Introduçao digita guia do cursista

Page 102

classificaria como “arquivista” e colecionadora. Ter um diário íntimo é uma maneira de colecionar os dias... Colocar-se no papel cotidianamente é também uma nova maneira de se desnudar e de decifrar o próprio interior sem ter que pagar uma terapia (...) Alguns releem seus diários e se surpreendem com o que escreveram. Outros não compreendem mais nada. (...) Um diário é uma encenação, uma representação de si. Nós somos a personagem principal de nosso diário. Nós temos, às vezes, a tendência a escrever as coisas não como elas são, mas como deveriam ser. Escreve-se para embelezar ou dramatizar a vida, para lhe dar um sabor novo. O diário é, muitas vezes, um dos últimos refúgios do sonho.”(SCHITTINE, 2004, p. 15).

Esse depoimento apresenta motivações bastante abrangentes. Em primeiro lugar, é clara a função do registro em um blog como uma forma de memória externa, que auxilia o autor a refletir sobre sua própria vida e a repensá-la, para melhor compreender-se. Mas, e por que o desejo de publicação? A autora trabalha a hipótese da sensação de imortalidade. Historicamente, a escrita se estruturou como uma possibilidade de registro de informações para as novas gerações, ou seja, uma forma de deixar um legado, de não ser esquecido. Assim, ao publicar textos na Internet, qualquer pessoa pode vivenciar a experiência de fama e “imortalização”. Mas, qual a relação desses aspectos com a educação? Antes de começar navegar e conhecer bons blogs, vamos tentar compreender as razões que estão levando diversos educadores a se apropriarem dessa ferramenta como mais um recurso pedagógico. Iniciaremos então com o relato de uma educadora, Nize Maria Campos Pellanda, que usa os blogs em um projeto educativo com jovens do meio rural: “Os jovens, então, vão escrevendo suas autonarrativas nos seus blogs. No início do projeto, essas narrativas eram muito pobres, porque reduzidas a clichês muito simples do tipo: meu nome é fulano de tal, moro na cidade tal, gosto de festas e de músicas. As reflexões sobre si estavam completamente ausentes. Além disso, as sentenças careciam de estrutura. Muitas vezes não havia pontuações e as frases emendavam uma na outra. Os erros ortográficos eram a regra. Com o desenvolvimento do projeto, eles vão se colocando mais nos textos e trazendo outros fatos do cotidiano sobre os quais vão tomando posição. Começam a emergir ideias sobre valores, sobre os próprios atos e opiniões sobre os outros. As frases vão ficando mais estruturadas e diminuem os erros ortográficos, pois eles, ao relerem seus textos, fazem algum tipo de estranhamento do

98


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.