Edição número 3602 – 17 de março de 2020

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CIDADES

MACEIÓ - ALAGOAS TERÇA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2020

Covid-19: AL tem um caso confirmado e 16 suspeitos

REUTERS / AGUSTIN MARCARIAN

Ontem, Arapiraca registrou primeiro paciente com sintomas da doença

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Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou, ontem (16), que Alagoas permanece com apenas um caso confirmado para Covid-19. Em relação aos casos em investigação para o novo coronavírus, são contabilizadas 16 investigações, uma delas em Arapiraca e as demais, em Maceió. Os casos suspeitos para Covid-19 e seus contatos estão sendo monitorados pela equipe do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) da Sesau e

da Secretaria de Saúde de Maceió. Ainda em relação aos casos suspeitos, 58% são do sexo feminino e 42% do sexo masculino. As faixas etárias mais referidas estão entre 30 e 49 anos. ARAPIRACA A notícia do primeiro caso suspeito de coronavírus em Arapiraca foi confirmada pela superintendência de Vigilância em Saúde da Prefeitura de Arapiraca. O paciente, que viajou recentemente para os Estados Unidos, apresentou sintomas

leves semelhantes aos da Covid-19, doença causada pelo vírus. Ele e as pessoas com quem teve contato direto estão em quarentena domiciliar, sendo monitorados pelas equipes da Secretaria Municipal de Saúde. O paciente foi submetido aos exames necessários para confirmar ou não a infecção e o Município aguarda o resultado, que deve sair em breve. Os exames foram realizados na casa do paciente, por técnicos capacitados do Laboratório Municipal de Arapira-

ca, e as amostras foram encaminhadas para o Laboratório Central (Lacen), em Maceió. BRASIL Os casos confirmados do novo coronavírus alcançaram 234 ontem, segundo a atualização divulgada pelo Ministério da Saúde. É mais do que o dobro de três dias atrás. Na sexta-feira (13), o total passou de 100 pela primeira vez e agora já ultrapassa os 200. No domingo (15), o balanço registrou 200 pessoas infectadas. Já os casos suspeitos ultrapassaram os 2 mil, chegando a 2.064.

ZONA DA MATA

FCP explica extinção de comitê gestor

Prefeitura de Campestre cancela festa de São José CLAUDIO BULGARELLI SUCURSAL REGIÃO NORTE

Em todos os municípios da Região Norte as escolas mantiveram normalmente suas aulas na semana passada e mesmo nessa segunda-feira, apesar do crescente alarme em torno do aumento significativo de casos do coronavírus. Nem mesmo o turismo ainda foi afetado, que mantém os mesmos números de taxa de ocupação para essa época do ano, que tem uma queda acentuada, quase sempre depois do carnaval. A primeira atitude de cancelamento de um evento, no entanto, partiu da Prefeitura de Campestre, que decidiu ontem (16) cancelar a tradicional Festa de São José na cidade da Região Norte, que ocorreria na próxima quinta-feira (19). A festa do padroeiro do pequeno município é bastante tradicional na região e esse ano a expectativa era grande por conta das apresentações artísticas de Wallas Arrais, Biu do Piseiro, Luanzinho Moraes e DJ Nelson Neto. A medida, segunda nota da Prefeitura de Campestre nas redes so-

ciais, foi tomada como forma de prevenção para conter o avanço do coronavírus. O prefeito Pino afirmou que seguiu orientação tomada pelo Governo do Estado em relação aos eventos. A nota informa ainda que a Prefeitura vai criar um comitê de crise para analisar todos os eventos que vão acontecer no município com aglomeração de mais de 500 pessoas. Já no Sertão alagoano, a Prefeitura de Mata Grande também decidiu adiar a festa de emancipação política que ocorreria nesta quarta-feira (18). A decisão foi anunciada ontem e o adiamento se deve aos riscos relacionados ao coronavírus. Em Nota oficial, o Prefeito Erivaldo Mandu explica o adiamento e, também, mostra sua preocupação com a contaminação pelo Covid-19 nos Estados de Pernambuco e Bahia. Com isso, ficam suspensas as atividades cívicas e os shows que aconteceriam em praça pública, até que a situação seja controlada pelas autoridades de saúde. Segundo a nota divulgada pela Prefeitura de Mata Grande, a nova data para a realização do evento será anunciada assim que cessar a emergência.

No país, já são 234 casos confirmados e 2.064 suspeitos até ontem

VALDICE GOMES – cojira.al@gmail.com

Coalizão Negra denuncia Brasil à ONU

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historiadora Wania Sant’anna, da Coalizão Negra por Direitos, chamou a atenção do mundo sobre a luta contra o genocídio da população negra e periférica brasileira, durante a 43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorrida na sexta-feira 13, em Genebra, na Suiça. Em um discurso marcante, Wania Sant’anna apelou à comunidade internacional para que se juntem aos afro-brasileiros na luta contra o racismo, lembrando a situação de todos os africanos - homens e mulheres - que foram submetidos à escravidão por séculos. Durante sua fala, ela salientou os dados de homicídios dos jovens brasileiros - a maioria de negros -, a resistência do governo em demarcar terras dos povos quilombolas, além de frisar sobre os ataques contra as religiões de matriz africana. Segundo Wania Sant’anna, em 2017, dos 65 mil homicídios no Brasil - o nível histórico mais alto até o presente – 49.500 eram vidas de afro-brasileiros - homens e mulheres – (ou seja, 75% desse nível histórico). Como ilustração, a historiadora citou que o Brasil possui oficialmente 4.878 cidades com população inferior a 50.000 habitantes. “Isso significa que qualquer uma dessas cidades poderia ter sido varrida do mapa”, acrescentou. Outro dado apresentado por ela aponta que, entre 2007 e 2017, 400 mil afro-brasileiros foram mortos sob incontestável violência policial, disputas entre gangues, mas acima de tudo, vítimas de discriminação racial histórica e racismo estrutural no Brasil. “A taxa de homicídios de afro-brasileiros aumentou mais de 33% - dez vezes mais que a taxa entre brancos - 3%, ressaltou, acrescentando que a proposta do atual governo de flexibilizar as armas de fogo certamente aumentará esses indicadores. No que diz respeito ao parágrafo 34 da Declaração e Plano de Ação, a negação do atual governo de demarcar terras quilombolas – contrariando a Constituição brasileira - expõe essas comunidades a ameaça extrema, a invasão de suas terras, ao agronegócio, às atividades de mineração e empresas transnacionais, além da base aeroespacial de Alcântara. E destacou que as religiões afro-brasileiras têm sido cada vez mais atacadas por líderes evangélicos fundamentalistas - com forte lobby no Executivo e no Congresso Nacional, enfrentando incêndios intencionais, depredação de seus locais sagrados, entre outras ameaças.

FMAC cancela exibição do longa “Cavalo” A Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) cancelou a exibição do filme Cavalo, que seria realizada na noite de hoje (terça-feira, 17), no Teatro Gustavo Leite, no Centro Cultural e de Exposições, em Jaraguá. Mais de 1300 pessoas estavam sendo esperadas para a estreia do filme em Maceió, o qual teve lançamento nacional em 1 de fevereiro desse ano, na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG). Os ingressos foram distribuídos gratuitamente, no decorrer da semana passada pela FMAC, em parceira com o Centro Cultural Arte Pajuçara. Cavalo é o primeiro longa-metragem alagoano incentivado com recursos públicos e vencedor do edital Guilherme Rogato, lançado pela Prefeitura de Maceió, em 2015, como forma de fomentar a produção audiovisual de Maceió. Segundo o diretor-presidente da Fmac, Vinicius Palmeira, apesar de Alagoas não apresentar um quadro de epidemia para o coronavírus, a exemplo do que vem ocorrendo no país e no mundo, o cancelamento da apresentação é uma medida preventiva e de contenção à propagação do vírus, diante do público de mais de 1300 pessoas confirmadas para um evento em espaço fechado. A nova data para a exibição do filme ainda não foi definida, mas a orientação é que os ingressos sejam guardados para serem usados posteriormente.

Taynara Silva recebe comenda Zumbi dos Palmares ASCOM UFAL

A Câmara Municipal de Maceió homenageou, na última sexta-feira (13) a professora Taynara Silva, que foi vítima de racismo em um colégio particular de Maceió, com a entrega da Comenda Zumbi dos Palmares. “Quero que mães de jovens negros parem de enterrá-los e passem a vê-los formados”, disse a professora durante seu discurso. A comenda para Taynara Silva foi uma iniciativa do vereador Cleber Costa (Progressistas). O requerimento apresentado pelo vereador foi aprovado por unanimidade entre os parlamentares da Casa. A homenagem é concedida a personalidades que se destacam na luta pelo fim da discriminação cultural e racial. Declarando-se gratificada pela homenagem, Taynara afirmou que receber uma comenda é significativo, ainda mais com o nome de Zumbi, que é um nome de luta, um nome de resistência junto a Dandara, Cotirene. “Mas ainda há muita luta, ainda há muito o que fazer. A minha luta é mesmo para que haja ações afirmativas, que haja propostas e ações para que a gente tenha cada vez mais um posicionamento antirracista em um estado quilombola. Os quilombos ocupam muito espaço aqui em Alagoas e, infelizmente, ainda são quilombos mais pobres do país”, destacou a professora.

A semana que passou foi marcada por uma decisão do atual presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Nascimento, que excluiu sete órgãos colegiados por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União, edição da última terça-feira, 10 de março, entre eles o Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), provocando indignação na comunidade negra, incluindo quilombolas, ativistas e grupos afro-culturais. Declarações e notas de repúdio foram divulgadas e compartilhadas em redes sociais. Em Alagoas, o Coletivo AfroCaeté considerou a decisão “não somente autoritária, mas totalitária e altamente perigosa para o que ainda restou da democracia – da qual negras, negros e indígenas mal sentiram o sabor”. Diante da repercussão negativa, na sexta-feira 13, a Fundação Palmares divulgou nota informando que todos os Comitês e Comissões extintos por meio da Portaria Nº 45 de 2 de março de 2020 obedece ao Decreto nº 9.812, de 30 de maio de 2019, que altera o Decreto nº 9.759, de 11 de abril de 2019, e determina a extinção e as diretrizes, regras e limitações para colegiados da administração pública federal.

FCP EXPLICA EXTINÇÃO DE COMITÊ GESTOR 2

A FCP informou ainda que não ignora a relevância de cada órgão extinto e ressaltou que os Comitês e Comissões serão recriados obedecendo as diretrizes do Decreto e as normativas cabíveis a cada pauta. Cita como exemplo, que o Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares levará em consideração as diretrizes do Decreto e os levantamentos do Dossiê de Candidatura da Serra da Barriga à Patrimônio Cultural do Mercosul. Outras os órgãos extintos são: Comissão Permanente de Tomada de Contas Especial; Comitê de Governança; Comitê de Dados Abertos; Comissão Gestora do Plano de Gestão de Logística Sustentável; Comissão Especial de Inventário e de Desfazimento de Bens; e Comitê de Segurança da Informação. Não resta dúvida que a nota tranquiliza pelo fato de confirmar a recriação do comitê gestor do Parque, mas, acende o alerta a todos que apoiam a luta antirracista. Vamos aguardar as regras e diretrizes da recriação do comitê e demais órgãos.

Coronavírus e população negra Um artigo do professor universitário, doutor e mestre em Direito pela UFRGS, Lúcio Antônio Machado Almeida, publicado no portal Geledés ontem (16), alerta que recente reportagem no York Times, de 07 de março 2020, feita pelo jornalista John Eligon, chamou atenção para o risco do extermínio de populações negras e latinas, sobretudo as mais pobres, em razão da ausência de um atendimento adequado das mesmas pelos sistemas de saúde. “É sabido, que os nossos sistemas de saúde devolvem para a população negra um tratamento não-isonômico, ao qual podemos definir como uma das manifestações necropolíticas do racismo institucional”, afirma. Segundo ele, o genocídio da população negra pode tomar contornos dramáticos se não forem tomadas as devidas providências acautelatórias para frear o triste evento do coronavírus. “Há, sem sombra de dúvidas, uma situação na qual a população negra mais pobre, que ainda é a maioria em nosso país, possa sofrer danos irreversíveis em sua vida cotidiana”, enfatiza, alertando que fiquemos atentos com o tratamento que será dado aos nossos idosos negros, crianças negras e, principalmente, aqueles que porventura encontram-se já doentes em face dos problemas originários de discriminação racial que marcaram e marcam ainda as relações raciais no Brasil, EUA e tantos outros países. PESQUISA: JORNALISMO ESPORTIVO E GÊNERO ASCOM UFAL A pesquisadora em Comunicação Social, Lídia Ramires, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), concluiu e apresentou, no final de fevereiro, a pesquisa do pós-doutorado na Universidade de Tolouse (França), com o tema “Deixa Ela Trabalhar: jornalismo esportivo e gênero”, sobre o assédio às mulheres jornalistas na cobertura esportiva no Brasil e em outros países. O estudo, de acordo com publicação no site da Ufal, foi motivado pela experiência pessoal da pesquisadora e pela observação do relato de outras profissionais sobre as mesmas situações que ela vivenciou, na cobertura esportiva ao redor do mundo. Lídia conta que, no final da década de 1990, trabalhou como repórter esportiva para a Rádio Difusora e a Rádio Gazeta, mas não integrou a equipe de cobertura da Copa do Mundo de Futebol na França, em 1998, por ser mulher. A pesquisar trabalha a relação de gênero e mídia, especificamente, a presença da mulher no mercado de jornalismo. A pesquisa de pós-graduação analisa o Movimento Deixa Ela Trabalhar, criado por 52 jornalistas, que sofreram assédios em várias coberturas, em 2018. A matéria completa está no site da Ufal: https://radio. ufal.br/entrevista/lidia-ramires-apresenta-pesquisa-sobre-assedio-as-mulheres-na-reportagem-esportiva- .

CURTAS • Chegamos à edição nº 585 da Coluna Axé, uma publicação da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-AL), do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal). Nesta edição, contamos com a contribuição da jornalista Luíla de Paula. Sugestões de notas sobre ações étnico-raciais enviar para cojira.al@gmail.com ou valdicegomes@gmail.com . • A Justiça condenou dois homens acusados de racismo e injúria racial contra a jornalista Maju Coutinho, TV Globo. A sentença foi expedida na segunda-feira (9), pelo Tribunal de São Paulo. Conforme a decisão da Corte paulista, proferida pelo juiz Eduardo Pereira dos Santos Júnior, da 5ª Vara Criminal, Erico Monteiro dos Santos e Wagner Castor Sales utilizaram perfis falsos na internet para acessar a página da TV Globo e publicar injúrias contra a apresentadora.


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