BRASIL
MACEIÓ - ALAGOAS SEXTA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2019
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MARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL
HACKEADOS
Maia reclama da PF por ter nome divulgado em lista
Ministro da Justiça Sérgio Moro ligou para o presidente do STJ, João Noronha, e avisou sobre destruição do material apreendido pela PF
Moro anuncia destruição das mensagens de hackers Para ministro do STF Marco Aurélio Mello, somente a Justiça pode adotar medida
O
presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio Noronha, um dos supostos alvos dos hackers presos pela Polícia Federal, afirmou ontem que as mensagens capturadas serão destruídas a pedido do ministro da Justiça Sergio Moro, informou a imprensa. “As mensagens serão destruídas, não tem outra saída. Foi isso que me disse o ministro e é isso que tem de ocorrer”, contou Noronha, que recebeu o comunicado do ex-juiz por telefone. O jornalista Glenn Greenwald comentou decisão de Sergio Moro, questionando: “Como isso não é suspeito?” “Quando as primeiras mensagens vieram à tona, em 9 de junho, o site informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram a partir de 2015. As mensagens obtidas pelo Intercept e divulgadas até este momento revelam que o então juiz Moro, por exemplo, indicou ao procura-
dor Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, uma testemunha que poderia colaborar para a apuração sobre o ex -presidente Lula”, conta a reportagem. Em resposta à notícia de que o ministro da Justiça Sergio Moro determinou que as mensagens capturadas pelos hackers presos sejam destruídas, o jornalista
Sergio Moro pode destruir - de novo - a evidência que eles têm. Mas ele não pode destruir a evidência que nos temos nem impedir sua divulgação” GLENN GREENWALD
Jornalista do The Intercept
do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, escreveu: “Sergio Moro pode destruir - de novo - a evidência que eles têm. Mas ele não pode destruir a evidência que nos temos, nem impedir sua divulgação. É por isso que uma imprensa livre é tão crucial em uma democracia”. Na mesma linha, a pesquisadora Debora Diniz ironizou a atitude de Moro: “Ao que parece [Moro] ligou para cada um dos grandes homens do poder para ‘tranquilizá -los’. Quem é tolo ou se faz de tolo aqui? Tudo que o hacker tem, o The Intercept também tem”. Marco Aurélio Mello, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), se manifestou sobre a determinação do ministro da Justiça Sergio Moro de destruir as mensagens apreendidas com os hackers, dizendo que “Cabe ao Judiciário decidir isso, e não à Polícia Federal”, informou a Folha de S. Paulo ontem. Marco Aurélio diz que é preciso cuidado para que provas de crimes não sejam destruídas. “Há uma responsabilidade civil e criminal no caso
Morre herdeiro da OAS que sofreu infarto em audiência da Lava Jato Herdeiro da empreiteira OAS, Cesar Mata Pires Filho, de 40 anos, morreu nesta quarta-feira, pouco mais de duas semanas após ter sofrido um infarto enquanto prestava depoimento em uma audiência no âmbito da Operação Lava Jato, em Curitiba. O pai dele, Cesar Mata Pires, um dos fundadores da empresa, também morreu após sofrer um infarto, em agosto de 2017. A causa oficial da morte de Cesar Mata Pires Filho ainda não foi informada pelo hospital. Ele completaria 41 anos em setembro e estava internado desde o
dia 8 de julho. Durante o depoimento, o juiz Luiz Antonio Bonat, que substituiu o ministro da Justiça, Sergio Moro, na 13ª Vara Federal de Curitiba, precisou deixar a sala de audiência e chamar a equipe médica da Justiça Federal. Em seguida, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) cuidou da transferência do empresário para uma unidade de saúde. No dia seguinte à chegada ao Hospital Santa Cruz, em Curitiba, Cesar foi submetido a uma cirurgia para implantação de dois stents (uma espécie de endoprótese usada para desobstruir
artérias). A operação foi bem-sucedida e o quadro do empresário foi considerado estável após o procedimento. A situação dele piorou nos últimos dias. Cesar era acusado de corrupção na construção de um prédio da Petrobras em Salvador. A defesa alegava que não existem provas de que o empresário tivesse cometido crimes no caso. A Lava Jato chegou a apreender diversos bens de luxo do empresário, como cinco relógios Rolex e dois veículos Porsche Cayenne. Quando ele foi preso pela operação, a fiança custou R$ 29 milhões.
de hackeamentos que precisam ser apuradas”, afirma. O caso está sob supervisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal. A Polícia Federal (PF) afirmou, em nota oficial publicada na noite de ontem que as mensagens apreendidas com os hackers presos durante a Operação Spoofing não serão destruídas. As provas encontradas pela Polícia Federal passaram a ser consideradas lícitas e não podem ser destruídas sem autorização judicial. Segundo o ex-deputado federal Waldir Domus “inclusive o conteúdo mostrará que os crimes da #LavaJato são muito mais graves do que sabemos até agora pela Vaza Jato”, considerando que o ministro da Justiça deu um tiro no pé. Já a presidente do PT, a deputada federal Gleise Hoffmann afirmou “destruição de provas é crime, Moro, é obstrução de justiça. O que você quer esconder? Ainda mais vc que desobedeceu o ministro Teori e não destruiu os grampos dos advogados do Lula”.
Além de nomes como os dos ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), como anunciado na quarta-feira (24/7), a lista de autoridades que tiveram os telefones hackeados inclui também o presidente da República, Jair Bolsonaro; a procuradora-geral da República, Raquel Dodge; e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM -AP), e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha. As informações são da Polícia Federal. Os autores da invasão, segundo a corporação, são os suspeitos presos na última terçafeira (23/7), em São Paulo, durante a Operação Spoofing. Em nota, o Ministério da Justiça informou que Bolsonaro foi “devidamente comunicado” sobre o fato, por uma “questão
de segurança nacional”. Mais cedo, o presidente disse que não trata de temas sensíveis pelo celular. “Perderam tempo comigo”, garantiu. Segundo a PF, apesar da invasão, nenhum dado teria sido coletado do aparelho de Maia, de acordo com investigadores. O deputado afirmou que desconhece o hackeamento e queixou-se da divulgação de nomes. “Num dia, eles prendem acusados de hackear as pessoas e, no dia seguinte, vazam os nomes de todo mundo que foi vítima. Isso está errado”, afirmou o presidente da Câmara ao site do jornal Já o presidente do STJ foi avisado, na tarde de ontem , pelo ministro Moro, de que está na lista de autoridades hackeadas. Alcolumbre e Dodge também teriam sido vítimas.
DIPLOMACIA
Toffoli determina que navio iraniano seja abastecido O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, determinou na noite de quarta-feira (24) que a Petrobras forneça combustível a dois navios iranianos que estão parados há quase 50 dias no porto de Paranaguá (PR). A Petrobras vinha se negando a vender combustível para os dois navios, sob a justificativa de que as embarcações estão na lista de empresas sancionadas pelos Estados Unidos. O argumento da companhia brasileira era que, ao fornecer óleo aos navios, a própria Petrobras estaria sob risco de sofrer penalidades pelas autoridades norte-americanas. Na decisão, Toffoli argumenta que a empresa brasileira Eleva Química -responsável pelas embarcações- não está na lista de agentes sancionados pelos EUA. São dois os navios iranianos fundeados em Paranaguá, o Bavand e o Termeh. Eles trouxeram ureia ao Brasil e deveriam retornar com milho ao país persa. O Bavand já tem embar-
cado quase 50 mil toneladas de milho e o Termeh aguarda o carregamento de outras 60 mil toneladas. A carga é avaliada em aproximadamente R$ 100 milhões. O presidente do STF -que decidiu o caso após uma disputa judicial nas instâncias inferiores- também argumentou prejuízos causados à balança comercial do país com o Irã, que é o maior comprador de milho brasileiro. Ele disse ainda que não há possibilidade de a Petrobras sofrer sanções dos EUA, uma vez que o reabastecimento será feito por ordem judicial. Ao comentar o caso dos navios iranianos, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil está alinhado à política dos EUA de sanção econômica contra o Irã. “Existe esse problema, os EUA, de forma unilateral, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo risco nesse sentido”, afirmou o presidente na sexta (19).