Luanova2

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chuvoso do mundo, ele podia sair à luz do dia sem expor o segredo de sua família. Mesmo assim, ele estava vindo na minha direção com seu andar bem gracioso e despreocupado - com o mais bonito sorriso em seu rosto angelical – como se eu estivesse sozinha. Nesse momento, desejei não ser a exceção de seu misterioso dom. Em geral, agradeceria ser a única cujos pensamentos ele não podia ouvir com a mesma clareza como se eles fossem falados em voz alta. Mas agora eu desejei que ele pudesse me ouvir também, então assim ele poderia escutar o aviso que eu estava gritando em minha cabeça. Lancei um olhar apavorado para vovó, e percebi que já era muito tarde. Nesse instante, ela apenas se virou para me olhar de volta e seus olhos tão alarmados quanto os meus. Edward – ainda sorrindo daquela forma tão arrebatadora que fazia com que meu coração acelerasse e parecesse a ponto de estourar no meu peito – passou seu braço em volta de meu ombro e virou seu rosto para minha avó. A expressão de vovó me surpreendeu. Em vez de horrorizada, ela me olhava timidamente, como se esperando por uma repreensão. E ela estava parada numa posição bem estranha – um braço se separou desajeitadamente do corpo, ela o esticou e o enrolou em volta do ar. Como se estivesse abraçando alguém que eu não podia ver, alguém invisível... Só então, quando olhei com mais atenção, notei a enorme armação dourada que rodeava a figura da minha avó. Sem entender nada, ergui a mão que não estava em volta da cintura de Edward e a aproximei para tocar minha avó. Ela repetiu exatamente o mesmo movimento, como em um espelho. Mas onde nossos dedos deveriam ter se encontrado, não existia nada além do vidro frio... Com uma vertiginosa sacudida, o sonho abruptamente se transformou em um pesadelo. Não havia nenhuma avó. Aquela era eu. Era minha imagem refletida em um espelho. Era eu, velha, enrugada e acabada. Edward continuava ao meu lado sem se refletir no espelho, insuportavelmente encantador em seus eternos dezessete anos. Ele apertou seus lábios frios e perfeitos contra minha decrépita bochecha. - Feliz aniversário. - ele sussurrou. Acordei assustada – meus olhos a ponto de ficarem fora de órbita – e ofegante. Uma escura luz cinza, a familiar luz de uma manhã nublada, tomou o lugar do ofuscante sol de meu sonho. Só um sonho, eu disse a mim mesma. Foi só um sonho. Tomei ar e saltei da cama assim


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