Ensino Superior: Produtivismo e Alienação Acadêmica Professor Luiz Carlos Wrobel Director, Institute of Materials and Manufacturing
Unicamp 28 Abril 2016
Hist贸rico Doutorado na University of Southampton, Inglaterra, no per铆odo de 1977 a 1981 Retornou ao Brasil ap贸s completar o doutorado para trabalhar na COPPE/UFRJ, onde havia feito o mestrado Professor do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ de 1981 a 1989, quando foi convidado para trabalhar por dois anos num projeto de pesquisa na University of Southampton, e acabou ficando no Reino Unido at茅 hoje
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Histórico Mudou-se para a Brunel University London in 1996 na posição de Professor of Mechanical Engineering Ocupou os cargos de Diretor de Pesquisa do Departamento de Engenharia Mecânica (1996-2004), Vice-Diretor (Pesquisa) da Escola de Engenharia (2004-2014) e, desde 2014, é Diretor do Instituto de Materiais e Manufatura, um instituto de pesquisa com mais de 120 pesquisadores
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Histórico Membro do College do Engineering and Physical Sciences Research Council (EPSRC) Participou de vários EPSRC Panels, onde são discutidos e decididos financiamentos de projetos de pesquisa. Membro de um pequeno grupo de Brunel que preparou a participação nos Research Assessment Exercises (RAE) de 2001 e 2008, e do Research Excellence Framework (REF) de 2014.
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Hist贸rico Revisor de projetos de pesquisa para os seguintes 贸rg茫os de fomento: Natural Environment Research Council (NERC), UK The Leverhulme Trust, UK The Nuffield Foundation, UK The Royal Society, UK The British Council, UK National Science Foundation (NSF), USA Fund for Scientific Research (FWO), Flanders, Belgium Ministry of Science and Technology, Slovenia Ministry of Education, Slovak Republic British Council, Poland Austrian Science Fund, Austria National Research Foundation (NRF), South Africa National Science Centre, Poland Brunel University London
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Financiamento à pesquisa no UK Como participante internacional dessa mesa, eu gostaria de apresentar uma perspectiva baseada na minha experiência de acadêmico no Reino Unido. A idéia, nesse caso, não é de argumentar que o que se faz no Reino Unido seja melhor ou pior do que no Brasil mas, simplesmente, de apresentar como funciona o modêlo britânico atual de avaliação de pesquisa e distribuição de verbas para as universidades.
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Financiamento à pesquisa no UK
O financiamento à pesquisa no Reino Unido adota um sistema dual, semelhante ao brasileiro. Parte do financiamento é institucional, baseado nos resultados das avaliações periódicas de pesquisa (RAE e REF); a outra parcela é relacionada com financiamento de projetos.
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Financiamento à pesquisa no UK Os principais órgãos de fomento são os Higher Education Funding Councils (financiamento institucional), semelhantes à CAPES, e os Research Councils (financiamento de projetos), semelhantes ao CNPq mas temáticos. O EPSRC mencionado préviamente é um dos sete Research Councils (RCUK). Os outros seis são: Arts & Humanities Research Council (AHRC) Biotechnology & Biological Sciences Research Council (BBSRC) Economic & Social Research Council (ESRC) Medical Research Council (MRC) Natural Environment Research Council (NERC) Science and Technology Facilities Council (STFC) Brunel University London
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Financiamento à pesquisa no UK
Dois outros órgãos de fomento importantes são: União Européia, cujo programa atual, Horizon 2020, tem um orçamento de 80 bilhões de euros para o período 20142020
Innovate UK, semelhante à FINEP, que financia projetos de colaboração entre universidade e indústria.
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Disseminação de Resultados Há uma expectativa de que acadêmicos no Reino Unido, em todos os diferente níveis da carreira, publiquem os resultados de suas pesquisas Uma mudança introduzida recentemente pelo RCUK obriga a que todos os resultados de pesquisas financiadas pelo RCUK sejam publicadas em formato Open Access, incluíndo os dados gerados pela pesquisa A filosofia por trás dessa mudança é a visão de que toda pesquisa financiada com dinheiro público deve gerar conhecimento que beneficie a população e que seja, portanto, acessível à comunidade acadêmica e ao público em geral Brunel University London
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Disseminação de Resultados Atualmente, todo projeto de pesquisa submetido ao RCUK, Innovate UK ou EU tem que incluir um programa de ‘exploração’ da pesquisa (Pathway to Impact). A premissa básica é que um projeto bem-sucedido não deve terminar com a publicação de artigos, mas deveria ser continuado até uma possível exploração comercial.
Uma outra expectativa é que o projeto, seus objetivos e resultados sejam divulgados para o público leigo através de palestras, exibições e outras atividades (Public Engagement). Os órgãos de fomento fornecem financiamento e treinamento específico para essas atividades. Brunel University London
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Produtivismo e Alienação Acadêmica A discussão acima leva então ao tema desse debate: produtivismo e alienação acadêmica. Para um acadêmico progredir em sua carreira, é esperado que ele/ela consiga financiamento para seus projetos, para então poder financiar estudantes de doutorado (já que existem muito poucas bolsas de pesquisa institucionais) ou pós-doutorado, e que publique os resultados da pesquisa em revistas internacionais, ao mesmo tempo que ensine na graduação e na pós-graduação e se envolva em atividades de apoio ao departamento.
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Produtivismo e Alienação Acadêmica É importante ressaltar que não existe promoção por tempo de serviço no Reino Unido, e que um acadêmico pode trabalhar a vida inteira e ainda se aposentar no primeiro nível da carreira (Lecturer).
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Produtivismo e Alienação Acadêmica A pressão para publicar é grande embora, em termos de avaliação externa, tenha havido uma mudança de ênfase de quantidade para qualidade. Enquanto os RAEs de 1992, 1996 e 2001 requeriam que cada acadêmico submetesse para avaliação todas as suas publicações, o RAE 2008 e o REF 2014 solicitaram apenas as quatro melhores publicações durante o período de avaliação. Os departamentos podem selecionar quais professores eles querem submeter para avaliação.
Entretanto, as avaliações internas para promoção ainda consideram todas as publicações no período. Brunel University London
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Produtivismo e Alienação Acadêmica
Uma pergunta relevante sobre a pós-graduação então é: qual o real papel da pós-graduação: formar professores e pesquisadores capazes de ensinar e pesquisar assuntos atuais e relevantes, e cidadãos capazes de transformar a sociedade, ou simplesmente produzir artigos?
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Produtivismo e Alienação Acadêmica Na minha opinião, a resposta não é uma ou outra mas todas acima; o aluno, principalmente de doutorado, deve ser treinado para fazer pesquisas de relevância à sociedade.
Os resultados de sua pesquisa devem ser disseminados de forma a beneficiar outros acadêmicos, órgãos públicos e indústrias com interêsse no assunto da tese; a pesquisa de ponta também beneficia o ensino, ja que o professor se torna capaz de ensinar não somente a teoria básica e os mecanismos usados em projeto (no caso das engenharias), mas também a motivar os alunos apresentando e discutindo técnicas modernas de relevância na área do curso. Brunel University London
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Produtivismo e Alienação Acadêmica Acredito que seja parte do compromisso social do aluno de doutorado e dos orientadores, como pesquisadores, de disseminar o conhecimento gerado durante suas pesquisas, principalmente se financiadas com dinheiro público. Entretanto, é importante ressaltar que o(s) artigo(s) gerado(s) pela pesquisa representam os resultados de um trabalho sério e não devem ser a motivação da pesquisa em si. Uma pesquisa deve ser iniciada por seu assunto representar uma contribuição ao conhecimento na sua área de interesse, e não simplesmente para produzir artigos.
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Produtivismo e Alienação Acadêmica O que acontece, então, com um acadêmico que seja um excelente professor mas não tenha vocação para a pesquisa? Deve se sentir alienado? Bons professores serão sempre necessários para a formação de pessoal qualificado, mas as oportunidades de progressão na carreira neste caso, pelo menos no Reino Unido, serão sempre mais limitadas. Um novo desenvolvimento que deverá valorizar e aumentar o reconhecimento de tais professores é o TEF, o novo Teaching Excellence Framework, a ser implementado no UK num futuro próximo. Brunel University London
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Produtivismo e Alienação Acadêmica Uma outra interpretação de alienação acadêmica refere-se à orientadores e pós-graduandos que trabalham como parte de uma equipe e não necessariamente dominam em profundidade todo o processo de pesquisa. Minha interpretação pessoal é que isso não é alienação. Mesmo um pesquisador experiente poderá não dominar todos os aspectos de uma pesquisa se esta envolve um tema bastante novo ou inter-disciplinar. Eu vejo a formação de grupos de pesquisa como sendo de benefício para todos os membros do grupo.
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Produtivismo e Alienação Acadêmica A pesquisa aplicada, envolvendo colaboração entre universidades e empresas, é atualmente estimulada em todos os sentidos nos países europeus. A maioria dos programas de financiamento à pesquisa no momento, tanto no UK quanto no EU, exigem não somente parceiros acadêmicos como industriais, e uma visão clara de como os resultados da pesquisa poderão ser aplicados para aumentar a competitividade das empresas envolvidas.
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Produtivismo e Alienação Acadêmica Os programas de financiamento de pesquisa mais básica e fundamental, do tipo ‘blue sky’, ainda existem mas são mais limitados e direcionados principalmente à pesquisadores experientes, que já demonstraram capacidade comprovada de produzir pesquisa de alto nível. Alguns programas da European Science Foundation oferecem um financiamento generoso à pesquisadores de comprovada experiência e produtividade, em torno de 2,5 milhões de euros por um período de cinco anos, para desenvolvimento de pesquisa básica, num processo bastante competitivo. Brunel University London
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Produtivismo e Alienação Acadêmica Obviamente, pesquisa em certas disciplinas não oferecem as mesmas oportunidades de colaboração com empresas como na engenharia, mas ainda espera-se que os resultados de projetos de pesquisa beneficiem órgãos do governo e a população em geral, gerando crescimento econȏmico e bem-estar social.
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Produtivismo e Alienação Acadêmica O conflito entre quantidade e qualidade na produção científica ocorre na maioria dos países.
A produção científica é medida principalmente pela quantidade de publicaçȏes e não pela sua qualidade, porque uma avaliação séria e objetiva da qualidade de publicaçȏes requer tempo e sempre será considerada mais polêmica. Minha visão pessoal é que pesquisadores devem ter suficiente auto-crítica para que seus artigos reflitam o rigor e inovação de sua pesquisa, e que os resultados da pesquisa gerem algum benefício não somente para o meio acadêmico mas para a sociedade em geral. Brunel University London
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Obrigado pela atenção