Tribuna do Norte - 18/08/2011

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Quinta-feira | 18 de agosto de 2011

natal

Tribuna do Norte | Natal | Rio Grande do Norte | 3

[ TRANSPORTE ] Sem investimentos para expansão ou modernização

TRANSPORTE FERROVIÁRIO

de equipamentos, CBTU possui apenas duas locomotivas funcionando

Há 40 anos não há investimentos em novas locomotivas ou vagões no sistema da Grande Natal

Estrutura de trens urbanos de Natal é a mesma há 40 anos

LINHAS – NORTE E SUL LINHA NORTE

58 quilômetros divididos é a extensão total

Lagoa Grande CEARÁ-MIRIM

Tem 38 km de extensão e margeia os bairros Alecrim, Quintas,Igapó,Santa Catarina, Soledade,Nova Natal,Nordelândia, Extremoz,Lagoa Grande e estação final em Ceará-Mirim.

Massangana EXTREMOZ

Estrela do Mar

LINHA SUL RICARDO ARAÚJO repórter

dquiridas em 1968 pela extinta Rede Federal Ferroviária (RFFSA), as quatro locomotivas que conduzem os vagões da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Natal, nunca foram trocadas. Já os vagões, são os mesmo desde o ano em que foram comprados, em 1970. Das quatro máquinas, porém, somente duas estão em uso. O que reduz a 50% o fluxo de viagens. Ontem pela manhã, um problema mecânico deixou uma delas inoperante por horas, provocando atrasos em efeito cascata na linha Natal/Ceará-Mirim. Desde que foi instalada em Natal, há 27 anos, a CBTU não viabilizou a aplicação de recursos na expansão do transporte ferroviário. Tampouco, na aquisição de trens leves e modernos. O superintendente da CBTU Natal, Erly Bastos Monteiro explicou os motivos pelos quais somente duas locomotivas estão em funcionamento atualmente. “Nós perdemos uma máquina num acidente há cerca de três anos. Outra serve de backup e está em manutenção”. Ele disse, ainda, que não foi possível recuperar a locomotiva danificada na colisão pois o custo era muito elevado e inviável para a Companhia.

A

A falta de recursos é o maior problema da CBTU na atualidade. Para este ano, o Governo Federal disponibilizou aproximadamente R$ 15,2 milhões em recursos, para os custos operacionais e administrativos da regional Natal. “Os valores de manutenção e aquisição de novos equipamentos é muito elevado. Nós enfrentamos hoje uma crise orçamentária”, ressaltou o superintendente. A falta de dinheiro, reflete na estagnação do serviço. Não há em curso nenhum plano de expansão da malha viária potiguar. Nem houve, na realidade, nas últimas duas décadas. “Nós sentimos dificuldade em investirmos na melhoria da infraestrutura que dispomos hoje. Para este ano, nós temos R$ 2,5 milhões para recuperação de vias, manutenção de locomotivas. Não temos como expandir sem recursos”, ressaltou Erly. De acordo com dados da CBTU, para construir um quilômetro de via férrea são investidos cerca de R$ 1,6 milhão. Na manutenção de locomotivas, a Companhia chega a gastar até R$ 300 mil por ano somente com um componentes mecânicos. Apesar da falta de recursos, a CBTU tem realizado melhorias nos vagões e nas estações. Entretanto, a própria população colabora para a depreciação dos abrigos,

com pichações e furtos de equipamentos. Já com os carros de passageiros, o passatempo dos vândalos que moram às margens das via férreas, é atirar pedras enquanto o trem passa. Para evitar acidentes, foram colocadas grades de ferro nos biombos de ventilação e trocados o vidro por PVC nas janelas de iluminação. Mesmo com tantas dificuldades, o trem é o meio de transporte escolhido por pessoas como o auxiliar administrativo John Mary Silva de Abreu. “Eu costumo utilizar o trem. Até três vezes por semana eu pego. É mais barato e em até vinte minutos eu saio da Ribeira e chego em Nova Natal”, disse. De ônibus, a custo é quatro vezes maior e o percurso entre o Teatro Alberto Maranhão e o conjunto Nova Natal, na zona Norte, pode demorar até uma hora. Apesar do baixo custo e tempo menor de deslocamento em relação aos ônibus, o trem não atrai muitos usuários do sistema público de transportes. A utilização desta modalidade, em Natal, se restringe à cerca de 9 mil pessoas diariamente. O montante corresponde somente a 2,17% das cerca de 414 mil pessoas transportadas por dia nos ônibus que circulam pelos bairros de Natal e alguns da região metropolitana. Nem mesmo o custo da tarifa por viagem - R$ 0,50 – atrai mais passageiros.

Possui 18 KM e contempla os seguintes bairros:Alecrim, Quintas,Bom Pastor,Cidade da Esperança,Promorar,Pitimbu, Cidade Satélite,Jardim Aeroporto e estação final em Parnamirim.

Nordelândia Nova Natal Soledade Santa Catarina Igapó NATAL

19 estações 9 na Linha Norte 10 na Linha Sul

R$ 0,50

valor da tarifa;

9 mil

quantidade de passageiros transportados por dia;

32 km/h

velocidade média. ➔ Das quatro locomotivas existentes na CBTU Natal,somente duas estão em operação; ➔ por dia,realizam cerca de 24 viagens entre Natal,Ceará-Mirim e Parnamirim.

Quintas Alecrim I Alecrim II Padre João Maria Bom Pastor Cid.da Esperança Promorar Pitimbu Cid.Satélite Jardim Aeroporto

PARNAMIRIM

ALEX RÉGIS

Natal:mais carros e engarrafamentos De acordo Erly Bastos, o índice de passageiros em trens é baixo devido à própria cultura local. Além disso, a facilidade de financiamento de um veículo usado ou novo, afasta cada vez mais a população dos transportes públicos de massa. Porém, a política nacional que estimula a compra de veículos novos, não leva em consideração a falta de infraestrutura viária nas cidades em desenvolvimento, como Natal, por exemplo. A cidade hoje enfrenta sérios problemas nos

horários nos quais o fluxo de carros e ônibus é mais intenso. “Hoje em dia, eu acho que é um tiro no pé o aumento das vendas de carro. A política atual incentiva a compra de carros e motocicletas, mas isso é preocupante”, analisou. Como resultado, os congestionamentos se tornam cada vez mais constantes. Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran RN), cerca de 38,4% da frota potiguar está em Natal.

São 319.068 veículos para uma população de 803.739 pessoas. Ou seja, para cada 2,5 habitantes, existe um veículo. Projetos de mobilidade que prometem amenizar os problemas de tráfego de veículos em Natal somam mais de R$ 300 milhões e estão com data de conclusão para 2014. Alguns projetos, embora licitados pela Prefeitura do Natal, ainda não foram iniciados e aguardam a liberação de questões burocráticas e financeiras.

Diariamente os trens urbanos transportam 9 mil pessoas.Isso representa 2,17% dos usuários de ônibus

ALEX RÉGIS

Para este ano, nós temos R$ 2,5 milhões para recuperação de vias, manutenção de locomotivas. Não temos como expandir sem recursos” ERLY BASTOS superintendente da CBTU

“ Locomotivas usadas hoje pela CBTU,na Grande Natal,são as mesmas compradas há mais de 40 anos

População cresce; investimentos,não O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgou, no final do mês passado, um comunicado relatando que o “crescimento mais acelerado das periferias das regiões metropolitanas brasileiras tem agravado as condições de mobilidade no país”. O Instituto analisou dados do Censo 2010, do IBGE, que constatou uma taxa de crescimento populacional maior nas cidades do entorno das principais regiões metropolitanas.

Os postos de trabalho, contudo, ainda se concentram nas capitais ou cidades centrais. Com isto, cada vez mais pessoas se deslocam diariamente. Tudo isto, através do sistema metropolitano de transportes que, nem sempre, estão integrados com os ônibus que circulam na capital. CONSEQUÊNCIAS A principal consequência apontada pelo estudo do Ipea, foi que as viagens ficaram mais lon-

gas e mais caras. “Entre 1992 e 2008, segundo a Pnad/IBGE, os custos de deslocamentos casatrabalho com mais de uma hora de duração passaram de 15,7% para 19%. Já o preço das passagens do transporte coletivo subiu, nos últimos dez anos, cerca de 30% acima da inflação.” O comunicado ressalta que as regiões metropolitanas necessitam de investimentos federais para lidar com a questão da mobilidade urbana.

Eu costumo utilizar o trem. Até três vezes por semana, eu pego. É mais barato ” JOHN MARY SILVA auxiliar administrativo

Segunda etapa (VLT) que ligará Natal a Parnamirim, dependerá do sucesso do primeiro trecho” FRANCINI GOLDONI dir.Transporte DER

Implantação do VLT está sendo discutida desde 2006 Em maio de 2006, a CBTU apresentou um projeto de troca das atuais locomotivas e vagões, por equipamentos mais modernos e leves. O projeto, inicialmente orçado em R$ 162 milhões, não saiu do papel. A implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), voltou à pauta de discussões dos governos estadual e municipal, com o anúncio de Natal como uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014. Este ano, o projeto passou a ser responsabilidade do Governo do Estado ,já que abrange outras cidades da região metropolitana, como Extremoz. O projeto inicial prevê a ligação entre Extremoz e Natal, atravessando a zona Norte da capital, e seguindo o mesmo traçado da atual linha férrea. É considerada uma das mais importantes obras de mobilidade urbana para a Copa 2014. PAC O VLT foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2 – Mobilidade Urbana). Já recebeu aval do Ministério da Fazenda e da Secretaria do Tesouro Nacional para a operação de crédito de R$ 130 milhões, relativos à primeira etapa. De acordo com a diretora de Transportes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER RN), Francini Goldoni, a im-

plantação da segunda etapa, que ligará Natal a Parnamirim, dependerá do sucesso do primeiro trecho. Ainda falta, entretanto, o Governo assegurar o financiamento e executar as obras. INTEGRAÇÃO O superintendente da CBTU, Erly Bastos, afirmou que é preciso haver integração entre o trem e os ônibus que circulam na capital. “Nosso objetivo é que o VLT atenda a demanda que existe hoje e amplie a possibilidade de uso para cada vez mais pessoas. Isto sim é transporte voltado para a população”. A integração entre o VLT e os coletivos faz parte do projeto dos governos Municipal e Estadual. O início das obras para a troca da atual estrutura ferroviária em uso, ainda não foi confirmada pelo DER. O município, por sua vez, precisa realizar o processo licitatório para concessão do transporte público em Natal. O Ministério Público já pediu a licitação na Justiça, e quer que essa ocorra ainda este ano. A Prefeitura do Natal argumenta que não há condições de cumprir esse prazo e a previsão, conforme dados da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), é que as empresas estejam habilitadas até março do ano que vem.


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