Tribuna do Norte - 21/11/2012

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opinião

Quarta-feira | 21 de novembro de 2012

TICIANO DUARTE [ jornalista ]

Jornal de WM WODEN MADRUGA - woden@terra.com.br

Deus seja louvado, sempre O procurador Jefferson Aparecido Dias, do Ministério Público Federal, lotado na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, em São Paulo, entrou com uma ação civil para que se retire das cédulas a expressão “Deus seja louvado”. Não sei se o cidadão já percebeu que em todas as cédulas da moeda brasileira, de 2 a 100 reais (1, 2, 5, 10, 20, 50 e 100) está lá escrito “Deus seja louvado”. Tinha também na nota de 1 real, mas esta, se a memória não me falha (e falha), já saiu de circulação. A decisão do procurador que, tudo leva a crer, não deve ter outras coisas mais importantes para cuidar, vem repercutido em vários escalões da sociedade brasileira. Dos botequins da Ribeira aos salões dourados de Brasília. Na mídia toda e, principalmente, na chamada e vibrante rede social. Li no blogue de Reinaldo Azevedo, no saite da Veja, o seu comentário sobre o assunto, começando assim: - Volta e meia, tudo indica, o procurador Jefferson Aparecido Dias, do Ministério Público Federal, fica com síndrome de abstinência dos holofotes e decide, então, inventar uma causa para virar notícia. Aprendeu, com a experiência, que dar cascudos em Deus – nada menos – ou na fé de mais de 90% dos brasileiros, que são cristãos, rende-lhe bons dividendos (...) Mais adiante: - A mais nova e essencial decisão deste senhor, da Procuradoria dos Direitos do Cidadão, de São Paulo, foi entrar com uma ação civil pública para retirar das notas do real a expressão “Deus seja louvado”. É o mesmo rapaz que se mobilizou para caçar todos os crucifixos de prédios públicos, lembram-se? Também foi ele que tentou, sem sucesso, levar o pastor Silas Mala-

faia às barras dos tribunais quando este protestou contra o uso de santos católicos em situações homoeróticas numa parada gay. Li na internet centenas de manifestações contra o esporte do procurador. Também sou daqueles que quando pego uma nota de 100 procuro logo conferir sua legitimidade: “Deus seja louvado”. Amém. Digo mais: a frase vale para todas as religiões e respectivas seitas. Também para os ateus. Tenho uma amigo agnóstico que, todo fim de mês quando recebe seu polpudo contracheque (não é procurador nem magistrado), diz bem baixinho, quase puxando uma reza: “Graças a Deus”. Dos comentários sobre a falta do que fazer do procurador Jefferson a que eu elegi melhor, mais oportuna, mais correta, mais deliciosa é a de Carlos Heitor Cony. Está na sua crônica de domingo, na Folha de S.Paulo, com o título: “Deus seja louvado”. Leia-a:

“Querem tirar das cédulas do nosso real breve citação carregada de ironia machadiana: “Deus seja louvado”. O argumento é o mais pífio: o Brasil é um Estado laico, qualquer alusão a divindade é uma afronta, o país tem diversas religiões e, inclusive, tem razoável porcentagem de ateus ou agnósticos de carteirinha, entre os quais o cronista se inclui, apesar de sua formação ter sido feita com valores de determinado credo. Os Estados Unidos não cultivam uma religião oficial, mas nas cédulas de um dólar, com a cara de Washington, há a frase “In God we truste”. Há também na mesma cédula um símbolo maçônico: a pirâmide interrompida, tendo em cima o olho que em muitas religiões representa o olhar de Deus. Que também comparece nas caixas de fósforos, simbolizando o “Fiat lux”. O hino oficial inglês também invoca Deus: “God Save the Queen” ou King. E voltando aos Estados Unidos, o “God Bless America”, de Irving Berlin, funciona como hino alternativo, mais ou menos com o “Aquarela do Brasil”. Poderia citar outras invocações oficiais ou oficiosas da divindade. Barack Obama, que me parece meio muçulmano, em breve prestará seu juramento para o segundo mandato com a mão em cima da Bíblia – base do judaísmo e do cristianismo. A invocação da cédula do real não discrimina nem faz apologia de qualquer religião. Até mesmo os cultos afro-brasileiros têm seus orixás e nossos índios invocam Tupã. O Império brasileiro tinha uma religião oficial que foi abolida com o advento da República. A bandeira que consagrou o novo regime tem até hoje a influência do positivismo, que para muitos de seus adeptos funciona como religião. O dístico (“Ordem e Progresso”) é redução do lema fundamental de Auguste Comte.”

Flipipa Amanhã começa a Festa Literária de Pipa. Nomes importantes da literatura, do jornalismo, da música, do teatro e das artes plásticas brasileiras estão por lá até sábado: Ana Miranda, Tatiana Salen Levy, Fernando Veríssimo, Zuenir Ventura, Antônio Cícero, Reinaldo Moraes, João Paulo Cuenca, Sérgio Sant’Anna, Rafael Gallo, Nelson Xavier, Bené Fonteles. Palestras, debates, bate-papos, conversas. Não somente na tenda montada no recinto da Fliplipa, mas também bares, restaurantes, botecos e barracas de todo os terreiros de Pipa. A prata da casa desta aldeia de Poti mais letrada ou mais ou menos, também não fará feio. Vai ser legal, até porque a festa não será somente literária. Tem música, cinema, teatro. E muita coisa para a meninada, estudantes de várias escolas da região.

Biblioteca e teatro Uma dessas atrações é a BiblioSesc, com sua Biblioteca Itinerante, que fez sucesso ano passado. Além das sessões de leituras que começam às 8h30, o pessoal vai ter muita “contação de histórias”, algumas delas encenadas.

No sábado, coisa das 16 horas, no Espaço Sesc de Teatro, haverá a apresentação do espetáculo “Sua Incelença, Ricardo III”, pelo Grupo Clowns Shakespeare”, que já foi apresentado em várias capitais do Brasil e no exterior.

LIXO É mais provável a ONU juntar numa mesa palestinos e judeus do que a Prefeitura do Natal tirar o lixo de nossas ruas e calçadas. A cidade é um fedor só. Aqui se completam a incompetência da administração municipal e a falta de educação dos nativos.

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Salvemos o Ateneu

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oi em 1834, há exatamente 178 anos, que o Ateneu instalou-se, fundado na presidência de Basílio Quaresma Torreão, que governava a província do Rio Grande do Norte. Cascudo, em seu, “História do Rio Grande do Norte”, registra o acontecimento no capítulo que fala sobre a Instrução Pública na Capitania, Província e Estado, “com vida agitada, várias reformas, tendo o direito de dizer-se o ninho de todas as águias e sabiás que se emplumavam vara voos em nossos céus”. Aliás, em 1943, um dos muitos governantes desmemoriados que por aqui transitaram, em decreto, ainda segundo Cascudo, “retirou o secular nome do Ateneu para o banal Colégio Estadual do Rio Grande do Norte”. O fundador do Ateneu foi o 6º presidente da Província. Era pernambucano de Olinda, revolucionário de 1817 e 1824, casado com uma norte-rio-grandense, de Goaninha. Fundou, também, o primeiro jornal da província “Natalense”, que durou de 1832 a 1837. Para não quebrar a tradição de desencanto com os que aqui chegaram aos longos dos anos com objetivos políticos e sonhos de liderança, Basílio Quaresma Torreão, apesar de simples, acolhedor e conciliador, era mitômano, enfeitava suas estórias e dava asas a sua fértil imaginação.

Mas voltando ao Ateneu que está se acabando pelo abanO fundador dono do poder públido Ateneu - Basílio co, apesar de sua lonQuaresma Torreão ga e secular existên- foi o 6º presidente cia, quero repetir e da Província.Era renovar o meu propernambucano testo, principalmende Olinda, te, em razão do prirevolucionário meiro crime que se de 1817 e 1824, cometeu (não sei casado com quem foi o autor) de uma norte-riodestruir seu centenágrandense,de rio prédio, localizaGoaninha” do na antiga Junqueira Aires, hoje Câmara Cascudo, com fundos para a antiga Praça João Tibúrcio. O mais violento atentado à desqualificada e menosprezada memória do Rio Grande do Norte. Sei que partiu de um dirigente da então recém-fundada UFRN, autor e responsável por essa vergonhosa ação que macula os nossos brios de cultura e inteligência, destruindo o estabelecimento de ensino público, por onde passaram inúmeras gerações, as “águias” e “os sabiás” referidos por Cascudo e que realmente se emplumaram para grandes voos em nossos céus, como ele próprio, as cabeças pensantes de nossa terra,

os que a engrandeceram pelo talento, cultura e inteligência. O Ateneu de Celestino Pimentel, padre Monte, Esmeraldo Siqueira, Clementino Câmara, Floriano Cavalcante de Albuquerque, Alvamar Furtado, Protásio Melo, Israel Nazareno, Antônio Pinto de Medeiros, Luiz Maranhão Filho, monsenhor Matta, cônego Luiz Wanderley, monsenhor Landim, Antônio Fagundes, nossa primeira grande universidade, que agora, em outro local, no Largo que tem o seu nome, caindo aos pedaços, morrendo, clama por socorro urgente, sob pena de virar destroços, de ser o exemplo mais triste e cruel de nossa incompetência, despreparo, de insensibilidade com a história, com a cultura, com o nosso patrimônio de inteligência e saber. O jornalista Vicente Serejo, no seu espaço diário, na imprensa, tem apelado para que se salve o nosso Ateneu. Faço coro ao seu grande apelo e o faço, lembrando o grande Vieira, não peço pedindo, mas reclamando e protestando. Vamos salvar o Ateneu, gente. Basta de tanto avacalhamento e de tanta indignidade. Vamos respeitar o que ainda resta de um território sagrado que não foi preservado por inteiro, mas que é patrimônio de orgulho do povo do Rio Grande do Norte.

Brum - www.rabiscosdobrum.zip.net

Cartas Licenciatura (1) Sou licenciado em física pela UFRN, porém, com “esse salário” que pagam aos professores da rede pública, prefiro estudar para passar em concursos como Polícia Federal, PRF, TJ entre outros. Quem sabe um dia, quando a profissão de professor for valorizada, eu volte a lecionar! fzsneto@gmail.com

Licenciatura (2)

LAURENCE BITTENCOURT [ jornalista ]

A complexidade da teoria literária

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ual o papel que cabe ao teórico da literatura? Essa pergunta me fiz por um bom tempo e acho que ainda vale para hoje. Minha reflexão partia, na época, da leitura de alguns grandes teóricos da arte e no caso especifico da literatura de autores como Horácio, Boileau e principalmente Aristóteles em sua discussão com Platão sobre a função da arte. Ainda lembro de um trecho do prefácio da obra do estagirita, “Poética”, escrito por Zélia de Almeida Cardoso em que a mesma dizia: “diferentemente do que se observa na Ars Poética de Horácio ou na Art Poétique de Boileau, obras inspiradas em Aristóteles, a Poética não é um preceituário, um livro de “receitas” do bem escrever ou do bem compor. É uma exposição teórica, que parte da observação e da análise de obras literárias conhecidas do autor”. A partir dessas leituras cheguei à formulação de um pensamento de que não convém ao teórico orientar ou dizer como um autor deve compor ou escrever uma obra, esse não é o seu objetivo, e sim, discorrer sobre aquilo que foi escrito explicando-o. Claro que essas são noções simples ou simplificadas. Porque a quem se propõe fazer da literatura um objeto de estudo, de questionamento, implica sempre na construção de uma teoria. E uma teoria (ou toda teoria) por seu turno, implica sempre a criação de um problema em que o senso comum muitas vezes não percebe obscuridade e cujo esclarecimento justamente justifica o empenho da razão analítica. E foi dessas leituras que fui alimentando a ideia de que teorizar (do grego Theorai = observar, olhar) algo, no fundo, é transformá-lo em um problema, ponto de partida para um aprofundamento que exigiria método e análise. Por outro lado, é importante situar ou perceber que literatura é um produto cultural. Não é algo natural. E como tal é algo que exige talento, habilidade e competência, e que de acordo com Aristóteles esta última pode ser entendida como o acúmulo teórico sobre a coisa feita. Obviamente que estou cônscio de que amparado Classificados: Redação Fax Venda Avulsa Assinatura Natal Reclamações Natal ASSINATURA Mensal (à vista) Semestral (à vista) Anual (à vista)

4006-6161 4006-6113 4006-6124 4006-6100 4006-6111 4006-6111 R$ 43,00 R$ 258,00 R$ 516,00

PREÇO DO EXEMPLAR Rio Grande do Norte 3ª a Sábado Domingo Outro Estado 3ª a Sábado Domingo

em conceitos e exigências menos rigorosas alguém pode defender o ponto de vista Como diz um de que literatura é feita para teórico da a fruição dos sentidos, para literatura o prazer estético de quem faz moderna,Harold a leitura, não se importando Bloom,uma em tirar ensinamentos ou fatradição nunca é zer relações com a própria visuperada,e sim, da ou com a vida social, basacoplada, tando apenas ter prazer com amalgamada, a leitura. Sem dúvida. É um elaborada, ponto de vista, mas há oureelaborada, tros. Se negássemos tal fato dando lugar a estaríamos negando a prónovas teorias,a pria diversidade humana. E outras teorias” a diversidade humana é complexa. Entre as teorias sobre a literatura é consenso afirmar que há dois grupos básicos e que tomaram forma através das visões de Platão por um lado e de Aristóteles por outro, qual seja, um grupo que defende a teoria como algo normativa e outro que defende uma teoria descritiva. A primeira situa Platão como seu principal defensor, e que postula a ideia de que literatura encerra ou deve encerrar um preceito, isto é, uma norma, uma função. A segunda, defendida por Aristóteles, defende a ideia de que teoria literária deve ficar restrita a descrever uma obra, revelando suas partes, sua constituição, sua natureza, personagens, enredo, sem nenhum propósito de estabelecer regras ou normas. A atitude normativa busca dizer o que a literatura deve ser e como deve ser julgada. A atitude descritiva diz o que ela é e que explicações prováveis lhes são apropriada. Resta, por fim, uma indagação: ambas as teorias já foram ultrapassadas? Como diz um teórico da literatura moderna, Harold Bloom, uma tradição nunca é superada, e sim, acoplada, amalgamada, elaborada, reelaborada, dando lugar a novas teorias, a outras teorias.

Só ingressa nas licenciaturas quem se julga incapaz de entrar em outras áreas e o resultado são formandos sem a mínima qualificação, desestimulados, sem perspectivas de crescimento profissional. Há 30 anos eu fiz o caminho inverso, deixei o curso de Engenharia Química e ingressei na Licenciatura em Química. Hoje pensaria dez vezes antes de fazer tamanha besteira, o que se ganha como professor é ridículo comparado com outros profissionais de mesmo nível de formação. leido@ig.com.br

Licenciatura (3) Adequar o currículo escolar por área do conhecimento não é o melhor caminho. Penso que a valorização do professor do ensino básico, melhorando consideravelmente o salário desses profissionais, tornaria a profissão mais atraente, tendo como resultado a melhoria do trabalho docente. Que profissional pode trabalhar em três turnos e manter a qualidade de sua ação docente? kelsongeo@hotmail.com

Dominguinhos Parabéns, Marcos Lopes! Agora, sim, poderemos ter algum espaço como referência cultural no nosso RN esquecido pelos poderes públicos. Orgulho para todos os norte-riograndenses ter esse espaço, contando os dias para o show de inauguração. osirisaraujornn@yahoo.com.br Cartas para esta coluna deverão ter no » máximo 40 linhas para cada leitor e endereçadas para a seção Coluna do Leitor - Fone:4006-6100 FAX:4006-61224 - Redação/Tribuna do Norte. Email - tribuna@digizap.com.br

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