23 noites de prazer juliana costa

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meus superiores por isso… mas o que eu poderia fazer? Passei os dedos pelas folhas de papel. – Com licença – não sei por que Vicent insistia em pedir licença quando se aproximava da minha mesa. Ele aparecia do nada e começava a falar como se eu não tivesse qualquer outra ocupação na vida a não ser ouvi-lo. – Meu relatório sobre o manuscrito do Igor. Revise e repasse pro pessoal da diagramação, sim? E, sem nem ao menos um “bom dia” ou “até logo”, ele se foi. A educação de Vicent se reduzia ao seu “com licença” inexpressivo. Vicent era um dos membros da nossa equipe de edição. Ele lia e relia manuscritos várias vezes para encontrar falhas e para passar sugestões tanto ao pessoal de revisão quanto ao pessoal de diagramação sobre como tornar o texto mais encantador aos leitores. Eu esperava profundamente que dessa vez seus relatórios fossem inteligíveis, ao contrário das coletâneas de informações genéricas que ele geralmente jogava em uma folha de papel A4 semana após semana. O Caminho atrás da casa, de Igor Bolt, era o nosso manuscrito estrela do semestre, mas as correções que Vice fazia eram sem nexo. E por “sem nexo” eu quero dizer idiotas. Era a terceira vez que ele tinha que refazer o relatório em um período de cinco dias; todas as vezes, por um pedido meu. Esperava que dessa vez estivesse bom o suficiente para ser repassado, já que eu não teria coragem de pedir mais uma vez. O dia se passou sem horas suficientes para que eu terminasse tudo o que precisava ser feito, e papéis e mais papéis não paravam de se acumular em cima da minha mesa. – Bom dia, linda – Colin tocou em meu ombro e eu senti um arrepio passar pelo meu corpo. Abri um largo sorriso, mas ele já tinha saído. Ele sim era um homem educado e encantador. A linha de chegada para a qual todas as mulheres corriam. Ele seguiu direto para a copa distribuindo cumprimentos e sorrisos. Espreguicei-me na cadeira tentando estalar a coluna e pensei que esse poderia ser um bom momento para uma pausa para um café. Passei os dedos pelos cabelos em uma tentativa inútil de arrumá-los. Respirei fundo e me dirigi para a copa. Era agradável ter esses pequenos encontros sociais com o Colin, pois ele tinha um jeito charmoso de soltar comentários simples que faziam com que eu me sentisse especial. Mal coloquei a mão na porta vaivém e escutei a voz rasgada de Vicent sorrindo lá dentro: – … umas seis horas. Vamos, Colin! Vai ser divertido. – Talvez. Pode ser que eu chegue um pouco atrasado, tenho muito trabalho hoje. E você? Já terminou tudo? – Já. A não ser que aquela mulherzinha irritante me faça ter que começar tudo de novo. A grande quantidade de risadas que ecoaram lá dentro deixou claro que Vicent tinha uma plateia considerável. – Do jeito que você escreve, eu fico impressionada que não te façam revisar tudo! – brincou uma voz feminina. – Muito engraçado – Vicent devolvia a brincadeira. – Confesso que a caneta não é minha ferramenta preferida – insinuou. – E qual seria sua ferramenta preferida? – a mulher pronunciava as palavras como se elas derretessem na sua boca. – Ah, meu bem – era quase um sussurro. – Se você tiver um tempinho será um prazer te mostrar. Mais risos. – Acho que você devia focar seus agrados na Nahia, Vicent. Ela definitivamente não gosta de você, hein?


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