Laura Wottrich - Dissertação 2009

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1.4 REGISTROS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Como comentamos em linhas anteriores, este trabalho inspira-se na proposta de Martín-Barbero das mediações comunicativas da cultura. Nos estudos que buscaram transpor o modelo barberiano para o plano empírico (FELIPPI, 2008; SIFUENTES, 2010), a proposta do autor é adotada de forma parcial, visto que há um centramento em algumas das esferas (lógicas de produção, matrizes culturais, competências de recepção/consumo e formatos industriais) ou mediações (institucionalidade, tecnicidade, socialidade e ritualidade). Sifuentes dedica-se à exploração da ritualidade e da socialidade no entendimento da formação das identidades de jovens mulheres de classe popular a partir da telenovela. Seu estudo foca-se na recepção, abordando as mediações da tecnicidade e da institucionalidade através de revisão bibliográfica. Felippi investigou a construção da identidade cultural gaúcha nas páginas do jornal Zero Hora através das matrizes culturais, formatos industriais e lógicas de produção. Esses momentos, a autora aborda em um nível teórico e empírico, explorando as mediações – principalmente a tecnicidade e a institucionalidade – que os relacionam. As competências de recepção/consumo são investigadas teoricamente, através de pesquisa bibliográfica.

O

receptor é problematizado a partir das cartas dos leitores enviadas ao jornal e pesquisas de opinião realizadas por Zero Hora. A partir dessas pesquisas e através do caminho metodológico que viemos refinando nas investigações e debates realizados desde 2007 no grupo de pesquisa “Mídia e Consumo Cultural” na UFSM, argumentamos a possibilidade de pensar o modelo barberiano de forma mais específica, menos audaciosa em relação a sua abrangência teórica e empírica. Como afirma Ronsini (2010, p. 5) “Para analisar a recepção (nas condições materiais com que produzimos conhecimento), precisamos recortá-la, pois, do contrário, teríamos uma pesquisa sobre as potencialidades da relação entre produção/produto e recepção/consumo”. Assim, não nos propomos a abarcar todo o processo de comunicação, mas sim a totalidade da recepção, “[...] que consiste em considerar os textos, suas leituras e modos de vê-los para compreender, concretamente, a reprodução e a contestação do poder político e econômico (organizado no capitalismo pelo poder exercido pelas classes dominantes) a partir das relações sociais e culturais nas quais os receptores estão inseridos” (RONSINI, 2010, p. 13). Caracterizamos o nosso estudo como uma etnografia da recepção. O contato inicial com as entrevistadas foi realizado com a participação em grupos de convivência voltados ao


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