Laura Wottrich - Dissertação 2009

Page 36

34

de vivenciar as identidades, os novos estilos de vida e de consumo e a ascensão de novos movimentos sociais, como o feminismo e a ecologia. Nos estudos de comunicação, percebemos o mesmo movimento teórico de desconsideração da classe. A virada cultural também afetou o campo e retirou de maneira progressiva a análise das classes sociais dos roteiros de pesquisa. A cultura é celebrada em sua autonomia, como independente e até mesmo oposta às relações de classe. Parece-nos que as críticas realizadas à incapacidade do referencial de classe de dar conta das transformações sociais recentes dizem mais sobre a necessidade de renovar o debate do que sobre uma desimportância do conceito. No Brasíl, 3º país com pior índice de desigualdade do mundo15, desconsiderar a dinâmica de pertencimento às classes quando pensamos a recepção da mídia é fechar os olhos para o fato que a produção midiática é intimamente relacionada à dinâmica do capitalismo, influindo nos modos como a desigualdade é (re)produzida e os sujeitos são considerados. No plano teórico, autores têm questionado o esmaecimento dos estudos que consideram a classe social como conceito-chave, mostrando a impossibilidade de descartá-lo para compreender os fenômenos sociais e o contexto brasileiro extremamente desigual (SOUZA, 2006; MILIBAND, 1990; GUIMARÃES, 2002; SANTOS, 2002; MURDOCK, 2009; RONSINI, 2007, 2010). Muitas vezes, a importância da classe é dissolvida nas teorizações sobre as identidades. Elas são consideradas em sua fluidez e pluralidade, marcadas pelas posições de gênero, religião, etnia, etc. Nesse sentido, a classe seria incapaz de explicar fenômenos como o sexismo, o racismo e os nacionalismos. Os mais severos consideram o foco nas classes sociais como um obstáculo que impede a percepção de outros fatores igualmente, se não mais importantes para o entendimento da vida social. Miliband (1990) contrapõe esses argumentos mostrando que por mais que sejamos mulheres, homens, negros, indígenas, ainda sim estamos situados em determinado ponto da estrutura social, ainda somos membros de uma determinada classe. O “ser social” é constituído de forma complexa e multideterminada por diversas identidades, contudo a classe é um componente decisivo para sua conformação, aquela que envolve todas as demais.

15

Segundo pesquisa divulgada em 2010 pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD), a partir da análise de dados de 2008 no país. Para acessar o relatório, ver PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Informe regional sobre desenvolvimento humano para América Latina e Caribe 2010. Disponível em: <http://www.idhalc-actuarsobreelfuturo.org/site/informe.php>. Acesso em 15 out. 2010.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.