Fabiano Rocha Flores - Dissertação 2009

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nos ambientes digitais da nova mídia “o usuário pode „entrar‟ e mover-se, graças à interface gráfica, trocando a representação clássica pela vivência apresentativa” (SODRÉ, 2002, p. 2122). O espelho midiático constitui-se, assim, não como uma simples cópia, reprodução ou reflexo, pois implica nova forma de vida, pois implica “um novo espaço e modo de interpelação coletiva dos indivíduos”, o que provoca “outros parâmetros para a constituição das identidades pessoais”; ele dispõe de “um potencial de transformação da realidade dos indivíduos”. O espelho midiático é uma “forma condicionante da experiência vivida, com características particulares de temporalidade e espacialização”, mas o espelho midiático somente condicionará na medida em que estiver aberto a “permeabilizações e hibridizações com outras formas vigentes no real-histórico” (SODRÉ, 2002, p. 22, grifo nosso). De fato, trata-se

[...] de uma afetação de formas de vida tradicionais por uma qualificação de natureza informacional [...] cuja inclinação no sentido de configurar discursivamente o funcionamento social em função dos vetores mercadológicos e tecnológicos é caracterizada por uma prevalência da forma (que alguns autores preferem chamar de „código‟; outros, de „meio‟) sobre os conteúdos semânticos (SODRÉ, 2002, p. 22).

Então, temos, atualmente, uma mediação social tecnologicamente exacerbada: a midiatização. Sodré (2002) afirma que, desde o pós-guerra, alterações nos costumes, crenças, afetos e, até mesmo, na estruturação das percepções vêm ocorrendo; e que, agora, esse processo está se perfazendo com a integração entre os mecanismos clássicos da representação e os dispositivos do virtual. O conceito de midiatização refere-se, especificamente, à hibridização entre as múltiplas instituições (formas até certo ponto estáveis de relações sociais vinculadas a objetivos humanos globais) e organizações de mídia (fazeres com objetivos unicamente mercadológicos e tecnológicos). Ele implica um novo modo para o sujeito de estar-no-mundo, em uma qualificação particular da vida, um bios especifico (tomando como referência a classificação de Aristóteles para as formas de vida).14 Sodré (2002) afirma que a linguagem não tem como única função designar a realidade, ela principalmente a produz. E, a mídia, a exemplo da antiga retórica, é uma técnica política 14

Aristóteles, a exemplo de Platão, distingue três gêneros de existência (bios) na Polis, a vida contemplativa, a política e a prazerosa. Cada qual é um gênero qualificativo, um âmbito onde se desenrola a existência humana, segundo Sodré (2002). A vida de negócios não constituía nenhum bios específico, pois era, no entender de Aristóteles, motivada por algo a mais (além do Bem e da Felicidade), o que a caracterizava como violenta. Mas, examinando as práticas dos dias de hoje, a partir da classificação aristotélica, a midiatização pode ser pensada como uma “tecnologia de sociabilidade ou um novo bios, uma espécie de quarto âmbito existencial, onde predomina a esfera dos negócios, com uma qualificação cultural própria, a „tecnocultura‟” (SODRÉ, 2002, p. 25).


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