Pietro Ubaldi - 10 - Deus e Universo

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Pietro Ubaldi

DEUS E UNIVERSO

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são esses tipos. Podemos ver o processo repetir-se na Terra, entre os seres que, tendo já percorrido um certo trecho do caminho da ascensão, acham-se mais próximos dos elementos brancos. Sua dor, que decresce com a subida, é bendita e confortada por Deus, repleta de esperança e sempre mais viva. Ela integra um sistema positivo, em que a dor está desaparecendo, enquanto o problema da felicidade se encontra em vias de solução, porque a vida está caminhando para Deus. Mais acima, os anjos não decaídos se apresentam imunes à dor, que adeja em torno de seus espíritos, incapaz de excitar neles as dolorosas ressonâncias para as quais a nossa natureza corrompida não pode fechar as portas. Contrariamente, a dor dos espíritos inferiores, que permanecem na revolta, é maldita, sem conforto, de esperança cada vez menor, dor que aumenta em cada queda do ser. Ela faz parte de um sistema negativo, em que a dor se potencia e a felicidade se afasta, porque a vida está caminhando para Satanás. Duas dores opostas, em sentidos contrários. A do santo é sacrifício útil, construtivo, de que se colhem frutos. A do mau é amarga consequência da destruição, que a carrega de mais ruínas. A dor do santo bendiz e cria; a do mau é feroz e destrói. Podemos agora imaginar essas correntes sinistrogiras do mal navegando às avessas no Sistema, no sentido contrário às dextrogiras do bem. Qual delas vencerá? Indubitavelmente a branca, porque é mais forte. A revolta padeceu de um erro fundamental de estratégia: haver confundido semelhança com identidade. Deus, na Sua bondade para com a criatura e por amá-la, fizera-a semelhante a Ele, mas não idêntica, isto é, da mesma natureza, mas não da mesma potência. A própria estrutura do Sistema implicava que Deus permanecesse centro, posição que nem mesmo Ele poderia ter cedido, ainda quando o Seu amor a tivesse desejado, porque então o sistema inteiro se teria alterado. O erro dos rebeldes estava justamente inserido em sua natureza egocêntrica de “eu sou”, como uma consequência sua, direta, pois consistiu na dilatação exagerada desta, a ponto de iludir a criatura, fazendo-a crer que semelhança pudesse vir a ser identidade. Efetivamente, a ela nada faltava como qualidade, faltava porém como quantidade. Foi essa quantidade que o orgulho admitiu que pudesse criar por meio da potência do próprio “eu sou”, retirando-a desse “eu” já tão divinamente poderoso. Porém enganou-se. Era absurdo o que pretendia. Mas a identidade estava ali, a meio passo, tão vizinha da semelhança, que o “eu sou” da criatura se deixou arrastar pelo instinto inato de dilatar-se. Quis nivelar-se a Deus e, ao invés de engrandecer, estourou. Eis o grande erro,


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