Tribuna do Norte - 29/01/2011

Page 2

2 | Tribuna do Norte | Natal | Rio Grande do Norte

opinião

Sábado | 29 de janeiro de 2011

IVAN MACIEL DE ANDRADE [ advogado ]

Jornal de WM VICENTE NETO - interino - vneto@tribunadonorte.com.br

Enfim, uma boa notícia

J

aneiro está chegando ao fim com uma boa notícia para compensar as preocupações dos prefeitos com as chuvas fora de época. O Fundo de Participação dos Municípios fechará o mês com aumento de 49,7% na comparação com igual período do ano passado. Com o depósito da terceira parcela, feito ontem, os municípios de menor porte receberam R$ 508,4 mil. Valor bruto, sem desconto do Fundeb, Fundo de Saúde e Pasep. Natal recebeu R$ 19 milhões, Mossoró e Parnamirim R$ 5,7 milhões, São Gonçalo 2,3 milhões e Caicó R$ 2 milhões. O problema para pequenos e médios é que este mês a folha salarial aumentou em decorrência do reajuste do salário mínimo.

Boas-vindas Para o governo do Estado o reajuste do Fundo de Participação foi um pouco maior: 50,8%. Foram R$ 151,1 milhões em janeiro do ano passado e R$ 227,9 milhões agora. Complementan-

do o saco de bondades deixado por papai-noel, a Secretaria do Tesouro Nacional prevê um FPM 6% maior em fevereiro. Mas de março em diante vem rebordosa.

LAVÔ Lavoisier Maia deixa a vida pública nesta segunda-feira, quando termina o mandato de deputado estadual. Mas avisa: “isso não significa dizer que estarei ausente nem omisso às questões políticas do meu Estado.”

Meio ambiente A Paraíba também vai adotar a inspeção veicular. A obrigatoriedade é para os carros com mais de 10 anos de uso. Falando nis-

so, janeiro está no fim e nada dos papa-jerimuns tomarem conhecimento da planilha de custo da Inspar.

Machado e as desigualdades sociais

N

os romances e contos da chamada primeira fase de sua produção literária, Machado de Assis assumiu uma clara atitude de contraposição às desigualdades sociais escrevendo histórias e criando personagens em que se situava ao lado dos que sofriam os efeitos das injustiças. Não havia em Machado espírito de revolta. Apenas uma discreta amargura. Descrevia realisticamente o sacrifício e a submissão que caracterizavam as relações dos dependentes (os pobres) frente aos dominadores (os proprietários, burgueses ou senhoriais). Era como se Machado pretendesse, utopicamente, convencer os dominadores a mudarem o seu modo de agir, o tratamento atribuído aos dependentes. O que correspondia em última análise a uma estratégia romântica, que partia do pressuposto de que seria possível humanizar o arbítrio dos que detinham a riqueza fazendo com que ele fosse exercido com sentimentos de compaixão e respeito à dignidade dos desapossados. Dentro dessa ótica, na primeira fase machadiana, foram publicados quatro romances: “Ressurreição”, “A mão e a luva”, “Helena” e “Iaiá Garcia”. Não eram propriamente obras medíocres. Poderiam até mesmo garantir a sobrevivência literária de Machado de Assis. Mas sem a projeção que obteve depois de maior escritor brasileiro. A segunda fase se iniciou com o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicado em forma de folhetim em 1880 e como livro em 1881. Machado de Assis, na “confortável” posição de defunto autor, assume a pos-

tura de integrante das classes privilegiadas. E passa a exibir com Na segunda fase, que muita autossuficiênse iniciou com as cia e de forma satíri‘Memórias Póstumas ca o seu mundo, dos de Brás Cubas’, proprietários, dos dopublicado em forma minadores. Isso é feide folhetim em 1880 to através de Brás Cue como livro em bas, que não tem o 1881, Machado de menor escrúpulo em Assis, na confessar (já que não ‘confortável’posição pode sofrer represáde defunto autor, lias) as vantagens assume a postura de amorais e extravaintegrante das gantes que são proclasses porcionadas por seu privilegiadas” status. Empenha-se em demonstrar, à base do escárnio, como todos os aspectos de sua vida são decididos de acordo com interesses mesquinhos, algumas vezes sórdidos, mesmo quando finge, em sua carreira política, prestar serviços à comunidade. Nem por isso deixa de ter um belo e convincente discurso liberal. Essas contradições da sociedade brasileira – o liberalismo teórico convivendo com a prática da escravatura – foram incorporadas de várias formas às “Memórias Póstumas”: explicitamente, mediante atitudes de Brás Cubas que, de forma cínica e hipócrita, revelam sua plena consciência de classe dominante que tem tudo ao seu alcance; de modo figurativo, pelo uso de uma técnica romanesca na qual são rompidos todos os cânones literários que orientam a elaboração de uma narrativa, tor-

nando-a ziguezagueante, imprevisível, com intromissões constantes e injustificáveis do autor, que sempre aparece para ironicamente se valorizar e autopromover. Intervém nesse aparente desconcerto uma reflexão especulativa, filosófico-metafísica, que analisa o sentido da vida, do amor e da morte. E por meio de vários episódios jocosos ou tristes o autor apreende a realidade brasileira em todas suas manifestações: políticas, econômicas, sociais, éticas, familiares. Mas sempre a situando dentro de uma visão universal. As peculiaridades nacionais se inserem nas concepções de modernidade exportadas por nações que cometem as mais gritantes incoerências, mantendo classes que desfrutam dos avanços científicos e tecnológicos ao lado de outras tão carentes que mal conseguem sobreviver. Em seus três romances mais importantes – não digo nos três melhores porque estaria excluindo “Esaú e Jacó” (l904), talvez o de maior densidade psicológica, e o autobiográfico “Memorial de Aires” (1908) – o personagem-narrador (“Memórias Póstumas” e “Dom Casmurro”) ou o principal personagem (“Quincas Borba”) pertencem à classe rica, dos proprietários, afeita a impor a sua superioridade e os seus caprichos. Nesses três romances, Machado projeta o seu olhar sobre a sociedade para enxergá-la do ângulo dos que exercem a dominação. Essa técnica machadiana desmascara as infâmias que são cometidas em nome de princípios civilizados. Utiliza-se para tanto de uma ótica cética, de humor cáustico, mas de refinada percepção, com que reproduz a estrutura das desigualdades sociais...

Amâncio

Cartas Assaltos (1)

MULTAS O prefeito em exercício Paulinho Freire vetou integralmente o projeto de lei 289/09, aprovado em dezembro do ano passado, que instituía o parcelamento de multas de trânsito lavradas no âmbito municipal.

Creio que notícias como essas infelizmente não serão as últimas. Os bandidos já constataram a fragilidade da segurança pública no interior deste Estado e por isso estão agindo por lá. Quando o governo do Estado colocará um “basta” nesta situação? Mais de 500 policiais civis formados desde o ano passado em um concurso que lançou o edital em 2008 aguardam a sonhada nomeação. A polícia militar ostensiva fardada apenas inibem a ação dos bandidos dando uma sensação de segurança mas quem desvenda os crimes é a polícia civil responsável pela investigação.

O que me disseram foi que a prefeitura está falida, sem condições de investir na escola agora”

Alexsandro de Souza,diretor da escola João XXIII,que enfrenta problemas para iniciar o ano letivo,em decorrência de rachaduras na caixa d’água.

Pacto O Ministério das Cidades informa. A partir deste ano, Estados e municípios devem preencher relatório digital, a cada seis meses, para prestar contas sobre as ações do PAC Urbanização de Favelas.

O objetivo é auxiliar técnicos das três esferas – municipal, estadual e federal - a identificar e solucionar problemas no trabalho social, na questão ambiental e na regularização fundiária.

Se podes olhar,vê.Se podes ver,repara José Saramago

fevereiro, o livro “A Extrafiscalidade Como Forma de Concretização do Princípio da Redução das Desigualdades Regionais”.

UNICEF A Comissão Pró-Selo Unicef de Natal convocou reunião para segunda-feira, a partir das 14 horas. Na pauta, as ações previstas para 2011.

Previsão do tempo O Instituto Nacional de Meteorologia prevê chuvas em todo o Brasil no fim de semana. Hoje, o Inmet alerta para as condições meteorológicas na região Sul favoráveis à ocorrência de chuva com trovoadas e rajadas de vento no Rio Grande do Sul,

planalto sul, litoral e Vale do Itajaí em Santa Catarina, e no sul e leste do Paraná. Pela previsão dos meteorologistas, o natalense poderá curtir o fim de semana na praia, mas há grande possibilidade de chuvas no interior do Rio Grande do Norte.

A PROPÓSITO... A Defesa Civil estadual criou um plantão para atendimento dos casos de emergência ou calamidade pública provocados pelas chuvas. De início, o pessoal pega carona no telefone de serviço dos bombeiros, o 193.

JAPI O sistema de abastecimento de água da cidade de Japi voltou a funcionar provisoriamente ontem.

TROCANDO AS BOLAS O leitor Marcos Antônio Cavalcanti manda e-mail corrigindo nota publicada ontem neste espaço. Lembra que “prêmio é o valor que o segurado paga à seguradora.” Então fica assim: o seguro que o contribuinte paga aumentou este ano, mas o valor da indenização continua o mesmo desde 2007.

Empresa Jornalística Tribuna do Norte Av.Tavares de Lira,101,Ribeira - Natal/RN CEP:59010200 Fone: (PABX) 4006-6100 Fax: (0xx84) 4006-6124 Endereço eletrônico: www.tribunadonorte.com.br

Diretor Presidente: Henrique Eduardo Alves Superintendente: José Roberto Cavalcanti Diretor Adm.e Operações: Ricardo Luiz de V.Alves Diretor Financeiro: Agnelo Alves Filho Diretor de Redação:Carlos Peixoto cpeditor@tribunadonorte.com.br Gerente Comercial: Eliane Rocha Gerente de Marketing: Andréia Barandas Gerente de Circulação: Thales Vilar

Assaltos (2)

Cegueira e saúde coletiva

Livro O presidente do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, desembargador federal potiguar Luiz Alberto Gurgel de Faria, lançará em Natal, no dia 17 de

Evanni Borges – por e-mail

THEMIS XAVIER DE ALBUQUERQUE PINHEIRO [ Professora da UFRN ]

A

pesar da importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para a população brasileira, torna-se necessário reconhecer problemas que perduram e que precisam ser sanados com urgência, como é o caso da assistência aos males da visão. A desassistência oftalmológica no contexto das dificuldades de acesso para tratamento especializado vem produzindo, de modo substantivo, a cegueira. A catarata, reconhecidamente, constitui a principal causa da cegueira, passível de tratamento por intervenção cirúrgica. Trata-se de uma cirurgia simples, de baixo custo, realizada em 40 minutos. Os pacientes voltam para casa logo em seguida ao procedimento. Todavia, os pacientes que recorrem ao SUS encontram uma enorme barreira para realizar a cirurgia de catarata e para realizar outras cirurgias e intervenções para tratar doenças da visão. Ao menos 40% dos pacientes que precisam de cirurgia de catarata não conseguem tratamento, segundo uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que também detectou que falta assistência após a cirurgia. No RN são raríssimos os acessos para cirurgias oftalmológicas no SUS, tanto na capital quanto no interior. Uma parcela da demanda reprimida pode ser encontrada no Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN, na triagem da URGÊNCIA, na qual os pacientes gravíssimos disputam lugar com os pacientes muito graves e muitos destes poderão ter vez apenas quando já não mais houver o que fazer. Nós que possuímos uma visão plena podemos bem imaginar a vida na escuridão. No momento em que uma pessoa é capturada pela cegueira, sua localização no conjunto social é alterada, e seus modos de reconhecimento “de si mesmo” e dos outros são moClassificados: Redação Fax Venda Avulsa Assinatura Natal Reclamações Natal ASSINATURA Mensal (à vista) Semestral (à vista) Anual (à vista)

4006-6161 4006-6113 4006-6124 4006-6100 4006-6111 4006-6111 R$ 43,00 R$ 258,00 R$ 516,00

PREÇO DO EXEMPLAR Rio Grande do Norte 3ª a Sábado Domingo Outro Estado 3ª a Sábado Domingo

dificados de forma intensa e dramática. No livro Ensaio Sobre a É urgentíssimo Cegueira José Saramago ampliar os acessos nos lembra a “responsabiaos tratamentos lidade de ter olhos enquanoftalmológicos to os outros os perderam”. na rede pública Leva-nos a refletir sobre de saúde. A ver/não ver. Refere-se à “cecatarata deve gueira negra” (comum) que ser tratada no é só física, e à “cegueira cotidiano da branca”, que diz respeito a assistência menosprezo aos direitos tornando humanos fundamentais, à dispensáveis perda do respeito às minoos mutirões rias e às maiorias historipontuais” camente desfavorecidas, à inversão dos conceitos de dignidade, igualdade, fraternidade e solidariedade. O que cada um de nós cidadãos brasileiros, trabalhadores da saúde, e especialmente os gestores da saúde dos Municípios, do Estado, da União, podemos e/ou estamos fazendo para que o direito à visão seja garantido a todas as pessoas? Há que haver campanhas de prevenção da cegueira por catarata e outras doenças da visão, em todos os serviços básicos de saúde. É urgentíssimo ampliar os acessos aos tratamentos oftalmológicos na rede pública de saúde. A catarata deve ser tratada no cotidiano da assistência tornando dispensáveis os mutirões pontuais. É necessário que os gestores dos municípios criem suas alternativas assistenciais, loco/regionais, de tratamento e reabilitação para assegurar a saúde da visão dos seus munícipes. Ao gestor estadual cumpre um papel capital nesta assistência especializada. É fundamental que os gestores se unam e busquem parceiros em defesa dos não assistidos. É imprescindível corresponder à fé e à esperança de todas as pessoas que neste momento estão à mercê de viver na escuridão.

E vamos seguindo nossas vidas vendo os bandidos tomarem conta do nosso Estado. A PM é escassa no interior e a Polícia Civil não existe. Fica complicado dar proteção à sociedade quando o governo não mexe um pauzinho para isso. Karla Correia – por e-mail

Servidores Uma boa maneira de enxugar a folha de pagamento e de aumentar a disponibilidade de recursos para o Estado seria moralizar o tratamento dado às cessões de funcionários. Atualmente, em decorrência de ingerências políticas, milhares de servidores são desviados de sua lotação originária, para, muitas vezes, não prestarem serviço algum. Essa situação maltrata não só aqueles que têm baixo salário e realmente trabalham, mas toda a sociedade. andriola@supercabo.com.br

Violência É triste ler matérias como esta da morte em Parnamirim, mas é a realidade do nosso Estado. Um estado onde não se tem, e os gestores não se empenham em ter, uma polícia investigativa, preparada e com um efetivo que atenda minimamente e proporcionalmente a população está fadado a perder a luta contra a violência. Léo Souza Júnior - por e mail

FILIADO AO

R$ 1,50 R$ 2,50

FILIADO AO INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO

R$ 2,00 R$ 3,20

REPRESENTANTE NACIONAL – Pereira de Souza & Cia Ltda: Rio de Janeiro :(O21)2544-3070 – São Paulo:(011) 3259-6111

FILIADO À ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS

REDE CABUGI DE COMUNICAÇÃO TRIBUNA DO NORTE 4006-6100 Rádio Globo/Cabugi (AM) Natal 4006-6180 104 (FM) Parnamirim 3272-3737 Rádio Difusora de Mossoró (AM) 3316-3181/2181/3317-6167 Rádio Cabugi do Seridó (AM) J.do Seridó 3472-2759 Rádio Baixa Verde (AM)J.Câmara 3262-2498 Pereira de Souza(SP) 11/3259-6111 Pereira de Souza(RJ) 21/2544-3070


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.