Espiritualidade no trabalho em saúde

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maria amélia medeiros mano

médicos e pais de santo, os que estivessem dispostos a ajudar. De fato, conforme Ferreira (1993, p. 68), “é um engano reduzir a doença a um simples fenômeno biológico”, isolado. O indivíduo doente não vê somente aquela parte do seu corpo que dói, mas todas as repercussões da dor e do medo da doença em sua vida, desorganizando seu dia a dia, interferindo nas relações de trabalho e familiares. Fato também estudado por Montero (1985) e Pacheco (2000) em que apontam a doença como um processo que extrapola o corpo físico, envolve sentimentos e dores psíquicas. Sobre a dor psíquica, Pai Nairóbi explicou: Então, o que é doença psicológica? É que a pessoa acha que tem que ter, começa a pensar em ter, e, no entanto, não é isso. Às vezes, continua assim sempre. Tem pessoas que casam com a dor. [. . .] Então, isso se chama doença espiritual, que só os arcanjos e os orixás é que vão doutrinar e retirar o espírito. [. . .] Porque o que é espiritual, a doença espiritual, vem de um espírito vagante, um espírito sofrido que por mais que a ciência faça as máquinas, não vão descobrir o que o paciente realmente tem. Mas eles estão sentindo muitas dores. [. . .] E quando é para o médico, nossos orixás respondem [sublinhado meu]. Pacheco (2000, p. 39) encontra a mesma significação em sua pesquisa em que um sujeito afirma que “a origem espiritual da doença, na maior parte das vezes, é ocasionada por uma energia negativa que apoderou-se da pessoa”, tendo, nesse caso, de ser tratado não só o corpo, mas o espírito do doente. Porém, apesar de Pai Nairóbi atender o “possuído” que a cultura religiosa lhe designava, não atribuía a doença e a cura somente aos espíritos, também reconhecia o poder do pensamento humano, a capacidade que tem de atrair coisas boas e ruins e de produzir saúde e doença. Às vezes, conforme Pai Nairóbi, o problema estava dentro de cada um, daí uma conversa simples poderia resolver: Porque o médico vai conversando com ele, [o doente] vai desabafando e ele [doente] se sente assim, uma pessoa muito importante para o médico. Aí, [o doente] não vai ter o mé-


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