Luci, a filha de luciana

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Luci, a filha de Luciana Conto de VALDEZ JUVAL ed. lemos



VALDEZ JUVAL

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(CAPA: Imagem da Internet de autor nĂŁo identificado)



***

Logo que se aposentou, Eduardo Silveira resolveu passar uma temporada em uma Pousada na praia da Pedra Bonita, arrabalde de uma cidade portuária. Na bagagem o seu inseparável notebook e os apetrechos de pesca à beira mar. Sempre viveu sozinho. Ele e a solidão. No dia seguinte à sua chegada, com a maré em excelentes condições, foi fazer sua pescaria. Quando preparava a isca no anzol para o seu terceiro arremesso, uma criança de aproximadamente sete anos, loira, olhos azuis, muito bonita, aproximou-se e foi descarregando uma bateria de perguntas tais como era seu nome, de


onde era, o que vinha fazer naquele lugar, quanto tempo ia ficar e mais um punhado de indagações. Foi dando resposta a tudo com toda a paciência que lhe era peculiar. Ele também quis saber seu nome, o que estava fazendo sozinha ali naquela praia quase deserta e ela lhe disse chamarse Luci e apontando para um determinado ponto mostrou que estava com sua mãe e tinha sido ela quem comentara que ele era uma pessoa aparentemente de confiança. Por curiosidade foi lhe conhecer de perto. Com pouco tempo a mãe de Luci veio busca-la. Cumprimentou-o e de imediato lhe advertiu para não acreditar em qualquer coisa que, com certeza, a filha teria conversado. - Vive procurando uma pessoa para me servir de companhia. - A senhora mora só? – Indagou Eduardo de imediato, que desde sua aproximação já havia lhe observado da cabeça aos


pés. Jovem, atraente, encantadora mulher. Linda, tão linda quanto a Luci. - Vivo em casa de meus pais com minha filha. - Meu nome é Eduardo, estendeu-lhe a mão. - E o meu é Luciana. Prazer. Após as apresentações informais, convidou-a para sentar-se um pouco em um espaço na areia, que estava forrada com uma esteira. Interessado, procurou saber tudo de uma vez sobre sua vida e como sua curiosidade cobrava. Não foi fácil e muitas perguntas que fazia eram respondidas com monossílabos. Entre outras coisas pode saber que Luciana era casada com um marinheiro da Marinha Espanhola que integrava a tripulação do “Almirante Artur da Costa Pereira”. Do primeiro encontro para o


namoro e o compromisso de casamento testemunhado pelo Comandante, no interior da embarcação, tudo foi muito rápido. Logo depois o navio partira com juras do marido de que voltaria para realizar a cerimônia religiosa e outras formalidades legais. Nove meses depois de Luciana ter sido chamada de madame, Luci nascera e até hoje, nunca viu o pai. Agora, com sete anos, informada de tudo, não quer saber de sua existência. Desde a partida do marinheiro pouca notícia tivera. Algumas trocas de cartas e sempre, tudo, cercado de certo receio ou medo pois as correspondências eram censuradas. Difícil localizá-lo. Luci foi crescendo com a ajuda dos avós maternos. Luciana, trabalhava de vendedora (uma espécie de porta à porta) pois não queria assumir compromisso de horário para que


pudesse estudar e ajudar na criação da filha. Dessa forma estavam vivendo, até mesmo quando a situação se agravou, tendo em vista um acidente de seu pai que teve sua renda de estivador reduzida. Luci tem sido a única razão de viver de sua mãe Luciana. O principal motivo, certamente, de não se interessar por nova união. Despediram-se e Eduardo prometeu muito especialmente para Luci que lhe visitaria muito em breve. - Vou lhe esperar, tio – falou Luci.



***

Após o jantar Eduardo foi até o portão de acesso da pousada e olhou para um lado e para o outro da rua deserta e pouco iluminada da praia da Pedra Bonita. Ficou indeciso mas sentiu uma grande vontade de voltar a ver Luciana. Decidiu sair à procura da rua que ela lhe indicara. Caminhou lentamente pois não queria pressa para um possível encontro que, conscientemente, não sabia se deveria acontecer. Dobrou na primeira esquina e logo adiante avistou algumas crianças brincando de pular academia. Ao se aproximar, uma delas correu ao seu encontro e lhe abraçou.


- Que bom tio, que você veio. Era Luci demonstrando total felicidade. - Sua mãe está em casa? Luci fez menção de correr para chamala. Eduardo impediu: - Não, não, espere. Espere. Não quero incomodar. - Que nada. Tenho certeza que ela vai ficar muito contente. E partiu gritando o nome da mãe enquanto entrava casa à dentro. Luciana logo chegou, puxada pela mão de Luci. - Olá, quanta honra! Falou Luciana estendendo a mão para Eduardo. - Sinceramente tive uma grande vontade de lhe rever. A sua vida me despertou curiosidade e interesse de querer ser útil. - Sou muito agradecida. - Podemos conversar mais um pouco?


- Sim, por que não? Vou chamar Luci para nos acompanhar. E foram os três até uma sorveteria na esquina da própria rua, à beira da BR. Amenidades. Simples amenidades foi o que conversaram. Serviu para uma melhor aproximação. Daquela noite em diante passaram a se encontrar mais constantemente .



*** Certa feita Eduardo falou para Luciana que gostaria de alugar um casa onde iriam morar juntos. Quanto a Luci, seria registrada como filha. Trocaram beijos e ambos sentiram que somente o respeito era a razão para que o assunto não tivesse tido um desfecho a mais tempo. Mas, Luciana ponderou: - Para todos os efeitos, Eduardo, eu estou casada e apesar dos esforços ainda não consegui uma maneira de desfazer o vínculo matrimonial. O assunto vem sendo tratado em diversas embaixadas. As últimas notícias recebidas dele é que estava se preparando para vir nos buscar.


Deixaram o oportunidade.

assunto

para

outra

E os dias foram se sucedendo tornando mais forte aquela amizade já mais íntima e de prazer. Luci havia se superada nos estudos e era toda irradiante da alegria e felicidade que deixava transparecer. Até que um dia, era uma quarta-feira, Eduardo lembra muito bem, Luci chega à Pousada logo cedo, demonstrando que havia chorado durante toda a noite. Eduardo tentou acalmá-la e sempre muito preocupado quis saber o que estava ocorrendo. Seu pai havia dado notícias e estava de viagem marcada para vir busca-la com sua mãe. Não sabia detalhes, nem o insistiu. Esperou que, com Luciana lhe contaria tudo.

Eduardo certeza,


*** Era verdade. O marido de Luciana vinha disposto a leva-la e a filha. O castelo de Eduardo se desmoronou. Luci não se continha com a notícia. Implorava para deixarem ficar; que a mãe não fosse. Eram tão felizes como estavam vivendo! Luciana, sem dar demonstração do que sentia, foi instada para o seu posicionamento.


Falou que, na verdade, alimentava essa oportunidade por todo o tempo. Havia gerado daquele homem o fruto amado dos instantes felizes que convivera com ele. Apesar dos pesares, ainda o amava. Foram momentos marcantes de toda sua vida. A sua ausência foi justificada pois havia sofrido sequestro e isolamento total do mundo, juntamente com seus colegas. Que mais teria para dizer? - pensou Eduardo consigo mesmo. Ficou sem condiçþes para ao menos consolar Luci.


*** Desde a revelação de Luciana, Eduardo procurou evitar a companhia até mesmo de Luci mas esta, sempre que podia, ia chorar as mágoas nos braços de seu “tio”. Ele não tinha palavras para lhe aconselhar mas sempre alertava que era sua obrigação estar ao lado da mãe. Por covardia mesmo, decidira ir à capital rever seu apartamento e providenciar algumas coisas. Não estava se sentindo com coragem para enfrentar aquela partida. Acordara cedo naquela manhã.


Decididamente se ausentaria daquele ambiente cada vez mais constrangedor. Foi tomar o café da manhã. Para sua surpresa, na sala, Luci lhe esperava. Ao vê-lo, correu para o abraço e chorou. Eduardo conversou bastante com ela e mostrou com detalhes que era impossível alterar os acontecimentos. Deixou-a próxima de casa e continuou seu percurso. Não quis que mais alguém notasse sua presença. Somente retornou a Pedra Bonita três dias depois quando teve ciência que Luciana e sua filha Luci haviam partido. Chorou, mas ninguém sabe, ninguém viu.

***



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