos, aproximadamente cinco garotos, no momento, têm chance de atuar em categorias de base de grandes clubes em busca da profissionalização. O time é administrado pela Associação Esportiva Santa

Tereza, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Ademilson dos Santos, que acompanha as aulas de futebol e o vínculo dos alunos com a escola, revela a cobrança de frequência e notas como requisito para a participação dos garotos. "Para participar dos treinos o aluno precisa estar regularmente matriculado na escola e com notas dentro da média. Incentivamos muito essa relação com a escola",

explica. Ademilson diz que as crianças e os jovens que participam dos trabalhos são acompanhados dentro e fora dos campos, e ressalta que a participação dos pais também é muito importante. Bruno não pensa em desistir de seu sonho, pois seu maior objetivo é ser um jogador de futebol de um grande clube. "Minha expectativa como jogador de futebol é ter um bom futuro, ajudar a minha família

que me incentiva muito a ser um jogador de futebol. Depois dos treinamentos aqui no Santa Tereza, eu pretendo jogar em algum time de São Paulo, pois lá eu vou ter mais oportunidades", diz. Carlos Emerson Cardoso, pai de Bruno, acompanha o garoto nos treinos desde o início e acredita que este é um incentivo que o filho levará para toda a vida. Ele conta que levou o menino para começar a treinar na escolinha quando o avô do garoto viu que o neto tinha futuro com a bola nos pés. Então, quando completou 7 anos, levou o filho para jogar futebol. "Onde tinha futebol eu levava ele, sempre o motivando. O sonho dele é ser jogador de futebol e o que eu puder fazer para que isso se torne realidade, eu farei", explica. O pai também revela que os estudos estão acima de tudo e garante nunca ter colocado a futura profissão do filho à frente dos livros. Carlos comenta que a humildade e a simplicidade devem prevalecer e sempre diz ao filho que, se as coisas não derem certo como ele deseja, deve manter a cabeça erguida, pois outras oportunidades surgirão. "O futebol é importante, mas o estudo é primordial, ele sabe disso. Se tirar nota baixa na escola fica sem a bola", conclui.

Estudos x Futebol: uma difícil decisão para os atletas Revelado pela Associação Santa Tereza, Vitor Abraão Moreira Pedrosa, agora vê parte de seu sonho se tornar real. O jovem de 14 anos foi indicado por seu treinador para fazer testes no América Futebol Clube e, após jogar duas partidas, foi aprovado para atuar no time de base americano. Há dois meses defendendo o escudo da equipe alviverde na categoria pré-infan-

til, Vitor já foi titular e se esforça para conseguir novas oportunidades. Treinando cerca de três horas por dia, de segunda a sexta-feira, o jovem tem dificuldades para conciliar estudos e carreira. De 7h às 12h, Vitor vai para o Colégio Santa Maria, onde cursa o 9º ano do ensino fundamental; às 13h30min, pega o ônibus para ir ao Centro de Treina-

mento do América e retorna para casa às 19h. Em 2013, o garoto terá que estudar à tarde, pois cursará o Ensino Médio, o que pode atrapalhar os treinos. Walter Ferreira Pedrosa, pai de Victor, se preocupa com o futuro do filho. "O fato de ele ter que estudar à tarde ano que vem está sendo complicado para nós, porque se ele parar de estudar não vai conseguir voltar", diz.

A solução encontrada foi procurar uma escola que tenha horário flexível para que Vitor possa dar continuidade ao sonho de se tornar um grande jogador de futebol sem interromper os estudos. "Se tiver que acontecer [dele se tornar um jogador reconhecido], vai ter que acontecer até os 20 anos. Se aos 20, ele não tiver vingado como profissional

ainda, tem como ele correr atrás do tempo perdido, fazer um cursinho, algo ligado ao esporte", diz Walter. Questionado sobre o que pretende fazer quando se tornar jogador profissional, Victor não hesita: "Quero ajudar isso tudo aqui [Associação Santa Tereza], pois sempre me acolheram muito bem. Tenho esse desejo desde que comecei no futebol", revela.

FREDERICO RIBEIRO

Clube do Barreiro é celeiro de craques n FREDERICO RIBEIRO THAÍS DOS REIS SARAH SANTOS PRISCILA FONSECA 7º PERÍODO

Há cerca de 10 anos, um menino magrinho e com uma camisa número 10 que ia até a altura dos joelhos acordava cedo, por volta das 7h, para jogar bola. Ou melhor, para treinar no Comercial Esporte Clube, localizado no Barreiro de Baixo, em Belo Horizonte. Depois de uma década, o garoto que muita gente elogiava, mas que não dava muito valor, foi eleito pela Confederação Brasileira de Futebol como a revelação do Brasileirão 2012, foi convocado para a seleção brasileira e desperta interesse de clubes estrangeiros. Bernard deu um grande passo na carreira ao ser chamado para o time canarinho e entrar no segundo tempo do Superclássico das Américas, contra a Argentina, em novembro

último. E tudo começou nesse pequeno e tradicional clube do Barreiro de Baixo. "Foi uma base muito boa. Desde pequeno comecei a aprender uma forma de jogar. Eu não tinha uma perna esquerda boa e foi nesse tempo que o treinador Célio me colocou no lado esquerdo do campo, o que fortaleceu a minha perna esquerda. Sem dúvida o Comercial foi importante para mim", observa o jovem meia-atacante do Atlético-MG. O nome de Bernard virou uma espécie de ícone dentro do Comercial. Ele é a maior prova da fórmula de sucesso da escolinha mantida pelo professor Célio de Castro. Apesar da equipe já ter tido outros nomes famosos entre seus integrantes, o belo-horizontino de 20 anos, é o mais famoso deles, até por ter ficado sete anos vestindo a camisa amarela e azul do clube e ser um expoente de um grande time brasileiro que está em alta. "Meu filho frequenta o Comercial mesmo antes do Bernard ficar conhecido, mas

saber que essa escolinha serviu de base para ele (Bernard) acabou me tornando um pai mais presente. Sei que meu filho pode não dar certo como jogador. Mas, agora, eu participo ativamente dos jogos dele e o incentivo a não levar aquilo só na brincadeira", avalia Ricardo Cordeiro Lima, pai do aluno Paulo Cordeiro de 14 anos. Até os alunos cruzeirenses admitem que Bernard é um espelho para eles, já que treinou no mesmo ambiente e hoje é um jogador cobiçado por grandes equipes da Europa. "Não posso dizer que torço para o Bernard, até porque sou cruzeirense, mas pensar que ele começou a jogar bola aqui, dá uma motivação a mais para mim. Me esforço porque sei que o meu futuro pode ser parecido com o dele", conta Matheus Carvalho Dias de 15 anos, matriculado no Comercial desde os 11. Mantida pelo professor Célio de Castro, a escolinha já formou ou esteve presente na vida de vários jogadores que hoje desfru-

tam do profissionalismo do esporte. Bernard é seu maior representante, mas outros atletas já passaram pelas mãos do técnico. Em sua sala particular dentro do clube, ao lado da velha quadra de futsal, Célio se espreme no pequeno espaço decorado por medalhas para achar fotos que comprovem a fama do Comercial de ser um celeiro de jovens talentos. E vai mostrando-as com orgulho, enquanto aponta o dedo e identifica rostos conhecidos dos torcedores de futebol do Brasil. "O Cristian (Baroni, do Fenerbahçe), esteve aqui comigo. Jogou um tempo no Comercial. Lembro que ele foi fazer teste no Cruzeiro, só que ele foi rejeitado. Hoje, ele está bem na Turquia e foi vendido pelo Corinthians por uma fortuna. Tem o Rafael Moura, do Internacional, né? Jogou aqui também. Tem muitos jogadores do Atlético. O Tchô e o Rafael Miranda vestiram a camisa do Comercial, mas por poucos jogos. Quem mais se destaca

O campo do Comercial viu nascer Bernard, revelação do Brasileirão 2012 mesmo é o Bernard. Tem o Gerley também, que está no Bahia, mas não vem jogando bem por lá", revela Célio de Castro. Atualmente, o Comercial segue firme no trabalho de revelar craques, mas sem ter esse objetivo como prioridade. Com crianças entre 8 e 16 anos, divididas nas categorias de seu ano de nascimento, a escolinha segue disputando torneios regionais, estaduais, nacionais e continentais. Célio de Castro, idealizador do projeto, segue no comando. Para ele, ver um atleta como Bernard brilhando é um combustível para continuar com o trabalho, que é mantido pelos

pais dos alunos, que pagam uma taxa de mensalidade para usufruir do espaço cedido pelo clube: uma quadra de futsal, material de jogo e um campo com medidas oficiais. "O Bernard é a prova concreta que o nosso trabalho aqui dentro é bem feito. Sou o idealizador da escolinha, mas não sou o único que colhe frutos dela, o clube é beneficiado. Nós cobramos a mensalidade dos atletas, mas se um deles é carente, não tem condições de jogar, apenas exigimos que ele nos mostre como anda na escola. Se for um bom aluno, pode continuar normalmente que eu ajudo nos custos", conta Célio


Cidade

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Novembro • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas RAQUEL DUTRA

PACIENTES COM CÂNCER RECEBEM APOIO EM BH Instituição filantrópica oferece aos benefiários diversos tipos de serviços que vão desde transporte e hospedagem até atividades pedagógicas e auxílio no combate à doença n PAULA MAGALHÃES MEIRA 2º PERÍODO

Desde a criação em junho de 1998 na cidade de Montes claros, a Fundação Sara ampara, apóia, conforta e presta assistência a crianças e adolescentes com câncer que vivem no Norte de Minas, Sul da Bahia e demais locais. Oferecendo as crianças e adolescentes com câncer o apoio necessário durante o tratamento da doença. Em junho de 2010 foi fundada em Belo horizonte, uma filial da fundação Sara Albuquerque com o objetivo de aumentar o número de pessoas amparadas e beneficiadas pela casa, que de acordo com a Supervisora Leonídea Ro-

drigues devem ter como principal obrigação o compromisso de levar o tratamento a sério, com a finalidade de garantir a reabilitação do paciente. São oferecidos ao paciente e seu acompanhante serviços como hospedagem, refeições, transporte para hospitais e laboratórios, atendimentos por profissionais do Serviço Social, Psicologia, Pedagogia, Nutrição, além de atividades de lazer, apoio na aquisição de medicamentos, cateteres, realização de exames, atividades escolares e coletivas, etc. A manutenção da fundação fica por conta do trabalho das equipes de funcionários, voluntários e acompa-

nhantes dos pacientes que são beneficiados com a ação solidária da casa. A fundação Sara é uma instituição filantrópica sem fins lucrativos. Os gastos são pagos através de doações realizadas por empresas e pessoas. As doações são feitas em dinheiro e objetos que podem ser vendidos nos bazares organizados pelas equipes. Por todo o trabalho de acolhimento realizado a instituição é bastante elogiada pelos seus acolhidos, que dizem ter encontrado nela uma importante fonte de apoio para a superação e cura definitiva do câncer. Acolhida que recebeu dona Idalina Pereira de Souza e sua filha de

Leonídia Rodrigues, supervisora da filial da Fundação Sara Alburqueque em Belo Horizonte

dezesseis anos Thaiury de Souza Santos, que há dois anos trata um cânce. Elas encontraram todo o apoio que precisaram ao deixar a cidade de Teixeira de Freitas na Bahia para ficar por tempo indeterminado em BH. Segundo dona Idalina tudo foi mais fácil graças à ajuda que recebeu na casa, pois lá encontrou toda a assis-

tência necessária para o tratamento da filha. Com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento a Fundação Sara em BH está buscando doações e a colaboração de mais pessoas e empresas para ampliar seu trabalho, além de divulgar cada vez mais a importância do diagnóstico precoce e o tratamento contra o

câncer. A doença faz muitas vítimas no país por falta de conhecimento quanto dos médicos e funcionários do sistema brasiliero de saúde pública. Em vários casos não se consegue reconhecer os sintomas e dignosticar a doença no estágio inicial. fase em que todo o tratamento tem maior sucesso.

Quilombo das Mangueiras passa por dificuldades THIAGO HENRIQUE

n THIAGO HENRIQUE 2º PERÍODO

Localizado no bairro Aarão Reis, na Região Norte de Belo Horizonte há pelo menos 160 anos, o Quilombo das Mangueiras viu a capital mineira nascer e se desenvolver até se tornar uma grande metrópole. Apesar de ricas e belas histórias, os moradores da comunidade de descendentes de escravos passam por inúmeras dificuldades para preservarem suas raízes. Maurício Moreira dos Santos, presidente da Associação Quilombola da Comunidade Mangueiras, critica a falta de assistência. "A resistência do negro hoje é passar por opressão e terrorismo, descaso, falta de políticaspúblicas e ações afirmativas", observa Mauricio. Segundoele, a comunidade é muito pobre e precisa de tudo ainda, mas, apesar disso, não recebe qualquer apoio da regional. Já Dulcimar do Carmo, exfuncionária da Regional Norte e que se diz uma apaixonada

pela causa de igualdade social dos negros, não concorda com Maurício Moreira e considera que a administração municipal apoiou o Quilombo. "A partir de 2005, quando a Regional Norte tomou conhecimento da existência do Quilombo, foi feito contatocom o Governo Federal, na gestão do então presidente Lula, que proporcionou à comunidade a inserção em alguns programas como o "Luz para todos", e o programa de água potável para a população quilombola brasileira, e o Quilombo das Mangueiras acabou se beneficiando também", afirma. Uma outra reivindicação do Quilombo é um tratamento adequado para uma doença grave e que acomete algumas crianças do local, a anemia falciforme. Doença genética e hereditária, causada por mutação genética, predominante em negros, pode se manifestar em brancos também. Basicamente, se caracteriza pela alteração da forma dos glóbulos vermelhos do sangue, que adquirem o aspecto de foice, difi-

cultando, assim, a passagem do sangue pelos vasossanguíneos. Existe no quilombo uma forte preocupação com a manutenção da identidade. Desde muito pequenas as crianças são incentivadas a participarem das cerimônias religiosas. Há no local inclusive um terreiro, onde os praticantes do candomblé se reúnem para fazer oferendas às entidades. Apesar disso, há na comunidade uma curiosa diversidade religiosa, de acordo com Maurício. "Na comunidade têm os evangélicos, os católicos, os praticantes do candomblé e da umbanda, os catumbeiros (mistura de católicos com macumbeiros) e eu que aceito todas", diz. O Quilombo das Mangueiras conta hoje com 50 moradores, divididas em 24 famílias, morando em 16 residências. Mas o morador mais ilustre é um jatobá que estima-se ter 160 anos e é o maior símbolo da resistência de Mangueiras para manter viva as suas histórias.

Maurício dos Santos é presidente da Associação Quilombola da Comunidade Mangueiras


8 Cidade

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Cerâmica ajuda irmãos surdocegos a recuperar autoestima As mesmas mãos que servem para comunicar misturam e modelam a argila, transformando o barro em peças artesanais. É assim que Marcos Rodrigues, 35 anos, e Matheus Rodrigues, 38, passam boa parte do dia. Foi a cerâmica que deu uma nova perspectiva para os irmãos. Os dois são deficientes auditivos e portadores de retinose pigmentar, uma doença que com o passar do tempo causa a perda progressiva da visão. Duas vezes por semana eles saem de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, acompanhados pela mãe, a aposentada Ana Cardoso ao ateliê da ceramista Fernanda Nicácio, no Bairro Grajaú, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Ana e os filhos chegaram até Fernanda por uma indicação do médico que acompanha o tratamento dos rapazes. "O doutor queria descobrir uma atividade que eles gostassem e sentissem bem ao fazer. Ele descobriu o ateliê da Fernanda numa pesquisa na internet e desde então não saímos daqui mais", conta. Foi a primeira vez que a ceramista Fernanda trabalhou com portadores de necessidades especiais. Para ela, a proposta inicial que o médico havia feito foi como um desafio. "Eu fiquei imaginando como seria isso, como iria dar as aulas, como seria a comunicação. Mas eles se mostraram muito espertos e com vontade de aprender", diz. A ceramista criou uma metodologia para explicar a arte para os irmãos. Eles apóiam as mãos sobre as mãos dela e vão percebendo os contornos, os detalhes das peças. Depois o processo se inverte, e é ela quem coloca a mão sobre as mãos deles para ir conduzindo a modelagem das peças. Vasos, sinos, passarinhos e folhas surgem desse encontro de mãos. Desde o ano passado, Marcos e Matheus participam de uma feira de cerâmica que acontece duas vezes por ano no Mercado do Cruzeiro, na Região Centro-Sul, e que reúne mais de 60 ceramistas da cidade. Nas feiras, além de mostrarem os trabalhos eles têm a oportunidade de comercializarem as peças. Foi assim que conseguiram juntar dinheiro e construir um cômodo em casa, local que funciona com uma espécie de ateliê para confeccionarem as artes que produzem.

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SURDOCEGOS BUSCAM Pessoas envolvidas com a causa acreditam que a pouca visibilidade em torno da surdocegueira seja um dos fatores que explicam n BRUNA FONSECA CARLOS EDUARDO ALVIM CÍNTHIA RAMALHO NATHÁLIA BUENO 7º PERÍODO

Quando criança, Alex Garcia, 36 anos, nunca conseguiu ser o primeiro

Científica". Pós-graduado em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria, hoje faz palestras em diversos eventos como no 1º Seminário da Pessoa Surdocega de Belo Horizonte e Região Metropolitana realizado na PUC Minas, em setembro último,

Ernesto saiu de Divinópolis, na Região Centro-Oeste do Estado, aos quatro anos. Na companhia da mãe, veio para a capital estudar. O esforço foi recompensado. "Mesmo com as limitações, consegui me formar e fiz pós-graduação. Agora comecei a estudar a teoria e o material didático CÍNTHIA RAMALHO

O surdocego Alex Garcia palestrando em evento voltado para pessoas na mesma situação em que ele, realizado na PUC Minas em Belo Horizonte da classe. Aos seis anos, descobriu que não enxergava nem ouvia da mesma maneira que seus colegas. Hoje, é o primeiro surdocego brasileiro que cursou uma universidade, primeiro a desenvolver uma pesquisa em campo para a localização de pessoas com esse transtorno (com apoio da Federação Sueca e da Federação Mundial dos Surdocegos) e o prmeiro a fazer pós-graduação. Natural de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, Alex é autor do livro "Surdocegueira: Empírica e

cujo tema foi "O surdocego enquanto um sujeito de competências". Competência, aliás, é o que não falta para Ernesto Bento e Silva, 47 anos. Ele descobriu aos 18 anos que era surdo e cego, mas não deixou que as limitações o impedissem de crescer. "Eu não esperava. Me sentia muito angustiado, muito diferente das pessoas. As pessoas enxergavam o jornal, enxergavam as letras e eu não. Mas depois comecei a entender que os surdocegos são pessoas capazes e que têm condições de fazer o que bem entenderem", conta.

para o surdocego", orgulha-se o pedagogo que hoje mora sozinho. De acordo com Agnelo Franco, médico do Departamento de Retina da Clínica de Olhos da Santa Casa e do Serviço de Oftalmologia do Instituto Mário Pena, ainda não há um número exato de quantas pessoas são surdocegas no Brasil e no mundo. "A estimativa é que a surdocegueira atinja cinco em cada 100 mil habitantes", afirma. Entre as principais causas da surdocegueira está a Síndrome de Usher, responsável por 50% dos

Língua de sinais: como a ‘cumplicidade’ tornou-se profissão Contar as histórias de todos esses personagens não seria possível sem a ajuda de profissionais da Língua de Sinais, conhecidos como intérpretes. Durante as entrevistas, eles foram peças fundamentais para reconstruir cada momento da vida dessas pessoas, mas não atuaram apenas como intermediários durante as conversas, pelo contrário, mesmo de uma forma mais tímida, também revelaram suas histórias. Quando criança, Tatiana Pimenta teve que aprender a lidar com a deficiência de suas duas melhores amigas, que

eram surdas. Para conversar e brincar com as meninas, Tatiana aprendeu a Língua de Sinais. Gostou tanto, que resolveu levar esse conhecimento para a vida inteira. Aos 15 anos, já frequentava a associação de surdos, e aos 16, passou a participar de reuniões na federação de surdos. Da convivência, nasceram grandes relações de amizade, como a que desenvolveu com Ernesto Bento da Silva, que conheceu quando tinha 14 anos e que é seu padrinho de casamento. Mas, a relação de Tatiana com a comunidade surda não

ficou apenas restrita às amizades construídas. O gosto pela Língua de Sinais e a vontade de ajudar eram tão grandes, que ela decidiu integrá-los à vida profissional. Na hora de escolher qual carreira seguir, Tatiana não hesitou. Hoje, ela é pedagoga e intérprete de Libras. "É gratificante. Você sai outra pessoa. Não é uma questão de pena, muito pelo contrário, tenho orgulho de todos eles", conta. Mais do que um intermediário, o intérprete acaba assumindo um papel de amigo e confidente da pessoa com deficiência. "Eu não sou apenas

uma intérprete, eu sou amiga do surdo, eu gosto de conviver com o surdo, gosto de estar com ele. Eu tenho respeito e valorizo o surdo como ele é", afirma Tatiana. Porém, mesmo com a importante ajuda do intérprete, os deficientes ainda enfrentam grandes dificuldades relacionadas à comunicação, já que nem sempre o profissional da Língua de Sinais está por perto e, principalmente, por conta da falta de interesse e conhecimento da sociedade em relação ao aprendizado da Língua de Sinais, como aponta Tatiana. "É preciso ter mais

cursos, já que ainda são muito restritos. Além disso, as pessoas têm que querer estudar. É como qualquer outra língua, você tem que se doar", explica. Na relação entre intérprete e surdocego, o autor do livro "Surdocegueira: Empírica e Científica", que sofre dessa síndrome, afirma que ética e cumplicidade são essenciais nessa relação. "O surdocego não pode ficar travado, envergonhado, com medo do que o intérprete vai achar. Cumplicidade e ética, isso é fundamental na relação entre intérprete e surdocego", afirma.


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Novembro • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

FORMAS DE INTEGRAÇÃO SOCIAL o baixo nível de iniciativas favorecendo os afetados. Aqueles que tiveram oportunidade inclusivas mostraram que com a devida orientação são capazes de conquistas como qualquer outra pessoa CÍNTHIA RAMALHO

casos. A Síndrome é uma doença genética recessiva, e o nível de perda da visão e audição varia em cada caso. A medicina ainda não encontrou a cura para a Síndrome de Usher e, consequentemente, para a surdocegueira. Dependendo do tipo da Síndrome, da época do diagnóstico e do grau de evolução da doença, o tratamento pode minimizar a perda auditiva e visual dos portadores. Mas, para Agnelo Franco, mais importante do que o tratamento médico é a inclusão dessas pessoas no meio social. "É preciso ensinar a essas pessoas linguagens específicas. Além disso, é fundamental otimizar o ambiente em que elas estudam para que possam aprender mais e ter um pouco mais de liberdade para se locomover e aprender. Essa inclusão às vezes é mais importante que o tratamento médico", observa. Para o professor e intérprete Juliano Salomon, a inclusão dos surdocegos, bem como a acessibilidade, são os fatores que mais carecem de melhorias. Mas, para isso, é preciso que haja conscientização. "O poder público e a sociedade precisam entender que a inclusão vem da base. É fundamental incluir na educação básica, disciplinas de braille e libras, assim como as aulas de inglês e espanhol que já são oferecidas. Só assim é possível fazer do Brasil um país sem diferenças", afirma. COMUNICAÇÃO Denise Queiroz Novaes, coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Comunicação Assistiva: Libras e Braille da PUC Minas, explica que existem diferentes métodos de comunicação com o surdocego e que a aplicação de cada um vai depender de fatores como o nível de surdez e cegueira, se foi alfabetizado em português e não em libras

e da idade, o que Denise chama de "contrato comunicativo". Entre os métodos mais famosos estão a 'tadoma', quando o surdo cego coloca a mão no pescoço da outra pessoa para sentir as vibrações das cordas, a 'libras tátil', feita por meio de toques na mão do portador da surdocegueira, a 'escrita de mão', em que se escreve palavras na mão do surdo cego além da 'datilologia tátil'. Essa última consiste em um alfabeto manual também usado para Libras, mas adaptado para ser feito por meio do contato físico com o surdo cego. "Pode-se fazer libras em qualquer parte do corpo, a gente às vezes faz nas costas que é uma área sensível", explica Denise. FAMÍLIA De todos os fatores que contribuem para inclusão dos surdocegos na sociedade, Alex Garcia considera a família como o mais importante. Ele observa que os portadores da surdocegueira que não recebem o suporte familiar enfrentam grandes barreiras e que o atraso no desenvolvimento das competências por parte dos surdocegos é resultado da omissão da família. Ele conta que a reação mais comum dos pais, após descobrir que o filho é surdo cego, é buscar a orientação médica e clínica, o que deve ser feito, mas sem deixar de lado a preocupação com os métodos utilizados para desenvolver a aprendizagem da criança e do adolescente. Para Alex, além de buscarem apoio médico e clínico, os pais devem priorizar um atendimento educacional especializado e de qualidade. "Os pais precisam estimular os filhos. Mas, por favor, não crie o seu filho na ilusão. Crie na verdade e na vida. Assim ele é e assim ele deve saber que vai ser", conclui.

Denise Queiroz Novaes, especialista em comunicação através de Libras e Braille comunicando-se sobre o tema

Campanha de doação na rede social mobiliza voluntários n JOANA DINIZ RAQUEL DUTRA

3º E 4º PERÍODOS

O engenheiro civil, Arthur Diniz Paiva, de 34 anos, enfrenta pela terceira vez um tipo de câncer conhecido como Linfoma de Hodgkin. Diferentemente dos diagnósticos anteriores, dessa vez ele precisará submeter-se a um transplante de médula óssea. Assim como ele, cerca de 1.073 mil brasileiros também estão na fila à espera de um doador. O transplante de medula óssea é um procedimento intravenoso realizado em casos nos quais os

pacientes param de produzir, ou passam a produzir deficientemente, células sanguíneas. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no primeiro semestre de 2012 862 pacientes passaram pelo transplante, sendo eles autólogos (quando o paciente é seu próprio doador) e alogênicos (quando o doador é uma terceira pessoa). Esses valores, somados ao aumento de 70% no número de brasileiros doadores voluntários, colocou o banco de dados do nosso país na terceira posição mundial em números de pessoas dispostas a realizar uma doação não aparentada, quando ARQUIVO PESSOAL

Arthur Diniz, autor da campanha de doações , com sua esposa Gabriela Cesar

as partes envolvidas não tomam conhecimento das identidades umas das outras. Apesar desse considerável crescimento, a espera ainda é longa e angustiante. Ao se deparar com sua própria realidade Arthur sentiu que era preciso mais atitude. Resolveu então, com o auxílio das redes sociais, iniciar uma campanha para incentivar a doação de medula óssea. "O que acontece é que normalmente a gente enxerga a necessidade de ajudar os outros quando você está precisando também. Quando vi que realmente eu ia precisar da doação deu aquele estalo: 'Mas espera aí, não é só para mim, se eu estou precisando, quantas e quantas pessoas também estão?'", conta ele que, com a terceira aparição do câncer, procurou um tratamento alternativo fora do país, mas não desistiu de esperar por um doador. A movimentação através do Facebook começou em agosto deste ano, com a ajuda e apoio de sua esposa, Gabriela Cesar. Arthur conta que a idéia de usar a rede social como forma de divulgação surgiu pelo fato desta alcançar um grande número de pessoas com rapidez. A vantagem é que cada vez que um usuário compartilha a imagem com o conteúdo da campanha, todo seu grupo de amizades passa a tomar conhecimento do con-

teúdo da mensagem. "Conhecemos tanta gente, hoje em dia com rede social, email, com toda essa facilidade de comunicação, temos que aproveitar essa quantidade de amigo que temos e tudo o mais e fazer a campanha", diz. O primeiro texto publicado na rede foi feito durante uma das suas viagens aos EUA em busca de uma nova medicação para seu tratamento. "Eu fiz um texto explicando um pouquinho sobre o que era, a situação e a importância de ajudar", explica o engenheiro que assume nunca ter sido usuário assíduo do Facebook. Arthur recebeu a ajuda de alguns amigos que, com suas habilidades, ajudaram a reestruturar a campanha colocando fotos,cores e logomarcas. Arthur diz que não foi nada planejado."Eu postei a mensagem normal, uma amiga pegou essa mensagem colocou dentro de um quadrinho, fez uma chamadinha para isso e umas outras coisas assim, algo simples. Compartilhou e o negócio começou a andar sempre com esse quadrinho como referência", explica. A partir daí seus textos começaram a ser passados adiante e compartilhados por amigos e pessoas interessadas em colaborar com a causa. Arthur acredita que, apesar de não ter dados concretos, a campanha consegiu se estender consideravelmente chegando ao um número de aproxi-

madamente 3 mil pessoas. "Não é uma coisa muito grande mas está andando. Eu sei de pelo menos 50 amigos que se cadastraram depois da campanha", conta ele, que obteve retorno positivo de várias pessoas. Hoje, o tratamento com uma nova medicação importada não causa efeitos colaterais, permitindo que Arthur mantenha sua rotina normal e sua qualidade de vida enquanto aguarda pelo seu transplante. Mas isso não o impediu de continuar com o espírito solidário. "Eu tenho um remédio que a princípio eu poderia tomar ao longo de muitos anos na minha vida. Caso não encontre um doador pra mim não significa que é o fim, mas pra várias outras pessoa é”, diz. Arthur ressalta que tornar-se um doador é muito simples e fácil. No Hemocentro, o voluntário faz um cadastro, preenche um formulário e dele são recolhidos 5 ml de sangue. Caso haja compatibilidade com alguém que precise, o doador será contactado para alguns simples exames. Para doar basta ir ao Hemominas, localizado na Região Hospitalar de Belo Horizonte atrás do Parque Municipal, entre 8h e 12h 30. "Eu não tive essa sensação mas já escutei de algumas pessoas que é incrivel você saber que salvou a vida de alguém", conta.


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COMUNIDADE CONSTRÓI PRESÉPIO Cidadãos se reúnem no Centro Cultural do Padre Eustáquio uma vez por semana para a montagem do presépio. É a segunda vez que essa atividade é realizada, a outra foi em 2010 RAQUEL DUTRA

n ÍGOR PASSARINI RAQUEL DUTRA 4° PERÍODO

Comunidades de Belo Horizonte se reúnem para a construção de um presépio diferente, no qual a essência não é a religião, mas sim, as histórias de vida, memórias e as tradições dos artistas voluntários. "Trabalhamos o presépio no sentido cultural, que é uma cultura universal da celebração da natividade", afirma Helena Flávia Marinho de Lima, 55 anos, Educadora Oficineira do programa Arena da Cultura. Os encontros acontecem uma vez por semana nos Centros Culturais de Belo Horizonte que fazem parte do projeto "Mostra BH: Presépios e folias", uma parceria da Fundação Municipal de Cultura com a BeloTur. Em sua segunda edição, o projeto tem como tema a celebração da natividade que é a celebração do nascimento de uma criança que traz amor e esperança ao mundo, como conta Helena Flávia. Além disso, a orientadora ressalta que a prioridade é a utilização de matérias recicláveis. "O pensamento do presépio é trabalhar com materiais reutilizáveis, elementos da natureza, aproveitamentos, doações", afirma.

Helena explica que o primeiro encontro foi o mais importante, porque nele cada um dos participantes inscritos compartilhou suas experiências relacionadas ao tema proposto, gerando como resultado desenhos inspirados em lembranças e memórias. "Mesclando as ideias desses desenhos e das habilidades do grupo é que vai sendo feita a arquitetura do presépio", relata a educadora. Os demais encontros são para a execução das ideias iniciais que são aprimoradas e retrabalhadas a partir do material oferecido para a produção. Maria da Cruz Pereira Nunes, 62 anos, é uma das voluntárias do projeto em sua comunidade e se reúne no Centro Cultural do Padre Eustáquio todas as tardes de terça-feira com seus colegas para a produção do presépio. "Eu gosto de participar porque estou sempre ensinando, como saber não ocupa espaço, eu estou fazendo". Já para a dona de casa Maria das Graças, 69 anos, os encontros são uma distração. "Eu acho interessante porque tenho a oportunidade de sair, de conviver com o pessoal aqui e aprender alguma coisa útil", relata. Para Roberto Beltran, 62 anos, participante do projeto e morador da comunidade,

Integrantes da oficina trabalham em conjunto na confecção de tubos feitos de jornais e que serão colocados na cobertura do presépio

essa experiência é uma terapia fora do comum e também uma fonte de conhecimento. "Eu fui aprender o que é presépio aqui. Nunca tive uma religião", admite. Roberto viu nesse projeto uma chance de aproveitar seu conhecimento em marcenaria, servindo como contribuição para a produção e aprendizado de seus colegas. O marceneiro não tem medo de compartilhar seus conhecimentos. Para ele, repassar suas habilidades a outras pessoas é uma atitude impor-

tante. "Uma vez me perguntaram se eu não tinha medo de ensinar um trabalho que eu sei, caso, futuramente, essas pessoas pudessem vir a ser meus concorrentes. Eu disse que de forma nenhuma isso seria ruim, afinal eles nunca serão meus concorrentes e sim meus parceiros com o mesmo objetivo de estar contribuindo com o meio ambiente na perspectiva de um futuro melhor para as gerações futuras. Então eu tenho prazer em ensinar", comenta Roberto. Após a conclusão dos pre-

sépios, prevista para o inicio de dezembro, cada um ficará em exibição no Centro Cultural que foi produzido e estará aberto à comunidade até o dia 5 de janeiro de 2013. Durante o período de exposição está prevista a passagem da Folia de Reis, tradicional manifestação folclórica desta época do ano. Os trabalhos dos 16 Centros Culturais que participaram do projeto serão recolhidos e levados para a Serraria Souza Pinto, onde serão reunidos e expostos para visitação a partir de 6 de janeiro de 2013.

Fruta tropical da Amazônia refresca e dá energia n DANIEL LACERDA MAURO FERREIRA 1º PERÍODO

Com a chegada do verão aumenta-se consideravelmente a procura por produtos que refresquem as altas temperaturas da estação. Fruto nativo da região amazônica, o açaí atrai os olhares do consumidor

por combinar muito bem com diversas opções de frutas e cereais, além de conter grande valor nutricional. Apesar de ser bastante apreciado, o consumo em excesso pode representar um grande risco. "O açaí é muito calórico e gorduroso, e uma tigela corresponde a uma porção de feijoada. Asso-

ciado ao xarope de guaraná, que é muito doce, o teor de açúcar aumenta consideravelmente", afirma a nutricionista Perla Perez. "O problema é que grande parte da população consome em grandes quantidades, adicionando também outros produtos como leite condensado, coberturas, leite RAQUEL DUTRA

Fonte de energia, o açaí é naturalmente calórico e especialistas advertem para o exagero nos acompanhamentos

em pó. Mesmo no verão, o excesso representa o consumo de muitas calorias e gorduras, e isso não é recomendado", adverte a especialista. O açaí é uma pequena fruta de coloração arroxeada, e tem feito muito sucesso em supermercados, lanchonetes e sorveterias. Sendo nativo da Região Norte, o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador desse alimento, e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a produção nacional dos frutos somou, em 2006, 101.341 toneladas. Apesar do sucesso que o açaí faz, desconsiderar os efeitos do abuso no consumo pode ocasionar algumas adversidades, como ganho de peso acima do normal. Além disso, há também os riscos de contaminação. "A fruta que não é pasteurizada no processo de fabricação dos cremes e sucos, tem potencial de transmitir a

doença de chagas. Da mesma forma que pode acontecer no processo de moagem da cana, se tiver um barbeiro contaminado com o protozoário da doença no meio do processo, e não houver o tratamento específico, existe um potencial de transmissão por consumir esse tipo de produto", explica a médica Fernanda dos Reis, 35 anos. O consultor de vendas Paulo César diz que adora a fruta e fala sobre alimentação de qualidade aliada a exercícios físicos. "Com certeza é um bom nutriente para o dia a dia. Traz energia na atividade física, e melhora meu desempenho", afirma o jovem, que trabalha em uma academia. Apesar dos efeitos negativos, o açaí também traz benefícios para a saúde. "Ele é muito nutritivo e é rico em ferro. O excesso faz mal, porém seu valor energético e suas vitaminas são fatores favoráveis ao con-

sumo", avalia Perla Perez. "Eu gosto muito. Há pouco tempo atrás, não conhecia. Eu achava que quando provasse não gostaria, mas provei e adorei. Sempre que posso eu tomo", diz a estudante de jornalismo Josiane Gonçalves, que aprecia tanto o suco como o creme de açaí. A pequena fruta amazônica apresenta fatores favoráveis e desfavoráveis ao seu consumo, portanto é necessário que haja consciência na hora de apreciá-la. Os especialistas sugerem: o consumo é bom, mas deve-se evitar o excesso. "Recomenda-se não colocar leite condensado, cobertura, leite em pó ou nenhum outro complemento do gênero. O ideal é adicionar frutas e granola, pois o teor de fibras aumenta, o que possibilita uma alimentação saudável e prazerosa", conclui a nutricionista.


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O SEGMENTADO MUNDO DOS NERDS Em um universo composto por quadrinhos, videogames, ciência, tecnologia, seriados japoneses e muito estudo, os nerds fazem parte de um grupo de comportamento singular e curioso PEDRO VASCONCELOS

n ANA PAULA MARQUES FLORA SERVILHA PEDRO VASCONCELOS 7° PERÍODO

Óculos, gibis, videogames, pôsteres de personagens nas paredes e muitos livros na estante, este é o quarto de Júnior Neiva, que ajuda a definir bem a sua personalidade. Nerd convicto desde os 12 anos, o estudante de computação gráfica não foge aos estereótipos. "Eu sou nerd mesmo, do tipo mais clássico, passo horas na frente do computador e só tirava notas boas na escola", reconhe Junior. Ele ressalta nunca ter sofrido preconceito dos colegas, ao contrário. "As meninas ficavam na minha cola para passar de ano e eu aproveitava", brinca. A pedagoga Gláucia Palhares também se assume nerd, mas amplia os horizontes deste significado. "O nerd não pode ser visto de uma maneira estereotipada, ser nerd é na verdade um comportamento", analisa. Ela explica que o hábito de se pesquisar ou se aprofun-

dar em um determinado assunto ou gosto já é o suficiente para fazer da pessoa um tipo de nerd. "Normalmente se interessam por quadrinhos, videogames, mangás japoneses e estudos, mas também existe aquele nerd apaixonado por carros, revistas antigas e até relógios", afirma Gláucia, para acrescentar, em seguida, que o nerd na verdade é um pesquisador. O hábito de estudar muito e se interessar em demasia por determinado tema não tem nada que prejudique o desenvolvimento social de uma pessoa. Entretanto a psicopedagoga Maria Eliza Camargos alerta que a convivência com os colegas é fundamental para que o indivíduo tenha um ciclo educacional completo. "Estudar não é só mergulhar a cara nos livros, a troca de conhecimento e a convivência com o diferente são fundamentais para a formação cultural da pessoa", observa. Gláucia explica que fazer coleções é um hábito típico dos nerds. Este é o caso de Júnior, ao longo de sua vida

Gláucia Palhares usando seu cosplay de Ruky, personagem do anime e mangá Bleach ele exibe um coleção invejável de mais de 2 mil gibis, a maioria da editora americana Marvel. A coleção comporta relíquias como o primeiro exemplar do Homem Aranha, publicado em 1968. Para ele, o personagem é um exemplo de humanidade, associado à ação e à adrenalina deste tipo de ficção. Personagens da Marvel também fizeram a cabeça de Leonardo Ramos, um colecionador de bonecos da

editora. São mais de 300 réplicas, algumas em tamanho real. São personagens de filmes, histórias em quadrinhos e desenhos animados, cada exemplar custa cerca de R$ 700, mas, para ele, sua paixão não tem preço. "As pessoas se surpreendem com o tanto que eu gasto, mas é que eu gosto e é o que me faz sentir completo", ressalta. Outra paixão de Leonardo é o videogame, em sua casa são mais de 200 consoles, con-

Pessoas com sede por tecnologia A expressão "nerd" é utilizada desde o final da década de 1950, e surgiu dentro de um instituto norte-americano. Desde os primórdios esta figura está associada ao consumo e conhecimento tecnológico. É neste universo que surgem os Geeks. Eles são os nerds aficcionados por tecnologia. Normalmente possuem os computadores mais modernos e estão sempre antenados com as novidades que a tecnologia oferece. O programador de computação Thadeu Augusto é um geek e se orgulha disso. "Enten-

der de tecnologia hoje, é entender o mundo que vivemos", ressalta. Desde muito novo Thadeu manifestava o seu interesse pelo funcionamento das máquinas. Costumava desmontar aparelhos de televisão antigos e brinquedos com sistema elétrico. A brincadeira de criança virou profissão. Durante todo o dia o programador monta e desmonta computadores. "Ser nerd e geek para mim é quase uma exigência da minha profissão, eu não só gosto de entender sobre os sistemas como também preciso entendê-

los", explica. Thadeu também é um grande consumidor de tecnologias. Apaixonado pelos aparelhos da marca Apple ele possuiu todas as versões mais modernas destes dispositivos. "Eu tenho computador, iphone e ipad, essas novas plataformas são uma espécie de prótese mesmo da vida da gente", conta. Para ser um geek não basta apenas consumir as tecnologias é necessário entende-las a fundo. "Quando eu compro um aparelho eu o reviro inteiro, até entender todas as funções que ele pode me oferecer", diz.

Thadeu se policia e chama a atenção para alguns cuidados, para ele as pessoas não podem ficar escravas das tecnologias, afinal de contas "a máquina é que foi feita para servir o homem", acrescenta. Outra marca típica de nerd encontrada em Thadeu é a paixão pelo seriado Jornada nas Estrelas. Tido por muitos como o responsável por dar o pontapé inicial na cultura nerd. Thadeu, Junior Neiva, Leonardo Ramos e Gláucia Palhares são aficcionados por Jornada nas Estrelas. “É o sinônimo de uma geração", diz Gláucia.

templando desde as gerações rústicas e antigas do Atari até os mais modernos e complexos modelos atuais. "O meu favorito é o vídeo tela um dos consoles mais antigos, acredito que no Brasil só existam mais dez dele", afirma orgulhoso. Gláucia Palhares identifica os nerds em diferentes categorias ou tribos, divididas de acordo com o tema de mais interesse do pesquisador. Segundo ela, as mais conhecidas são as dos Otakus, os Geeks, os Cosplayers e os colecionadores de Histórias em Quadrinhos. Aos 35 anos, Gláucia é cosplayer desde os 12. Uma das principais características do cosplay é que o praticante além de criar os trajes, também interpreta o personagem caracterizado, reproduzindo os traços de personalidade como postura, falas e poses típicas. O hobby costuma ser praticado em eventos que reúnem fãs desse universo, como convenções de anime e games. Todos os anos Gláucia participa de muitos desses eventos. Ao longo de sua carreira interpretou mais de 30 personagens. Ela mesmo confecciona as

peças e dirige os espetáculos. " O cosplay busca muitos elementos no teatro", explica Gláucia, que escolhe o Pequeno Príncipe como seu personagem preferido. Além de cosplayer, Gláucia Palhares se considera uma Otaku, já que é fã dos seriados japoneses. "O Otaku é aquele que se interessa por enredos e tramas japonesas. Normalmente, as histórias tratam de temas bastante adultos e não são para crianças, como pensam algumas pessoas", afirma. Ela explica que ser Otaku é um pouco mais difícil do que ser somente nerd. "O otaku precisa mergulhar no universo dos personagens para entender a personalidade complexa de muitos deles", justifica. Em sala de aula a pedagoga já usou os seus conhecimentos sobre desenho animado e a personalidade complexa de alguns personagens para integrar a turma. "Todas as outras professoras rejeitavam o fenômeno do pokemón, e eu fiz diferente, propus reflexões sobre o desenho que ajudaram a melhorar comportamento dos meninos no dia a dia", ressalta. Leonardo Ramos se enquadra na categoria de colecionador de Histórias em Quadrinhos, aqueles que são apaixonados por gibis de ficção americana. Ao contrário de Júnior ele não se considera um nerd clássico. "Eu sou nerd pra caramba, mas nunca fui muito estudioso, muito menos isolado, sempre fui da turma do fundão", conta. Leonardo tem 27 anos e às vezes é motivo de piada entre amigos e familiares "Até minha namorada brinca comigo, fala que é coisa de criança, mas eu não dou a mínima para este tipo de brincadeira", ressalta. ANA PAULA MARQUES

Nerds : Um negócio lucrativo Júnior Neiva viu em seu gosto pela cultura nerd algo além de um hobby. No ano passado com a ajuda de um amigo criou uma loja de camisetas on-line, a Truenerd, responsável pela confecção de mais 300 camisetas mensais. "Pensamos em fazer algo direcionado especificamente para este público, o público nerd", conta. Normalmente as camisetas de filmes e seri-

ados trazem em suas estampas protagonistas do filmes e tramas, pensando nisso Júnior desenvolveu uma série de estampas originais trazendo para as blusas personagens secundários. "Personagens que só um verdadeiro nerd reconheceria, como, por exemplo, o Lanterna Vermelho do seriado Lanterna Verde", explica. Outra que reconheceu nos nerds possíveis consumidores em potencial

foi Alana Moraes, de apenas 19 anos. Sem lugar para se reunir com os seus amigos Alana criou, com ajuda da mãe, o Café Nerd, uma cafeteria localizada na Savassi, Região CentroSul de Belo Horizonte. "Eu conciliei trabalho e lazer, no café este público encontra o que procura, mangás, bonecos e fantasias, além de deliciosos lanches", explica. O café tem pouco tempo de funcionamen-

to, mas já pode ser considerado um sucesso. Em agosto, a jovem realizou um evento recheado de atrações. Palestrantes, autores de gibis importantes, oficinas de origami, além das tradicionais fantasias de cosplay fecharam a Rua Antônio de Albuquerque, reunindo mais de 900 pessoas na festa. "O evento foi um sucesso e concentrou em uma rua todas as tribos de nerds", conclui.

Junior Neiva, nerd assumido, é colecionador de quadrinhos


12Comportamento

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A MÚSICA BREGA ESTÁ DE VOLTA O estilo musical que teve seu auge há algumas décadas retorna com força e faz sucesso em festas noturnas na capital, conquistando adeptos também entre as pessoas mais jovens n CAMILA LEOPOLDINO JOÃO HENRIQUE EUGÊNIO JULIA CAMPOS SAMARA NOGUEIRA 7º PERÍODO

Há sete anos, toda véspera de feriado em Belo Horizonte é sinônimo de lotação máxima e muitas filas na casa noturna A Obra. Mas, ao contrário do rock que costuma embalar as festas do lugar, o que faz sucesso nessas noites é o já tradicional baile brega Eu Não Presto, Mas Eu Te Amo. A proposta é trazer músicas clássicas do brega de todas épocas, desde os mais melancólicos boleros, até lambadas, marchinhas de carnaval e axés. "É uma das noites mais animadas da cidade. Foi um sobrinho quem me levou pela primeira vez, eu estava meio receosa porque não gosto do que normalmente acontece nessa boate, mas me surpreendi. Depois da minha primeira ‘Eu Não Presto’, me lembrei de muitas músicas da minha infância e adolescência e que, agora, carrego no carro. Agora, até minha festa de aniversário foi brega", afirma Valéria da Silva. Para o Dj idealizador da ‘Eu Não Presto’, Daniel Crespo, a festa é, de fato, muito diferente do que acontece na Obra. "Vem gente de todas as tribos, com idades entre 20 e 60 anos. O mais curioso é que quase todos sabem cantar as músicas e não é um público que busca paquera, mas sair com os amigos para dançar e brincar a noite toda", relata. Segundo ele, que é mais conhecido como Hamburguer Leviano, o baile surgiu de uma estratégia da casa para expulsar os últimos clientes, tarde na madrugada. Daniel conta que, no princípio, quando começavam a tocar as músicas de Roberto Carlos, Fagner ou Waldick Soriano, havia uma quebra do clima e as pessoas iam embora. Entretanto, com o tempo, alguns clientes esperavam até o final para aproveitar o horário da música brega, e, logo, muitos começaram a chegar especialmente para essa parte da noite. "Diante da popularidade inesperada, tive a ideia de criar uma festa inteiramente brega, mas a administração da Obra não gostou da proposta, pois seria um evento diferente do habitual", afirma. Depois de muita insistência, a boate deu um voto de confiança a Daniel e permitiu uma primeira edição da festa em um domingo, dia em que a casa não abriria. Como foi um grande sucesso, a Eu Não Presto acabou ganhando pelo menos uma noite por mês. Hoje, já foram mais de 100 bailes, todos com lotação máxima da Obra e a procura é tamanha que já ocorreram edições em outros espaços da cidade. Para o Dj, em Belo Horizonte ocorre um fenômeno dos jovens em buscar referências nas gerações de seus pais e avós, o que transparece na moda retrô, em valores sociais e na música. "Os clássicos do brega são canções que as pessoas ouviram em algum momento da vida porque os pais ou avós estavam escutando. Elas ficam marcadas na memória, mesmo que inconscientemente. Exemplo disso é que muitas pessoas que vão na festa brega pela primeira vez afirmam não conhecer a música, mas sabem canta-la mesmo assim", diz. Ele observa uma passionalidade latente nos belo-horizontinos que se revela na ‘Eu Não Presto’ na forma de choro, gritos, muitas músicas dedicadas, além de casos de amor e desilusão confessados aos Djs. Esse também é o clima dos shows da Orquestra Mineira de Brega, banda que surgiu em 2008 como uma brincadeira de amigos que sempre iam juntos na festa da Obra. Como todos eram músicos, decidiram se juntar e criar uma banda brega por uma noite só, mas o sucesso com o público foi tanto, que eles receberam diversas propostas para shows e estão na estrada há quase três anos. É unânime entre os integrantes da Orquestra que a principal característica que garante o sucesso da banda é a cara que tem de brincadeira entre amigos. Como todos os

integrantes mantêm projetos paralelos, não há grande compromisso de profissionalização e seriedade. Os músicos entram no palco para se divertir em sintonia com o público. De acordo com o tecladista da banda, Artênius Daniel, jornalista formado pela PUC Minas, há uma grande proximidade com a plateia, que é quase toda cativa. Ele conta que um dos momentos mais populares das apresentações é quando convidam as pessoas a subir no palco para abrir seu coração e fazer uma declaração de amor. "Um caso bonito foi de quando um homem pegou o microfone e disse que está noivo da mulher por quem era apaixonado desde criança. Eles estudaram juntos a vida toda, mas ela nunca havia lhe dado bola. A vida os levou para caminhos separados, cada um se casou com outra pessoa e se divorciaram certo tempo depois. Até que se encontraram por acaso e estão juntos desde então. No final do depoimento o homem já estava chorando e falava que ela era a mulher com quem ele queria passar todos os seus dias", relata Artênius. O repertório da Orquestra Mineira de Brega passa por várias vertentes desse tipo de música, mas com predominância para o mais romântico. Segundo a vocalista Juliana Bráulio, são escolhidas as canções das quais os integrantes se lembram de ter ouvido na infância, no rádio ou de algum ente querido. Não há grande pesquisa de repertório, pois o objetivo da banda, ao contrário de educar as pessoas musicalmente para o brega, é tocar aquelas canções que, mesmo sem saber, elas conhecem, para que, a partir daí, retomem memórias afetivas. Para Juliana, o sucesso do grupo e das festas bregas decorre de uma espécie de função social que têm. "Mesmo que não percebam, as pessoas precisam colocar suas emoções para fora e acessar lembranças infantis. Como músicas brega são muito sentimentais, elas tocam no emocional das pessoas. O público dos nossos shows, mais do que cantar, sentem as canções. E é visível, ao final da apresentação, que as pessoas ficam, de certo modo, extasiadas, relaxadas e satisfeitas", afirma. Essa ideia também é compartilhada pelo produtor cultural e jornalista Israel do Vale, que salienta que a nova popularidade do brega é uma demonstração do impacto que os ecos da memória afetiva têm sobre a vida da gente. "O gosto pelo estilo sempre vem da infância, de ouvir seus pais ou avós escutarem essas músicas. Quando ouvimos essas canções mais velhos, uma lembrança é despertada e vai puxando um fio catártico que envolve sem que se perceba", analisa. Segundo ele, o brega é, basicamente, o existencial popular, ou seja, uma leitura não teórica dos tormentos que tomam conta da vida de todas as pessoas, mas apresentados com um tom rebuscado que pesa para o melodrama. "A eclosão do mundo da informação com a Internet acaba com os pudores e purismos, o que dá espaço para tudo. As pessoas se expõem a esse tudo e ficam cada vez mais ecléticas. Como os artistas também estão inseridos nesse processo, acaba que na música, os estilos se misturam e influenciam mutuamente. De modo que é impossível elencar a qualidade artística e musical das produções. Quem decide se gosta ou não é cada pessoa em sua individualidade", diz. Israel explica que a música brega carrega um estigma de ruim por nunca ter sido tratada como apreciável pelas classes mais altas e elitizadas da sociedade brasileira, ela porém, sempre foi muito famosa entre os mais pobres. "Com a ascendência da classe C, cada vez mais, os artistas do brega vêm ganhando visibilidade e a sociedade, como um todo, se solta mais para o gênero. Esse processo é percebido por produtores musicais, que vêem na contaminação de estilos um caminho estético possível que

Cantores da nova geração se destacam FSe em algumas regiões o estilo só agora vem ganhando força, no Norte do país este ritmo há muitos anos está presente e faz parte essencial da cultura popular. O cantor e compositor Felipe Cordeiro afirma que na maior parte do Brasil há uma dicotomia entre a vanguarda clássica mais erudita, que ganha cunho de chique e positiva, e a música popular de entretenimento, que é mau vista e chamada de brega. Nascido no nordeste e filho de Manoel Cordeiro, um dos maiores produtores de lambada do país desde a década de 80, ele destaca que o estado do Pará conseguiu superar essa rixa, fazendo com que o brega ganhasse status de um estilo ou tradição musical como qualquer outro. "Uma música não é brega porque é de mau gosto, mas porque tem elementos estilísticos que a caracterizam como tal, como uma maneira específica de tocar os instrumentos e letras com temática romântica", explica. Com o intuito de provar que o mundo do bom gosto é muito próximo do mundo do mau gosto, Felipe revela que seu trabalho possui um aspecto conceitual contra o preconceito e hierarquização de gostos. De acordo com ele, seu mais recente álbum "Kitsch Pop

poderá renovar e enriquecer as produções culturais brasileiras", completa. Grandes nomes da música nacional já estão se enveredando por esse caminho, como o produtor musical Fernando Catatau, que já trabalhou com discos de Arnaldo Antunes e Arnaldo Baptista, e foca, atualmente, no projeto da banda Cidadão Instigado, que nada mais é que um brega atualizado. "Com a nova relevância que tem, talvez esse estilo musical deixe de ser chamado brega, ou, pelo menos, perca a cara de mau gosto. Fato é que essa capacidade de inocular referências antigas deve permanecer e ser incorporada à cultura musical do Brasil como um todo", prevê. O produtor cultural ensina que classifica-se brega ao exagerado, seja estético, visual ou musical, com músicas de arranjos rebuscados e letras muito emocionais, cheias de imagens apelativas. Desse modo, o brega se configura como um estilo consolidado, ou seja, um substantivo e não adjetivo que designa o ruim.

Cult" pretende relativizar noções como as de "alta cultura" e "cultura pop", promovendo uma improvável mistura de referências que vai desde as vanguardas musicais paulistanas dos anos 80, passando pelo brega romântico tradicional, o carimbó/lambada, até o atual tecnobrega. Além disso, o conceito de kitsch, que utiliza em seu álbum, aparece em seu sentido original - o de cópia. "Uma das principais características que definem algo como brega é ser ou parecer uma cópia. O original é visto como de bom gosto, mas a cópia é criticada, mal vista, repudiada", diz. Entretanto, um ritmo que tem ganhado notoriedade em todo cenário nacional tem sido responsável por romper com esse pensamento. Felipe explica que o tecnobrega é uma cópia explícita de músicas internacionais, mas que parece e se configura como uma das músicas eletrônicas brasileiras mais originais, vigorosas e estilísticas. "O tecnobrega é uma das diversas vertentes do estilo brega de se fazer música. Independente de qualquer juízo de valor, é uma tradição que já existe há mais de 40 anos e é sucesso absoluto no Norte do país", diz.

ARQUIVO PESSOAL

Valéria da Silva já conseguiu levar para toda a sua família o gosto pelo brega

A origem do brega Chama-se brega tudo aquilo que a crítica tradicional, dita de bom gosto, não aprecia. A origem deste estilo, bem como suas temáticas e aceitação restrita, tem suas raízes históricas no processo de desenvolvimento do país. Segundo o poeta e pesquisador musical, Marcelo Dolabela, essa música surgiu junto aos processos de urbanização do Brasil, nos anos 50 e 60, como um movimento urbano, mas de apelo rural. As canções destinadas ao campo acabaram indo para as cidades junto com as pessoas em êxodo. "Entretanto, aqueles do campo nunca se acomodaram bem no ambiente urbano e nem os que se sentiam plenamente urbanos os aceitaram de braços abertos. Isso gerou uma discriminação que foi estendida para os produtos culturais que essas pessoas produziam e consumiam, que passaram a ser vistos como de mau gosto", afirma. O saudosismo com o campo, amores e desamores, o trabalho, as formas de diversões dos mais pobres e, sobretudo, a necessidade de serem aceitos, eram alguns dos temas recorrentes das músicas bregas. Para Dolabela, o grande sucesso popular desse estilo se deve justamente à aproximação gerada entre o que o artista canta e o que vivem as pessoas. "Canções que davam voz a este Brasil que era excluído o tempo todo e não tinha grande relevância social, política ou econômica". Ele destaca que o fato de a maioria das letras serem cantadas em primeira pessoa é uma característica que contribuiu para essa identificação, pois torna a canção mais confessional. "Quando cantam junto do músico, as pessoas acabam trazendo para sua vida aquilo sobre o que a música trata", explica. Ao restringir o universo de composição ao cotidiano popular, os temas sobre o que se produzir se esgotam com certa rapidez. Segundo o pesquisador musical, esse é o motivo por não haver grandes compositores de músicas bregas. "Cada um tem duas ou três grandes canções de sucesso, no máximo um álbum. Como as músicas são diários cantados, assim que acabam as situações que podem inspirar o compositor, a criação

também acaba terminando", afirma A liberdade para tratar de temas considerados tabus na sociedade, é outra característica da música brega apontada por Dolabela. Em plena ditadura militar, surgiram canções com sexualidade mais explícita e temas de traição, solidão, prostituição, suicídio e até crimes passionais. "Esse é mais um ponto de rechaça das classes médias tradicionais, que aspiravam uma vida de riqueza onde essas realidades mais cruas da vida não deviam existir e, portanto, não poderiam aparecer", pontua. Este foi, segundo ele, um dos fatores responsáveis pelo estilo ser visto de modo pejorativo. Devido o medo das classes médias em serem rebaixadas para uma classe mais pobre, em nome da vontade de querer ser burguesia, o que é popular acaba sendo depreciado. "Isso acontece ainda hoje com movimentos culturais que vão além do brega, mas que também se configuram como uma forma de expressão dos mais pobres. O funk carioca tem a mesma característica de tratar do cotidiano de um grupo de pessoas, com um tom passional, e também é um estilo discriminado", exemplifica. Por outro lado, a atual ascendência da classe C, um grupo de pessoas que já era maioria no país, fez com que o poder de compra e a visibilidade social, fosse estendido também para as produções culturais advindas desses públicos. O atual momento em que a indústria musical não mais consegue se manter com a venda de discos, mas com shows, Dolabela destaca que o mais popular passa a ser visto também como mais rentável. "Um show de brega, por mais que possa ser mal visto, ainda é muito mais agradável para um público ao vivo do que um concerto de música erudita", diz. Artistas atuais estão incorporando características desses ritmos mais populares às suas músicas, como é o caso de Fernanda Takai, que participou do álbum de Gaby Amarantos. Para o pesquisador musical, o Brasil é muito diverso e qualquer forma de preconceito cultural é falta de conhecimento, principalmente para quem quer se manter no mercado fonográfico. "A música brega é um grande e muito popular segmento musical. É, foi e vai continuar sendo”, enfatiza.


Comportamento

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Novembro • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas FABIANA GATTI

BRINCADEIRA ATRAI TODAS AS IDADES Iniciativa de um jornaleiro, a troca de figurinhas de álbuns atualmente populares reúne crianças, adolescentes e adultos, das mais diferentes idades, em torno de uma banca localizada na Região Centro-Sul n ESTEVÃO MENDES MATEUS TEIXEIRA 1º PERÍODO

A iniciativa isolada de um jornaleiro, há 15 anos, resultou em um clube de troca de figurinhas, que resiste ao tempo e continua a acontecer nos finais de semana no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Pessoas de todas as idades ali se reúnem com o objetivo de conseguir as figurinhas que estão faltando para completar seus álbuns. "Meu pai é jornaleiro há 26 anos e comprava figurinhas para colecionar, mas ele sentiu que havia a necessidade da troca e começou com alguns clientes", conta Jacqueline Alves, 30 anos, funcionária da Banca República do Líbano, de propriedade do seu pai e localizada à Rua Arthur Bernardes. Segundo ela, as trocas são feitas com figurinhas dos álbuns que têm o maior número de vendas. Atualmente, no caso do clube de figurinhas, são 14 álbuns, considerados mais populares, destacando-se Campeonato Brasileiro, Carrossel, Transformers e Animal Planet. Jacqueline revela que o público é bem diverso. "Têm pessoas

de todas as idades, mas as crianças vêm mais. Já teve caso de criança ficar triste por abrir o pacote e não ter figurinha repetida, elas gostam de trocar", conta. Iago dos Santos, 6, está colecionando os álbuns Carrossel e Campeonato Brasileiro 2012. Neste, faltavam oito figurinhas para completar e ele conseguiu cinco, por meio das trocas na banca. "Eu levo o álbum todos os dias para a escola e troco com os colegas também", comenta. As trocas de figurinhas em torno da Banca República do Líbano não são apenas coisas de criança e, algumas vezes, envolvem toda a família, como é o caso do autônomo Paulo Neves. "Eu coleciono o álbum Princesas da Disney junto com minhas duas filhas, eu compro as figurinhas, levo para casa e elas colocam junto com minha esposa", diz. A banca fornece uma cartela para que os clientes tenham o controle das figurinhas que estão faltando, além de carimbar os álbuns. E também tem um controle das figurinhas repetidas e quando possui mais de cinco da mesma unidade, vende para o cliente ao preço de R$ 0,50. "Sou honesta com as trocas, isso faz com que o cliente retorne e

faça álbum todo ano, além do boca a boca que faz com que o cliente traga mais pessoas para trocar", observa Jacqueline. Os álbuns ficam em circulação por um período de seis a oito meses. O carro-chefe das trocas é o do Campeonato Brasileiro, que está em circulação desde o dia 30 de julho. "O fato de o Brasil ser o país do futebol, e também de o Atlético-MG estar nas primeiras colocações levou as pessoas colecionarem", explica Jacqueline. Ela se lembra do dia com maior número de pessoas ao mesmo tempo para trocar figurinhas. "No começo, teve um final de semana em que quase 500 pessoas vieram para trocar, a fila chegava até o meio da praça, mas é organizada, as pessoas aguardam", garante. Diariamente, são feitas as trocas, mas nos finais de semana é que as pessoas se reúnem para trocarem. Aos sábados e domingos as trocas são feitas das 9h às 13h.

TROCAS ONLINE Outra modalidade de troca de figurinhas é pela internet, existem sites especializados como o trocafigurinhas.com, em que o usuário precisa criar uma conta e selecionar os álbuns que deseja

Crianças e adultos se espalham em frente à banca, no Santa Lúcia, para trocar figurinhas colecionar ou cadastrar as figurinhas para trocar. Além disso, os participantes podem interagir entre si, através de mensagens e fóruns nos quais trocam informações. Ainda há uma página na rede social Facebook, em que quase 3.800 pessoas participam e que aumenta a interatividade entre os internautas que se interessam pelo assunto. Segundo o site, por dia, cerca de 20 novos usuários criam uma conta. As trocas são feitas por meio de mensagens entre os interessados para que depois postem nos Correios. No site, é possível agendar encontros em diversas cidades, já que o site possui membros de todas as regiões do Brasil. Alguns participantes conheceram o site por indicação de amigos ou por

pesquisas na internet, como é o caso de Adriana Neves, 39, do Rio de Janeiro e que entrou no site em setembro deste ano. "Desde que entrei, já fiz 41 trocas e estou aguardando 12 chegarem em minha casa", conta. Ela começou com esse hobby durante a infância e passou para as duas filha. "Para mim, todas são especiais, cada uma com um encanto. Já completei três álbuns e estou próxima de completar mais dois", diz. O paulista Ronaldo Faria, 37, também gosta de figurinhas desde pequeno. "Gosto de figurinhas desde criança, quando tinha por volta de 10 anos. Conheci o site na internet em julho de 2010 e já efetuei mais de 400 trocas e completei vários álbuns", comenta.

Aplicativo interage com pessoas pela fotografia n CAROLINA SIMÕES 2º PERÍODO

Por meio da fotografia, os usuários da rede social Instagram têm o intuito de compartilhar pequenos detalhes de suas vidas pessoais, com fotos do próprio usuário, de algum lugar interessante que ele passou durante o dia, de amigos, do pôr do sol, enfim, vale tudo. O interessante da questão é que o aplicativo tem a possibilidade de se comunicar por intermédio da fotografia, numa sociedade em que existe uma demanda muito grande de acessibilidade, ele dá a oportunidade de acesso e visibilidade na vida de todos ao redor.

O Instagram, que foi apelidado de "twitter da imagem" por sua instantaneidade e sua rápida repercussão, apresenta uma característica interessante em relação às pessoas que o utilizam. "Os usuários estão o tempo todo buscando por uma audiência maior ao seu respeito, e tentando mostrar o lado positivo de suas vidas e buscando demostrar felicidade. O aplicativo traz essa possibilidade por meio de imagens que o sujeito publica em seu perfil, buscando ser validado em várias esferas de suas vidas", afirma Polyana Inácio Rezende Silva, 32 anos, fotógrafa e mestranda da PUC Minas. Juntamente com o orientador Eduardo de Jesus, professor do

Curso de Comunicação Social da PUC Minas, Poliana está realizando uma pesquisa que tem o aplicativo como tema central. "Precisamos que os amigos nos reconheçam como amigos, que o chefe respeite nosso trabalho, que os outros observem como somos capazes de realizar algo. As redes sociais são ferramentas potentes para isso, e devemos utilizá-las", observa. A fotógrafa afirma ainda que existe um exagero que ocorre por parte de algumas pessoas em alguns momentos quanto a essa exposição. De modo geral, em função dessa visibilidade, as pessoas buscam ser bem vistas, queridas e aceitas. "É nesta hora que os usuários podem se dis-

trair quanto ao que estão fazendo, ao invés de pensar: ‘o que realmente quero comunicar sobre mim?’, ‘devo compartilhar tal fato sobre mim?’", acrescenta. Além de fotos pessoais, o Instagram também promove um lado cultural. Existem grupos espalhados pela rede social com temáticas diferentes. Em Belo Horizonte existem diversos grupos, entre eles o mais popular "Iggers Belo Horizonte" que promove diversos concursos na tentativa de incentivar os usuários a fotografar mais, dando uma sugestão de tema, e prêmios para os ganhadores. Em diversas ocasiões o grupo sugeriu que os usuários compartilhassem fotos de algum local da capital, e em seguida as

fotos seriam selecionadas por jurados que escolheriam desconhecendo o autor. O ganhador teve a foto exposta em lojas espalhadas por Belo Horizonte. O que mostra que as fotos das cenas mais comuns e simples do cotidiano também podem virar arte. Como confirma a usuária assídua, Mariana Luiza Almeida, estudante de 18 anos, que compartilha suas fotos usando diariamente o aplicativo. "Acho que o Instagram é uma rede social muito ampla, a experiência de fotografar qualquer momento deixa tudo ainda mais interessante, porque é uma rede social não só destinada para amantes de fotografia, como para qualquer pessoa", destaca.

RAQUEL DUTRA

Popularização ou banalização? O Instagram dá a oportunidade para qualquer pessoa fotografar e compartilhar sua vida por meio de imagens. Por esse motivo entra em discussão se o aplicativo teria um lado negativo de banalização da fotografia. Como explica o profissional e professor de fotografia da PUC Minas, Eugênio Sávio, o aplicativo dá a possibilidade de filtrar o tipo de imagem que você quer ver, então aqueles que postam as fotos mais banais não tem feito sucesso. Entretanto, existem pessoas interessantes que vão pensar melhor sobre fotografia, o que é fotografar, como se expressar Polyana Silva destaca a possibilidade de edição das fotos como diferencial do Instagram

através da imagem. Assim, segundo ele, a solução é seguir as pessoas que podem ser uma referência, usuários que estão usando aquilo de uma forma inteligente, construtiva, no sentido de se expressar fotograficamente. "Quanto mais gente fotografando, melhor. O Instagram inclui a oportunidade de processar um pouco a imagem, fazer um acabamento mais refinado, ele está contribuindo para divulgar mais a fotografia, pra que as pessoas compartilhem mais. Eu acho que é um fenômeno muito positivo", avalia. Segundo Polyana Inácio, o Ins-

tagram não é a primeira rede social relacionada à fotografia, o seu diferencial está na edição das fotos. Os efeitos dão às fotos uma dimensão extraordinária, as tornam mais interessantes e valorizadas. A estética do aplicativo fornece os efeitos mais diversos que misturam resultados que se obtinham nas fotografias do passado através da química do momento da revelação da foto no laboratório, além de trazer um apelo retrô da década de 70. Sendo assim, seu sucesso pode ser atribuído às funcionalidades que ele tem hoje, que é uma rede social porque ele gera interação entre os usuários, é um editor de imagens, compartilhador imagens prontas, e ele tem a funcionalidade de fotografar.


14Comportamento

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ADRENALINA EM ESPORTES RADICAIS Esportes radicias estimulam praticantes e ajudam a melhorar desempenho no trabalho. Atividade que incialmente era uma diversão, acabou se tornando profissão para Weslen Alvez MARINA RIBEIRO

n ALICE OLIVEIRA CAMILA FONSECA DÉBORA DE SOUZA MARINA RIBEIRO 7 º PERÍODO

Começou a voar, por meio do seu pai, com 16 anos. O voo de parapente rapidamente se tornou um hábito para o atleta mineiro de 20 anos, e o apreço pelo risco reflete a realidade dos praticantes de esportes radicais, ou de aventura, como também são chamados. Weslen Alvez mora há dez anos no pé da Serra da Moeda, em Belo Horizonte, principal ponto da cidade onde o esporte é realizado. O atleta é um típico caso de "viciados" em adrenalina. A história de Weslen começou antes mesmo de descobrir a paixão pelo parapente. Ele explica que resolveu testar o esporte depois que seu pai foi convidado, por um dos pilotos, a voar.

Seu pai recusou o convite e perguntou se seu filho poderia voar no seu lugar. Weslen foi, fez um voo duplo (quando o instrutor voa junto com o aluno) e se apaixonou. "No mesmo dia virei para ele e falei: Pai, quero um brinquedo desses! E no outro dia comecei a fazer aula", conta. O atleta mineiro chegou a mudar de país por conta do amor ao esporte. Morou dois anos na Nova Zelândia sendo patrocinado por uma marca de energéticos. Durante esse período participou de competições, mas sempre viu o para-pente como um hobbie. "Quando surgiu a oportunidade de viajar para competir não tive dúvidas, mas serviu como uma oportunidade para conhecer o mundo e praticar o esporte que amo, não como um trabalho para vida toda" afirma. O fascínio de

Weslen e dos demais atletas pela prática dos esportes radicais está diretamente ligada à produção, no organismo, de adrenalina combinada com a noradrenalina. "Esta combinação faz com que o atleta controle seu medo, fique em alerta, eufórico e tenha um comportamento relativo à impetuosidade, promovendo uma ação energética e com motivação", explica Rafael Miranda, doutor em Psicologia do Esporte. De acordo com o profissional, os atletas de esportes radicais gostam de sentir os efeitos da adrenalina e da noradrenalina. Em outras palavras, o especialista explica que os atletas gostam porque sabem que o medo pode ser controlado quando transformado numa forma de alerta e euforia, pois têm consciência do plano de ação e dos

Weslen Alvez em ação na Serra Da Moeda: O atleta mineiro voa de parapente há quatro anos

movimentos que precisam realizar. Para eles, a adrenalina passa a ser um estimulante natural e o corpo fica potencializado para a ação. Esse desejo pela conquista da

Substituindo a rotina do terno e da gravata por aventuras ao ar livre MARINA RIBEIRO

Preparar, treinar diariamente e conquistar objetivos. Essa pode ser a rotina de muitos atletas, mas também a de quem vive em escritórios e salas de reunião. Paulo Bittencourt, 41 anos, sócio-diretor de uma empresa de softwares é um exemplo. Há quatro anos, quis apenas praticar esportes para emagrecer e deixar de levar uma vida sedentária. De pequenas corridas passou a praticar pequenas maratonas e voos de parapente. Paulo afirma que o treino intenso proporcionou-lhe um equilíbrio mental. "Minha atividade cerebral tem que ser ativa. Então, se não tenho esse momento de liberação de energia, posso adoecer física e mentalmente." Paulo afirma ainda que sente-se mais preparado para lidar com situações de estresse, pois aprendeu que este não precisa ser negativo. O sócio-diretor diz que após praticar esportes, consegue voltar renovado e centrado para o trabalho. Getúlio Vieira Guimarães, consultor de recrutamento e seleção de executivos, aponta que há maior participação de executivos em esportes de desafio, com mais barreiras a serem ultrapassadas. A escolha pe-

Paulo Bittencourt, de 41 anos, é maratonista e pratica voo livre

las atividades é influênciada pelo cargo ocupado. "Quando o executivo atinge objetivos no hobby, e ocupa posições de destaque, isso faz uma diferença grande", explica Getúlio. Paulo percebeu os resultados positivos em seu ambiente de trabalho logo nos primeiros meses. "Atualmente as empresas buscam profissionais com habilidade para motivar pessoas, e que possuam uma liderança que possa ser moldada por situações que nem sempre são positivas, ou seja, o líder tem que ter a capacidade de adequar-se ao momento. Nada melhor do que estar a 2 mil metros do chão" comenta. Dentro desta dinâmica, Paulo pretende con-

seguir delegar e motivar seus funcionários para que reajam positivamente, dêem o seu melhor e alcancem resultados esperados. Já a história de Ricardo Bedran, 37, com esportes é longa. O executivo chegou a participar de competições de wakeboard. "Ando de wake desde os 30 anos. Além da adrenalina, a sensação é de equilíbrio". Mas as brincadeiras dos amigos, que o consideravam "velho" para iniciar o esporte, não fizeram com que Ricardo desistisse. Depois de três anos praticando, resolveu mudar para um condomínio próximo à lagoa onde pratica esta modalidade de esporte,

em Belo Horizonte. Ricardo viaja muito por causa do trabalho, assim, aproveita para praticar a modalidades em viagens, durante os finais de semana ou em folgas de uma ou duas semanas. "Tenho mais autocontrole, que é importante para um gestor. Também mantenho o bom humor e encaro problemas como desafios", afirma. Para Ricardo, os principais benefícios psicológicos são a força e a persistência diante de obstáculos. Para a vida pessoal e empresarial, ele acredita que ser resiliente é muito importante. Também acrescenta que ter algum hobby diminui a pressão diária enfrentada no trabalho. Getúlio Guimarães observa que, geralmente, gestores não se contentam em fazer coisas comuns. Afirma que eles têm melhores condições sócio-econômicas para se envolverem em atividades que exigem mais investimentos. "Os esportes mais radicais o estimulam a superar-se. É uma realização, e o desafio é a principal motivação", afirma.

adrenalina, faz com que muitas pessoas mudem suas vidas e rotinas. No caso de Weslen, adrenalina serve apenas como passatempo, mas alguns profissionais aprende-

ram a usar a substância para melhorar a qualidade do trabalho dentro dos escritórios, e trocam suas rotinas maçantes por algumas horas de liberação de endorfinas.

Empresas adotam novos métodos de treinamento Para grandes empresas o maior desafio é manter seus funcionários focados nos objetivos, além de motivá-los a observar as conquistas como méritos de todos, e não apenas méritos individuais. Pensando nisso, alguns profissionais desenvolvem treinamentos organizacionais radicais. Os projetos oferecem às empresas a oportunidade de treinar seus gestores e colaboradores de uma forma diferente, usando os esportes de aventura como o desafio a ser conquistado. O treinamento alterna atividades didáticas variadas, usando modalidades específicas do esporte de aventura como forma de aprendizado. Entre estas atividades estão o paintball, o rapel, a tirolesa, o arvorismo e a escalada. Para Hérika Secundino, diretora de um desses espaços, o MinasRadicale – localizado em Alphaville, condomínio a 25 quilômetros de Belo Horizonte – a eficácia das atividades físicas na motivação dos profissionais é imediata. "A superação de desafios induz o participante a captar e atingir níveis cada vez maiores de conhecimento de si mesmo, através da percepção de seus limites frente aos desafios da equipe e da organização. Experiências físicas e intelectuais são alternadas durante o treinamento, a fim de apurar as percepções do grupo. Os benefícios são variados e excelentes", diz. Ana Cecília Barros, 32 anos, é diretora financeira de uma grande empresa, e participou de um treinamento de suar a camisa. No início, achou a idéia da empresa complicada, achava que os colegas de trabalho não iriam se envolver. Após passar alguns dias praticando diversas atividades com sua empresa, ficou surpresa com os resultados: - "Não sei qual a forma de treinamento correta, mas a liderança acontece junto com a inovação. Essa idéia de nos levar para um treinamento radical, com certeza, foi inovadora." justifica. Além de melhorar sua qualidade de trabalho, Ana Cecília descobrir no rapel um hobby, e agora o pratica com frequência.


Cidadania

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Novembro • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

GRUPO LEVA ALEGRIA E SORRISOS Voluntários se reúnem para realizar projetos em creches, asilos e outras instituições. A iniciativa que começou em 2011, conta com a colaboração de patrocinadores e envolve moradores n CLARISSA FRANÇA TAÍS DA SILVA 4º PERÍODO

O grupo Engenheiros da Alegria tem por objetivo realizar sonhos. O sonho realizado da vez será o da creche Sementes do Amanhã, no Bairro São Francisco, em Belo Horizonte, com a construção de uma quadra, de uma horta e de uma pequena reforma na casa onde se localizam. O término das obras está previsto para o meio de novembro, graças ao patrocínio que conseguiram com a Holcim, empresa que fornecerá todo o concreto necessário para as obras. Os Engenheiros da Alegria formaram-se como grupo em 2011 e se baseiam no Jogo Oásis, uma tecnologia social, que convida a comunidade a projetar e construir de forma cooperativa um projeto desafiador, escolhido pelos moradores. É um projeto sem fins lucrativos e, a princípio, sem patrocinadores. Os patrocínios surgem dependendo da obra prevista. O grupo, ao contrário do que o nome sugere, possui representantes não só do curso de engenharia, mas um voluntariado aberto a quaisquer pessoas que compartilham os mesmos objetivos. Atualmente, este volutariado possui cerca de 150 integrantes e não há restrição de idade ou qualquer pré-requisito.

Para participar, só é preciso querer construir sorrisos, como diz o coordenador Thiago Raydan, de 19 anos, estudante de engenharia ambiental. "Nós somos mais construtores de sorrisos do que engenheiros. Tem de tudo junto com a gente. Lá dentro ninguém tem profissão, são os engenheiros da alegria", afirma. Thiago também conta que, inicialmente, o grupo fazia somente visitas às creches, asilos e outras instituições, mas que, a partir da visita à creche Sementes do Amanhã, os Engenheiros da Alegria reformularam a ideia do que realmente se tornaria o pro-

jeto. "A gente escolheu ela para reforma, na verdade, porque a gente já tinha feito uma visita com eles antes, mais descontraída, pra brincar com as crianças, e a criançada marcou a gente. Então, foi mais uma identidade que a gente criou com o pessoal da casa mesmo e a gente quer retribuir o carinho deles", diz o coordenador. O voluntário do projeto, Lucas Henrique de Oliveira, 24 anos, estudante de engenharia de produção, pensa que não custa nada participar do grupo. Para ele, este trabalho social é muito importante e qualquer atenção dada às crianças significa muito para

1º PERÍODO

Com o objetivo de quebrar a rotina dos pacientes e dos próprios funcionários, o Grupo Doutores da Alegria e da Graça chega ao Hospital Júlia Kubitschek, no Barreiro, em Belo Horizonte, esbanjando alegria. Os 'palhaços' entregam aos familiares um pequeno folheto contendo mensagens positivas e motivadoras. Ao chegarem aos quartos dos pacientes, eles entram sempre acompanhados por um violonista cantando músicas e contando histórias engraçadas para anular o clima de tristeza e tensão. O trabalho voluntário do grupo é feito por meio do Ministério de Ação Social da Igreja Batista da Graça, liderado por Marcus Lopes, de 48 anos e Cristina Paula, de 35 anos, que visitam, quinzenalmente, o hospital atendendo a mais de 30 pacientes, levando alegria, conforto e fé para pessoas enfermas. "É uma honra poder receber um grupo desses, quando a gente mais preci-

zes com a ação do grupo Engenheiros da Alegria. Segundo ela, sempre há algo a ser melhorado na creche, no entanto eles precisam dar prioridade ao que é mais urgente, por isso ainda não haviam feito a reforma que agora está em andamento. "Eles vieram, a gente foi mostrando nossas propostas para eles, nossas necessidades e eles aceitaram com muito carinho", declara a pedagoga. Ela ainda garante que as crianças adoram o grupo e estão muito entusiasmadas com a construção da nova horta. "A gente está muito feliz. No sábado, eles estavam aqui na maior boa vontade, no sol, limYASMIN TOFANELLO

Integrantes do Grupo Engenheiros da Alegria se vestem de personagens infantis e levam amor e carinho para as crianças da creche Sementes do Amanhã

Doutores da fé e da esperança n ANA LETÍCIA DINIZ DOUGLAS SILVA PEREIRA FLÁVIA GAIA SAULO COELHO SÉRGIO EDUARDO MARQUES

elas. "É muito gratificante, você não gasta nada com isso. Eu, por exemplo, não iria fazer muita coisa produtiva nesse horário e posso estar aqui ajudando muita gente", afirma o estudante. De acordo com a pedagoga da creche Sementes do Amanhã, Vanessa Mendes, a creche cuida de crianças de comunidades carentes, de 2 a 6 anos, em período integral e depende de doações para comprar o material escolar e o alimento dos meninos. No entanto, afirma nunca ter lhes faltado nada, embora passem algumas dificuldades. Vanessa diz que todos na creche estão muito feli-

sa. Eles são verdadeiros anjos na Terra", conta Anderson Oliveira, 37 anos, que é esposo de Juliana Gonçalves, de 32 anos. Com o nome de Dra. Pink, a estudante e voluntária do grupo Doutores da Alegria e da Graça, Natália Santiago, 17 anos, conta uma história que mudou a vida dela quando estava internada em um dos quartos da UTI do Hospital. Exatamente há seis anos ela se encontrava internada com um câncer no ovário e recebeu a mesma visita dos ‘palhaços’ que lhe motivaram a lutar contra a doença, até que foi curada do câncer após muita fé e oração. "Se eu não tivesse recebido a visita daqueles doutores, eu não teria força pra superar a minha doença. Além de receber a palavra de Deus aquele dia, pude também renovar minhas forças pra seguir diante e ser curada", conta Natália. Alguns anos depois, ela estaria fazendo parte, e visitando pacientes com o mesmo problema de saúde. Além de levar palavras de motivação, os Doutores da Alegria e da Graça tem como o foco principal levar a fé e principalmente a pala-

vra de Deus para aqueles que precisam. O Hospital Júlia Kubitschek possui atendimento em pediatria, clínica médica, cirurgia geral e gineco-obstetricia e por ser um hospital público, que pertence à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, recebem diariamente 50 pacientes com vários tipos de problemas de saúdes e financeiros. "O trabalho realizado pelo Grupo é muito importante para os pacientes e para os acompanhantes. Eles que ficam o tempo todo sozinho aqui no hospital, e quando existe algo para alegrar ambos, isso faz toda diferença", conta a enfermeira Juliana Passos, de 26 anos, que cuida da ala dos idosos no Hospital. Os ‘Doutores’ que fazem visitas a cada 15 dias não cobram e nem recebem pra irem ao hospital. Por acreditarem que fazendo o bem ao próximo já é mais que um salário, o grupo está sempre aberto a novos integrantes. As pessoas interessadas em querer ajudá-los, devem primeiro realizar um treinamento para poder interagir com os pacientes, que muitas das vezes estão bem deprimidos e não querem nenhum tipo de visita.

pando tudo, varrendo, ajudando a fazer o outro pátio. E os meninos sabem, eles estão vendo e gostam muito deles", afirma. A aluna da creche, Carolina de Jesus, 6 anos, confirma o que diz a coordenadora. "Eu acho legal, porque eles fazem um monte de coisa com a gente. A gente brinca, eles trazem pirulito, a gente planta tudo, planta milho e alface", conta Carolina. Quem também aprova o trabalho dos Engenheiros da Alegria é a diretora da creche Cleonice Duarte, 65 anos. Segundo ela, a iniciativa é maravilhosa e, em sua opinião, mais universitários deveriam realizar um trabalho como este, não só na creche Sementes do Amanhã, mas em outras comunidades. A diretora diz também que o diferencial dos Engenheiros é a capacidade de reunirem diversas pessoas em torno do projeto. "Eles são muito alegres, eles juntam um monte de gente, não ficam presos àquele grupo deles não, vem todo mundo. Eles convidam via internet e já veio tanta gente que eu nem sei de onde vieram. Mas, a gente vê que eles promovem os jovens e é importante que eles venham, conheçam e aprendam também a conviver numa sociedade tão carente, que precisa dessa iniciativa", afirma Cleonice.

Inspiração em ONG dos EUA O Grupo Doutores da Alegria e da Graça, que realiza o trabalho voluntário levando humor a pessoas internadas em hospitais, se inspiraram na ONG dos "Doutores da Alegria", que nasceu da experiência de uma organização semelhante, a Clown Care Unit™, de Nova Iorque. Quem trouxe o grupo para o Brasil foi o brasileiro Wellington Nogueira, em 1991. O grupo Doutores da Alegria se mantém por meio de projetos de incentivo do governo e está inserido em importantes capitais brasileiras: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro

e Recife. Ao todo, são mais de cinquenta profissionais espalhados por essas cidades, em Belo Horizonte trabalham seis doutores que atendem apenas crianças, às vezes o trabalho é feito junto com pais e eles também entram na brincadeira. Os Doutores da Alegria são artistas formados e registrados, com especialidade na aparência do palhaço. Ser "Doutor" da Alegria é uma profissão. Eles são voluntários apenas para os hospitais, que não pagam nada pelos seus serviços e cedem apenas o almoço para os artistas.

CRÉDITO

Integrantes do “Doutores da Alegria” levam sorrisos e esperança para pacientes graves internados em hospitais


16Cidadania

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• 2012

A ARTE E SEU PODER n JAIANE CRISTINE MAIKYSON COELHO TAMARA ELEOTÉRIO VICTOR MARCELO 1º PERÍODO

"Eu quero. Eu posso. Eu consigo", disse Yuri Audrey, ex-aluno de 24 anos que viu sua vida mudar após participar do Programa Valores de Minas que há sete anos beneficia anualmente cerca de 500 jovens entre 14 e 24 anos de idade e que estudam em escola pública. Por meio dessa iniciativa do governo de Minas Gerais, os alunos aprendem artes como circo, dança, teatro, música e artes visuais, o que proporciona inúmeras mudanças em diferentes aspectos na vida e na personalidade desses alunos. Após um acidente de moto em 2010, Yuri encontrou nas oficinas de arte oferecidas pelo programa Valores de Minas a possibilidade de se recuperar do trauma sofrido. Morador do bairro Campo Alegre, em Belo Horizonte, o jovem disse ter tomado conhecimento do projeto quando estava no hospital. Ele se encontrou com duas alunas que o convidaram para assistir ao espetáculo organizado todo fim de ano pelos participantes do projeto. Yuri é um dos mais de 3 mil beneficiados pelo programa que funciona desde 2005. Ele trabalhava em uma empresa de Call Center, fazia panfletagem, catava latinha e prestava alguns serviços como motoboy. À época, com 22 anos, já praticava dança de rua com outros garotos do seu bairro antes do acidente. Entretanto, após o ocorrido que submeteu Yuri a uma cirurgia no joelho, ele começou a sentir-se desmotivado e a acreditar que não conseguiria mais dançar ou praticar qualquer outra forma de arte. Ao assistir o espetáculo final que envolve todas as artes oferecidas pelo Valores de Minas – teatro, circo, dança, música e artes plásticas – Yuri ficou emocionado com o que viu e disse querer fazer parte daquela grande produção. Porém, o jovem acreditava que ele não seria selecionado por causa da sua idade. "Eu tinha 22 anos e ia fazer 23. Achava que eles dariam prioridade a uma pessoa mais nova, mesmo sendo permitida a participação de jovens entre 14 e 24 anos", conta. Yuri foi selecionado para o projeto e especializou-se no circo e na dança. Com o Valores de Minas, ele disse ter aprendido a ter determinação e foco. "Uma das coisas que aprendi no projeto foi a frase 'Eu quero. Eu posso. Eu consigo'. Isso me deu forças para continuar e superar as minhas dificuldades", salienta. Hoje, Yuri leciona dança e transmite aos seus alunos o que aprendeu com o Valores de Minas. O jovem disse que seus ensinamentos vão além da execução de passos de dança, procurando ensinar valores éticos e morais, de respeito ao próximo, às diferenças e ao convívio em harmonia. Ele reconhece o seu papel como multiplicador das artes e propagador de valores na sociedade. "Sinto que hoje, depois de ter participado do projeto, estou preparado para fazer a diferença, para mudar pra melhor a vida das pessoas", diz. A coordenadora Pedagógica do Progra-

MODIFICADOR Programa Valores de Minas contempla 3 mil jovens e estudantes de escolas públicas com o aprendizado de artes cênicas e visuais TAMARA ELEOTÉRIO

Por meio da valorização de manifestações artítiscas, como dança, teatro, circo, e música, entre outras, Programa Valores de Minas atende a jovens entre 14 e 24 anos

Alunos recebem apoio familiar para fazer arte Alguns pais apoiam seus filhos a ingressarem no meio artístico. Segundo Priscila Martins Silva, de 18 anos e aluna do teatro, seus pais aprovam sua participação no Valores de Minas: "A minha família me apoia muito. Meu pai sempre quis que eu fizesse teatro. Minha mãe no começo não queria muito, mas hoje ela aceita". Para a jovem, que sempre gostou de teatro, o Programa afetou diretamente sua vida e mudou seu modo de ser. "Eu era muito autoritária. Aqui no Valores a gente trabalha muito com a generosidade e aprendemos muito a ouvir o próximo. Eu amadureci muito depois do Valores de

ma, Carolina Cabral, considera que a arte promove a formação de caráter nos alunos e assim eles passam a ter uma percepção de si mesmo. "Trabalhamos com o aluno o individual e o coletivo, para que eles se fortaleçam e se percebam como cidadãos que fazem parte dessa sociedade, sem importar quem eles são ou de onde vieram", diz. Para ela, um dos focos do Valores de Minas é trabalhar o desenvolvimento humano através da coletividade, para cultivar nos jovens o respeito às diferenças. Segundo Carolina, o aluno aprende a ter responsabilidade e disciplina e ela se vê responsável pela formação desses jovens.

Alice no país das maravilhas Os alunos do Valores de Minas estreiam em novembro o espetáculo desenvolvido ao longo de 2012, e que será realizado no espaço Plug Minas. O tema deste ano será "Alice no País das Maravilhas Através do Espelho", obra do autor Lewis Carrol. A peça contará com a fusão das artes aprendidas durante o curso. O conto tem como personagem principal, Alice, uma menina que é transportada para um mundo estranho onde tudo é fantasia. Segundo o aluno de teatro, Vinicius Diniz, 17 anos, o Valores de Minas é uma experiência única que requer muita determinação. Para ele, o espetáculo é o resumo de todo um ano de aprendizado e troca de valores: "A cada dia a pressão aumenta: mais

treino, determinação e trabalho duro. A ansiedade e o nervosismo aumentam. Entretanto, nos sentimos confiantes porque o trabalho está sendo bem realizado", comenta. De acordo com o professor, uma das maiores dificuldades nos ensaios talvez seja lidar com as diferenças. Cada aluno possui suas limitações e é preciso saber agir nessas situações. "O nosso objetivo principal é trabalhar com a socialização". Segundo a coordenação do programa, a estréia do espetáculo está prevista para às 19h do dia 22 de novembro e são esperadas cerca de 500 pessoas no espaço Plug Minas, situado à Rua Santo Agostinho, 1441, no bairro Horto, em Belo Horizonte.

Minas". Priscila também disse que com o teatro ela diminuiu bastante sua timidez e melhorou a forma de se expressar no dia a dia. Com o Programa, Priscila conseguiu fazer muitos amigos que deseja levar para toda a vida. A jovem disse que pretende prestar vestibular para o curso de teatro na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e seguir carreira com essa arte. "O Valores de Minas te motiva a perseguir seus sonhos", ressalta. O mesmo pensa a ex-aluna Mariane Andrade de 19 anos e atualmente estudante de Fisioterapia. Para ela, o projeto causou inúmeras mudanças em sua vida.

"É um aprendizado diário. A cada dia eu aprendo uma coisa nova com eles". Carolina Cabral acredita também que uma das maiores dificuldades que os alunos enfrentam é a família. Segundo ela, a grande maioria dos pais é contra os filhos trabalharem com arte por acreditarem que ela não dará futuro a seus filhos. Um exemplo disso é o aluno Eustáquio Cassimiro Santos Junior, de 21 anos, que é aluno de dança, e considera que o projeto Valores de Minas foi um divisor de águas na sua vida. Desde criança Eustáquio sofria preconceito por se interessar pela arte. Aos cinco anos de idade ele começou a fazer aulas de balé e aos 8 anos seu pai o forçou a largar as aulas por acreditar que dança não era para homem. O relacionamento de Eustáquio com seu pai sempre foi muito conturbado. "Meu pai sempre me agredia. Ele costumava dizer que eu nunca conseguiria ser nada, que eu não prestava para nada", lembra. A única pessoa que apoiava o jovem era sua tia. Quando ela morreu, Eustáquio ficou muito abalado e desmotivado. "Eu entrei em depressão, cheguei a pesar 125 quilos, tive bulimia, parei de estudar". O jovem então se determinou a fazer o que ele sempre quis: dançar. Eustáquio decidiu se inscrever para o Valores de Minas e foi aprovado. Entretanto, teve que lidar com a relutância de seus familiares. Para ingressar no Programa, foi preciso que Eustáquio largasse seu emprego, o que não agradou seus pais, já que com esse trabalho ele ajudava nas despesas de casa. "No começo minha mãe não gostou de eu ter largado meu trabalho. Aí eu disse que era meu sonho e ela disse: 'então corre atrás'". O pai de Eustáquio ficou infeliz com o fato de seu filho fazer dança, mas o

Ela diz que aprendeu a se aceitar e a ser ela mesma: "Após o programa eu aprendi a me aceitar e a gostar de mim do jeito que eu sou, independentemente daquilo que a mídia propõe. Eu posso ser feliz simplesmente sendo eu mesma", diz. O projeto Valores de Minas abriu portas para que Mariane desse continuidade na dança, arte em que ela se especializou. "Com o Programa, tive a oportunidade de ingressar na Cia Seraque, uma das maiores companhias de dança contemporânea de BH", destaca Mariane, que leciona dança em uma escola integrada, acreditando na importância de propagar o que aprendeu no Valores.

rapaz não desistiu. Segundo Eustáquio, participar do projeto foi fundamental em sua vida e proporcionou bons resultados, a começar pela relação com seu pai. "Depois que eu entrei no Valores de Minas eu melhorei minha forma de relacionar com as pessoas, principalmente com meu pai. Antes de entrar no Programa ele nem me chamava de filho, e hoje ele já me trata como tal", explica. Para Eustáquio, os educadores desempenharam um papel muito importante para que ele pudesse aprender a lidar com seus problemas pessoais. "Se alguém me dissesse, antes de eu entrar no Valores, que eu era incapaz de conseguir algo, eu acreditava desistia. Hoje, se alguém me diz que eu não vou conseguir, eu provo pra essa pessoa que eu sou capaz sim". Em relação ao futuro, Eustáquio quer fazer um curso técnico de moda e terminar os estudos. "Eu tinha medo de ser eu mesmo. Aqui no Valores a gente é livre para ser quem nós somos. Aqui todo mundo é aceito", afirma. Outro exemplo de relutância familiar pode ser observado em Ana Carolina Silva dos Santos, de 17 anos. Antes de entrar para o Valores, Ana Carolina já fazia aulas de música. "Fiz a inscrição no Valores de Minas sem meus pais saberem. Tentei duas vezes e não consegui, tentei pela terceira vez e depois de chorar com a coordenação eu consegui entrar", diz. Também aluna de circo, Raysa Fernanda Cardoso 17, igualmente encontrou empecilhos familiares para participar do Programa. "A minha tia me informou sobre o Valores. Quando falei com minha mãe, ela me mandou procurar alguma coisa para estudar", conta Raysa, que enfrentou a oposição da mãe e entrou no projeto.


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