EU, UM OUTRO QUE PERFORMA Lucio Agra
Autoperformance: eu, este eu que vos fala, sou só uma pesquisa no Google. Meu nome de guerra, junção dos erros que me concebem, subtítulo das vidas pregressas, o nome do meu avô materno e o sobrenome da família do meu pai, resulta em um perfil de Facebook, um currículo Lattes, um perfil da rede Contemporary Performance Network (que uso como meu “site”), minhas citações minúsculas no mundo acadêmico, meus artigos. “Quem sou eu?”, uma das primeiras frases do Bandido da Luz Vermelha, criatura de terceiro mundo, perdido entre Freud e a Boca do Lixo, no wellesiano filme de Rogério Sganzerla. “Eu sou ninguém. Você é ninguém também?”, indaga Emily Dickinson. “A fama é reles”, repete, adiante, Boris Pasternak. Barthes e Foucault (Barthes, 2004; Foucault, 2001) perguntam-se sobre a construção da autoria em dois textos fundamentais que Naira Ciotti me indicou anos atrás, na PUC-SP, para que eu pudesse começar a trabalhar o assunto em Autoperformance. Cohen enfatizou a necessidade da mitologia pessoal mas, desde o início dessa disciplina, na Performance, nas Artes do Corpo, na PUC-SP, buscamos fugir da obviedade que poderia resultar do desentendimento da famosa busca da própria história. Já disse em outras ocasiões e repito: trata-se não de justificar sua arte pelo resgate do mundo de supostas singularidades de sua vida pessoal, mas fabricar, produzir, sua própria trajetória, a contrapelo, ao 13