Laura Wottrich - Dissertação 2009

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esperteza são recompensadas. Assim, ajustou o final de Bia Falcão aos anseios do público, como forma de mostrar que a ficção adapta-se e espelha a realidade do meio em que é veiculada. Sobre essa decisão, ele comenta:

Minha intenção era mostrar como a sociedade está atualmente. Revoltou as pessoas? Lógico. Então, raciocinem sobre isso. Novela é ficção. Não é a novela que precisa ser mudada, é a realidade. Não adianta eu, como autor de novela, fazer com que Bia Falcão seja castigada para fazer catarse no público e ele achar que vive em um país maravilhoso, se a sociedade continua sendo hipócrita como é. Acho mais honesto e mais útil para o público fazer como fiz (ABREU, 2008, p.334-5).

Sobre a audiência, Silvio nota uma transformação significativa no perfil dos telespectadores de 40 anos para cá, principalmente em relação à queda do capital cultural dos brasileiros: Da década de 1960 pra cá, o nível de escolaridade e qualidade de ensino sofreu uma queda muito grande. Com isso, foi caindo também a capacidade de entendimento das pessoas. Principalmente depois do Plano Real, quando o público que tinha um poder aquisitivo muito baixo passou a ter mais acesso aos bens de consumo. Isso foi muito positivo para a população mas, em vez de as pessoas irem estudar e aprender, elas compraram mais televisão. Esse público, a partir do momento que passou a ser pesquisado, passou a influenciar na programação, fazendo com que o nível da televisão, de uma maneira geral, também caísse muito. Diferentemente dos públicos de 1960, 1970 e 1980, esse tem uma formação cultural muito baixa. Isso não é um problema da televisão, é um problema do país. Quando resolvermos o problema do país, resolveremos o problema da televisão. A televisão funciona como um espelho do país que ela retrata (Idem, p. 332-3).

Esse comentário de Silvio aborda um fenômeno problematizado por Junqueira (2008), sobre o desenvolvimento da telenovela no país. A partir dos anos 1990, as políticas governamentais facilitaram o crédito para a compra de aparelhos eletrônicos, o que aumentou o acesso das classes populares aos programas televisivos. Isso, aliado a uma concorrência cada vez mais expressiva, fez com que as classes populares ganhassem atenção dos produtores das tramas, que até então tinham na classe média seu principal público. Para o autor, isso significa uma queda de qualidade nas narrativas, associando a queda do capital cultural dos brasileiros ao decréscimo de qualidade na telinha. Embora originalmente a telenovela tenha sido criada como um produto voltado a mulheres da classe C (HAMBURGER, 2005, LOPES, M. 2009b), hoje em dia a complexificação das narrativas e a expansão das tramas não nos permite pensar nesses termos. No Brasil, em 2009 a telenovela veiculada no horário nobre (A Favorita) teve 50% de audiência da classe C, 31% das classes AB e 18% das classes DE (LOPES, OROZCO


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