12 agosto 2011 27 ago 10

Page 1

Náutica

Desportos De mar em Destaque PÁGINA 11

Tribuna das Ilhas

DIRECTOR: MANUEL CRISTIANO BEM 4 NÚMERO: 479

12.agosto.2o11

UNâNIME PRAIENSE E UNIãO ASSAfORENSE jUNTAS NO PAlCO

BIG BAND jUNTA MAIS DE CEM MÚSICOS NO PAlCO DO lARGO DO INfANTE PÁGINA 02

f A I A l E M f E S TA C O M SEMANA DO MAR 2011

PÁGINAS 08 E 09

sai às sextas-feiras

1 euro

AÇORES SEM CAPACIDADE PARA ARMAZENAR ATUM PÁGINA 04


O2

12 DE AGOSTO DE 2O11

EDitORiaL

“Virou” os mil… g A Marina da Horta acaba de “virar” os mil barcos de recreio que aqui têm feito escala ou cortado a meta de grandes competições náuticas neste ano de 2011. É que este “virar” dos três para os quatro dígitos na contagem das embarcações entradas é sempre um marco assinalável nas infra-estruturas deste sector por esse mundo fora, poucas, aliás, num grande plano semelhante ao que se verifica no Faial. O número de entradas acima dos mil é também variável e dependente de causas muito diversas que não se podem detectar e explicar à primeira vista – causas que só era possível conhecer, com relativa segurança, através de um estudo que nos levaria às grandes zonas marítimas de um elevado número de países, onde a náutica de cruzeiro e o turismo náutico em unidades a motor são prática corrente. De qualquer modo, as oscilações verificadas de ano para ano são naturais mas não demasiado significativas, atendendo ao movimento global que a Marina da Horta regista. Assim, nos últimos três anos, os números globais de escalas neste centro atlântico de iatismo que o porto faialense representa foram os seguintes: 2008, 1.181 entradas; 2009, 1.300 (recorde); 2010, 1.098. Ora quando mexemos nestes números lembramo-nos das palavras e insinuações que muitas vezes ouvimos da parte de antigos amigos – micaelenses e até terceirenses – que com certos ares de uma superioridade regional diziam: - “Os faialenses que vão aproveitando aí as vantagens económicas do iatismo enquanto puderem… Sim, porque depois de termos as nossas marinas lá se vai o apregoado movimento e os ganhos, que virão cá ter como é natural… E a marina da Horta sempre há-de servir para os barquinhos de pesca !” E muita gente era assim, falando às vezes a brincar mas acreditando nas suas previsões, fruto de um passado de centralidades em tudo o que convinha aos senhores das ilhas maiores. Só que neste caso dos homens do mar, dos “aventureiros”do Oceano, as coisas não se resolvem por decreto e as rotas marítimas têm as suas regras e vantagens que é necessário respeitar e seguir à risca. Mesmo assim, apesar das mais-valias que desde há décadas a Marina faialense trouxe ao Faial e aos Açores, é sempre uma dificuldade em criar-lhe mais espaço que permita um bom serviço durante as estadias dos iates e suas tripulações. Tudo tem de ser “arrancado a ferros”, como se diz por cá… Ao passo que para outros lados nunca faltam vontades e dinheiros em abundância. No fundo, é esta estrutura que em cada ano vai contando as visitas de mais de um milhar de barcos, com benefícios para os Açores, na ordem económica e de promoção gratuita para as ilhas. Por isso, dizem os faialenses: “alguns têm marinas e faltam barcos, a nós faltam espaços para os meter...”

Em DEstaquE

Tribuna das Ilhas

unânime praiense e união assaforense juntam-se em concerto na semana do mar Amanhã, sábado, a partir das 21h30, o palco do Largo do Infante vai sofrer uma remodelação para acolher uma das principais novidades desta edição da Semana do Mar: trata-se do concerto da Big Band formada pelas Sociedades Filarmónicas Unânime Praiense e União Assaforense, acompanhadas pela cantora Rita Biscoito. Mais de cem músicos em cima do palco, dois maestros, e um repertório variado, preparado para aqueles que vêm à festa com o intuito de se divertirem, prometem ser a receita de um espectáculo em grande. TRIBUNA DAS ILhAS esteve à conversa com Ruben Silva e Délio Gonçalves, maestros da Unânime e da Assaforense, respectivamente.

Marla Pinheiro Foto: Maria José Silva g A ligação do maestro Délio Gonçalves à Unânime conta já com vários anos. Quando se tornou maestro da União Assaforense, filarmónica com a qual a banda faialense iniciou um intercâmbio no ano passado, as duas bandas tiveram a ideia de fazer algo diferente e ambicioso. Assim, decidiram dar uma nova dimensão à palavra “intercâmbio”, e juntar as duas bandas no mesmo palco, para um concerto especial. Trata-se de algo invulgar – facto comprovado pela necessidade de acrescentar o palco do Largo do Infante para receber este concerto , que reúne o empenho das duas bandas, para que amanhã, sábado, os faialenses possam assistir a um espectáculo diferente. Com meio oceano de distância entre a Praia do Almoxarife e Assafona, em Sintra, no continente português, os ensaios em conjunto ficaram reservados para esta semana, tendo em conta que a banda continental só quarta-feira chegou ao Faial. Délio Gonçalves explica que os dois maestros prepararam o programa tendo em conta aquilo que conhecem das suas bandas. Para esta última semana, ficaram reservados os deta-lhes musicais mais específicos de uma ou outra obra.

[SOBE]

Apesar desta actuação implicar um esforço redobrado, os maestros estão certos da sua importância para os cerca de 130 músicos que nela participarão: “normalmente, num intercâmbio, as bandas trocam experiências mas através de actuações individuais de uma e de outra. Aqui optámos por juntar todos os músicos. Deixa de ser apenas a deslocação a outro local para passar a ser também um intercâmbio em termos de experiência musical”, explica Délio, salientando que não se trata apenas de uma experiência em termos musicais. É que, para que tudo corra bem amanhã, é forçosamente necessária uma maior interacção entre os músicos das duas bandas, o que torna esta experiência memorável também no seu aspecto social e humano. Para a Unânime, a par dos ensaios há a preocupação em ser uma boa anfitriã para a banda que está de visita: “felizmente, na nossa sede temos espaço para receber as pessoas. Temos também muita gente a planear as refeições e a organizar tudo. Com a colaboração de toda a gente e grupos de trabalho consegue-se espaço para que todos trabalhem e ao mesmo tempo possam desfrutar da festa, e conviver com os visitantes, que é uma parte importante dos intercâmbios”, explica Ruben Silva.

a insularidade dificulta o trabalho das bandas. No entanto, frisa, não o impossibilita: “a insularidade cria dificuldades, mas não impossibilidades. É preciso trabalhar para vencer essas dificuldades, com formação, mas também com a capacidade de cativar os jovens para a colectividade, não apenas pela parte formativa e musical , mas pelo carácter humano, pelo tipo de relações que se criam, pelas actividades extra-musicais que se disponibilizam…”, entende.

CATIvAR E FORMAR PARA GARANTIR CONTINUIDADE As dificuldades de algumas filarmónicas faialenses em conseguir manter um número suficiente de tocadores são já bem conhecidas. Para o maestro da Unânime, a única forma de combater esta realidade é com uma forte aposta na formação: “a nossa filarmónica está aberta de segunda a sábado, com aulas de música, ensaios, entre outras coisas. As coisas aparecem como resultado do nosso trabalho, e do sacrifício dos formadores que muitas vezes vão lá todos os dias. A escola de música é o pilar da banda, principalmente num sítio como o Faial, em que os miúdos vão estudar para fora, e temos de estar preparados para estar sempre a renovar a banda”, explica Ruben. Também Délio Gonçalves, que já conhece bem a realidade faialense, partilha desta opinião, e reconhece que

TRABALhAR PARA AGRADAR AO PÚBLICO Este concerto especial que amanhã a Semana do Mar recebe estará também nas festas em honra de Nossa Senhora da Graça, na Praia do Almoxarife, na segunda-feira. Com a colaboração da cantora de música ligeira Rita Biscoito em alguns dos temas, os dois maestros irão revezar-se em palco, num programa que, acima de tudo, procura cativar as pessoas que o irão escutar. “O programa está voltado o mais possível para repertório popular e conhecido, de modo a que o público se sinta familiarizado com o que vai ouvir. O objectivo é atrair as pessoas para a música das bandas filarmónicas, e desta forma enaltecer um trabalho cultural, social e humano importantíssimo, desenvolvido por estas associações”, explica Délio. A razão de ser deste concerto –

INTERCÂMBIO Ruben Silva e Délio Gonçalves vão estar em palco com as suas filarmónicas amanhã

&

como de todas as exibições de índole cultural – é o público. Sem público, o trabalho apresentado não cumpre a sua função, por mais qualidade que tenha. Por isso, para Délio, é vital que as bandas trabalhem para agarrar os públicos que vão encontrando. Para tal, um requisito essencial é ter em conta o local onde se actua na hora de escolher o programa a apresentar: “por exemplo, se este concerto fosse no Teatro, garanto-lhe que não utilizaríamos o mesmo programa. Estamos a falar de um concerto na rua, em ambiente de festa. As pessoas têm de se identificar com o que nós vamos fazer”, explica. Délio reconhece que é essencial dar às pessoas aquilo que elas gostam, mas também aqueles que elas, apesar de não gostarem tanto, têm capacidade de entender, e até aquilo que, apesar de poderem não entender de imediato, merecem ouvir e irão entender posteriormente. O segredo, conta, está na forma como se organiza tudo isto: “devemos começar por atrair; dar o que se gosta, depois, dar o que se compreende, o que não se compreende, voltar ao que se compreende e acabar com aquilo de que se gosta”. Quem vai certamente fazer aquilo de que gosta são os músicos da Unânime Praiense e da União Assaforense. Ruben Silva deixa o apelo: “venham ouvir os nossos concertos, e venham divertir-se, porque nós com certeza nos vamos divertir”.

[DEScE]

PORTUGAL ATLÂNTICO

O GRAvE PROBLEMA

g com a visita na semana passada ao porto faialense – pela 9ª.

g Toda a gente sabe que um dos maiores males que afectam a

vez – do navio-escola “Sagres” da Armada Nacional, alguém nos lembrou que antigamente estas passagens, com permanência de alguns dias, pelos portos insulares do Funchal, Ponta Delgada e Horta, eram periódicas e normalmente bem acolhidas pelas populações. Era esse o circuito do Portugal Atlântico, descoberto pelos navegadores portugueses e desse modo lembrado pelos seus descendentes históricos, os homens da Marinha, mas muitas vezes esquecido pelos governantes. Voltou a tradição. Oxalá volte a ideia de que também aqui é país…

humanidade, neste nosso tempo, é o consumo de drogas e o sujo negócio que ao mesmo está ligado. Um grave problema nos seus efeitos gerais, mas principalmente em relação à juventude, levando à destruição e à morte. Por isso, quando lemos ou publicamos notícias de acções policiais levadas a cabo, mesmo aqui, nos Açores, para apreensão desses produtos nocivos para a vida humana e castigo dos seus traficantes, louvamos essas acções e os seus intervenientes pela cruzada que continuam a desenvolver. E para os culpados a punição.


Tribuna das Ilhas

LOcaL

12 DE AGOSTO DE 2O11

O3

Três mortos nas estradas do Faial g Entre Janeiro e Junho, o número de mortos em acidentes rodoviários aumentou para 12, em relação a igual período do ano passado, em que tinham sido registadas sete vítimas mortais. Segundo dados da PSP divulgados pelo Serviço Regional de Estatística, as vítimas mortais foram registadas em acidentes ocorridos em S. Miguel (sete), Faial (três), Pico (uma) e S. Jorge (uma).

gaLaRDãO

[aconteceu]

marina da Horta hasteia Bandeira azul há 24 anos A campanha da Bandeira Azul foi iniciada na Europa em 1987, pela Fundação para a Educação Ambiental, com o apoio da Comissão Europeia. Foi criada para premiar as zonas balneares e os portos de recreio que cumprissem um conjunto de critérios de natureza ambiental, de segurança e conforto dos utentes e de informação e sensibilização ambiental. Nesse ano, a Marina da horta comemorava o seu primeiro aniversário, e hasteava pela primeira vez a Bandeira Azul. No passado domingo, a bandeira voltou a subir, pela 24.ª vez, atestando a qualidade daquele espaço por mais um ano.

Marla Pinheiro g De acordo com o presidente do Conselho de Administração da APTO (Administração dos Portos do Triângulo e grupo Ocidental), entidade gestora da Marina, esta instituição “tem procurado melhorar as condições desta marina no que respeita aos critérios de natureza ambiental verificados anualmente pela Associação da Bandeira Azul da Europa”. Assim, foram recentemente colocados ecopontos preparados para receber resíduos sólidos, óleos e baterias usadas, e é feito um controlo apertado da qualidade da água. A APTO tem procurado também garantir “a vigilância perma-

nente do espaço”, ao mesmo tempo que aposta na manutenção dos equipamentos, principalmente dos flutuantes, mais sujeitos ao desgaste. Como lembrou Fernando Nascimento, a Bandeira Azul não é a única certificação de qualidade de que a Marina da Horta dispõe. A ela, junta-se o galardão Quality Coast, uma certificação independente, atribuída por um júri internacional, a comunidades costeiras que apresentem um bom desempenho global sustentável. Mais recentemente, o ingresso no clube das mais belas baías do mundo foi também uma vitória para a Horta, partilhada naturalmente pela Marina faialense, refe- GALARDÃO A Marina da horta novamente rência da baía. na vanguarda ambientalista Para o secretário regional do Ambiente e do Mar, o número crescente de bandei- Marina da Horta é um bom exemplo de ras azuis atribuídas na Região – este articulação entre actividade económica ano foram 33 – é motivo de satisfação. e sustentabilidade ambiental, que se Álamo Meneses frisou que este suces- complementam uma à outra, principalso só foi possível graças aos “muitos e mente nos dias que correm, em que os bons parceiros” da Secretaria Regional turistas valorizam cada vez mais a quado Ambiente e do Mar. lidade ambiental na hora de escolher os De acordo com o governante, a destinos de férias.

Bom Jesus milagroso acolheu milhares de peregrinos

g Decorreu no passado fimde-semana a segunda maior festa religiosa dos açores. Trata-se do Senhor Bom Jesus Milagroso, que anualmente acolhe milhares

de fiéis. Este ano a festa foi dedicada ao tema das Jornadas Mundiais da Juventude, “Enraizados em Cristo, Firmes na Fé” e contou com um vasto programa religioso com destaque para a sextafeira que contou com duas peregrinações, que saíram das igrejas da Madalena e da Silveira, a caminho do Santuário do Senhor

Bom Jesus, eucaristia de acolhimento e vigília de oração. Apesar desta peregrinação, ao longo de toda a semana muitos peregrinos em romaria percorreram as ruas da ilha com destino a São Mateus. O ponto alto da festa, teve lugar sábado com a missa solene, seguindo-se procissão onde incorporaram milhares de peregrinos que vieram cumprir as suas promessas. As comemorações incluíram também diversas actividades lúdicas e tradicionais, bem como a participação de bandas filarmónicas da Região.

DEGUSTAçÃO DE PRODUTOS REGIONAIS NO qUIOSqUE ART NA hORTA g Ao longo desta semana a ART teve para os visitantes do Quiosque de Turismo ART na Horta produtos locais para degustação. Esta iniciativa visou a promoção desses mesmos produtos junto dos turistas que visitam a Região, e a ilha do Faial em particular. De acordo com a organização esta é uma iniciativa que pretende ser replicada nas principais festas dos restantes concelhos da área de abrangência da ART, ao longo do Verão. ACTIvIDADE SíSMICA CONTINUA NOS AçORES g Desde as 15 horas do dia 1 de Agosto que foi detectado, na Rede Sísmica dos Açores, um aumento de actividade sísmica a 100 km a Oeste da ilha do Faial, na zona da crista Média Atlântica. Os eventos sísmicos de maior magnitude (4.2) ocorreram nos dias 1 e 2 de Agosto, pelas 18:17 e 15:14, respectivamente. Estes eventos foram sentidos com intensidade máxima de II e III (Escala de Mercalli modificada, 1956) respectivamente, na Feteira e Horta. Durante os 3 dias de maior actividade foram registados 246 eventos na rede sísmica, assistindo-se actualmente a um decréscimo significativo da actividade. A análise das características dos registos obtidos indicia que os eventos sísmicos são de natureza tectónica. De acordo com o Instituto de Meteorologia, “este sector da crista Média Atlântica com actividade tectónica e vulcânica, e que atravessa o Arquipélago dos Açores entre os grupos central e Ocidental, fazendo a fronteira entre a placa tectónica Americana e as placas Euroasiática e Africana, é caracterizado por uma actividade sísmica regular, sendo este tipo de ocorrências considerado normal dentro dos padrões da actividade sísmica naquela área. Na zona epicentral da presente crise sísmica, verificaram-se nos últimos 10 anos vários enxames sísmicos, sendo o último o mais significativo, desde Setembro de 2008. RADIAçõES ULTRAvIOLENTAS COM vALORES PREOCUPANTES g Os elevados índices de radiação ultravioleta estão a preocupar os técnicos do Instituto de Meteorologia e a deixar sobre alerta os hospitais no que ao tratamento por insolação diz respeito. De acordo com o IM, no nível muito alto é aconselhada a utilização de óculos de sol com filtro UV, chapéu, t-shirt, protector solar e guarda-sol devendo também evitar-se a exposição das crianças ao Sol, conselho alargado a todas as pessoas no caso do nível extremo. A exposição ao sol deve ser evitada sensivelmente entre as 11:00 e as 16:00. A radiação ultravioleta pode causar graves prejuízos para a saúde se o nível de UV exceder os limites de segurança, de acordo o IM. O índice desta radiação apresenta cinco níveis, entre o baixo e o extremo, consoante o índice que chega ao 11.

[vai acontecer] hISTóRIAS qUE vêM DO MAR g Em 2008, durante um levantamento de povoamentos da alga caulerpa webbiana, foram descobertas por colaboradores do Departamento de Oceanografia e Pescas as primeiras evidências do Naufrágio do Marfim – várias presas em marfim e dois canhões de ferro, na baía da Horta. O desenvolvimento posterior de trabalhos arqueológicos pela equipa do cHAM no quadro do projecto de requalificação da frente marítima da cidade da Horta permitiu delimitar na área um naufrágio disperso, aparentemente devido à violência do mesmo e à posterior alteração dos fundos da baía. O estudo dos materiais localizados indica tratar-se do sítio de perda o de um navio mercante de inícios do século XVIII que operava no Atlântico, eventualmente de nacionalidade inglesa.Numa iniciativa conjunta do centro de História de Além Mar, do Observatório do Mar dos Açores e do Museu da Horta vai estar patente na Fábrica da Baleia de Porto Pim, uma exposição intitulada “Histórias que vêm do Mar” que pretende mostrar a todos os interessados a história deste naufrágio, bem como o trabalho desenvolvido pela equipa de arqueólogos do cHAM. A exposição foi inaugurada ontem. 2º PASSEIO DO 2º TIFNT g Está agendado para o dia 23 de Setembro o segundo passeio do TIFNT. Numa organização da secção de Todo-oTerreno do clube Automóvel do Faial, este passeio destina-se a todo o tipo de viaturas 4x4. ASSOCIAçÃO DE DESPORTOS DO FAIAL COMEMORA 49 ANOS g A Associação de Desportos da Ilha do Faial comemora no próximo dia 16 de Agosto, terça-feira, o seu 49.º aniversário. Às portas de comemorar as Bodas de Ouro, a ADIF vai promover um jantar comemorativo no Restaurante Barão Palace. Durante o jantar, para além do típico soprar de velas, vão ser homenageados dirigentes e atletas. LIvRO DE vASCO PEREIRA DA COSTA APRESENTADO NO MUSEU DOS BALEEIROS g O Fogo Oculto, o mais recente livro de Vasco Pereira da costa, será apresentado sexta-feira, pelas 21h30, no Museu dos Baleeiros, nas Lajes do Pico. com chancela da calendário de Letras, este livro é, por assim dizer, o “reencontro de um espaço carregado de memórias”. Em O Fogo Oculto, “o espaço é a ilha, são ilhas, com toda a rarefacção e estrangulamento geográficos, mas também com toda a amplidão que o mar permite a quem percorre o Atlântico vasto, que, afinal, vai dar a toda a parte”. Por sua vez, as “memórias são sensoriais, sensitivas, fraternais, emotivas”, e “tudo isto contido em palavras parcas, que afinam a condição insular no planeta que se julga imenso”.


O4

12 DE AGOSTO DE 2O11

LOcaL

Tribuna das Ilhas

HORta/saBLEs D’OLONNE

aventureiro francês na Horta à procura de recorde g Aportou segunda-feira, à Marina da Horta um dos mais destacados velejadores mundiais da actualidade, Arnaud Boissières, com um dos veleiros de renome da Classe IMOCA de 60 pés (18,28 metros), o AKENA Vérandas, iate com o qual o aventureiro francês irá participar na próxima edição da famosa regata Vendée Globe, que largará da cidade de Les Sables d’Olonne a 11 de Novembro do próximo ano de 2012. O veleiro «AKENA Vérandas» zarpou da ilha do Faial esta semana em plena festa da SEMANA DO MAR, com o objectivo de estabelecer uma marca de referência na ligação marítima à vela, em solitário, entre a Horta e a “capital” da vela internacional – a cidade francesa de Les Sables d’Olonne, na Região da Vendée – marca que ficará em aberto para outros iates, no futuro, tentarem superar, neste percurso com 1.270 milhas náuticas que passará a constituir-se em Horta / Les Sables Challenge. Arnaud Boissières, que já participou na Vendée Globe de 2008/2009, prova que conseguiu terminar no sétimo lugar, com outra embarcação com o mesmo nome, e aqui importa recordar que na altura apenas 11 chegaram à linha de meta, e 19 iates ficaram pelo caminho, foi o “padrinho” da regata Les Sables / Horta / Les Sables para embarcações da Classe de 40 pés na sua edição de 2009. Esta mesma competição viveu já neste ano de 2011 mais uma course, com triunfo final de Stéphane Le Diraison, no veleiro «Bureau Veritas», com apenas 25 segundos de vantagem, após 2.540 milhas de navegação, sobre Yannick Bestavan, skipper do Aquarelle.com, que havia vencido a primeira etapa à chegada à Horta, conforme este semanário noticiou. A vinda do AKENA Vérandas aos Açores é notícia principal de entrada na página oficial da regata Vendée Globe na Internet (www.vendeeglobe.org/fr), na qual se dá conta que Arnaud Boissières se encontra a preparar a próxima participação na Transat Jacques Vabre, prova em que fará equipa com o velejador Gérald Véniard, que também se encontra agora na Horta. De acordo com informação avançada pela APTO – Administração dos Portos do

Triângulo e do Grupo Ocidental, Arnaud Boissières, é um dos 19 pré-inscritos (27 é o número máximo admitido) para a Vendée Globe de 2012/2013, regata de solitários em monocascos que se disputa de quatro em quatro anos e que teve o seu arranque em 1989. Esta course tem reforçado de edição para edição a sua imagem de verdadeira lenda das competições náuticas internacionais, cobrindo de glória não só os respectivos vencedores, mas de uma forma geral todos os participantes, tal a exigência de um percurso de volta ao mundo de 24.840 milhas (mais de 40.000 km, a percorrer em cerca de 85 dias), sem escalas e sem assistência externa, com passagem pelos três grandes cabos do hemisfério Sul incluindo o Horn, e circundando a Antárctida por estibordo. A regata tem 600.000,00 euros de prizemoney, valor a distribuir pelos 10 primeiros da classificação, dos quais 160.000,00 euros estão destinados ao triunfador final. O AKENA Vérandas é o novo nome de um veleiro construído em 1998 que sob a denominação do muito competitivo «PRB» participou na última Vendée Globe 2008/2009, então com o patrão Vincent Riou ao leme, sendo agora Arnaud Boissières considerado um dos mais sérios outsiders para a grande regata do próximo ano. O velejador Arnaud Boissières, que esteve estes dias na Marina da Horta, foi vencedor da Route do Equador em 2005 ; ficou

em 2.º na SNSM Record 2010 (Saint Nazaire / Saint Malo / Saint Nazaire) ; classificou-se em 7.º lugar na Rota do Rum de 2010 e também em 7.º na Transat Jacques Vabre de 2009. Do seu palmarés constam, ainda, três Mini-Transats, em 1999, 2000 e 2001. O iate AKENA Vérandas é um veleiro com 8.070 kg, transporta um mastro de 27 metros, tem 271 m2 de área vélica e 617 m2 de área do balão/spinnaker e consegue atingir velocidades na ordem das 400 a 500 milhas por dia. De registar ainda que as 1.270 milhas náuticas que separam a Horta de Les Sables d’Olonne foram percorridas em 2010 em somente 5 dias, 13 horas, 27 minutos e 18 segundos por Bertrand Delesne, solitário, com o veleiro protótipo da Classe Mini (6,5 metros) «Prati’Buches», no âmbito da segunda etapa da terceira edição da regata Les Sables / Les Açores / Les Sables. Esta marca suplanta em cerca de uma hora e dezanove minutos o melhor registo efectuado em igual percurso pelos iates da Classe de 40 pés (12,19 metros de comprimento) que já disputaram a Les Sables / Horta / Les Sables em 2009 e 2011 – a marca mais destacada, aqui, está na posse da dupla Jean-Edouard Criquioche e Jacques Fournier, do veleiro «Groupe Picoty», com 5 dias, 14 horas, 46 minutos e 26 segundos, registo fixado na chegada, a 19 de Julho passado, da competição deste ano a França.

atum açoriano armazenado em barco do panamá g Um navio de refrigeração do Panamá está ancorado há duas semanas na Baía da Horta, a recolher atum capturado por embarcações açorianas para dar resposta à falta de capacidade de armazenamento nos Açores.

A iniciativa é do empresário madeirense João Nascimento, que já criou uma empresa nos Açores para gerir o comércio de tunídeos no arquipélago, tendo em vista a sua posterior venda nos mercados europeus. O empresário, em declarações aos jornalistas, salientou que a vinda do navio ‘Princesa Guasimara’ para os

Açores está relacionada com a “exigência dos mercados europeus”, que pretendem adquirir atum em excelentes condições de congelação. Até agora, o navio de refrigeração tem estado ancorado junto à ilha do Faial, mas também tem autorização para se deslocar a outras ilhas do arquipélago para recolher atum voador, que é a espécie mais procurada nesta época, e atum patudo, espécie que começa agora a aparecer em maior número no mar dos Açores. O Governo Regional pretende reforçar a capacidade de frio dos entrepostos açorianos através de

construção de duas novas unidades na ilha de S. Miguel, tendo Marcelo Pamplona, subsecretário regional das Pescas, salientado que elas vão permitir ultrapassar as atuais “dificuldades” de congelação e armazenamento. A falta de capacidade de armazenamento do atum nos Açores está relacionada com a excepcional safra deste ano, que obrigou o Governo a negociar a troca de quota de atum voador com Espanha depois dos pescadores açorianos terem atingido os limites de captura permitidos.

assOciaÇãO HumaNitáRia DE BOmBEiROs VOLuNtáRiOs DO FaiaL cOMUNIcADO A Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Faial, emitiu o novo cartão de sócio, evocando a data nobre que se aproxima (centenário que comemora a 16 de Maio de 2012), e pretendendo dar alguns benefícios a todos aqueles que se preocupam, de facto, com a causa Humanitária, celebrou alguns protocolos com entidades oficiais e particulares, que de pronto se disponibilizaram em colaborar com esta Instituição de Utilidade Pública. Assim, munidos dos novos cartões, e quota devidamente actualizada (mês anterior à efectivação da disponibilização de Serviços, ou aquisição de produtos, e artigos vários), abaixo discriminamos as entidades, empresariais, comércio local, e outros, com o qual a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Faial, celebrou protocolos: - APTO, SA - cLINIcA MÉDIcA DENTÁRIA – VIVA SORRIDENTE, LDA - cLUBE NAVAL DA HORTA - SILVA, MAcHADO & FILHOS LDA (FOTO JOVIAL) - FOTO cINE FILME, DE ANTÓNIO DÁRIO OLIVEIRA DA SILVA. Secretaria da AHBVF, aos oito dias do mês de Agosto de 2011 A Direcção


Tribuna das Ilhas

Biólogos estudam mar dos açores g Vários investigadores do Departamento de Biologia da Universidade do Minho estão a participar até 21 de Agosto numa campanha científica ao largo de Portugal continental.

A expedição oceanográfica a bordo do veleiro Santa Maria Manuela é integrada no projecto europeu Life MarPro, que visa proteger as espécies marinhas. Durante 14 dias vai ser coberta uma área de cerca de 400.000 quilómetros quadrados. O navio tem as condições ideais para actividades de investigação e de monitorização. O grande objectivo do MarPro é

validar a importância das águas portuguesas offshore (entre o continente e os Açores), que são habitats importantes para cetáceos e aves marinhas. Pretende-se obter dados científicos de qualidade em vários temas, incluindo densidades relativas e abundância de espécies, contribuindo para definir sítios Natura 2000 em zonas offshore. O programa de cinco anos (201115) e com 2,7 milhões de euros de investimento vai analisar a evolução da conservação das espécies e habitats, fomentar meios de apoio à gestão e vigilância de espécies e promover a exploração sustentável dos recursos pesqueiros.

mais de 6.000 cartões interjovem vendidos g Já foram vendidos mais de 6.000 os cartões interjovem na operação 2011/2012.

Trata-se de uma iniciativa do Governo dos Açores que visa promover a mobilidade dos jovens açorianos, com idades compreendidas entre os 13 e os 30 anos. De acordo com os promotores, na operação deste ano, o cartão inter-jovem apresenta várias novidades: vai permitir “um conjunto de benefícios” no histórico festival Maré de Agosto e “spreads mais baixos em empréstimos para formação e educação”. Este cartão, que conta com cerca de 250 parceiros nas ilhas dos Açores, tem um custo de 48 euros e tem registado uma grande adesão por parte dos mais novos. O cartão inter-jovem permite descontos nas viagens marítimas entre as ilhas do arquipélago, além de um conjunto de vantagens em várias áreas e serviços e rede de Pousadas de Juventude dos Açores, existindo ainda parcerias com unidades hoteleiras nas ilhas onde estas pousadas não existem. No ano passado foram vendidos cerca de 11.300 cartõ-

es. Este ano, e segundo o Director Regional da Juventude, Bruno Pacheco, a expectativa é que aquele número de vendas se consiga manter. Entretanto na lista das facilidades e descontos oferecidos pelo cartão, o governo anunciou que estão também em curso negociações no sentido de incluir ligações aéreas inter-ilhas. Os portadores do Cartão Interjovem têm a possibilidade de viajar ilimitadamente pelas ilhas dos Açores, com tarifa Interjovem, em classe turística, em igualdade de circunstância com os outros passageiros, em todas as rotas da Atlanticoline, no período compreendido entre 17 de Maio de 2011 e 02 de Outubro de 2011. Todavia, nos períodos correspondentes à Semana do Mar, à Maré de Agosto, ao Rali de Santa Maria, às Sanjoaninhas, às Festas da Praia e às Festas das Flores, os detentores do cartão Interjovem viajam em igualdade de circunstâncias com os outros passageiros, não existindo qualquer limitação de prazos relativa à aquisição de bilhetes.

LOcaL

12 DE AGOSTO DE 2O11

O5



cuLtuRa

Tribuna das Ilhas

12 DE AGOSTO DE 2O11

O7

EstóRias DE sHORts

iNtERcâmBiO

antónio Bulcão lança livro na Horta

lira e progresso feteirense na terceira

Marla Pinheiro g Estórias de Shorts, assim se chama o mais recente livro de contos de António Bulcão, que conta com a chancela da editora Editame. A obra, lançada este ano, foi apresentada na Horta na passada quarta-feira. Para a ocasião, o escritor escolheu aquele que será um dos espaços onde mais se sente em casa no Faial: a Escola Secundária Manuel de Arriaga, onde foi aluno e professor. E foi precisamente as suas características enquanto pedagogo que mereceram elogios do director da ESMA. Eugénio Leal fez as honras da casa, e aproveitou para informar a audiência do bom desempenho dos alunos de António Bulcão no último ano lectivo, reflectido nos exames nacionais. Deixando de lado o professor e centrando-se no homem, Eugénio Leal salientou-lhe o gosto pela cultura popular, a ironia e o humor e o carácter “polémico”, conjugado com o “espírito de respeito pelas ideias dos outros”. A apresentação de Estórias de Shorts esteve a cargo de Carla Cook, para quem a escrita de Bulcão “se constrói de observações focalizadas”, e “não usa uma doçura hipócrita para esconder uma realidade menos aprazível”. A capacidade de síntese e o talento para “agarrar o leitor à primeira linha” são, para Cook, características essenciais para se escrever bons contos, e que encontrou neste “grupo diversificado de estórias”

MÚSICA As canções também marcaram presença no lançamento do livro de António Bulcão

escritas por Bulcão. Carla Cook salientou também a “sagacidade e a inteligência” com que o escritor utiliza as figuras da ironia e do sarcasmo. De acordo com Cook, os contos de Bulcão destacam-se também pela construção que o autor faz das personagens, que assumem laivos de “figuras tipo”, ao serem “vagamente representativas de um grupo”, bem como pela “estrutura psíquica” que o seu criador lhes imprime. “O homem mais impaciente do mundo”, “os pais super protectores”, a “funcionária coscuvilheira” ou a “mal amada mulher do músico” são algumas das personagens que os leitores podem encontrar neste conjunto de contos

g No passado fim-de-semana, a Filarmónica Lira e Progresso Feteirense esteve em digressão pela ilha Terceira. Esta viagem surgiu na sequência de um intercâmbio com a Filarmónica Recreio Musical, da Terra Chã, que esteve no Faial em 2009, por altura da festa de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da freguesia da Feteira. Nesta viagem à Terceira, a banda faialense levou uma comitiva de 27 tocadores e 15 acompanhantes. A Lira e Progresso Feteirense actuou nas festas de Santo António da Terra Chã. Os faialenses fizeram a viagem de barco, tendo partido na sexta-feira e regressado ao Faial na madrugada de terça-feira. De acordo com a presidente da Filarmónica, Leónia Melo, a viagem não podia ter corrido melhor: “gostámos muito, e fomos muito

bem recebidos”, conta. Para a banda faialense, deslocações como esta envolvem “muito esforço”, já que os recursos financeiros necessários são elevados, e, nesta altura de crise, os apoios não abundam. Este ano, apesar de terem remetido atempadamente uma candidatura à Direcção Regional da Cultura, esta não concedeu apoio à banda faialense. Em relação às verbas disponibilizadas pela autarquia e pela Junta de Freguesia, têm de ser canalizadas também para outros fins, pois este não é o único projecto da Filarmónica da Feteira em 2011. A banda é também a responsável pela única Marcha de São João da ilha, o que também implicou um esforço financeiro acrescido. m.p.

que, para Carla Cook, surge “do amor às palavras”, “doença inoperável” de António Bulcão. No final, o autor confessou, em jeito de brincadeira, que a escrita ficcionada traz alguns prazeres especiais: “conviver com gente que não existe dá-me jeito porque posso fazê-los desaparecer quando me apetece”, disse, destacando também o que considera ser a capacidade algo “mágica” que a escrita tem “de nos transportar para universos diferentes”. No final, ou não fosse ele um homem da música, o autor juntouse a Zeca Sousa e a Luís Bettencourt para interpretar alguns temas deste último e do próprio António Bulcão.

Jardim Botânico do faial: há 25 anos a conservar a Natureza Parque Natural do Faial Tendo celebrado no passado dia 18 de Junho o seu 25º aniversário, o Jardim Botânico do Faial merece um especial destaque por há já um quarto de século contribuir fortemente para a conservação da Natureza, nomeadamente no que se refere às espécies de flora endémica e nativa dos Açores, e dos habitats onde as mesmas se inserem. É do conhecimento dos residentes da ilha do Faial que este jardim se encontra num local onde anteriormente era explorado um pomar de laranjeiras, pertencente à Quinta de S. Lourenço. Hoje, com cerca de 8000 metros quadrados, este centro de visitação e interpretação ambiental, pertencente ao Parque Natural do Faial, vê os seus espaços renovados e enriquecidos por obras de ampliação e reestruturação, que tiveram como objectivo a melhoria da visitação e acessibilidades, reorganização de algumas áreas, instalação de sistema de rega, e intro-

dução de novas plantas na colecção do jardim. O Jardim Botânico do Faial permite, assim, conhecer de perto, várias espécies de plantas divididas por áreas temáticas. Encontra-se, por exemplo, o arboreto, a zona de recriação de habitats de herbáceas nativas dos Açores, um espaço dedicado às ervas aromáticas e medicinais, um orquidário com uma coleção de mais de trinta espécies e variedades de orquídeas, e ainda outros três espaços dedicados às culturas agrícolas tradicionais, outro às plantas invasoras e um último para plantas exóticas ornamentais utilizadas nos jardins e praças públicas dos Açores. Desta forma o jardim reúne um número superior a trezentas espécies, revelando-se um dos mais ricos da Europa no que se refere a espécies raras. É de destacar que das cerca de 75 espécies da flora endémica terrestre dos Açores, 55 encontram-se neste local, e em que algumas delas se descobrem ameaçadas de extinção na natureza, por as suas populações serem

demasiado pequenas para uma eficiente reprodução e multiplicação. Desta forma, os visitantes podem ver de perto alguns exemplares que foram alvo de uma atenta, cuidada, e calculada estratégia de preservação e conservação. Muito deste trabalho é apenas possível devido ao banco de sementes instalado nos edifícios do Jardim Botânico. Este encontra-se actualmente a funcionar como um depósito de segurança para as sementes das espécies mais ameaçadas do arquipélago, possuindo já um terço de todas as espécies endémicas do arquipélago. Sem dúvida um local a visitar, não só pelo seu valor intrinsecamente ligado à conservação da Natureza, mas também por ser um local com história, muito variado e com espaços aprazíveis.


O8

ENTREvISTA

12 DE AGOSTO DE 2O11

sEmaNa DO maR 2011

A fESTA DO MAR ESTá NA RUA sexta-feira, dia 5

autarquia convida iatistas a participar na semana do mar g Como já é habitual, a sexta-feira

antes do arranque oficial da Semana do Mar foi o dia escolhido pela Câmara Municipal da Horta para dar as boas-vindas aos iatistas que por esta altura estão hospedados na sobrelotada Marina da Horta, e convidá-los a desfrutar da maior festa da ilha do Faial. Este ano, para além das hortênsias e do programa da Semana do Mar, os velejadores foram presenteados com um frasco de mel produzido na ilha, para “adoçar” esta edição da festa, como disse o presidente da Câmara Municipal da Horta. João Castro salientou a importância deste contacto com os iatistas no arranque da Semana do Mar, como forma de lembrar a génese desta festa, que começou precisamente

sábado, dia 6

Caldo de peixe junto ao Clube Naval mantém viva a génese da semana do mar g No Clube Naval da Horta, em vésperas

de arranque oficial da Semana do Mar, o jantar é especial. O caldo de peixe feito pelos pescadores faialenses e oferecido a todos quantos o queiram provar, com destaque para os iatistas que por estes dias visitam a Horta, já faz parte da tradição. O sabor é especial. Será com certeza pela qualidade do peixe, e pela perícia do cozinheiro, já habituado a esta tarefa, mas sobretudo pelo objectivo com que todos os anos é organizado. É que este caldo de peixe serve para lembrar que a Semana do Mar nasceu em 1975, quando um grupo de faialenses com a recepção a uma regata internacional. No palco principal, o aquecimento para a Semana do Mar esteve a cargo da prata da casa, com o

organizou a recepção a uma regata internacional vinda de Inglaterra, onde não faltou este petisco para confortar o estômago dos velejadores. Assim, todos os anos os pescadores oferecem o peixe e deitam mãos à obra, de volta das panelas, para fazer o saboroso caldo de peixe, que no passado sábado, como sempre, muitos não quiseram deixar de provar. Quanto à música, e à semelhança do que aconteceu na sexta-feira, foram os faialenses a fazer a festa no palco principal, com o concerto da banda Rock4U.

espectáculo de dança Todos Diferentes, Todos Iguais, organizado por Lisa Medeiros, que marcou o arranque em força e bastante animado da festa.

Domingo, dia 7

semana do mar arrancou com desfile dos participantes no festival Náutico

g São dezenas, e em comum têm a pai-

xão pelo mar. Os participantes no Festival Náutico têm feito festa na água esta semana, em diversas modalidades. É com eles que a Semana do Mar cumpre o seu desígnio náutico, e, como é tradição, foram eles as estrelas da abertura oficial, na manhã de domingo, num desfile pelas ruas da cidade, onde também participaram as filarmónicas Nova Artista Flamenguense e Unânime Praiense. Coube ao presidente da Câmara Municipal da Horta fazer as honras da casa e dar as boas-vindas à Semana do Mar 2011. João Castro referiu-se à maior festa do Faial como um evento para diversos públicos, e destacou o facto deste ser também um momento de reencontro com a terra, para aqueles que estão longe e por esta altura regressam. O edil falou dos vários eventos associados à Semana do Mar, como os concertos, o folclore, as bandas filarmónicas, as exposições, a Festa do Livro ou a Feira Gastronómica. As mais de 35 actividades náuticas tiveram direito a desta-

que especial, ou não fossem elas a essência da festa. Nesse sentido, João Castro deixou uma palavra especial ao Clube Naval da Horta, “parceiro extraordinário” da autarquia, bem como à Marinha Portuguesa, pela colaboração que todos os anos presta. Este ano, o papel da Marinha na Semana do Mar foi especial, com a presença do Navio-Escola Sagres na Horta, na passada semana. João Castro congratulou-se com esta ilustre visita, e lembrou que a Horta é um dos quatro portos mais visitados pela Sagres em todo o mundo. De seguida, foi altura de escutar a banda sonora desta Semana do Mar, a marcha, cantada por Graça Bettencourt, que este domingo volta a entoar a melodia, desta feita no palco principal, para dizer “até para o ano” à maior festa do Faial. No domingo, destaque também para a abertura oficial da VI Expomar e da Feira de Artesanato. Apesar deste ano só estarem presentes 10 empresários, no total dos 17 stands em exposição, Ângelo Duarte, presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, classificou o evento como um dos melhores do género. Marcam presença na edição de 2011 oito artesãos e sete entidades oficiais. No ano passado participaram neste certame 30 empresas e instituições.

O patrão dos empresários faialenses salientou a importância deste certame na divulgação dos produtos e serviços dos vários expositores e classificou mesmo a Expomar como uma “aposta ganha”. Já o presidente da CMH, João Castro, salientou que “a Expomar dá sentido económico à Semana do Mar”. O director regional de Apoio ao Investimento e à Competitividade salientou o esforço que os empresários têm colocado no desenvolvimento económico dos Açores, constituindo-se “em verdadeiros agentes de mudança da economia regional”. Arnaldo Machado referiu que o sector empresarial regional, apesar da conjuntura adversa que se vive, “continua a assumir a iniciativa e o riso de investir, criando riqueza e emprego” nos Açores. O governante sublinhou que os desafios que se colocam às empresas, decorrentes da globalização do mercado, exigem “respostas conducentes a uma adaptação a esta nova realidade”. Advogou, por isso, ser necessário fazer apostas fortes na inovação, no desenvolvimento tecnológico, nas questões organizacionais e na criação de uma nova cultura empresarial. “Eventos desta natureza são sempre uma boa oportunidade para as empresas divulgarem os seus produtos e serviços, desenvolvendo acções de cooperação empresarial e conseguir informação adicional sobre novas tecnologias e equipamentos que são lançados no mercado”, acrescentou. Na música, o arranque oficial da festa fez-se com os Peste e Sida, a celebrar 25 anos de carreira.

terça-feira, dia 9

festa do livro continua a ser uma das atracções da semana do mar g Com mais de 4 mil títulos, para

todos os gostos e feitios, a Festa do Livro é para muitos um ponto de passagem obrigatório nesta Semana do Mar. Com a participação de várias editoras, a variedade das obras disponíveis será um dos principais factores de atracção: grande oferta na área infanto-juvenil e nos livros de apoio escolar, obras de carácter técnico, presença garantida dos escritores portugueses e estrangeiros mais apreciados e destaque para a literatura açoriana caracterizam esta feira, que este ano conta com a novidade de disponibilizar não apenas um mas sim três livros a preços especiais em cada um dos dias de festa, com descontos muito consi-

deráveis. A Festa do Livro está na sala polivalente da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça (na rua do Sporting), e pode ser visitada num horário bastante alargado até domingo, dia do encerramento da Semana do Mar: a Festa do Livro está aberta entre as 10h00 e as 24h00. Na noite de terça-feira, o ritmo do kuduro tomou conta do palco principal, com a actuação dos Da Magical, que deu depois lugar à exibição do Dj Ângelo Rodrigues.


Tribuna das Ilhas

O9

segunda-feira, dia 8

semana do mar sem excessos DR/RUI GONçALvES /INCENTIvO

g Ao longo da Semana do Mar, a

CMH procurou desenvolver várias iniciativas no âmbito do Plano Municipal da Prevenção das Dependências. O projecto foi apresentado na segunda-feira, pelo vicepresidente da Câmara Municipal da Horta. De acordo com José Leonardo, a ideia é deixar a mensagem de que a festa é sinónimo de divertimento, mas há que evitar excessos, de modo a que todos possam dela usufruir em segurança. Para pôr de pé este projecto, a autarquia faialense conta com vários parceiros, com destaque para a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes da Ilha do Faial (APADIF), a Polícia de Segurança Pública da Horta e a Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependência. A primeira iniciativa decorreu precisamente na segunda-feira, no Largo do Infante, com a PSP da Horta a realizar testes de alcoolemia a todos os condutores que desejas-

sem verificar a taxa antes de pensar em beber mais um copo. Hoje, sexta-feira, será desenvolvida uma acção de sensibilização, em parceria com a APADIF, no âmbito da qual serão distribuídas águas e folhetos. A autarquia solicitou também aos restaurantes e às tasquinhas que não comercializassem bebidas alcoólicas a preços inferiores ao das águas. De acordo com José Leonardo, se isso acontecer, as tasquinhas ou restaurantes em causa terão uma penalização, que não foi ainda, no entanto, definida pela CMH. O vice-presidente está optimista em que esta regra seja cumprida, e diz ter encontrado

junto dos responsáveis por aqueles espaços sensibilidade para esta questão. Desta forma, pretende evitar-se situações que no ano passado aconteceram, com alguns espaços a comercializarem cerveja mais barata que água. No palco principal, os faialenses Bandarra fizeram a festa com a garra e o entusiasmo que os caracteriza.

quarta-feira, dia 10

Conhecer o anfitrião da festa g Em plena Semana do Mar, a altu-

ra não poderia ser mais ideal para partir à descoberta do mar dos Açores. Por isso, o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, em parceria com o Observatório do Mar dos Açores, está a organizar, ao longo desta semana, uma iniciativa à qual foi dado o nome “Venha conhecer o Canal Faial/Pico”. A ideia é levar todos aqueles que desejem conhecer melhor o mar que separa estas duas ilhas numa viagem de semi-rígido, com a duração de cerca de 1h30. De acordo com o biólogo Filipe Porteiro, responsável pela iniciativa, estas viagens, mais do que um passeio nas águas azuis cintilantes que rodeiam as ilhas do Pico e do Faial, visam dar informações às pessoas que nelas participam, não apenas sobre o património natural mas tam-

bém sobre o património edificado, a história das ilhas, a arqueologia, entre outras coisas. São visitados vários locais de interesse natural reconhecido, classificados pela Rede Natura 2000 como a zona de Porto Pim, as grutas da Feteira ou o Monte da Guia.

Este é o quarto ano consecutivo em que esta iniciativa acontece e, de acordo com o responsável, há sempre uma grande procura por parte da população. No palco principal, a noite de quarta-feira ficou a cargo dos Kumpania Algazarra.

SExTA 12 DE AGOSTO 10h00 – VI Troféu cidade da Horta – Escolas de Vela, Optimist, Laser e 420 – (Baía da Horta) 13h00 – cerimónia de entrega de prémios de Escolas de Vela, Juvenis e Juniores (clube Naval da Horta) 14h00 – Torneio Semana do Mar Individual Semi-rápidas de Xadrez (clube Naval da Horta) 14h30 – Prova de Vela de cruzeiro “Regata das Sereias/MWF”, para Skippers femininos (canal Faial/Pico) 15h30 – Prova de Natação – “Travessia longa da Doca” 16h00 – convenção Fitness (Praia do Porto Pim) 17h00 – Pólo Aquático (cais de Santa cruz) 18h30 – Passeios à vela nos Botes Baleeiros (Embarque junto ao clube Naval da Horta) 19h00 – Abertura de exposições 19h00 – Pesca Desportiva de costa - Prova nocturna (concentração junto ao clube Naval da Horta) 21h00 – Animação de rua 21h00 – Sociedade Filarmónica União Faialense (Palco Largo do Infante) 21h30 – Grupo Folclórico e Etnográfico de Pedro Miguel (Palco Av. 25 de Abril) 22h00 - Encontros temáticos sobre o Mar dos Açores (Expomar – Stand DOP/OMA) 23h30 – Actuação da banda Deolinda (Palco Principal) 01h00 – Parque da Juventude (Parque da Alagoa – Vitorino Nemésio) SÁBADO 13 DE AGOSTO 09h00 - Prova de Match Racing de qualificação Açores ao campeonato de Portugal (Baía da Horta) 09h30 – Percurso pedestre – Levadas do Faial (Inscrição prévia na casa do Parque Natural do Faial – Monte da Guia) 10h00 – Pesca Desportiva de costa - Prova infantil (Molhe da Doca da Horta) 14h00 – Prova de Botes Baleeiros – casa de Pessoal da RTP: Regata de Vela (Baía da Horta) 15h30 – Jogos Sem Fronteiras (Praia do Porto Pim) 16h30 – Prova de Botes Baleeiros – casa de Pessoal da RTP: Regatas de Remo, feminino e masculino (Baía da Horta) 19h00 – Abertura de exposições 19h00 – Entrega de prémios das regatas de Botes Baleeiros e das provas de Natação e Pólo Aquático (clube Naval da Horta) 21h00 – Animação de rua 21h00 – Grupo de cantares Margens (Palco Av. 25 de Abril) 21h30 – Big Band da Sociedade Filarmónica Unânime Praiense e Sociedade Filarmónica União Assaforense de Lisboa (Largo do Infante) 23h30 – Actuação da banda de tributo à Madonna Vogue Madonna (Palco Principal) 01h00 – Parque da Juventude (Parque da Alagoa – Vitorino Nemésio) DOMINGO 14 DE AGOSTO 08h00 – Prova de Pesca Desportiva de costa - Prova diurna (concentração clube Naval da Horta) 10h00 - Prova de Match Racing de qualificação Açores ao campeonato de Portugal (Baía da Horta) 13h00 – Prova de Vela de cruzeiro “Regata do canal” (canal Faial/Pico) 14h00 – concentração Motard do Moto clube Ilha Azul (Av. 25 de Abril) 15h00 – Snorkeling e Geocaching (Praia do Porto Pim) 17h30 – Desfile Motard do Moto clube Ilha Azul 18h00 – corso Etnográfico com a representação de todas as freguesias da ilha do Faial subordinado ao tema “Parque Natural da Ilha do Faial” (Praça da República / Largo Manuel de Arriaga) 19h00 – Abertura de exposições 20h00 – cerimónia de entrega de prémios das regatas de Vela de cruzeiro, Mini-veleiros, Matchracing, Velhotes e Pesca Desportiva (cNH) 21h00 – Animação de rua 21h00 – Sociedade Filarmónica Nova Artista Flamenguense (Palco Praça do Infante) 21h30 – Actuação do Grupo Etnográfico de castelo Branco (Palco Av. 25 de Abril) 22h30 – Actuação da Orquestra de Música Ligeira da câmara Municipal da Horta (Palco Principal) 23h50 – Interpretação da Marcha da Semana do Mar 2011 (Palco Principal) 00h00 – ENcERRAMENTO OFIcIAL DA SEMANA DO MAR (Baía da Horta)


1O

OPINIÃO

12 DE AGOSTO DE 2O11

Tribuna das Ilhas

pÃo e CirCo

"

Jorge Costa Pereira

A festa é, na sua essência, um divertimento, uma ruptura mais ou menos aguardada, mais ou menos desejada, com a rotina do dia a dia e com as preocupações e ansiedades da vida individual ou colectiva. Nesta dimensão, a festa possui efeitos de catarse, contribuindo para equilibrar a vida das pessoas e das comunidades. A festa é também um reflexo da civilização, veiculando muitas aspirações, desejos, símbolos, alguns deles às vezes não facilmente apreensíveis. Mas a festa apresenta-se ainda como o reflexo duma sociedade e de intenções políticas. É fácil percebermos o prestígio que recai sobre quem oferece a festa, quem a paga e quem deliberadamente através dela se coloca em evidência, na primeira fila, para dela retirar dividendos. Assim é desde a antiga Roma, onde a origem do Circo e dos espectáculos foi política e era movida por interesses de propaganda eleitoral. Frequentemente, em Roma, os edis, para conseguirem ascender a cargos de maior importân-

cia, usando o apoio popular, rivalizavam entre si na apresentação de espectáculos nunca vistos: gladiadores em número cada vez maior, combates com feras exóticas, etc. Pão e circo, depressa foi a receita dos imperadores para manterem o povo de Roma anestesiado face aos problemas económicos e sociais do Império. E, desde então, essa receita tem tido inúmeros continuadores em todos os tempos e em todos os lugares. Ainda recentemente, D. António Sousa Braga, Bispo de Angra e dos Açores, num texto publicado no jornal A União, denunciava, de forma oportuna e desassombrada, as festas como alienação do povo, como anestesia para que os problemas não se debatam e como garantia da passividade do cidadão, afirmando que “estamos agora entretidos com as festas de Verão” e reconhecendo que também por isso falta “participação no debate de questões cruciais para o nosso futuro” . A proliferação de festejos espelha, é causa e efeito da civilização em que vivemos: o consumismo, a vertigem das sensações fortes, o predomínio do efémero e do passageiro. E esta mentalidade, de algum modo, condiciona,

ela também, as opções dos poderes políticos, reféns da sua vontade e das suas exigências e incapazes de contra ela se imporem. Nos Açores, as festas de Verão são muitas: semanas do Mar, do Marisco, do Chicharro, do Emigrante, da Juventude, dos Baleeiros, Semana Cultural, Maré de Agosto, Cais de Agosto, Sanjoaninas e outros festejos profanos (alguns a pretexto de festividades religiosas), pontuam o Verão dos Açores. E já nem bastam as festas concelhias: também muitas freguesias lançam-se igualmente na realização de festejos locais, cujas organizações já não se contentam com a tradição, parecendo estar-se a instalar a moda de que não há festa que se preze que não importe artistas, competindo-se às vezes pelos nomes mais sonantes e pagando-se avultados cachets.

C

onvenhamos que são já festas a mais. Sobretudo porque são quase exclusivamente garantidas do ponto de vista financeiro por dinheiros públicos. E as verbas aí gastas – e são muitos e muitos milhares de contos – terão algum dia contrapartida na promoção turística que as parece justificar? E são essas as

festas e são esses os artistas que os turistas vêm procurar aos Açores? Não será, antes, esta proliferação de festejos a sua apropriação à maneira de Roma antiga? Mais: Portugal atravessa um período de pré-crise económica. O Governo central aparenta esforçar-se na luta pelo controle da despesa pública, no corte de despesas supérfluas e no consequente abrandamento de alguns investimentos. Ainda esta semana o presidente do Governo Regional dos Açores deslocou-se a Lisboa para analisar com o Primeiro Ministro os efeitos da contenção da despesa pública nos Açores. Neste cenário de dificuldades, é com apreensão que concluímos que, por cá, tudo parece continuar a processarse como se nada se passasse no país e questionamo-nos com que moralidade e espírito de solidariedade se gastam milhares de contos em festas quando vivemos os problemas que vivemos. É que o que aqui assim se gasta, vai faltar depois – e nalguns casos já falta – para o que é essencial e para o bem de todos: investimentos na rede viária, no saneamento básico, na captação e distribuição de água, no apoio

também queremos!...

C

Paulo Oliveira

omo portugueses que somos, temos acesso aos mesmos direitos e obrigações de todos os portugueses. Como açorianos que somos, penso que também temos acesso aos mesmos direitos e obrigações dos demais açorianos, de Santa Maria ao Corvo. Assim, e porque os faialenses são açorianos de corpo inteiro, também têm os mesmos direitos e obrigações de todos os açorianos. Então, porque não se aplicam por cá os mesmos critérios, os mesmo objectivos, o mesmo empenho e a mesma vontade que existe nas obras realizadas na maior ilha dos Açores? PORTAS DO MAR A obra das Portas do Mar, adjudicadas por 46,5 milhões de euros, derrapou mais de 50%, atingindo o valor final de 69,7 milhões de euros, incluindo uma indemnização de 1,9 milhões de euros ao empreiteiro, que a APSM acordou pagar... O prazo de execução mais que duplicou. O Tribunal de Contas detectou várias despesas imputadas à obra mas que não estavam relacionadas com a mesma, encontrou despesas sem justificação adequada e suficiente, para além da APSM não ter disponibilizado todos os

documentos necessários às averiguações... configurando vários procedimentos irregulares. Responsáveis? Não há! Por lá, a obra cresceu 50% por forma a incluir todas as possíveis 2ª, 3ª, 4ª e demais fases, para que tudo estivesse pronto para a inauguração, em vésperas de eleições, e para que a Festa de Carlos César fosse maior que a de Berta Cabral... Vaidades, orgulhos e irregularidades que saíram muito caras aos cofres da Região. PORTAS DA RIBEIRA Por cá, a foz da nossa maior ribeira vai tomando nova forma, nesta sua primeira fase... A frente mar, o Clube Naval e a ampliação e reorganização do porto a Sul ficam para as fases subsequentes..., para outras legislaturas! Sim, porque o Faial não tem capacidade (nem peso político...) para suportar e exigir que, por cá, a exemplo de Ponta Delgada, as obras e façam de uma só vez, e que também possam ter uma derrapagenzita de apenas 50% do valor inicial. É que 50% a mais dariam para fazermos, de um só fôlego, toda a obra de uma só vez, numa só legislatura..., e assim também teríamos direito a uma grande festa, não para rivalizar com a Câmara Municipal da Horta (que nem obra tem...), mas onde João Castro se pudesse encostar a Carlos César, e

ficar... muito satisfeit0! Eu, e os faialenses, também queremos que a nossa obra derrape 50%, por forma a que sejam metidos no mesmo saco todas as demais intervenções com ela conexas, e que, no todo, transformarão, de uma só vez, a baía da Horta e a sua frente mar. Também temos direito a esse luxo, a essa vaidade, e a esse orgulho de... Carlos César, ou será que não temos? Até porque temos dois argumentos de peso: o maior movimento de passageiros via marítima dos Açores, e a maior escala de iates nos Açores, ou será que também não temos? PORTOS DOS AçORES As Administrações portuários dos Açores foram fundidas numa só, e com sede no Faial. Bravo!?!? Deixam de existir as actuais três administrações portuárias – APSM, SA ( Administração dos Portos das Ilhas de São Miguel e Santa Maria), APTG,SA (Administração dos Portos da Terceira e Graciosa) e APTO,S.A. (Administração dos Portos do Triângulo e do Grupo Ocidental), que agora se juntam na Portos dos Açores – SGPS, SA (Sociedade Gestora de Participações Sociais). Assim, e à primeira vista, o Faial ficou a ganhar... este grande presente socialista, mas quando a esmola é grande, o santo desconfia, e procura investigar e saber a razão desta repentina benesse socialista, em contra ciclo com

todas as outras que vão desertificando a região, tal é a vontade de centralizar em São Miguel tudo o que dá dinheiro e faz desenvolver a nossa economia... Se visitarmos o site da Portos dos Açores, a nova JUP (Janela Única Portuária) do Governo dos Açores, apresenta cinco pontos principais: a comunidade portuária, projectos comunitários, estatísticas, história dos Açores e ... turismo de cruzeiros. Se abrirmos as páginas, já vemos que a primazia vai para a ilha verde, salpicada de roxo q.b.... quanto ao azul do Faial, ocupa, como sempre, o seu modesto lugar. Por outro lado, promove-se o Turismo de Cruzeiros... e marinas, nada? Onde está a Marina da Horta, a 2ª mais movimentada da Europa e a 4ª do mundo? Certamente, perdida nas estatísticas... e na grande fotografia das Portas do Mar!... Mais preocupante ainda, é chegar ao cerne da questão, e descobrir porque é que, de repente, todos os portos dos Açores são dirigidos a partir do Faial... mesmo que virtualmente, se atentarmos a que todos eles têm especificidades e vícios muito próprios. A conclusão é triste, e muito simples: Até à construção das Portas do Mar, com a sua monstruosa derrapagem financeira, a APSM tinha uma situação financeira equilibrada... contudo, não suficiente para cobrir o buraco financeiro desta obra, muito menos todas as indemnizações devidas ao empreiteiro

aos mais carenciados, etc. Não somos contra as festas. Antes pelo contrário. Mas pensamos que elas devem ser adequadas à nossa dimensão e devem enraizar-se nas nossas mais ricas e genuínas tradições populares. Os Açores não são uma região rica. Mais uma razão para não sermos perdulários. O dinheiro que hoje estamos a esbanjar vai seguramente fazer-nos muita falta daqui a algum tempo. Apesar do pão e circo, Roma caiu minada no seu interior. Pelo menos que se tenha a argúcia de aprender com os erros do passado e de não comprometer o futuro dos nossos filhos pela cegueira do poder ou pela falta de coragem em pôr o pé no travão." Escrevi esta crónica no ano de 2001 para o jornal Telégrafo. Dez anos depois, infelizmente, ela parece-me profundamente actual e até premonitória. Por isso, em plena época estival e festiva, deixo-a à reflexão dos leitores para melhor podermos avaliar como se gastou uma década a insistir em erros que começamos agora a pagar de forma mais dura e cuja penosa factura iremos deixar aos nossos filhos. que por aí não tardarão a chegar..., consequência da inépcia e irresponsabilidade do Dono da Obra, confirmadas pelos Tribunais. Então, como tapar o buraco? Quem tem capacidade para suportar e cobrir financeiramente tamanho disparate politico? As outras duas administrações dos portos dos Açores, com saldos positivos. Daí a brilhante ideia de juntar tudo, para que todos nós, os açorianos da Terceira ao Corvo, paguem o luxo de Carlos César, na sua luta desmedida e de menino birrento com Berta Cabral. Será que o mesmo acontecerá, quando todos nós tivermos que pagar o segundo Centro de Artes de Carlos César, em mais uma birra com Berta Cabral? Será que a solução será juntar num só museu Açoriano o mais visitado dos Açores – o Museu dos Baleeiros? O tempo o dirá!... O Partido Socialista de Carlos César escusava de oferecer aos faialenses presentes destes, envenenados, e aos demais açorianos, da Terceira ao Corvo!... Ou será que a Terceira se vendeu, aceitando cobrir o buraco das Portas do Mar, com a promessa de receber em troca as tão ambicionadas Plataformas Logísticas? Mais uma vez, o tempo o dirá! Uma coisa é certa: Nós, os faialenses, não queremos, nem precisamos presentes destes! Contributos, para po.acp@mail.telepac.pt


DEspORtO

Tribuna das Ilhas

12 DE AGOSTO DE 2O11

11

a BORDO Da sagREs

Vencedores da atlantic trophée consagrados Maria José Silva Foto: Carlos Pinheiro g Decorreu na passada sexta-feira, 5 de Agosto, a bordo do navio escola Sagres, a entrega de prémios da regata internacional “Atlantic Trophée”. A primeira etapa desta regata internacional disputada entre Douarnenez, no noroeste de França, e a cidade da Horta teve como vencedor o iate “Calypso III”, com pavilhão francês. Dos 14 barcos iniciais, quatro abandonaram a prova, entre os quais o “Air Mail”, do skipper faialense Luís Carlos Decq Mota, o único iate açoriano em competição.

Recorde-se que a regata internacional Atlantic Trophee, é destinada a veleiros clássicos e conta este ano com a sua primeira edição, largou ontem de Douarnenez, na França, rumo ao Faial. A Atantic Trophee é organizada pelo Atlantic Yatch Club.

A partida para a segunda etapa, disputada entre os portos da Horta e de Douarnenez, na distância de 1100 milhas náuticas, decorreu na tarde de sábado.

fayal sport apresenta equipa aos sócios

REgata Da autONOmia 2011

xcape , Desafinado e ilha da Ventura brilham na atlantis Cup DR

DR

XcapE

iLHa Da VENtuRa DR

DR

g Foi na passada quarta-feira que o Fayal Sport Club apresentou a sua equipa sénior que vai defrontar o Campeonato Regional da Série Açores aos sócios.

Sob os comandos de Eugénio Botelho, o plantel dos verdes da Alagoa, apostou nesta época na “prata da casa”. O jogo da tarde de quarta-feira não foi muito abonatório para a

DEsaFiNaDO g Chegou ao fim no passado domingo, 7 de Agosto a XXIII Edição da Atlantis Cup/Regata da Autonomia. O primeiro veleiro a cortar a linha de chegada da quarta e última etapa da mais emblemática prova de vela cruzeiro dos Açores foi o Xcape, de Luís Quintino Na classe ORC2 o Xcape venceu com um total de três pontos, de seguida o Rift com seis, o Harfang Two com doze e o Avé Maria com treze pontos.

tRipuLaÇãO VENcEDORa Na classe ORC3 o Desafinado ganhou as três etapas da prova, conseguindo um total de três pontos, Mariazinha, São Gabriel e Celtic Dream seguiram-se, com seis, nove e treze pontos, respectivamente. Na classe de cruzeiro, que ainda faltava encontrar o vencedor, a vitória foi para o Ilha da Ventura com quatro pontos, o Soraya com cinco, Reflections com dez, o 5 Estrelas com doze e o Blue Chip com dezoito pontos.

O Clube Naval da Horta, com a colaboração do Clube Naval de Santa Maria, Angra Iate Clube e o Clube Naval de Ponta Delgada, realizou a XXII regata “Atlantis Cup – Regata da Autonomia“. A Regata “Atlantis Cup – Regata da Autonomia” realizouse nas águas do Arquipélago dos Açores, ligando as Ilhas de Stª Maria, S. Miguel, Terceira e Faial, entre os dias 01 e 07 de Agosto de 2011.

equipa faialense que acabou por perder por três bolas a zero frente ao Futebol Clube da Madalena. Recorde-se que o objectivo para a próxima época é a manutenção, mas “com uma orientação financeira eficaz e adequada às dificuldades financeiras existentes no país e nos Açores” – conforme frisou o presidente do FSC aquando a apresentação da equipa à Comunicação Social.

Na semana do mar jogou-se street Basket g O parque da Alagoa recebeu na tarde de quarta-feira, mais uma competição em Street Basket.

Numa organização da ABIF, este torneio serviu de arranque aos trabalhos de preparação da época que em Setembro se inicia. Foram mais de três horas de competição.


12

12 DE AGOSTO DE 2O11

OpiNiãO

Tribuna das Ilhas

REtaLHOs Da NOssa HistóRia – ciii

No Centenário da república portuguesa (38) 42. governador antónio de freitas

Fernando Faria

N

os seus 139 anos de existência (1836-1975), o distrito da Horta conheceu 135 governadores civis. Alguns deles tiveram passagem efémera e fugaz pelo cargo. Outros, porém, marcaram os seus mandatos pela longevidade e pelos relevantes serviços prestados às quatro ilhas que o integravam. Nos tempos da monarquia o que mais se notabilizou foi o conselheiro António José Vieira Santa Rita, madeirense de nascimento que, no século XIX, por quatro períodos esteve à frente do distrito, totalizando 26 anos de exercício do poder. No período republicano, o governador civil que mais se distinguiu foi, sem dúvida, o Dr. António de Freitas Pimentel, quer pelo tempo que ocupou o cargo, quer pela obra realizada. Exerceu funções, ininterruptamente, durante duas décadas (1953-1973) e, no decurso desse longo mandato, teve uma acção extremamente positiva que não tem comparação com o que até então se realizara nas ilhas do Faial, Pico, Flores e Corvo. Viu concretizados muitos dos empreendimentos constantes da agenda que entregou ao Governo logo depois da sua posse. Destacam-se os mais importantes: - construção da muralha de protecção à cidade da Horta e a que é hoje a Avenida Marginal; - beneficiações no porto da Horta e nos pequenos portos do Pico e das Flores; - construção da Adega Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico; - apoios a cooperativas de lacticínios nas várias ilhas; - melhorias em estradas do Pico e Flores; - construção do Aeroporto da Horta; - instalação, na ilha das Flores, da Estação Francesa de Telemedida a consequente construção do Aeroporto, da Central Hidroeléctrica e do Hospital; - edificação de Centros de Saúde no Pico; - instalação de redes de distribuição de energia eléctrica em várias freguesias das ilhas do distrito; - leccionação do 3.º ciclo no Liceu da Horta; - criação da Escola Técnica da Horta; - construção de escolas primárias nas várias ilhas do distrito. merecem também realce as difíceis e rápidas decisões que, superiormente assessorado pelo engenheiro e cientista Frederico Machado, teve de tomar na dramática noite de 12 para 13 de Maio de 1958 - quando a ilha do Faial foi intensamente sacudida por cerca de 450 sismos que alteraram de modo significativo a erupção do vulcão dos Capelinhos que se iniciara em 27 de

Setembro do ano anterior - ordenando que as populações flageladas das freguesias de Capelo e Praia do Norte abandonassem as suas casas antes que ruíssem, o que evitou que, apesar da devastação, não houvesse qualquer vítima mortal. Logo de seguida a sua acção e a dos seus colaboradores – incluindo nestes muitos faialenses das outras freguesias rurais e da cidade da Horta, além de numerosos picoenses – foi direccionada para o realojamento e alimentação dos sinistrados, para os constantes pedidos de socorro ao Governo da Nação que rapidamente e na medida das suas possibilidades os satisfez, marcando imediata presença através de múltiplas ajudas e da vinda imediata do ministro das Obras Públicas, engenheiro Arantes e Oliveira, que inteirando-se da dimensão da catástrofe, tomou importantes medidas para a reconstituição económica e habitacional das zonas destruídas. a onda de solidariedade para com as vítimas do vulcão dos Capelinhos, extravasou dos Açores e do Continente Português para a América do Norte, destacando-se neste aspecto as comunidades emigrantes nos Estados Unidos que, além do valioso auxílio, em vestuário, géneros alimentícios e dinheiro, conseguiram pressionar políticos estaduais e federais – nomeadamente Joseph Perry, John Pastore e o futuro Presidente John F. Kennedy – para que fosse aprovado, em 1958, o Azorean Refugee Act que permitiu a emigração para aquele país de duas mil famílias e, posteriormente, pelo Hart- Celler Act, de 1965, de mais 20 mil portugueses, a que se juntaram os que, pelas muitas cartas de chamada, puderam refazer e melhorar as suas vidas em terras americanas. No desenrolar deste histórico e necessário movimento migratório, o papel do governador Freitas Pimentel foi também preponderante, quer na sua acção persistente para que os Estados Unidos concedessem vistos aos sinistrados, quer no apoio constante aos vários milhares de açorianos que para lá emigraram. O seu longo consulado governativo que não se esgota na realização dos melhoramentos enunciados, antes se estende por outros domínios sociais, culturais e desportivos – terminou a 25 de Maio de 1973. Contra o que era seu desejo, teve ainda de aceder ao indeclinável convite do Dr. Marcelo Caetano (amigo e correligionário desde os anos trinta) para ser deputado à Assembleia Nacional. Foi, no desempenho desse cargo, que o encontrou o movimento revolucionário de 25 de Abril de 1974 que, como se sabe, pôs termo à ditadura do Estado Novo e instaurou o regime democrático. a vida política do Dr. Freitas Pimentel foi bastante longa e, apesar da íntima amizade que desde jovem o ligava ao integérrimo democrata republicano Dr. Manuel José da Silva, prematuramente falecido em 1935, cedo aderiu à União Nacional e, por ela, ao regime

político autoritário que a Constituição Política de 1933 consagrou com a designação de Estado Novo. Assim, não parece correcto dizer-se que o Dr. Freitas Pimentel combateu inicialmente o Estado Novo, porque a realidade mostra-nos que em 1934 já era vice-presidente da comissão distrital da União Nacional e, pela mão do ministro Linhares de Lima, seria nomeado governador civil substituto em Dezembro de 1935, cargo que exerceu, por vezes em plenitude dadas as frequentes ausências dos titulares em Lisboa, até à exoneração em Fevereiro de 1939, em virtude do grave conflito que dentro da comissão distrital da União Nacional o opôs ao Dr. António Terra, ele pertencendo ao grupo moderno e este integrando o grupo antigo constituído pelo defunto partido regionalista do Dr. Manuel Francisco Neves. Demitido dos cargos que ocupava, o Dr. Freitas Pimentel viu reabilitada a sua imagem política em Janeiro de 1940, facto que se apressou a comunicar ao ministro do Interior informandoo de “que a acusação infame que me fizeram não foi provada em Tribunal” . Após uma pausa de cinco anos, ei-lo nomeado presidente da Câmara Municipal da Horta em 2 de Dezembro de 1945, funções que desempenhou até 30 de Junho de 1953, dia em que tomou posse do cargo de governador civil do distrito autónomo da Horta. Enquanto presidente da Câmara da Horta foi procurador à Câmara Corporativa (1945-1949) como representante dos municípios do arquipélago dos Açores. Assumiu, também em 1948, a presidência da comissão distrital da União Nacional que exerceu por largo tempo. Após tomar posse do cargo – que lhe foi conferida em Lisboa pelo ministro do Interior Dr. Trigo de Negreiros - a triunfal chegada à Horta, em 7 de Julho de 1953, marcou decisivamente a actividade política do governador Freitas Pimentel. Ela foi constantemente sempre aplaudida, não só pelos seus amigos políticos mas também pela comunicação social afecta ao regime, em especial pelos dois diários faialenses. Iam longe, portanto, os tempos em que, mesmo no seio da União Nacional, os campos se extremavam. Disso nos dão conta O Telégrafo e o Correio da Horta. É certo que em 1953 as feridas ainda não estavam totalmente saradas como o prova esta parte do discurso de posse de Freitas Pimentel: “Quando chegar à Horta, pedirei a todos que façam um acto de contrição. Para que sejam afastados possíveis ressentimentos ou desnecessárias retaliações e todos me dêem leal apoio para bem cumprir, com a ajuda de Deus, os deveres do meu cargo”. E após a extraordinária recepção que lhe fizeram à chegada - “a mais espontânea, a mais sincera, a mais vibrante e entusiástica a que a Horta assistiu nos últimos anos” – o governador voltou a exautorar o passado, formulando “a todos um desejo muito

pimentel

grande e muito sincero” em que punha “muita fé e muita esperança: façamos por esquecer todos os nossos mal entendidos e apertemos sincera e lealmente as nossas mãos limpas de emulações ou de pequenos e inevitáveis ressentimentos pessoais ou concelhios, para que eu possa desempenhar-me com a ajuda de Deus e do Governo, dos novos e pesados deveres do meu cargo” . A secundá-lo nos votos de pacificação da desavinda União Nacional esteve, nessa ocasião e em representação da Junta Geral, o Dr. Gabriel Baptista de Simas, antigo governador, deportado político, correligionário e amigo do Dr. Manuel José da Silva. A dado passo do seu discurso, também o Dr. Simas fez um veemente apelo à unidade, com “os ardentes votos para que o governador encontre a colaboração de todos os homens de boa vontade da nossa Terra, especialmente dos novos, indispensável para que possa levar a bom termo a sua profícua acção a bem do nosso progresso e do prestígio da Nação”, já que nesta hora, todos têm “o dever moral de dar as mãos” . Os bons propósitos do chefe do distrito tiveram resposta positiva na comunicação social e na opinião pública, beneficiando também das armas próprias do regime autoritário que serviu e, sobretudo, da forma inteligente, astuta e empreendedora que caracterizaram a sua actuação. Decorridos 20 anos, quando, por força da lei, teve de deixar o cargo, “ o distrito inteiro prestou justa homenagem ao governador Freitas Pimentel através do Município da Horta”. Este é o título de toda a primeira página do jornal Correio da Horta de 15 de Maio de 1973 que, curiosamente, tinha por director o advogado Dr. Raposo de Oliveira, o qual na década de trinta fora um dos homens fortes do grupo do Dr. Neves e um dos que mais combatera o Dr. Freitas Pimentel, inclusivamente no caso que o levou a Tribunal. Nas duas décadas em que esteve à frente do distrito da Horta foi, portanto, um político que serviu lealmente o Estado Novo e que dele conseguiu bastantes benefícios para as populações das quatro ilhas. Na sua subtil e inteligente acção política, Freitas Pimentel acabou por ser uma espécie de patriarca que concitava à sua volta o povo do distrito, com as poucas excepções de alguns adversários a quem liberrimamente oferecia, por vezes, uns nacos de poder! as várias manifestações que periodicamente lhe promoveram, incluindo a última de Maio de 1973, eram quase sempre constituídas “por milhares de pessoas, mormente do Faial, mas com expressiva representação picoense”, nelas se incorporando também clubes desportivos, filarmónicas, estudantes, funcionalismo público, escuteiros, delegações de organismos corporativos, sociedades de recreio, Casa do Gaiato e Santa Casa da Misericórdia. Todas elas pretendiam, em plena sintonia com as boas regras da propaganda

Numa festa da FNAT, o Governador cumprimenta um dirigente corporativo

nacional, “testemunhar o reconhecimento ao prestigiado governador”, como o foi a última “constituída por milhares de pessoas” . Natural da freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores, o Dr. António de Freitas Pimentel nasceu a 15 de Julho de 1901, filho de António de Freitas Pimentel e de Maria do Rosário Pimentel, e irmão do Dr. José de Freitas Pimentel - médico perpetuado na toponímia da Madalena, ilha do Pico, pela doação da sua vida no tratamento de doentes infectados com a peste bubónica que também o vitimou aos 25 anos de idade – e ainda de Fernando de Freitas Pimentel que, ainda jovem, emigrou para a Califórnia. Fez o curso liceal em Horta e Angra do Heroísmo e formou-se em Medicina no ano de 1929 na Universidade de Lisboa. Consorciou-se em 1930 com a médica Dr.ª Maria Francisca Pais Dias Pimentel, tendo o casal fixado residência na Horta, onde nasceram as filhas Maria Regina e Maria Fernanda e onde ele faleceu a 15 de Abril de 1981. A par das muitas homenagens que lhe prestaram, recebeu importantes distinções honoríficas, de que se destacam: Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada (1973); Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique (1962); Grande Oficial da Ordem Militar de Cristo (1958). Recebeu igualmente outras condecorações, como sejam a medalha de ouro do concelho da Horta (1955), o título de cidadão honorário do concelho da Horta e a colocação da sua fotografia na galeria de honra dos grandes beneméritos no Salão Nobre dos Paços do Concelho (1973), cidadão honorário do Corvo e de Santa Cruz das Flores, além da atribuição do seu nome a uma rua da cidade da Horta.

IAN/TT, Ministério do Interior, Gabinete do Ministro, maço 513, caixa 71 O Telégrafo, 9 de Julho 1953 Idem, 10 de Julho 1953 correio da Horta, 15 de Maio 1973


OpiNiãO

Tribuna das Ilhas

12 DE AGOSTO DE 2O11

o relógio no faial

O

último trabalho de Jácome de Bruges Bettencourt denúncia bem o fascínio e rigor do autor em descobrir novos temas que nos proporcionam o (re)encontro muito importante para o conhecimento da nossa História e para o alargamento do horizonte dos açorianos e da açorianidade, como característica fundamental daquilo que nos liga e une, independentemente da ilha onde vivemos. O relógio no Faial transporta-nos para outra Era onde o tempo marcava, ainda que de forma diferente, a vida dos ilhéus. Qual D. Quixote de la Mancha, o relógio, nas suas várias formas, surgenos como o incontestável senhor do tempo que trava uma constante luta para conseguir o aperfeiçoamento e descobrir o toque final que lhe permitirá sentir a sensação de dever cumprido, última recompensa reservada apenas e só aos heróis. Na sua incessante busca pelo domínio das coisas, o homem tenta aprisionar o tempo dentro de uma caixa. O relógio não é mais do que a caixa que aprisiona o tempo. Tal como Prometeu que presenteou a humanidade com o fogo, todos os que dedicam a sua vida e saber aos relógios procuram controlar e dominar o tempo. Graças a este trabalho minucioso, e de grande rigor científico, podemos conhecer as pessoas que nas ilhas do Faial e Terceira dedicaram a sua vida a conservar e a preservar estes belos exemplares do talento humano dedicando-se ao seu coleccionismo. Infelizmente, e graças ao desconhecimento ou simples descuido, muitas vezes quando os

seus primitivos donos desaparecem muitos deste belos exemplares de arte são rapidamente desbaratos, perdendo-se por completo o seu rasto, o que nos deixa a todos nós mais pobres. Podemos, igualmente acompanhar e conhecer a actividade de todos os relojoeiros que, nestas duas ilhas, dedicaram o seu tempo e saber a consertar estas delicadas e precisas máquinas. Entre todos os relojoeiros referidos nesta obra merece especial destaque o nome de Anna Luísa Silveira, natural da Fajãzinha, ilha das Flores, que nos finais do século XIX abandona a sua ilha e parte à conquista, não apenas de novos horizontes, como em busca de novas perspectivas de vida, fixando-se nos Estados Unidos da América. Tendo como limite o horizonte, e como vontade a necessidade de conquistar o tempo, Anna Luísa Silveira torna-se uma relojoeira afamada, transpondo o seu nome para além das fronteiras do tempo em que viveu. Nos Estados Unidos da América, encontrou naturalmente muitas dificuldades, em virtude de se infiltrar numa actividade dominada pelo Homem, mas com a sua tenacidade, vigor e coragem, conseguiu galgar o pódio do sucesso com muito trabalho. Conseguiu demonstrar que uma jovem oriunda da Fajãzinha conquistava os apreciadores do bom design em relógios, bem como deixar marcas para os coleccionadores do presente e do futuro. Anna Silveira, tal como o autor refere, tinha uma personalidade fora do vulgar, marcando presença interventiva na comunidade portuguesa e açoriana na zona de São Francisco. Esta personalidade que, por volta de 1874, com 6 ou 7 anos de idade, parte com a família, provavelmente numa barca baleeira, em direcção a porto americano da costa leste e daqui para São Francisco. Integrou-se plenamente na comunidade norte-americana. Onze anos de trabalho na nova comunidade foram o suficiente para ser a presidente da União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia; da Sociedade Portuguesa da Rainha Santa Isabel, bem como de outras instituições de relevo para a comunidade portuguesa e americana. Graças a este trabalho, a História dos Açores fica mais rica e todos nós podemos conhecer melhor um tema tão apaixonante e complexo que,

de forma clara e transparente, nos transporta para um mundo de requinte e de imaginação. O relógio tem a magia de nos guiar no quotidiano, mas também de fazer as delícias da nossa admiração pelo design e materiais subsequentes que apresenta a cada um de nós. Por esta razão, o bom relógio, que está ligado a um bom relojoeiro, alia-se inevitavelmente a um bom coleccionador. O relógio caminha lado a lado com a existência do homem e marca todos os momentos mais importantes da sua vida. É o Alfa e o Ómega da vida de todos os homens, registando o primeiro e último sopro no momento do seu nascimento e da sua morte. Termos consciência deste facto é aliar a beleza, o requinte, o bom gosto e o aspecto prático num só instrumento. Muito poucos objectos podem vangloriar-se de ter a importância do relógio. Jácome de Bruges Bettencourt, Cônsul Honorário da República de Cabo Verde nos Açores, no próximo ano faz 50 anos que trilha os passos da escrita no passeio da sua memória. Estreou-se, simultaneamente, em dois jornais: o semanário O Debate e o diário O Telégrafo. O primeiro de Lisboa e o segundo editado na cidade da Horta. Sempre com a preocupação de carregar constantemente os cartuxos da memória, não só para informar e formar quem necessita da escrita como pão para a boca, mas também para construir, pedra sobre pedra, palavra a palavra, o mundo hodierno e globalizado em que vivemos. Este trabalho é, sem dúvida, fruto desse berço de construção, de desconstrução e de reconstituição da História do Homem sobre a Terra com o intuito de deixar a sua marca no presente. A História dos Açores, está constantemente a ser reescrita, porque autores como Jácome de Bruges Bettencourt com a sua minúcia, seriedade na investigação, bem como a busca constante da verdade dos factos, obriga-a a ser uma ciência dinâmica e constantemente insatisfeita com os resultados encontrados. Por isso, por cada investigação feita, a História passa por um crivo de perfeita reflexão, sempre em busca de uma maior verdade. Para além do rigor e minúcia referidos anteriormente, este trabalho encontra-se muito bem documentado com um vasto conjunto de fotografias que, do princípio ao fim, ajudam a compreender melhor todos os aspectos nele tratados. Ao aliar a informação histórica com a riqueza das fotografias apresentadas, Jácome de Bruges Bettencourt conseguiu de forma harmoniosa, séria e ao mesmo tempo bastante simples, transmitir, a leigos e especialistas, um conjunto de novas informações que muito nos enriquecem e ajudam a compreender a realidade histórica em que nos inserimos. avelino santos lúcia santos

13

Viagem surpreendente herberto Dart

G

osto dos Açores, utilizo tudo o que é açoriano, mesmo quando a isso sou obrigado e defendo a influência positiva do Governo Regional, em sectores fundamentais da vida da nossa população, nomeadamente: energia eléctrica, abastecimento de água, educação, saúde, transportes, etc, sobretudo quando não existem alternativas, como é o caso dos transportes aéreos. Infelizmente, por motivos de saúde, tenho de viajar, de 6 em 6 meses, ao Continente e a S. Miguel e, assim, recentemente, fui à minha habitual agência de viagens para adquirir passagens HRT/LX/P.DLG/HRT. Começaram então uma série de surpresas, que logo pensei partilhar com os leitores do “ Tribuna”. Para principiar, o custo da passagem excedeu largamente as minhas expectativas, ou seja, 512,00 (passagens) + 220,00 (taxas) = 732,00 euros para 2 pessoas, quando na minha anterior viagem, tinha totalizado 512,00 euros. Calculei que a diferença dever-se-ia ao transbordo em S. Miguel, embora lhe chamassem taxas. Depois, ao fazer o “check in”, questionado por amável funcionária, se pretendia um lugar específico, aleguei a minha provecta idade e problemas de coluna, para solicitar assento onde pudesse esticar as pernas com largueza. A resposta foi pronta: “Custa mais 15 euros”. Como é óbvio, prescindi da deferência, a qual equivaleria a maior despesa, porque, isto de viajar por doença, nunca se sabe se o dinheiro chega! Mas viajar na Sata Internacional é, efectivamente, uma experiência inesquecível e mais algumas surpresas esperavam-me a bordo. Ao sentar-me no lugar marcado, verifiquei que o assento era assaz desconfortável porque estava inclinado para a frente, obrigando-me à tal posição que eu receara, tanto mais que não consegui corrigir-lhe a inclinação. Porém, a magia do voo, como diz a publicidade, trouxe-me mais emoções. Um casal que se encontrava sentado à minha frente, em lugar normal, como eu, foi conduzido, posteriormente, algum tempo após o inicio do voo, por sorridente hospedeira, aos assentos, junto à porta de emergência. Precisamente os que eu tinha solicitado. De regresso, com a saúde tratada em Lisboa e em S. Miguel, depois dos habituais atrasos, com destino ao Faial, assisti à chegada de um senhor baixote e anafado, a quem, a gentil assistente, indicou as 2 cadeiras da frente, que se haviam mantido com sinal de reservadas, desde o inicio do embarque. Logo pensei que o Senhor devia ter alguma doença contagiosa, o que mais tarde confirmei, ao sermos retidos no avião, para que aquele passageiro saísse (sem misturas) e aguardando algum tempo, para que o Senhor se distanciasse, (cerca de 20 metros), para então desembarcarmos. Quando, já na sala das bagagens, perguntei a um companheiro de viagem se tinha visto o doente, ele, sussurrando, confidenciou-me: “ Era um Senhor Deputado”.

DE quaNDO Em VEz… Santos Madruga Com o apoio da Antena 1, está a decorrer na cidade da Horta, ilha do Faial, a Semana do Mar, a qual, conforme noticiado, é “o maior festival náutico do País”. Nesta altura, rumam à ilha muitos jovens, oriundos dos mais diversos Clubes Navais, para participarem nos festejos náuticos que, na bonita baia da Horta, valorizada por este canal que faz fronteira com a ilha do Pico, tem a sua efetiva realização. Foi, há anos já, que esta valência marítima deu origem e nome, à semana que

oNtem e HoJe agora festejamos. Ao Clube Naval da Horta cabe a difícil missão de organizar e manter de pé toda a atividade náutica. São as competições com iates de longo curso, as regatas das classes optimist e 420, de botes baleeiros à vela e remos, de canoagem; são as provas de natação, os jogos de perícia, o pólo aquático, etc. A logística de todos estes eventos movimenta um enorme grupo de voluntários que se dedicam, a esta causa, de alma e coração.

É aqui que reside o verdadeiro espírito da semana do mar. No entanto, existe a outra “Semana da Terra”, com diversos atrativos: o folclore, as danças, os cortejos, as filarmónicas, os concertos, etc., e, também, agora, com inovação de Feira Gastronómica. Esta, julgamos nós, “ofusca” o verdadeiro espírito daquela semana que é considerada como “ a maior semana náutica do País”. Achamos que muitas das coisas que se

fazem em terra são necessárias. Todavia, pensamos, que se vão acumulando exageros, que têm de ser analisados e, sem sofismas, seriamente repensados. Queremos que seja a festa da ilha, mas criamos enormes dificuldades, coartando os espaços de estacionamento, não só aos cidadãos da cidade, como, também, aos que vivem nas freguesias e pretendem vir à festa, dando azo as mais diversas infrações, que apesar de ser a “semana do mar”, só ficam isentos aqueles que, durante o ano, nos seus locais de trabalho sofrem a rigorosa e correta “visita”, a bem da saúde pública. Assim, e como, neste mês, nem toda a

gente tem ferias, os problemas avolumamse, originados pela falta do silêncio que as madrugadas deixaram de ter. Provavelmente, para o ano será diferente. Com o novo porto de passageiros a funcionar no lado norte da cidade, a situação, na Avenida, será outra. Mas, até lá, “ muita água correrá por debaixo da ponte”. Para todos, umas alegres festas, sobretudo, para aqueles que nos visitam, que sejam bem-vindos, e que levem desta ilha e das suas gentes, as mais gratas recordações. Haja Saúde!


14

12 DE AGOSTO DE 2O11

OpiNiãO

Tribuna das Ilhas

semana do mar - faial em festa vera Lacerda

C

á está ela. A maior semana de festa da ilha do Faial e uma das maiores referências na animação de Verão do arquipélago. Escrevo estas notas no decorrer da Semana do Mar, festa que traz grande dinamização e notória alegria à nossa terra e às nossas gentes e que conta já com 34 edições. Actualmente a festa estende-se por 10 dias, durante os quais tem lugar o maior festival náutico do país, com um leque diversificado de iniciativas a decorrer na nossa baía, nomeadamente nas modalidades de canoagem, vela de cruzeiro, vela ligeira e remo. São 18 as modalidades em prova, que congregam cerca de 1000 praticantes, o que demonstra a grandeza do evento e o excelente trabalho realizado pelo Clube Naval da Horta. Destaco a tão participada Regata dos Botes Baleeiros, que embeleza a nossa baía, trazendo-lhe um colorido especial, com dezenas de participantes e centenas de espectadores. Esta semana abriu da melhor forma

com a realização da regata internacional "Atlantic Trophée", que projecta o nome da ilha do Faial além fronteiras e que dá a conhecer a nossa baía e a excelente qualidade da nossa marina a potenciais visitantes, e ainda com a presença no nosso porto do navio escola Sagres. Considero que nesta edição da Semana do Mar, a organização apostou num cartaz diversificado e de grande qualidade. Isso comprova-se pela realização de 10 grandes concertos no palco principal, onde marcam presença bandas de reconhecido mérito nacional, como por exemplo os "Deolinda", os "Blind Zero" e os "Peste e Sida". No entanto, é de louvar a aposta na "prata da casa", pelo que desfrutámos também de grandes espectáculos por parte dos originais "Bandarra" ou dos "Rock 4U", duas bandas faialenses de excelente qualidade e que já dispensam apresentação. No palco da Avenida 25 de Abril desfilarão 10 grupos de música tradicional popular, e seguindo a aposta, reconhecidamente ganha, na nossa cultura, nove filarmónicas actuarão no Palco do Largo do Infante.

Marca novamente presença a Feira Gastronómica, com cinco restaurantes, sendo que três são locais, onde podemos desfrutar das mais diversas iguarias do nosso país. É de realçar a excelente qualidade da Feira do Livro, que conta com inúmeras publicações nacionais, regionais e até locais, área que tem vindo a ter um positivo desenvolvimento. Estão ainda patentes, nomeadamente no Banco de Portugal e Fábrica da Baleia, as mais diversificadas exposições, das quais realço a exposição colectiva de pintura, organizada pela Hortaludus e Câmara Municipal da Horta, o artesanato em osso e madeira, organizada por Manuel Humberto Vieira e ainda os trabalhos regionais executados manualmente, organizado por Elsa Borges Toste, entre outras. A par deste programa decorre a organização do Parque da Juventude, no Parque da Alagoa, com animação after hours, para o pessoal mais jovem, e que conta com a presença de diversos DJ's, para movimentar e dar alegria à vida nocturna faialense. Este ano voltam a marcar presença na Marina da Horta a Expomar, bem

amBieNte faialeNse Frederico Cardigos

N

o outro dia, li algures que era possível caracterizar o trabalho recente do sector do Ambiente na ilha do Faial com uma bandeira azul e um aquário virtual… É obra conseguir esquecer as intervenções no Jardim Botânico, que, para além da ampliação do espaço, incluiu a construção do orquidário, a criação do “Herbário Eng. Ilídio Botelho Gonçalves” e a manutenção de um banco de sementes da flora endémica dos Açores, mas esqueceu-se também da recuperação da Casa dos Cantoneiros, a recuperação do Miradouro dos Dabney e cinco outros sítios de contemplação, da construção de um centro de observação de aves nos charcos de Pedro Miguel, a implementação de uma pista de BTT no Parque Natural do Faial, da criação da rota “Parque a Cavalo”, da limitação do perímetro da Caldeira e da publicação da respectiva regulamentação oficial, a consolidação do funcionamento do Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos e, já em construção, a recuperação da Casa dos Dabney na Praia de Porto Pim. Apenas “paliativos”, alguém disse… Como é possível ignorar a recuperação de muitas áreas até há pouco tempo ocupadas por flora invasora, a concepção ou recuperação de sete trilhos pedestres,

incluindo o Trilho dos Dez Vulcões, a publicação de um Guia interpretativo para todo o Parque Natural do Faial, o desenvolvimento de um curso de guias especializados em ambiente em parceria com a Escola Profissional da Horta, a criação e dinamização do selo de “Parceiro do Parque Natural”, a dinamização de uma newsletter periódica e a organização do Simpósio da Associação Ibero-Macaronésica dos Jardins Botânicos? Como ficou esquecido que, nos intervalos, ainda se conseguiu obter a representação de Portugal nos prémios EDEN (European Destinations of Excelence Network) e o galardão QualityCoast e, já agora, a colaboração na entrada da Horta nas Mais Belas Baías do Mundo (com a respectiva vénia à Câmara Municipal da Horta)?

É

necessário estar distraído com qualquer coisa muito importante para tentar apagar todo este resultado numas lacónicas palavras e atropelar o magnífico trabalho feito por esta extraordinária equipa. Para que não fiquem quaisquer dúvidas, tudo o que referi atrás é o resultado do trabalho de um empenhado conjunto de profissionais com sede na Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Ao mesmo tempo, esta mesma equipa, projectou o Centro de Resíduos do Faial e criou a Direcção Regional dos Assuntos do Mar, para gerir a orla costeira e o vasto Mar dos Açores, e a Entidade Reguladora de Serviços de Águas e Resíduos. Ambas as

entidades têm sede na ilha do Faial. Como se fosse pouco, esta mesma equipa propôs o diploma que dará corpo o Parque Marinho dos Açores e aí indicou como sede a cidade da Horta. Garantovos que é muito e bom trabalho e também pela Ilha do Faial! Em relação ao Aquário Virtual e para que não se pense que estou a fugir a seja o que for, relembro que, antecipando que seria necessário adequar o investimento a uma nova realidade financeira, abandonamos o anterior projecto. Sinceramente, o que seria admissível? Insistir num investimento milionário ou fomentar uma aproximação reprodutiva e congruente com as actuais possibilidades? Obviamente, o segundo. Bafejados pela sorte, foi-nos proposto por um conjunto de jovens empreendedores locais de sucesso que fizéssemos uma enorme alteração no projecto. Estamos a trabalhar nisso e, em breve, teremos implementada uma solução imaginativa e que fomentará mais uma actividade na nossa ilha. Mas mesmo que o projecto do Aquário Virtual corresse mal, e não está fora de hipótese que corra, seria admissível tentar julgar o trabalho feito no ambiente faialense com base nesse único facto? Pelos vistos, para algumas pessoas, o ambiente faialense resumir-se-á sempre ao que não conseguem ver. Nada a fazer… Seria possível fazer melhor? É sempre possível fazer melhor, especialmente para quem, na bancada, se limita a ver o corso passar.

como a Feira Regional de Artesanato, duas iniciativas que merecem destaque e já não dispensam uma visita. E temos ainda o corso etnográfico, subordinado ao tema do Parque Natural de Ilha do Faial. Brilhante opção por parte da organização. Mais uma forma de publicitar o nosso Parque Natural, recentemente galardoado com o prémio Éden (Destinos Europeus de Excelência). As ruas enchem-se para assistir ao corso, que nos tem habituado a agradáveis surpresas, com uma grande imaginação, por parte das juntas de freguesia, juntando uma pitada de competição saudável, em que cada freguesia quer naturalmente evidenciar-se. Esta semana dá vida à nossa ilha, dinamiza o tecido económico. Os hotéis estão cheios, os restaurantes lotados, as rent-a-car esgotadas. Os voos para a Horta avolumam-se, dá gosto ver o movimento, a quantidade de turistas, muitos dos quais emigrantes, que aproveitam esta altura para regressar à sua terra e festejar na companhia dos familiares. Semana do Mar significa comer e beber com os amigos, matar as sauda-

des dos familiares que há muito não se viam, significa o juntar de muitas famílias separadas durante todo o ano. É tudo isso e muito mais! É ver a cidade a pulsar festa, as pessoas a gozarem o Verão e de, certa forma, a ganharem energia para o Inverno! É um recarregar de baterias! Quem cá vive deve sentir orgulho em ser faialense! Eu sei que sinto! Os meus sinceros parabéns à organização, nomeadamente à Câmara Municipal e Clube Naval da Horta, que, numa altura de crise como a que infelizmente experienciamos, conseguiram proporcionar aos faialenses mais uma excelente Semana do Mar! A todos deixo um apelo, divirtamse, aproveitem, gozem a festa ao máximo! Haverão alguns que no fim conseguirão arranjar forma de mal-dizer... quiçá através de panfletos coloridos a laranja que o estimado leitor poderá receber na sua caixa de correio…nada a que não estejamos habituados!

auto-golo Kitty Bale *

D

eixaram os Açores em busca de uma vida melhor, por vontade própria ou dos seus pais. Após muitos anos no estrangeiro a viver entre duas culturas, esmagados pelas saudades, decidem finalmente regressar para a sua terra. Só que a sua terra já não os reconhece. Em lugar das boasvindas calorosas tão sonhadas espera-os aquela desconfiança normalmente reservada aos estrangeiros. Só que eles não são estrangeiros mas emigrantes açorianos retornados, com os filhos luso-descendentes. A realidade é cruel e dói. Eles têm que enfrentar burocracias complicadas que não fazem concessões nenhumas pelo facto deles não estarem habituados ao sistema. Do consultório médico até as finanças passando pelas utilidades básicas como a companhia de electricidade ou de telefone, precisam de decifrar o código e de aprender – muitas vezes sozinhos como o sistema açoriano funciona.

E

m lugar de uma mão estendida, dizem-lhes para voltar ao sítio de onde vieram, alheios ao facto de eles serem também açorianos de gema. Aquela terra tão querida torna-se num ambiente hostil, mesquinho até. Se tiverem pegado o sotaque do país de acolhimento - Canadá,

Estados Unidos ou Bermuda são gozados sem mais nem menos. É-lhes negado o respeito - não são levados a sério e chamam-lhes "calafão". Oiço com atenção o meu entrevistado contar-me as dificuldades dos emigrantes que retornaram a São Miguel e fico surpreendida ao descobrir que muitas são as mesmas que eu tive que enfrentar. Só que não sou açoriana, não tenho laços familiares cá e até recentemente a cultura local ainda era um mistério para mim.

A

ceno com nó na garganta. Bem sei o que quer dizer pertencer a nenhures e ser a forasteira, mas nunca esperei ouvir tamanha aberração. Forasteiros na sua própria terra? Será que a famosa hospitalidade açoriana é só para os turistas e os emigrantes que vêm de férias, com dinheiro para gastar? E eles voltam a lidar com as saudades, mas desta vez são saudades de uma sociedade mais tolerante, com uma mente mais aberta e a tradição de conviver com culturas e línguas diferentes. "A gente lá com meia língua fazia a vida toda. Aqui com a língua toda a gente não faz meia vida", comentou uma emigrante retornada. E o meu coração afunda. *jornalista quazorean@gmail.com


iNFORmaÇãO

Tribuna das Ilhas

NOSSA GENTE

UTILIDADES

PARTIRAM

FARMÁCIAS

l Faleceu no dia 1 de Agosto, no Hospital da Horta, com 47 anos de idade, Maria Goretti da Silveira cabral. Era solteira, residia na freguesia da Feteira. Deixa de luto seus pais: Maria Regina Bettencourt da Silveira e Domingos cabral da Silveira. Era irmã de Paulo Alexandre Silveira cabral, solteiro; de carla Antónia da Silveira cabral, casada com Filipe Garcia; e de Rui Domingos da Silveira cabral, casado com Tânia cabral. Era tia de Martim cabral e Mafalda Garcia.

REstauRaNtE E sNack-BaR

12 DE AGOSTO DE 2O11

AGENDA EvENTOS ATé 22 DE AGOSTO 2011 3.ª Edição do concurso Multiartes Porto PimTado - Pintura, Fotografia, Poesia ou outra expressão artística (Arte Livre). Organização do OMA - Observatório do Mar e Associação Fazendo

hOJE E AMANhà Farmácia corrêa 292 292 968 DE 7 A 14 DE AGOSTO Farmácia corrêa 292 292 968 EMERGêNCIAS -FAIAL i h p o ~ m i i

ATé 31 DE AGOSTO DE 2011 Inscrições Workshop de Pintura em cerâmica por Teresa cortez no centro de cultura e Exposições da Horta

Número Nacional de Socorro 112 Bombeiros Voluntários Faialenses 292 200 850 PSP - 292 208 510 Polícia Marítima 292 208 015 Telemóvel: 912 354 130 Protecção civil - 295401400/01 Linha de Saúde Pública 808211311 centro de Saúde da Horta 292 207 200 Hospital da Horta 292 201 000

DIA 3 DE SETEMBRO [9h30 – 12h30] - Breve explicação sobre a técnica da pintura sobre azulejo - Pintura em azulejo DIA 4 DE SETEMBRO [9h30 – 12h30] - Pintura em azulejo ou objectos em cerâmica. Organização da cMH e Hortaludus

TRANSPORTES - FAIAL

aREEiRO • capELO • tELF. 292 945 204 • tLm. 969 075 947

ATé 20 DE AGOSTO DE 2011 Das 10H00 às 18H00 - Exposição: Evolução, Resposta a um Planeta em Mudança - Fábrica da Baleia - centro do Mar. Revisite a história do Planeta Terra de forma educativa e cativante. Organização da SRcTE e OMA

jSATA - 292 202 310 - 292 292 290 Loja jTAP (aeroporto) - 292 943 481 v Associação de Taxistas da Ilha do Faial 292 391 300/ 500 oTransmaçor - 292 200 380

ATé 31 DE AGOSTO Exposição do concurso "Parada de Árvores" no centro de cultura e Exposições da Horta. Organização do Governo Regional, SRAF, DRRF, Serviço Florestal do Faial | com o apoio da Hortaludus

METEOROLOGIA

GRUPO CENTRAL EMENTA PARA DOMINGO ESPADARTE FRITO OU GRELhADO BIFINhOS DE PORCO PEIxE vARIADO

15

hOJE céu geralmente pouco nublado. Neblinas. Vento oeste moderado (20/30 km/h) soprando temporariamente fresco (30/40km/h) com rajadas até 50km/h. Mar cavado. Ondas oeste de 2 metros AMANhÃ. céu geralmente pouco nublado. Neblinas Vento oeste moderado (20/30 km/h) . Mar de pequena vaga a cavado. Ondas oeste de 2 metros, passando a noroeste. DOMINGO céu geralmente pouco nublado. Vento oeste moderado (20/30 km/h) rodando para noroeste. Mar de pequena vaga a cavado. Ondas noroeste de 2 metros.

AceitAm-se ReseRvAs

ATé 28 DE AGOSTO DE 2011 Exposição colectiva de Pintura- centro de cultura e Exposições da Horta. Organização da câmara Municipal da Horta e Hortaludus ATé 14 DE AGOSTO DE 2011 10H00 às 23H00 - Festa do Livro da Horta - Biblioteca Pública A. R. J. J. G.. Organização da comissão Organizadora da Semana do Mar 2011 20 AGOSTO DE 11 Trilho dos 10 Vulcões – Org. Azorica

vENDEMOS REFEIçõES PARA FORA

E mEnta Variada todos os d ias NO SNACK

BAR SERvIMOS

REFEIçõES LIGEIRAS E PRATO DO DIA

Descanso semanal: tERÇa-FEiRa

TEMOS SEMPRE BOM PEIxE Venha almoçar ou Jantar num ambiente romântico e faça uma visita à JJ Moda e decoração Pronto a vestir

Bolsas De estuDo Da fuNDaçÃo faialeNse Informam-se todos os interessados que o prazo de candidatura às bolsas de estudo da Fundação Faialense decorre nos meses de Agosto e Setembro. Os boletins de candidatura podem ser levantados na Área de Alunos da Escola Secundária Manuel de Arriaga.

FIChA

Tribuna das Ilhas DIRECTOR: cristiano Bem EDITOR: Fernando Melo ChEFE DE REDACçÃO: Maria José Silva REDACçÃO: Susana Garcia e Marla Pinheiro FOTOGRAFIA: carlos Pinheiro

COLABORADORES PERMANENTES:Costa Pereira, Fernando Faria, Frederico Cardigos, José Trigueiros, Mário Frayão, Armando Amaral, victor Dores, Alzira Silva, Paulo Oliveira, Ruben Simas, Fernando Guerra, Raul Marques, Genuíno Madruga, Berto Messias COLABORADORES EvENTUAIS: Machado Oliveira, Francisco César, Cláudio Almeida, Paulo Mendes, Zuraida Soares, Gonçalo Forjaz, Roberto Faria, Santos Madruga, Lucas da Silva

PROJECTO GRÁFICO: IAIc - Informação, Animação e Intercâmbio cultural, cRL PAGINAçÃO: Susana Garcia REDACçÃO ASSINATURAS E PUBLICIDADE: Rua conselheiro Miguel da Silveira, nº12, cv/A-c - 9900 -114 Horta CONTACTOS: Telefone/Fax: 292 292 145 E-MAIL: tribunadasilhas@mail.telepac.pt tribunadasilhas@gmail.com

TéCNICA

IMPRESSÃO:

Rua Manuel Inácio 9900-152 - Horta

EDITOR E PROPRIETÁRIO:

de Sousa, 25

DISTRIBUIçÃO: cTT TIRAGEM: 1000 exemplares REGISTO: nº 123 974 do Instituto de comunicação Social

IAIc - Informação, Animação e Intercâmbio cultural, cRL NIPc: 512064652 REGISTO COMERCIAL: 00015/011017 (Horta) - Porte Subsidiado GOvERNO REGIONAL DOS AçORES

Esta publicação é apoiada pelo PROMEDIA - Programa Regional de Apoio à comunicação Social Privada


Tribuna das Ilhas

FUNDADO 19 DE ABRIL DE 2002 www.tribunadasilhas.pt

Maria José Silva Fotos: Carlos Pinheiro g Todos os anos, no primeiro domingo de Agosto, a Senhora da Guia desce do alto do Monte até ao areal de Porto Pim. Este ano não foi excepção e o tempo ajudou a que os pescadores locais pudessem prestar homenagem à sua padroeira, como aliás já referiu Bernard Venables no seu livro Baleia! – Os Baleeiros dos Açores, de 1968. A homenagem à protectora dos homens do mar realiza-se todos os anos com um cortejo náutico que sai da praia do Porto Pim em direcção ao porto da Horta, depois disso, por terra, a Santa é levada até ao Cais de Santa Cruz. Reza a história que, há dezenas de anos atrás os baleeiros do Faial acorriam à “capela sobranceira ao mar”, no Monte da Guia, que então era usada também como vigia da baleia, para celebrar a consagração da imagem da Senhora da Guia. Esta era depois trazida em procissão até ao areal, e pousada na popa de cada bote baleeiro, voltada para o mar. Depois, “o trancador” fazia “uma laçada com a linha em volta da santa, amarrando-a sem apertar”, e o bote ficava assim benzido.

SExTA-FEIRA 4 12 DE AGOSTO DE 2O11

senhora da guia


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.