Tribuna do Norte - 27/05/2014

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Natal • Rio Grande do Norte • Terça-feira • 27 de maio de 2014

FOTOS: JÚNIOR SANTOS

ITAÉRCIO PORPINO Repórter Colaborou: CINTHIA LOPES Editora

O

jornalista sai de cena (não inteiramente) e entra o escritor. E assim Marcelo Tavares dá lugar a Paneloviski, autor fictício que Eu tô indo embora, Celo – disse isso depois de lavar a minha xícara. ainda está longe de Eu sabia que dessa vez não era pra ser um daqueles comprar frutas. Decidiu tirar o corpo fora. fenômenos liteDeixar um vazio de 1,68m. Quem é rários nascidos capaz de conviver com uma ausência na web, mas que desse tamanho, Lucia? Segurei o seu braço e prometi mudar. Deixou a cópia a cada novo texda chave no claviculário e fechou a to publicado no porta em silêncio. O óleo que eu comprei Facebook vê cresfez bem as dobradiças. Em nenhum cer o número de momento olhou pra trás. admiradores de sua A quitinete virou um latifúndio. literatura e, num certo Paneloviski sentido, vai desmentindo pouco a pouco o epíteto da fanpage criada por ele há três meses: “Um arauto de histórias que ninguém conhece”.

Diretos, concisos e curtos, os textos têm a cadência precisa e o tamanho exato - nem sobra, nem falta nada. Daí, o casamento perfeito com as ferramentas de mídias socais. Geralmente, eles são publicados junto a fotos, como se fossem postais, mas o motivo do sucesso do autor não está no canal e formato, e sim no conteúdo. Observador atento do cotidiano, Marcelo Tavares vê e ouve coisas que passam totalmente despercebidas a outras pessoas. É daí, principalmente, que ele extrai a matéria-prima e, com uma boa dose de sensibilidade e criatividade, transforma na literatura publicada em sua fanpage sob o pseudônimo Paneloviski, atualmente com mais de 1.400 fãs. “O que eu normalmente faço é transformar a realidade. Os textos nascem de bate-papos na internet, em situações e conversas em pontos de ônibus e também dentro de

transportes públicos, assim como em botecos e nos mais diversos lugares onde há gente”, diz Tavares. O jornalista e escritor recusa o título de poeta – como foi descrito recentemente no quadro Cores e Nomes do RN TV -, mas admite que há alguma poesia em sua prosa. “Não sou poeta. Nem faço versos! Minha mãe viu o programa na televisão e veio me perguntar: ‘Meu filho, e você é poeta é?’ Eu respondi: Mãe, não acredite em tudo que passa na TV não”, brinca Marcelo Tavares. Agora - falando sério -, ele concorda quando os leitores identificam a sensualidade como uma das características de seus textos. Aliás, chama atenção (e até desperta ciúmes) o fato das figuras femininas nos posts serem sempre descritas como morenas. Por que e como essa história de morena surgiu, Marcelo Tavares não sabe dizer, mas ele comenta que a situa-

Você pode chamá-lo de Paneloviski, ‘Magro de Natal’ ou simplesmente Marcelo Tavares Panela. Todos eles cabem dentro desta figura de alta sensibilidade literária, que escreve, burila histórias ignoradas pela maioria das pessoas, e as transforma em microcontos que fazem sucesso na Internet. Ainda este ano, vai publicar seus textos em livro

ção já está causando ciumeira nas leitoras – que respondem por 70% do público de Paneloviski. “Sou sempre cobrado para criar alguma coisa para loiras e ruivas e nunca faço, mas já estou com uma ideia e em breve espero que saia”. O mais importante para Marcelo Tavares é saber que muita gente já identifica um estilo em sua escrita. “Estão dizendo que reconhecem meutexto,quecrieiumestilopróprio. Isso é muito bom”, diz ele,quetambémcomemoQuando o ciúme entrou na minha ra o crescimento da vivida, eu já estava muito, muito velho. sibilidade – boa parte, Não fiz escândalo, não esmurrei parede, não emfunçãodeseuapabati telefone, não mandei ninguém pra o recimento na TV – e inferno. Me tranquei no quarto e esperei o a ótima receptividasono chegar. Ao tentar guardar os óculos, derrubei acidentalmente o meu remédio do de. “Quando são coração e a tampa do nebulizador. Logo cedo apenas os amigos ouvi os cochichos pela casa: ele teve um elogiando, a gente fiacesso de fúria durante a madrugada. ca meio assim. Mas Ri sozinho na mesa e voltei a tomar vindo de pessoas deso meu café da manhã. Tolos. Só eles ainda não perceberam que conhecidas, é diferente, eu fiz as pazes com o tempo. mais isento”, completa. Paneloviski

É como ter um milhão de amigos Marcelo Tavares, 40 anos, é jornalista de profissão, diplomado pela UFRN, mas redação de jornal nunca foi seu forte. A pressa comum à atividade não combina com o zelo que ele tem com as palavras. “Meu ritmo e meu tempo são diferentes. Eu releio o que escrevo não sei quantas vezes. Acordo no outro dia e ainda faço ajustes, troco uma palavra aqui e outra ali”, diz ele, que teve uma passagem bem curta por redação – dois meses. Foi o bastante para saber que não era o que queria. Mas, dependendo da necessidade, encara novamente. Já a publicidade tem mais a ver com ele. “Trabalhei na área e acho que isso me ajudou a ter esse estilo mais conciso. Um texto de 15 linhas já é grande demais

pra mim”, brinca. Marcelo Tavares começou a escrever regularmente em 2002, quando criou seu primeiro blog, “O Magro de Natal” (ele mede 1,80m e, adulto, nunca ultrapassou os 60kg). “Foi na época daquela febre de blogs. Todo mundo tinha um e eu criei o meu para escrever coisas do meu dia a dia numa linguagem informal e divertida”. Textos com uma pegada mais autoral – que podem ser considerados um ensaio para o que hoje ele assina como Paneloviski vieram com o segundo blog, “O que mais ninguém vê”. A página ainda existe, mas Marcelo agora está mais voltado à fanpage de Paneloviski. O pseudônimo é uma derivação do apelido Panela (recebido

por Marcelo Tavares ainda na UFRN). “De tanto chamar de panela um grupinho que só andava junto, acabei ganhando o apelido de Marcelo Panela. Logo, passaram a me chamar só de Panela. Paneloviski foi porque tinha uma amiga que me chamava assim. Acabei achando sonoro e adotei”. Amizade, aliás, é algo que Marcelo sabe cultivar como poucos. Ele é tão querido que, ano passado, em seu aniversário de 40 anos, 90 pessoas lhe prepararam uma grande festa surpresa – a Panela Stock (uma brincadeira com Woodstock), bancando, além dos comes e bebes, duas bandas. “Esse povo todo combinando a festa durante oito meses pelas redes sociais e não vazou nada. Quase tive um pirepaque na hora”, lembra.

Do Face para o papel Com o incentivo e interesse de seus muitos amigos e fãs, a literatura de Paneloviski não vai demorar a saltar do mun-

do virtual para o papel. Alguns textos já estampam camisetas (sucesso principalmente entre as mulheres) e, talvez ainda este ano, seja lançado o livro. Marcelo Panela conta que tem 80% do material pronto e uma equipe de pelo menos 50 pessoas querendo participar da produção.

Segundo ele, a ideia é que o livro siga a linha da fanpage, com a mescla de texto e foto. Aliás, essa é uma curiosidade interessante no processo criativo do jornalista e escritor. Às vezes, ele parte da fotografia para criar o texto, mas também acontece o contrário, a ponto de ter muita coisa escrita ainda inédita por falta de imagens. “Não são legendas. Uso a imagem apenas como inspiração. E só publico se o fotógrafo autorizar”, diz ele, que faz questão de divulgar a página/site/flikr do autor da foto para que o leitor conheça melhor o trabalho do fotógrafo. Marcelo Tavares ainda solicita imagens, mas é cada vez maior a quantidade de profissionais da fotografia e amadores que lhe oferecem material, desejosos de um belo texto com a assinatura de Paneloviski.


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