Essas Águas

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O poeta tem a vantagem de conhecer estas duas águas – a que o molhou no passado e a que o banha hoje. Porém, é um presente de grego, pois o autor entende que não é possível mudar o que já passou. “debruço-me num espelho insosso:/ histórias que vão e vêm/ entre expurgos do que não fui.” Cagiano e sua busca infrutífera por um rio que nunca mais será o mesmo. Eltânia André nos presenteia com a prosa poética “antes da chuva”. Como o título sugere, o que vale é o presságio, é o cheiro do vento que prenuncia a tempestade, são outras águas transmutadas dentro de casa, é o mistério: “Assistiria dali o desconhecido. Isolamento das pressões do viver – era o meu projeto.” A escritora nos traz os sentimentos desconexos que antecedem um grande evento: “Ouço trovões. Alegro-me. Entristeço-me. Vivo na dualidade. A cadeira acolhendo-me.” A água transformada em algo útil, como o café, que a personagem beberá como se soubesse que aquela metamorfose lhe traria uma surpresa, que ela não sabe o que é, mas que aguarda ansiosamente.


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