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FERNANDA ABREU

Aos 30 anos de carreira solo – e 30 de filiação à UBC –, cantora e compositora revisita sua obra, faz planos para a retomada do mercado musical e fala sobre criação e gestão de carreira

por_ Alessandro Soler | de_ Madri | fotos_ Alexandre Calladinn

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Fernanda Abreu começou 2020 com energia de festa. Supunha que seria um período de celebração por seus 30 anos de carreira solo. Em 1990, “SLA Radical Dance Disco Club” marcou o início de uma trajetória que inclui sete álbuns de estúdio, vários de remixes, mais de 20 singles, um sem-número de parcerias e um lugar de destaque na história da música de pista feita no Brasil. “Preparei uma série de ações. Em março, lancei ‘Do Bem’, um single que fiz com Pedro Luís, uma homenagem ao (Jorge) Ben Jor. Depois, na sequência, viriam a turnê dos 30 anos, mais projetos dançantes, exposição... Tivemos que abortar a missão”, ela conta, em entrevista à UBC por meio de um aplicativo de videorreuniões.

Longe de paralisar por completo seus planos, a pandemia lhe aportou insights. O momento mais ensimesmado a levou a revisitar a própria obra com uma pegada igualmente contemplativa. Assim, veio “Slow Dance”, no qual apresenta 17 baladas que lançou nestas três décadas. “É um projeto que foi pensado para esse período em que as pessoas estão mais reflexivas. Apesar de que, de um ponto de vista exclusivamente pessoal, o que rolou mesmo foi uma enorme aceleração. Eu tenho trabalhado muito mais, da hora em que acordo até as 2h da manhã”, diz. Novas composições, a (esperada) retomada de 2021, reflexões sobre criação e carreira aparecem na conversa com a compositora e cantora, cujo ano de filiação à UBC, como consta da ficha de inscrição, coincide com sua estreia na aventura solo: 1990. “A celebração foi só adiada, não cancelada”, ela promete.

TENHO TRABALHADO DA HORA EM QUE ACORDO ATÉ AS 2H DA MANHÃ.”

Como o confinamento provocado pela pandemia afetou os planos para as comemorações?

No mesmo dia em que começou o confinamento, sexta-feira, 13 de março, eu teria a gravação do DVD do show “Amor Geral” no Imperator (Zona Norte do Rio). Seria uma das coisas que programei para este ano. O público teve que voltar da porta, não pôde entrar. Foi bem chato. Mas já tínhamos todo o circo armado, tudo produzido. Mantivemos o show, de portas fechadas, e foi o embrião de uma live também. Batizei de “Amor Geral A(Live)”. O material ficou maravilhoso e serve como o registro de um ano tão peculiar. Em 2050 ou 2100, 2020 será lembrado como o “ano da pandemia”, como 1918 até hoje é associado à gripe espanhola.

Além disso, eu queria muito homenagear a cena em que estourei em carreira solo. Então, agora, chamei o Memê, que é meu amigo, e fizemos este álbum, que está pronto, com a participação do Gui Boratto, do Tropkillaz, do Ruxell... Tem Emicida, tem Projota, Dennis DJ... São 13 remixes inéditos. A ideia é esperar um pouco. Primeiro vem o DVD, talvez no iniciozinho de dezembro, e deixamos o “30 anos” para o verão, com, tomara, algo já aberto, outro clima, uma retomada mesmo. A ideia é lançar uma por semana, às sextas, numa pegada alto-astral.

Há novas composições nos planos?

Tenho bases, batidas que me mandam, textos escritos, algumas letras... Com tanta coisa, não tenho tido tempo para focar na produção de um álbum de inéditas. Mas quero fazer. Não quero fazer só singles. Outro projeto que está engatilhado, e que não quero abortar, é um álbum chamado “Garotas Sangue Bom”, de parcerias minhas com mulheres incríveis e talentosas. Pegaríamos alguns tópicos, alguns temas de canções minhas, e faríamos coisas novas. Falei com Anitta, Ludmilla, Jade Baraldo, Letrux, Alice Caymmi, Duda Brack, Céu, Karol Conka... Senti uma grande abertura, um carinho, da parte delas para fazer esse projeto comigo.

DECIDI, JÁ HÁ ALGUM TEMPO, SER A GESTORA DA MINHA CARREIRA.

Quem pensa esses projetos todos? Você gere tudo, administra tudo?

Eu tenho uma equipe, mas decidi, já há algum tempo, ser a gestora da minha carreira. Eu tenho um selo, o Garota Sangue Bom, com o qual tenho lançado meus últimos projetos. Agora fizemos um acordo de distribuição com a Universal, mas são projetos meus, pensados por mim. Tem uma coisa que sempre me ajudou muito, que foi o balé. Te dá uma disciplina fenomenal. É preciso ter muita humildade diante da arte. Quando eu vivi todo aquele sucesso da Blitz, era claro na minha cabeça que eu estava tendo uma oportunidade e deveria aproveitá-la para mostrar o meu trabalho. O Evandro (Mesquita) foi muito generoso, ele pôs a Márcia (Bulcão) e a mim na linha de frente. Quando aquilo acabou, as pessoas insistiam: “Fernanda, aproveite este momento, lance logo algo, não deixe as pessoas esquecerem você.” E eu não quis.

Por quê?

Eu não tinha repertório. Que Fernanda é essa que eu mostraria? Fui buscar quem eu realmente era: a menina que ficava em frente ao espelho imitando Toni Tornado, Michael Jackson... Demorei três anos para maturar a minha persona. Tive calma para encarar a minha carreira solo. E, se tenho um conselho para dar a quem quer se mostrar, é esse: construa uma carreira consistente. O resultado é que estou celebrando 30 anos de carreira solo no pop.

E o que significa essa marca para você?

Uma sensação prazerosa de conquista. Sou zero ligada a bens materiais. Me refiro a uma conquista afetiva, de dever cumprido, de realização. Não me envergonho de nada, de nenhum disco, de nenhum single, de nenhuma entrevista. Estou ok comigo mesma em relação aos erros e acertos. Celebrar estes 30 anos também serve para mostrar às novas gerações, sobretudo de meninas maravilhosas que estão produzindo agora, que há fôlego para ter uma carreira longeva. Basta estar sempre aberta a se reinventar e pronta para se desafiar.

ESTOU OK COMIGO MESMA EM RELAÇÃO AOS ERROS E ACERTOS.

Fernanda em diferentes momentos da sua carreira: símbolo da música de pista nos anos 90 e 2000

OUÇA MAIS | As canções de ‘Slow Dance’

ubc.vc/FAbreu

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