TREVL 17 — Inverno 2018 (amostra)

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Em viagem

Trans quê? Transalpina, Transilvânia, Transfagaransan, Transnístria... Já não é mau se reconheceres 3 em 4. Terminado o artigo, saberás todas.

Aústria

Mar Adriático

Tiago Garrido

A

s viagens com dias contados começam sempre do mesmo modo — o primeiro dia é dedicado a despertar a mota e a avaliar os estragos que uma longa pausa de Inverno causou. Desde que no final do Verão passado estacionei a BMW R 850 GS em Belgrado, sabia que seria necessário trocar a bateria e os pneus. Não sendo permitido transportar baterias em voos comerciais, o problema ficou adiado para Belgrado. Quanto aos pneus, um misto de preguiça e a pouca vontade de viajar com dois hula-hoops gigantes à volta do pescoço fez com que também a resolução deste problema fosse adiada para a chegada à capital sérvia. No entanto, o que não antecipei foi a dificuldade que tive em comprar uma bateria a uma sexta-feira. De repente, o dia dedicado a solucionar problemas e a preparar o início da viagem ameaçava transformar-se num longo fim-de-semana. Várias oficinas, lojas e toda a zona industrial de Belgrado depois — um labirinto para quem não lê cirílico — e já com os minutos contados para a hora de fecho, o meu esforço foi finalmente compensado. Quanto aos pneus, mais uma vez, uma boa dose de preguiça aliada a um optimismo desmesurado, fizeram-me seguir viagem sem os mudar. Será que ainda se iria revelar um erro? Sem perder mais tempo, com a bateria nova montada, parti rumo à primeira paragem, a quase 500 km de distância, na estação de comboios de Craiova onde a Joana me esperaria na manhã seguinte — tinha-lhe prometido que íamos passar o seu dia de anos num país que não existe. Segui por estradas nacionais acompanhando o rio Danúbio até o cansaço vencer e pernoitar

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em Bela Crkva, uma tranquila cidade perto da fronteira entre a Sérvia e a Roménia. Um hotel-restaurante gasto pelo tempo, com pátio para estacionar a mota e um reconfortante goulash servido por um sérvio de bigode farto, inevitavelmente remetendo para o Manuel da série da BBC, Fawlty Towers. Porém, o compromisso do dia seguinte obrigou a uma estadia mais curta do que o desejado e a viagem continuou na manhã seguinte. A entrada na Roménia fez-se por uma estrada verdejante e a primeira impressão foi muito positiva — pequenas vilas de ruas em terra batida, bem compostas de casas pequenas com jardins floridos e tratados, excelente estrada nacional, com muitas curvas e, ainda, o Danúbio, qual companheiro fiel. Craiova representa a porta de entrada para as estradas míticas. Em primeiro lugar, a Transalpina, um emaranhado de curvas que nos leva até à Transilvânia, na zona central da Roménia. Esta região montanhosa dos Cárpatos é famosa pelos seus vampiros e o Conde Dracúl, mas o que achei verdadeiramente interessante foi a sua história e as muitas vilas medievais com as suas monumentais igrejas fortificadas — Património da Humanidade da UNESCO — onde, contra todos os esforços do ditador Nicolai Ceausescu, ainda se sente uma forte influência alemã. O nosso percurso continuou sempre pela montanha, em estradas curvilíneas e ladeadas de pinheiros altos e algo sombrios, onde o ar que respirávamos era agradavelmente fresco, contrastando com o calor agressivo da cidade. Em toda esta região maioritariamente rural, era tão frequente ver cavalos a puxarem carroças carregadas de feno, fruta ou legumes, como Dacias igualmente carregados de feno, fruta ou

Itália


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