Huberto Rohden - O Homem

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Somente o homem de baixa evolução pode estar satisfeito com o seu estado, sem sentir a feliz insatisfação de uma possibilidade superior. A infeliz satisfação consigo mesmo mantém o homem primitivo num nível de uma estagnação estática. Mas, quanto mais o homem sobe tanto mais ele sente a feliz insatisfação com o seu nível atual, e tanto mais cresce o seu anseio rumo à um nível superior. A sua evolvibilidade cresce na razão direta da sua evolução. Num surto evolutivo de grande altura entra o homem, não propriamente numa feliz satisfação, como seria de esperar, mas num gozo sofrido, numa felicidade ao mesmo tempo feliz e insatisfeita; feliz, por estar na linha reta do seu destino; insatisfeito, porque a consciência da sua distância do Infinito se torna cada vez mais nítida e intensa. Se a vida eterna fosse um céu gozado, não seria aconselhável uma evolução superior. Mas o céu do homem superior é ao mesmo tempo um céu gozado e um céu sofrido, uma felicidade insatisfeita. Quanto mais alguém possui a Deus, tanto mais vai em busca dele – e esse mais-de-possuir e esse mais-de-buscar é a sua vida eterna, a sua eterna felicidade; não uma vida estática, mas uma vida dinâmica. Judiciosamente, diz a matemática: a distância entre qualquer finito e o Infinito é sempre infinita. Essa infinitude e essa retitude são os dois pólos sobre os quais gira toda a evolução do homem superior: um céu deliciosamente sofrido e dolorosamente gozado. É sabido que todos os avatares, as entidades de elevada evolução, descem a regiões inferiores a fim de poderem evolver ulteriormente. E Paulo de Tarso, como já lembramos, atribui essa antidromia ao próprio Cristo, que, pelo fato da sua encarnação terrestre, se tornou um super-Cristo, segundo o texto grego da Epístola aos Filipenses; depois de seus sofrimentos voluntários, o Cristo “entrou em sua glória”, numa glória evolutiva maior do que antes. Esse querer-subir-mais nada tem que ver com egoísmo, como pensam os inexperientes, mas é o destino de toda a creatura creadora, é a razão-de-ser da sua própria existência. Nem é exato atribuir essa antidromia dos avatares ao desejo de ajudar outras creaturas existentes em planos inferiores. O avatar não desce para fins de aloredenção, mas sim para sua auto-redenção ulterior, ou seja, sua maior autorealização. É que todo o alo-amor se baseia necessariamente num auto-amor:


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