Catalogo mais um corre

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EXPOSIÇÃO ÉTICA E ESTÉTICA SOBRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

EXPO

SIÇÃO

CARLA REGINA SILVA



EXPOSIÇÃO ÉTICA E ESTÉTICA SOBRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

EXPO

SIÇÃO CARLA REGINA SILVA



Agradecimentos: Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Reitor Prof. Dr. Targino de Araújo Filho Vice-Reitor Prof. Dr. Adilson Jesus Aparecido de Oliveira Pró-Reitora de Graduação Profª. Dra. Claudia Raimundo Reyes Pró-Reitor de Pós-Graduação Profª. Dra. Débora Cristina Morato Pinto Pró-Reitor de Pesquisa Profª. Dra. Heloisa Sobreiro Selistre de Araújo Pró-Reitor de Extensão Profª. Dra. Claudia Maria Simões Martinez Pró-Reitor de Administração Prof. Dr. Néocles Alves Pereira Pró-Reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis Geraldo Costa Dias Júnior Pró-Reitor de Gestão de Pessoas Prof. Dr. Mauro Rocha Côrtes Prefeito Universitário Rogério Fortunato Júnior



Gratidão a todos envolvidos na exposição Mais um Corre, aqueles que colaboraram direta ou indiretamente para a realização desta produção coletiva e colaborativa. Gratidão em especial aqueles artistas que sob condições precárias criam, sonham e reinventam possibilidades.



EXPO

SIÇÃO

2015 by Carla Regina Silva Todos os direitos reservados. De acordo com a Lei no. 9 610, de 19/02/1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento dos autores. Produção e Revisão: Carla Regina Silva Projeto gráfico e Design: Três Criativos Ficha catalográfica e ISBN

©2015 / Carla Regina Silva Rod. Washington Luis, Km 235 Tel.: 16 3351 8743 / carlars@ufscar.br


Wagner – artista de rua


Sumário Prefácio..............................................................................................................................12 e 13 Parte I Sobre o projeto (texto e composição de imagens).............................................................14 a 30 Parte II Artistas (sobre a população em situação de rua) (texto e composição de imagens)........ 31 e 41 Parte III A exposição Mais um Corre (texto e composição de imagens)......................................... 44 a 71 Parte IV Considerações Finais ........................................................................................................ 72 e 77


Prefácio O livro que segue é o trabalho de professores e estudantes universitários que se dispuseram a aprender com moradores de rua. Aprender com eles, em dois sentidos: aprender do que eles sabem – seu léxico, seus conceitos, suas formas de vida, suas reflexões sobre a sociedade, suas experiências radicais no mundo urbano (e não fora dele, porque não há excluídos: todos são parte da cidade). Mas aprender com eles em um segundo sentido: o de aprender juntos, produzir juntos material expressivo, figuras, palavras – texto e composição de imagens. Aprender os sentidos de cada palavra ou gesto que uns e outros usam; trocar; fazer pontes onde só poderia haver distância. Universitários, moradores de rua, e uma certeza: há algo profundo que os conecta, e que produz estética, portanto um modo, um jeito de se colocar no mundo: olhares, poemas, performances, que inundam as páginas que seguem de cor. Cores, nomes, de pessoas que vivem na mesma cidade e têm nela experiências distintas, radicalmente distintas, mas não incompatíveis ao convívio. O livro coloca lado a lado ditos e escritos de artistas anônimos aos mais do que consagrados. Arthur Bispo do Rosário também já foi anônimo. As coisas pelo avesso: em um mundo social cada vez mais violento, pessoas se dispondo a superar as distâncias “naturais” e a se escutarem. Aprender uns com os outros. Professores e estudantes aprendendo entre si, e com moradores de rua; trecheiros aprendendo uns com os outros, com professores e estudantes da Universidade Federal de São Carlos. Um princípio fundamental da política se coloca em movimento, sem pretensão: a igualdade de qualquer ser falante, perante qualquer ser falante. A igualdade como ponto de saída, não como finalidade a alcançar. 12


Prefácio Uma mudança de pressuposto: eles, que se costuma figurar pelo que não têm, vistos naquilo que podem nos trazer. Nós, vistos como aqueles que detém o saber, dispostos a ouvir. E vice-versa. Entre os idealizadores e participantes desse projeto há algo cada vez mais raro na sociabilidade urbana: cuidado, disposição, afeto, acolhida. É preciso estudar a rua, ou viver bastante na rua, para agir assim. Porque na rua se aprende que o modo como se conduz as coisas é muitas vezes mais importante do que as próprias coisas. As fotos demonstram os sorrisos que brotam dessa atitude, desse fazer relação, dessa proposta de igualdade momentânea, como é contingencial a política, o amor. Sorrisos que não são redenção, e como já de cara os textos advertem, não de um único tipo. Reparem nas fotos desses rostos que sorriem: tensão, intensidade, desconfiança, ironia, mas também alegria viva, desprotegida, livre. Sorrisos, de toda forma. A vida na rua é dura. Polícia, conflito, muita loucura, solidão, humilhação. Tudo isso vai amassado, para cima de uma rede, montada pelas idealizadoras da exposição, em uma das atividades propostas. Mas e o que eu aprendi na rua? Isso eu não amasso, eu penduro, bem visível, para que todos possam saber também. Liberdade, talvez seja a palavra mais recorrente. O valor central da política moderna, tão raro naquilo que se chama de política hoje. Mais um corre! Desestabilizar o que sabemos – que uns valem, outros não – é mais do que preciso. Urge aprender entre nós, das ruas e das escolas, das prisões e dos livros. Com a cabeça, com o corpo, com palavras e gestos. O livro arrepia, dos pés à cabeça. Gabriel de Santis Feltran, 24 de agosto de 2015.

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PARTE I

Curadoria MAIS UM CORRE



Ideias centrais para a curadoria Em um primeiro momento, aos olhos mais desavisados, parece inconcebível tratar de arte, cultura, direitos e população em situação de rua em um mesmo contexto. Entretanto, a partir da idealização e concretização do processo de curadoria da exposição “Mais um Corre”, isto parece mais palpável e possível, por isso o desejo de divulgar tal experiência, a fim de mostrar o quão próximo são essas temáticas e a potência da integração entre elas. O termo população em situação de rua passou por muitas modificações antes de ser conceituado, desde mendigo, andarilho, pedinte, vagabundo, termos usados pejorativamente para definir uma categoria que é definida atualmente pela Política da

A população em situação de rua carrega consigo o trinômio exprimido pelo termo exclusão: expulsão, desenraizamento e privação; sendo que a sua exclusão social está relacionada com uma situação extrema de ruptura de relações familiares e afetivas, com o mercado de trabalho e com a não participação social efetiva (BRASIL, 2008a, p. 03). Ao mesmo tempo esse grupo apresenta perfis distintos, compondo uma heterogeneidade grandiosa. Não é possível traçar um só perfil, nem os definir de acordo com modelos pré-estabelecidos: são homens, mulheres, crianças, idosos, usuários de drogas, não usuários, consumidores, empregados, desempregados, biscates, catadores, em boas condições de saúde, ou doentes, negros, brancos, pardos, de diferentes religiões e regiões. heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de Contudo, essa identidade multifacetada apaga-se moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros aos olhos preconceituosos da sociedade formal, que públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de os vê como patológicos, excluídos, sem potencial, sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as vagabundos ou loucos.

unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória (Decreto nº 7053/2009, art. 1º, Parágrafo Único).


“As instituições e a população, de um modo geral, enxergam esse segmento da população com grandes defasagens, inclusive de história, vontades, valores e costumes” (SOUZA; SILVA; CARICARI, 2007, p. 213). O estigma - síntese de múltiplas determinações que a população em situação de rua carrega – dificulta a instalação de programas que os auxiliem. O que vemos é a implementação de programas assistencialistas, de higienização e um poder disciplinar ainda utilizado como forma de controle e sujeição de corpos (FOUCAULT, 1999).

desempregados, excluídos dos meios de produção e marginalizados (CASTEL, 2003). Temos a imagem do morador de rua em diferentes épocas e contextos, definida, estigmatizada e repudiada, ainda, pela maioria dos que vivem a dita “normalidade”.

a existência de pessoas em situação de rua, traz na própria denominação 'rua' a marca do estigma e da exclusão a que são submetidas. Sua presença incomoda e desconcerta quem busca ver nas ruas a mesma tranquilidade asséptica de conjuntos habitacionais com circulação restrita de pessoas (BRASIL, 2008a, p. 03).

O desabrochar do capitalismo e os avanços tecnológicos alimentaram a competitividade do mercado elevando, assim, a valorização e importância da força de trabalho. A desorganização social, a exploração do trabalho, o acúmulo de capital, o consumo exacerbado e a infindável luta de classes levaram diversos indivíduos a se situarem em paralelo a esses moldes formais em torno da economia, buscando novas maneiras de sobreviver, com novas formas de apropriação e uso do espaço público, da preservação da vida e dos cuidados de si (MARTINEZ, 2011).

Essas compreensões pejorativas e limitantes sobre a poulação de rua foram construídas historicamente. Desde a sociedade pré-industrial os indivíduos que se encontravam em situação de rua eram denominados “mendigos”, “andarilhos” ou mesmo “vagabundos”, à parte da sociedade, normalmente

O desabrigo tem uma história longa e variada por quase todo o mundo. A cidade pré-industrial se caracterizava, em parte, pela “onipresença de mendigos”. Os mendigos era exatamente a ponta do iceberg, entretanto, já que a cidade pré-industrial continha grande quantidade de pessoas empobrecidas e organizacionalmente sem vínculos, referidas como “populações flutuantes” (SNOW; ANDERSON, 1998, p. 29).

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“A rua é feminina porque recebe e é a mãe dos órfãos, cria meninos rechaçados, ou qualquer um; e o pai deve ser a sociedade organizada que os reconhece e os abandona”. (Maria Emília Guerra, 1995)


A globalização acarretou o aumento de pessoas excluídas e marginalizadas, o que reflete diretamente na exclusão do trabalho, dos bens sociais e de seus direitos como cidadão (SOUZA; SILVA; CARICARI, 2007). A vulnerabilidade das massas e a exclusão de grupos específicos são resultados da desagregação progressiva das proteções ligadas ao mundo do trabalho (COSTA, 2005). Para Varanda e Adorno (2004), o processo de vulnerabilização dessas pessoas começa antes mesmo da sua ida para as ruas, nas redes de relações das classes populares. Segundo os autores, a situação de viver nas ruas adquire ainda mais complexidade quando se considera o complicado conjunto de fatores que se relacionam nesse processo de ida para a rua e nas práticas assistenciais existentes. A vulnerabilidade das pessoas que vivem nas ruas e a sua categorização enquanto população vulnerável refletem a condição de desamparo, contra a qual elas lutam permanentemente para sobreviver nos circuitos de marginalidade.

As estratégias e os circuitos de sobrevivência desenvolvidos por essa população se inserem num contexto de oposição aos mecanismos de apartação social e rompimento de vínculos familiares, porém caracterizadas pela precariedade e insalubridade das ruas, culminando em vulnerabilidades cumulativas que requerem intervenções de saúde orientadas segundo a sua especialidade (VARANDA, 2003, p. IV).

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Essas situações existenciais extremas fazem com que muitos pertencentes a esta população desenvolvam movimentos específicos de estar no mundo (ALVARENGA; ALVAREZ; RINA, 2009).

busca de liberdade, justiça e direitos, gerando pautas em torno das políticas sociais. Não obstante, as políticas de apoio à população em situação de rua eram ínfimas no Brasil. Foi apenas após o processo de redemocratização que essa população começou Assim, se por um lado podemos observar uma a receber alguma atenção, mas não a devida, já que situação de extrema instabilidade na vida dessas ainda hoje é vista como um problema social isolado pessoas, por outro observaremos o surgimento de (COSTA, 2005). outros modos de existir. São maneiras alternativas de sobrevivência que passam, por exemplo, pela A questão central é que nas sociedades capitalistas instituição de uma economia paralela e pela consti- neoliberais atuais tem como imperativo o assalariatuição de uma cultura própria. mento como requisito de pertencimento pleno à comunidade cívica, e ao “enxugar os efetivos dos Para Varanda (2003), a composição de uma cultura beneficiários do auxílio social, contribuía para ou subcultura de rua pode ser verificada como invisibilizar a marginalidade urbana, transferindo-a resultado de um processo permanente de luta pela do dmínio público para a esfera privada da família e sobrevivência, onde buscam a reconstituição de um do mercado” (WACQUANT, 2013, p. 176). universo social e determinam as relações com as instituições, serviços que os apoiam e a sociedade Desta forma, a pobreza é convertida numa questão em geral. individual assim como a culpabilização pelo aparato judicial qua a trata muitas vezes como conduta Em consequência do agravamento dessas diversas criminosa. questões sociais em torno de populações específicas, a sociedade civil passou a se organizar em 20


Mesmo frente a uma perspectiva tão “cronificada” sobre a população em situação de rua, Souza, Silva e Caricari (2007) defendem que se constitui na sociedade uma tentativa de emancipação desses sujeitos por meio da cultura, buscando seu protagonismo social, através de ações territoriais e intersetoriais, pautadas sempre na busca pela efetivação dos direitos. A Política Nacional da Assistência Social organizou e efetivou direitos até então pautados pela benemer~encia e pelo controle, segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, a Proteção Social Especial é voltada ao atendimento a População em Situação de Rua e os Serviços Especializados em Abordagem Social de proteção de média complexidade representam um recurso importante de atenção iniciada no próprio contexto da rua, com intervenções voltadas às necessidades imediatas e Serviços Especializados a População em Situação de Rua, como por exemplo, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (CENTRO POP), que configura um espaço essencial para a oferta de atenção especializada no Sistema Único da Assistência Social. Já para a proteção de alta complexidade, são destinados: o serviço de acolhimento institucional, para o indivíduo e sua família em situação de rua e os serviços de acolhimento em república, para pessoas em processo de saída das ruas (BRASIL, 2011).

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Os serviços de assistência social neste âmbito são de extrema importância como cita Galvani (2008, p.6) sobre os moradores de rua que “utilizam a rede assistencial como um recurso complementar para a organização do cotidiano e apoio para construção de redes sociais e de identidades”. O trabalho com esta população visa o protagonismo na formação de novas trajetórias de vida, a exploração dos potenciais e resgate do que representa interna e externamente cada indivíduo. Em 2005, a partir do I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, foi possível iniciar melhores contornos às questões desse grupo, a partir de discussão acerca dos desafios, estratégias e recomendações para a formulação de políticas públicas, com os movimentos sociais representativos, como o Movimento Nacional de População em Situação de Rua (BRASIL, 2011). A Pesquisa Nacional sobre População de Rua1, decorrente deste movimento, apresentou o perfil deste grupo sendo que, 82% são do sexo masculino, 74% são alfabetizados, 71% exercem alguma 22

atividade remunerada, sobretudo por meio da economia informal, 79% costumam dormir nas ruas e quando questionados sobre os motivos pelos quais passaram a viver e morar na rua cerca de 95% relatam problemas relacionados ao alcoolismo e/ou outras drogas, ao desemprego e às desavenças familiares (BRASIL, 2008b). Ainda que, atividades artísticas e culturais estejam distantes das realidades das ruas, não somente no que tange ao acesso, mas também, sobre o habitar as ruas enquanto cerne de produções artísticoculturais, é possível encontrar diretrizes nesse sentido, como a promoção de atividades artísticas especificamente voltadas para esta população, como exemplo, a Política Nacional para População de Rua reconhece a necessidade da interdisciplinaridade e intersetorialidade na atuação para esta população e apresenta, diretrizes relacionada à Cultura que defendem a promoção de amplo acesso 1

A pesquisa foi realizada em 71 municípios brasileiros, com 31.922 adultos, por meio de entrevistas com pessoas acima dos 18 anos, os resultados apresentados sugerem um número maior de pessoas nesta condição.


aos meio de informação, criação, difusão e fruição cultural; o desenvolvimento da potencialidade da linguagem artística como fundamental no processo de reintegração social; promoção de ações e debates de ressignificação da rua; apoio a ações que tenham a cultura como forma de inserção social e construção da cidadania; promoção de ações de conscientização que alterem a forma de conceber as pessoas em situação de rua e incentivo a projetos culturais que tratem de temas presentes na realidade de quem vive nas ruas (BRASIL, 2008a). A arte, ao longo dos tempos e espaços, possibilitou que os indivíduos em diferentes contextos e vivências se expressassem, ou seja, a arte permite que se exponha ao mundo aquilo que estava internalizado, promovendo as habilidades intrapessoais e interpessoais. A criação contribuiu com a construção de um senso de si e na troca de experiências ganhando, assim, um apoio social (PERRUZZA; KINSELLA, 2010).

Ao descondicionar nossos olhares, podemos enxergar as possibilidades existentes a partir da aproximação entre arte e sujeito, passamos a ver a criação a qual existe e se faz bastante presente também no cotidiano daqueles que habitam e ocupam as ruas. A arte é uma oportunidade de enfrentando perante as dificuldades, ao rompimento dos vínculos e à falta de moradia, ao mesmo tempo em que potencializa o reconhecimento público das habilidades de quem a produz e, portanto, a participação na comunidade em geral. 23


A elaboração artística viabiliza a garantia do direito à criação, à informação e à liberdade de expressão, direitos previstos pelo Programa Nacional de Direitos Humanos (Brasil, 2010), com a possibilidade de seguir um caminho diferente do sistema cultural hegemônico e dominante.

“Mais um Corre”

Ao entrar em contato, mesmo que minimamente, com a diversidade das ruas, podemos notar o demasiado potencial que a população carrega consigo, seja em termos artísticos, culturais ou ideológicos, paradoxo que se instala frente à conjunO indivíduo atribui novos contornos às formas de tura de ideais e articulações vigentes no meio social. existir e se projetar no mundo, ele é o agente que relaciona, significa, dá sentido. E, assim, o homem Espaços públicos e privados são ocupados não cria. Entretanto, para que esse processo se realize, apenas fisicamente, mas com trajetórias, sonhos e tornam-se indispensáveis a intuição, a motivação histórias singulares. Frente a uma multiplicidade tão humana e a necessidade de criar, somente assim ele grande de histórias, e uma diversidade tão rica de pode ascender em sua evolução (OSTROWER, 1987) vivências, dentro de um contexto extremamente singular e próprio, caso não encarado de forma A arte é encontrada de diversas formas nas ruas. estigmatizante, é absolutamente possível criar com Entretanto, recorrentemente não é encarada como uma riqueza excepcional, criação esta imbuída das arte, principalmente pelo não reconhecimento de particularidades que apenas estas pessoas detêm. seus produtores enquanto artistas. Neste trabalho todos participantes do processode curadoria serão reconhecidos como artistas de rua.

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Mais um Corre, na linguagem da rua significa agir em prol de resolver algo, dar conta de tarefas, problemas ou situações. Assim, a exposição “Mais um Corre” reflete a complexidade do viver nas ruas, ela apresenta resultados de atividades desenvolvidas com a população de rua na cidade de São Carlos - SP, por meio dos projetos extensionistas - Talento CREAS POP, Curadoria da exposição "Mais um corre" da produção ético-estético-artística dos artistas da rua e Redes fragilizadas de atenção à população de rua do Departamento da Terapia Ocupacional, Universidade Federal de São Carlos, com apoio da Pró-Reitora de Extensão2.

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As atividades de extensão encontram-se registradas junto à Pró-reitoria de Extensão da UFSCar, sob a coordenação da Profa. Dra. Carla Regina Silva, podendo ser consultadas através dos links www.talentoscreaspop.wordpress.com e https://www.facebook.com/ExposicaoMaisUmCorre

A exposição consiste na apresentação das criações artísticas resultantes de oficinas que foram administradas, gestadas e produzidas ao longo de três anos, por uma equipe que se renova a cada semestre, composta pelos estudantes da graduação do curso de Terapia Ocupacional, Psicologia e Linguistica, por terapeutas ocupacionais, designer de produtos e coordenadora em parceria com a equipe do Centro de Referência Especializado da Assistência Social para a População em Situação de Rua (CENTRO POP), vinculado à Secretaria de Cidadania e Assistência Social da Prefeitura de São Carlos - SP.

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O processo, construído com os participantes das Oficinas de Atividades (SILVA, 2007), abordou temas diversos, que delineia a situação peculiar de cada sujeito e buscou explorar através da arte e da cultura, o indivíduo na sua identidade, na sua singularidade e na sua história e trajetória de vida. Os encontros semanais ocorreram (e ainda ocorrem) no CENTRO POP, na casa de passagem e em espaços públicos (ruas, praças, dentre outros). As Oficinas possibilitaram diversas confecções individuais e coletivas, como por exemplo, pinturas em madeira, tecidos e telas, luminárias de barbantes, colagem em madeira, desenhos com carvão a partir da projeção da própria foto, modelagem em gesso, vídeos, fotografias e dinâmicas grupais. A partir da pesquisa de campo realizada e do acervo constituído foi gestada a Exposição “Mais um Corre”, possibilitando uma nova perspectiva raramente explorada sobre a população de rua: seus talentos, suas habilidades, seus protagonismos, sua diversidade de expressão e criação. 26

As atividades, desta experiência, se pautam por práticas e princípios transdisciplinares e intersetoriais que valorizam e estabelecem a conexão entre problemas sociais reais, assim, todos os envolvidos no processo são sensibilizados e busca sua expressão por meio de processos criativos e estéticos. Por conseguinte, demanda a formação dedicada ao enfrentamento das grandes situações de desigualdades sociais e de acesso aos bens e direitos sociais, na busca de profissionais críticos que saibam lidar com a diversidade humana, com competência técnica, ética e política.


Quando caminho só pelas ruas da cidade me sinto tão menor e quando cruzo por gentes nas avenidas da saudade

contemplando as incertezas e as calamidades chego à conclusão que mesmo com todo

o meu conhecimento adquirido pelo tempo e depois de tanto tempo ainda nada sei Gil Rosa – artista de rua

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A formação se constrói na medida em que se reflete e se teoriza acerca das práticas concretizadas no cotidiano, a partir do melhor entendimento das múltiplas dimensões dos 'fazeres' - fazeres sensíveis - articulados com as realidades dos sujeitos e seus contextos. Tais ações estão impregnadas de valores morais, culturais e sociais, que deverão ser discutidos e problematizados na perspectiva de uma intervenção no contexto social que, efetivamente, trabalhe na direção da maior autonomia dos sujeitos, sejam indivíduos ou grupos. Assim, são apresentados novos conceitos, visando, como fim, à discussão de direitos, à busca da cidadania e, também, o direito ao acesso, a produção e as trocas artísticas e culturais.

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Neste processo compreende-se a extensão universitária como uma prática acadêmica integrada às atividades de ensino e pesquisa, da mesma forma, articulada às demandas sociais, segundo sua natureza intrínseca, assim entre suas funções, propicia não só o diálogo entre a Universidade e a Sociedade, mas, também, a democratização do saber acadêmico e a busca de respostas às demandas suscitadas pelo desejo permanente de aperfei-

çoamento sociocultural e profissional. Corrobora-se com Thiollent, Araujo Filho e Soares (2000) cujas perspectivas estão na direção da produção de conhecimento e a extensão como construção social; empregar a metodologia participativa; ter necessariamente nas atividades previstas as dimensões crítica e reflexiva, e ainda, ter um propósito emancipatório para a extensão universitária. Assim como, para Carbonari e Pereira (2007, p.27), “o grande desafio atual da extensão é repensar a relação do ensino e da pesquisa às necessidades sociais, estabelecer as contribuições da extensão para o aprofundamento da cidadania e para a transformação efetiva da sociedade”. Assim, a exposição almeja ir além da divulgação de produções realizadas por e com a população em situação de rua. Sua prerrogativa é a criação de espaços de interlocução, interação e reflexão significativos sobre questões sociais relevantes, como a desigualdade social, a fragilidade das condições sociais de reprodução da existência, as perspectivas e a sociabilidades da/na rua, utilizando-se da arte como expressão e fruição.


A exposição foi pensada de forma que pudesse influenciar o olhar do expectador, sob um novo ponto de vista, provocando sua curiosidade, atraindo sua atenção e levando-o a uma observação mais atenta e cuidadosa sobre o “viver nas ruas”. Materiais e espaços inusitados atraem, provocam, estabelecendo a reflexão, além disso, a exposição é fundamental no processo artístico, pois possibilita uma comunicação e interação diferenciada, valoriza as atividades, evitando o “fazer por fazer” (BUGMANN, 2006). A arte, ao longo dos tempos e espaços, possibilitou que os indivíduos em diferentes contextos e vivências se expressassem, falassem, permitindo “externalizar”, ou seja, expor ao mundo à sua volta, aquilo que estava internalizado, promovendo as habilidades intra e interpessoais, além do desempenho funcional e o crescimento pessoal. A arte permite a construção de um senso de si, a expressão das trajetórias vividas, a concretização de sonhos, a criação de vínculos, revelar, expor, criticar, refletir, transformar. E é o caráter transformador da arte que faz da mesma um instrumento tão potente no contexto aqui colocado.

O trabalho com a arte pode ser um compromisso assumido coletivamente, com o objetivo de abrir possibilidades de expressão e de linguagem para as populações em desvantagem e vulnerabilidade social (CASTRO; SILVA, 2007). Reconhecendo a riqueza que permanece nas ruas, e utilizando da arte como instrumento crítico e reflexivo, mas ainda assim estético, busca-se, com esta proposta, a disseminação de uma experiência única e demasiada humana, a fim de sensibilizar um número cada vez maior de sujeitos. A arte foi utilizada como facilitadora dos processos de aproximação e expressão do universo da população em situação de rua, projetando o reconhecimento dos direitos, iniciando com o direito de escolha, de reconhecimento como sujeito, produtor, pensador, que assina seu autorretrato, autor de seus desejos e sonhos.

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Participantes da Equipe

Felipe dos Santos / Gabriela Agnello / Gabriela Marina Marques / Ilana Faga / Isadora Cardinalli / Jaime Daniel Leite Junior / Jessica Cristina Von Poellnitz /

Júlia Morbi Ribeiro / Juliana Lympius / Marina Sanches Silvestrini / Maria Luiza Mangino Cardoso / Mariana Rossi Avelar / Marília Sales / Mônica de Araujo Nagy Fejes / Natalia Torres de Almeida Menezes / Paula

Fernanda de Andrade Leite / Paula M. Schmidt-Hebbel / Thamirys Cristini dos Santos Urbano / Thamy Ricci / Roberta Justel / Romerito Pontes / Rubia Mota

Aline / Amy Tanaami / Ana Carolina da Silva Almeida Prado / Bruna Maria Tiecher / Caio Ishido / Carla Regina Silva / Daffini Henrique de Oliveira / Débora Isabele de Vasconcelos Teixeira / Fabiana Araújo Moreira de Oliveira /


Parte II - Artistas e a Rua Todo ponto de vista ĂŠ a vista de um ponto (Leonardo Boff)


O apanhador de desperdícios

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Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. Manuel de Barros


Poéticas éticas, estéticas:

Marina Silvestrini Sanches e Carla Regina Silva

sobre histórias encontradas, memórias! Em toda história da civilização temos a imagem do morador de rua, do pedinte, em diferentes contextos e épocas. Este é o reflexo de uma sociedade que não conseguiu evoluir para uma organização social que ofertasse condições mais equitativas entre seus membros, aliás, estamos bem longe disso. É também resultado de uma sociedade que implica com o diverso, que se irrita com o que se afasta do padrão de normalidade construído por alguns, mas aceito, que até mesmo inveja a capacidade se outro sujeito ser, sentir-se livre em um mundo priorizado pelo capital, pelo material, sem apelo à vida. O sonho dos caretas é a realidades dos lokos

Wagner (artista de rua)

- Mas essa liberdade é inocente? - É. Até mesmo ingênua. - Então por que a prisão? - Porque a liberdade ofende. Clarice Lispector

Soterrei As lágrimas do ontem Vivi o sorriso de hoje E esperei com alegria a felicidade de amanhã

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I Sai, por favor Sai da minha alma Que está machucada de dor Essa dor tão calmo Que faz o vício do amor II Amar sem ser feliz Tentar não desistir O quadro é negro E não tem giz Não tem giz Pra clarear III Não deixe alguém Jogar areia nos seus olhos Vou resistir Vou chorar, vou sofrer Mas não vou lutar por você Meu amor Sai, por favor... 34

Gil Rosa (artista da rua)

Olhos nos olhos, mais um caso de amor, Quero ver o que você diz. Quero ver como suporta me ver tão feliz


... A única verdade é que vivo. “Sou o Nelson King e trabalho com artesanato. Faço bastante trabalho com fios e penas. Curto muito um som e minha paixão é o Rock. Para mim, King Diamond, ACDC, Pearl Jam, Judas Priest, Nirvana e Manowar são algumas das melhores bandas. Artistas nacionais, eu gosto muito do Renato Russo e Raul Seixas”

Ao longo de toda história construímos o preconceito, o estigma, a falsa compreensão de quem são e como vivem as pessoas que moram na rua. Corroborado com uma estrutura de construção dos saberes de forma classificatória e hierárquica, de manutenção de um jogo de poderes que permite a continuidade do que não causa desconforto para as “pessoas do bem”. São estabelecidas lógicas de comportamento, de como as pessoas devem agir e reagir, mas, na verdade, não suportamos a possibilidade daquelas vidas que não são capazes de reproduzir e responder à ideia de acúmulo material e consumo desenfreado no qual estamos submersos.

Tenho 3 filhos. Dois deles são adotados e um é “de sangue. Tenho também uma neta. Gosto de mexer com horta e de trabalhar; Graças a DEUS. Gosto dos meus aperitivos (bebidas) e cigarro. Quando meus amigos precisam eu sempre ajudo e com eles jogo futebol nos finais de semana. Vivo uma vida tranquila e não me arrependo de nada. Tenho a ajuda do CREAS e do albergue quando preciso. Estou muito contente por estar aqui.

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E por falar em saudade onde anda vocĂŞ Para onde mira que a gente nĂŁo vĂŞ


A população de rua não deve ser definida de uma única forma, ela é diversa e multifacetada. Uma composição de pessoas diferentes, homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos, analfabetos, letrados, graduados, trabalhadores, filhos, pais, mães, avós, negros, brancos, amarelos e vermelhos, criadores, alternativos, sonhadores, políticos... Cada um com sua história, relações constituídas, atitudes e formas fluidas de encarar o que significa viver. “Sou o Adolfo, mas as pessoas me conhecem por Índio. Gosto muito de me divertir, ir à biblioteca e ver filmes. Saí de casa aos 12 anos para conhecer o mundo, porque tinha muita curiosidade e também porque sofria maus tratos. Nessa minha trajetória conheci muitas pessoas boas e outras ruins. Gosto de aproveitar o lado bom da vida, apesar de viver na rua. Em alguns momentos me sinto feliz e em outros triste por ver

A população de rua ocupa não só a rua, mas todos os espaços possíveis de uma cidade, sobretudo, daquelas onde não são expulsos. Alguns espaços privados e públicos são ruas, praças, estradas, calçadas, pontes, travessias, vielas, enfim, são pessoas que caminham, transitam, se deslocam na cidade, entre as cidades, estados e até países e também causam deslocamentos. Vão e vem em

busca de melhores condições ou de outras condições, ou apenas de paz. Podem querer fugir, encontrar e reencontrar amigos, familiares, às vezes a si próprios, seguem em busca de perspectivas, sonhos e desilusões. São ocupantes dos espaços e driblam as dificuldades, aprendem a vida da rua que se faz através de trejeitos particulares e signos próprios. Porém são seres como todos, de corpo e desejos, afetos e ausências. Tão bom viver dia a dia. A vida assim, jamais cansa. Viver tão só de momentos. Como estas nuvens no céu. E só ganhar, toda a vida, Inexperiência. Esperança. E a rosa louca dos ventos. Presa à copa do chapéu.

Năo apontem o dedo pra mim, porque năo estou nessa vida por opçăo. Se eu ficasse em casa, morreria na măo do meu pai. Essas eram as minhas únicas opçőes: viver com ele naquela situaçăo ou ir para as ruas.


“Quem sou eu? Eu sou você depois de amanhã!” (Wagner, artista de rua)

Reinventam a vida social e os seus valores, aqueles que valem a pena ser seguidos, aqueles que não valem, aqueles que não são valores: apenas preços. Buscam a sobrevivência, a potência de vida em cada possibilidade que se mostra a frente, permeados por momentos de humilhação, encontros, medos, aprendizagens, sofrimentos, alegrias e trocas. Viver nas ruas é uma arte. “Sou o Treme-Treme. Tenho 58 anos e sempre estou no CREAS ou nas ruas. Quando jovem, joguei profissionalmente no Grêmio São Carlense, Ponte Preta, Usina Tamoio e Usina Ipiranga. Não gosto de filme nem novela, mas adoro ouvir as musicas da Paula Fernandes, jogar dominó e sinuca”

Quem já passou por essa vida e não viveu. Pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu... (Vinicius de Morais – Como dizia o Poeta) 38

“Sou a Ednéia e tenho 33 anos. Meus dias são fazendo faxina e catando recicláveis. Durmo em um barracão. Tenho uma cachorrinha linda que até pensa que é gente. A coisa que mais gosto na vida é cantar. Cantar me ajuda a tirar pensamentos ruins da cabeça. Já sofri muita humilhação na vida, mas também conheci pessoas maravilhosas”


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Parte III - A exposição Mais um Corre


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A exposição “Mais um Corre” é composta pelos seguintes espaços: identidade, trajetórias, memórias, sonhos e redes. As trajetórias circundam sonhos e temores, são marcadas por memórias que buscam traçar nossas singularidades, nossas identidades. Seguimos nossas trajetórias alicerçadas pelas redes de conexões, relações, costurando nossos nós desfazendo nossos pontos, mas sempre motivados pela luta pela vida. A investigação para a coleta de material que pudesse subsidiar a exposição foi realizada desde 2012, junto à população de rua na cidade de São Carlos, com cerca de 40 pessoas em sua maioria do sexo masculino, que utilizam das vias públicas como sua moradia entre semanas há 20 anos, alguns deles apresentaram potencial artístico entre artesanato, literatura, pintura, escultura, entre outros por descobrir. A exposição é composta por diferentes linguagens artística representando a diversidade da população de rua, assim como suas demandas e possibilidades. Possuem instalações de materiais diversos (madeira, gesso, fios, metal, tecido e papel) esculturas, vídeo e áudio instalação, acervo fotográfico e interatração com público.

A exposição apresenta determinadas temáticas: !

histórias de vida - as dimensões do “cair na rua” vista de diferentes formas;

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identidades - reconhecimento das experiências individuais que podem ser projetadas ou identificadas na relação estabelecida a partir dos vínculos e das trocas;

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trajetórias - idas e vindas dos trecheiros e composição do “galo” 3.

!

a linguagem da rua - vocábulo com cem verbetes, seus significados e aplicações em frases e situações;

!

memórias - situações e sentimentos que devem ser lembrados ou esquecidos durante as vivências e caminhos aqueles moradores;

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redes - apoios e suporte entre o estar e não estar nas ruas;

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Galo é a mochila ou mala utilizada pelas pessoas em situação de rua, que na maioria das vezes contém tudo o que eles possuem materialmente em sua vida.


Memórias O tema memórias buscou, a partir das histórias de vida dos participantes, criar reflexões sobre as lembranças dos participantes. O acervo contou com três pinturas abstratas em madeira, sete luminárias coloridas acessas com memórias que deveriam ser lembradas e apagadas para aquelas lembranças que deveriam ser esquecidas, um corredor de garrafas que continham mensagens, ainda que não pudessem ser acessadas.

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É impresionante como meu coração consegue suportar tanta saudade e tanta solidão, às vezes acho que a qualquer momento ele vai explodir (GIL ROSA)


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Redes As redes são formadas para a manutenção social e interação do indivíduo, no caso da população em situação de rua, são redes diferenciadas, que se formaram a partir de rupturas, das redes informais que se contituem como suporte. Para tratarmos sobre redes, redes de colaboração, de proteção necessariamente vislumbramos um trançado

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entre nós e vazios, entre presenças e ausências, por isso precisamos ser criadores para encher os vazios de estratégias, possibilidades, encantos promover conexões - focar e desfocar, para enxergar novas formas de resolução de problemas, é preciso distância para reconhecê-los e aproximação e sensibilidade para envolver-se para atuação responsável e interessada.


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O espaço conta com uma armação de metal sextavada, coberta por uma rede de barbante colorida e duas redes – a primeira é constituída por palavras utilizadas pela população em situação de rua para descrever seus pontos de apoio, sua rede relacional e de serviços, - a segunda é composta pela rede de apoio que foram perdidas. Nesta instalação, o público também pode interagir com mensagens e descrição de sua própria rede de relações e pendurálas junto à rede sobreposta.

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O espaço é composto por uma área reservada, separada por tecido coloridos pela técnica do tiedye, há dois MP3 player e fones de ouvido para que as pessoas os utilizem ao entrar, a intervenção sonora é composta por diferentes sons captados nas ruas. Além disso, as cinco camisetas pintadas com canetas hidrográficas e as quatro réplicas de desenhos em tecido que compõe o espaço, são observadas a partir do efeito da iluminação de luz negra e o chão é revestido por manta acrílica e fibra siliconada para corroborar com o cenário de um sonho.

Sonhos O espaço sonhos busca o conhecimento dos desejos, das emoções, sensações dos sentidos, do que mantém vivo. Apresenta os traços de um artista de rua em especial e suas formas e cores únicas, de seres que parecem místicos, que se misturam entre os sonhos e a realidade.

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Identidades O espaço possui uma moldura de madeira com colagens de desenhos e recortes, um biombo com três autorretratos desenhados com carvão, quatro peças de gesso em formato de rostos (côncavos e convexos) suportados por caixas de madeira e

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quatro peças de gesso em formato de mãos também sustentadas por caixas de madeira. Além disso, 17 placas fotográficas retratam o viver nas ruas e sua diversidade e o “dicionário da rua” interativo em programa computacional, que contém mais de cem verbetes, quando clicado no termo, é possível ver seu significado e a aplicação numa frase.


Trajetórias Neste espaço há uma composição de quatro malas, representando o “galo”, ou seja, a mochila ou mala levada pela população em situação de rua. A partir da investigação realizada, foram elencados os objetos que frequentemente são encontrados nos “galos”, o que resultou numa “mala de trajetórias” com mapas de cidades já conhecidas pelos viajan-

tes; “mala das artes” com instrumentos e materiais próprios para algumas artes de rua, como arame, pena, alicate e linhas; “mala essencial” com roupas e produtos de higiene e a “mala mídia” que se encontra fechada e é revestida com textos, notícias e comentários retirados da mídia, tal como facilmente encontrada na rede mundial de computadores, as informações em sua maioria se pautam sobre mortes, agressões, violência e preconceito.

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Que nada nos deďŹ na, que nada nos limite, que nada nos sujeite. 56


Apesar do endurecimento da vida, há quem consiga criar afeto e se afetar, encontrar um coração, um amigo de prontidão. 57


Entre a juventude e a jumentude Existe sempre uma esperança De uma nova manifestação (Gil Rosa – artista da rua)

Eu me lembro ainda... Quando os mais antigos diziam Se a união de todos Beneficia cada um Por que caminhamos sozinhos? (Gil Rosa – artista da rua)

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De repente as coisas acontecem, e quando alguma coisa acontece Surge sempre a esperança que nos faz sonhar outra vez (GIL ROSA)


Com pé na estrada, vendendo poesias e declamações descobri que em movimenteo tudo é mais intenso, em constante criação tudo flui com alegria e motiva a minha visão de dentro para fora. (GIL ROSA) 59


Circuladô de fulô Ao deus ao demo dará Que deus te guie porque eu não posso guiá É viva quem já me deu Circuladô de fulô E ainda quem falta me dá E não peça que eu te guie Não peça Despeça que eu te guie Desguie que eu te peça Promessa que eu te fie Me deixe Me esqueça Me largue Me desamargue que no fim eu acerto Que no fim eu reverto Que no fim eu conserto E para o fim me reservo E se verá que estou certo E se verá que tem jeito E se verá que está feito 60

Que pelo torto fiz direito Que quem faz cesto faz cento Se não guio não lamento Pois o mestre que me ensinou já não dá ensinamento Circuladô de fulô Ao deus ao demo dará Que deus te guie porque eu não posso guiá É viva quem já me deu Circuladô de fulô E ainda quem falta me dá Caetano Veloso


Dicionário das Ruas: nós também falamos o Português Felipe dos Santos Durante a realização das atividades de extensão em 2013, a equipe se deparou com alguns obstáculos relacionados à aproximação e abordagem a essas pessoas. Entre eles, estava o estranhamento gerado pela defrontação com uma atividade linguística distinta da sua – um vocabulário peculiar, que poderia ser designado como gíria, próprio daquele grupo social caracterizado pelas pessoas em situação de rua no município.

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O dicionário contém mais de oitenta verbetes, cujas definições foram trabalhadas em conjunto com a própria população em situação de rua frequentadora do Centro POP através de aplicações de exemplos em sentenças para chegar, então, ao seu significado. O dicionário, em formato de vídeo, pode ser acessado através do seguinte link: www.youtube.com/watch?v= OqPF5Py7D6g.

Para auxiliar no desenvolvimento de seus trabalhos bem como também registrar a riqueza linguística dessa comunidade, a equipe anotou as expressões e palavras que ouvia na interação das atividades. Com esses dados linguísticos em mãos, foi construída, em conjunto com a própria população de rua, através de oficinas, uma videoinstalação chamada Dicionário das Ruas 4 que compôs a exposição “Mais Um Corre” daquele ano, a qual tinha por objetivo delinear a situação peculiar desses sujeitos e explorar sua singularidade e história. A compilação desses dados linguísticos está constituída por expressões idiomáticas, neologismos e processos de ressignificação de palavras (alterações de sentido de palavras já existentes na língua). 61


Os exemplos extraídos do Dicionário das Ruas parecem demonstrar, a princípio, que o léxico usado pela população em situação de rua é pautado por um processo de variação linguística (uma atividade linguística distinta da maioria dos demais grupos sociais) e estabelece uma ponte entre a condição social de precariedade dessas pessoas e o seu uso (criativo) da língua enquanto falantes da sua língua materna, o Português brasileiro. Expressões como “boca de rango” ou “dormir de mocó”, constantes do Dicionário, aparentam fazer relação às realidades vividas por essas pessoas. Expressariam, sobretudo, seus modos de vida, suas atividades humanas cotidianas. A primeira significa “lugar onde se dá comida”; a segunda, “dormir na rua”.

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AMARRAR BAIXAR A ONÇA A BOLA

Esse fenômeno de variação linguística detectada pela equipe na comunidade de pessoas em situação de rua da cidade de São Carlos pode ser apenas uma parte das atividades culturais próprias das ruas, o espaço onde essa população realiza suas atividades econômicas, recreativas, etc. Em geral, quando se pensa em variantes existentes dentro da língua portuguesa do Brasil, é comum se pensar em como o Português brasileiro varia quando é falado pela população brasileira nos diferentes estados que compõem o país.


Muito pelo contrário, no entanto, em um mesmo espaço geográfico (como uma mesma cidade) pode haver diferentes variantes sendo faladas cotidianamente, concomitantemente. Isso porque a própria cidade não é homogênea no que diz respeito às suas camadas; é, isto sim, e antes de tudo, composta por vários grupos, diferentes estratos sociais muito distintos entre si. As comunidades componentes de uma mesma cidade podem diferir em gênero, sexualidade, classe social, etnia, idade, grau de escolaridade, etc. Para a Sociolinguística, disciplina que estuda (entre outras coisas) as diversidades que coexistem dentro de uma mesma língua, todos esses fatores sociais importam, pois podem ser justamente os condicionadores das variações e variantes linguísticas em questão; ou seja, são esses fatores que motivariam que diferentes grupos sociais (enquanto comunidades de fala) tivessem diferentes atividades linguísticas correspondentes a uma mesma língua.

COLA DORMIR BRINCO DE MOCÓ

No caso da população em situação de rua em São Carlos, a atividade linguística, ou o uso da língua, dessas pessoas, que compartilham também uma mesma situação existencial (viver nas ruas), de acordo com as realidades de cada um, reforça não só o caráter heterogêneo da língua como também uma das partes da sua função social. Com heterogêneo, queremos evidenciar que os vários grupos sociais existentes dentro de uma mesma sociedade não só são capazes como também muito competentes para desenvolver a sua própria atividade linguística (seja através de gírias, jargões ou bordões, etc.). 63


Por outro lado, um grupo de pessoas que compartam certas características dentro da sociedade, distanciando-se dela nesses aspectos, fundam também novas comunidades de pessoas, que acabam por se caracterizar também como comunidades de falantes de uma das variantes faladas existentes dentro do Português brasileiro. No entanto, algumas dessas variantes, quando faladas por um grupo social que sofre com o preconceito e a marginalização por parte da sociedade, são igualmente estigmatizadas. Com frequência, seus falantes são chamados de ignorantes que não dominam a própria língua materna, e toda essa riqueza de diversidade linguística passa a ser somente um português mal falado.

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Tal perspectiva, além de ser uma atividade criminosa discriminatória, pautada pela exclusão social, não encontra qualquer justificativa científica. Há muito tempo, diferentes áreas dos estudos linguísticos denunciam uma mesma coisa: não existe algo como uma língua mal falada pelos seus próprios falantes nativos, o que existe é o preconceito linguístico.

FICAR IR NA NA COLA CAPTURA O preconceito linguístico, como afirma o linguista brasileiro Marcos Bagno, é um preconceito social. Ninguém na estrutura da sociedade fala que a classe dos advogados não sabe falar o Português brasileiro, mesmo quando não compreende boa parte do que dizem ao assistir a uma transmissão televisiva de algum julgamento, ou, ainda, ao ler um livro de conteúdo jurídico. No entanto, são raras as pessoas que estão prontas para reconhecer a atividade linguística de uma muito competentes para desenvolver a sua própria atividade linguística (seja através de gírias, jargões ou bordões, etc.).


comunidade de fala como as pessoas em situação de rua como uma atividade de falantes competentes e criativos dentro da sua língua materna. O preconceito linguístico é algo muito grave. A maioria das pessoas tem uma atitude de baixa autoestima quando refletem sobre si mesmas enquanto falantes da língua portuguesa falada no Brasil. Isso porque foram levadas a confundir a própria língua materna, através de um modelo de educação nada emancipador e muito problemático, por uma série de regras que alguns estudiosos da língua, elitistas e nostálgicos, acharam conveniente que todos os demais falantes deveriam seguir. O Português brasileiro, tão rico e diverso em vários aspectos linguísticos, é falado competente e cotidianamente por milhões e milhões de falantes nativos. A presunção de alguns poucos, inclusive aqueles que se dizem estudiosos (quando seguindo a sua própria lógica, mesmo o que chamam de norma culta não seria nada além da deturpação do Português europeu, ou então do latim vulgar), faz-se prevalecer não pelos seus argumentos científicos,

NAS TREVAS

LARGA O BICHO

mas pela dominação social existente dentro da estrutura da nossa sociedade e pelo preconceito e discriminação social que, infelizmente, ainda encontram espaço nesse país. O Dicionário das Ruas nos força a olharmos as pessoas em situação de rua enquanto seres humanos que pensam, falam, criam. Não só ocupam os espaços urbanos como também são constituintes de suas atividades. Embora boa parte das cidades, ou as tratem como invisíveis ou como pessoas reduzidas à uma mera questão de sobrevivência (quando não como simples marginais), as próximas páginas trazem a criatividade e a riqueza linguística de uma comunidade consciente de sua condição social. 65


Dicionรกrio das Ruas

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A /J


Dicionรกrio das Ruas

L /Z

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Entrelinhas de um processo social e sensível

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O indivíduo na sua pluralidade, personalidades e fazeres, não encontra lugar para ser livre. A discriminação está presente nas relações sociais e os atos de violência e repressão cotidianos se fazem respostas às formas diferentes e tão potentes vidas. O respaldo para qualquer tentativa de compreensão do diversificado é violento, tem-se atitudes que negam a vida, ações que invocam preconceitos, pensamentos estigmatizantes e a hierarquia criada como forma de tentar se diferenciar, ou seja, o individualismo e a meritocracia como status de vida. Nesse sentido, a busca no trabalho com a população de rua, com formato inovador, sensível e que promovesse a diversidade reprimida, encontrou lugar com a arte. Uma arte tão singular, ética e estética que se fez em um acervo de obras que não poderia ficar esquecida, apagada, tem-se então a possibilidade da exposição. Fazer exposições é uma maneira de tornar um trabalho público, acessível, de valorizar potenciais, de instigar a sociedade, de fomentar o pensar sobre arte e cultura, enfim, de criar espaços democráticos de contato, exploração e

reflexões. Como resultados citamos as diversas produções artísticas e as coletas ativas e sensíveis sobre as temáticas presentes nesta população que compuseram um arquivo da realidade que se contrapõe as vivências hostis. As trocas com a população, com o serviço e as discussões teóricas resultaram em efetivas transformações na forma de pensar-agiracreditar dos envolvidos, capaz de contribuir para uma formação integrada entre teoria e prática e a realização de exposições na cidade de São Carlos, nos seguintes locais: Shopping Iguatemi, Teatro Municipal Teatro Municipal Dr. AldericoVieria Perdigão, Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos, Espaço Gaveta – Centro Experimental de Artes, Festival Se Vira na Praça Pedro de Toledo, Museu Tam e Paço Municipal. Em Araras-SP no Centro Cultural Leny de Oliveira Zurita e na entrada do Auditório Leão de Faria, na Universidade Federal de Alfenas- MG. Para avaliação processual foram utilizados os relatórios mensais da equipe, impressões dos participantes do segmento da população em situação de rua e informações retiradas do livro de visitas das exposições. Esses registros e memórias


também se tornaram um parâmetro da importância dessa experiência ético-estética. Trabalhando com o concreto, temos o demonstrativo da riqueza artística produzida e aprimorada, envolvendo o valor afetivo e social, na linguagem do próprio público:

“linda”, “sensível”, “disparadora”, ”lágrimas nos olhos”, “genial”, “emocionante”, “forte embora colorida e viva”, “impactante”, “real e concreta”, “interativa”, “agregadora”, “relevante e reveladora”, “valorização da vida”, “criativa”, “bons materiais”,

Shopping Iguatemi São Carlos (2013)

Festival Faísca Universidade Federal de Alfenas MG (2014)

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Teatro Municipal “Dr. Alderico Vieira Perdigão” de São Carlos (2013)

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Museu Tam (2015)

Shopping Iguatemi São Carlos (2013)


Se Vira S達o Carlos (2015)

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Parte IV - Considerações Finais

O movimento da rua inspira a criação, as marcas da noite delineiam um destino, falta de foco pode significar a ausência da inércia. 72


A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece (Bondía, 2002)

Vimos à necessidade da produção de cuidado e de práticas que a partir da compreensão macrossocial possam ao mesmo tempo criar estratégias para a de projeção de vidas, multiplicando seus sentidos, transformando vivências e ações. O presente trabalho busca compartilhar estratégias criativas para a aproximação, compreensão, valorização e protagonismo de um grupo formado por pessoas que sofreram inúmeras rupturas ao longo de suas trajetórias, compreendendo o campo das artes e da cultura como essencial para lidar com questões sociais complexas, embora saibamos que isoladamente não há como produzir transformação. Neste processo, um dos aspectos principais foi pensar sobre a arte e compreendê-la como um canal efetivo para que aconteça a sensibilização e a reflexão, para que possam ser trabalhadas questões socialmente relevantes, como a desigualdade, a fragilidade das condições de vida e das formas de (re)produção da existência, a perspectiva e a

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sociabilidade nas ruas, na busca de (re)significações de valores e novos conceitos. A importância e relevância da exposição "Mais um Corre" está em sua ambição de ocasionar deslocamentos sensíveis no mundo por meio da arte, sejam elas pequenas, simples, porém significativas, nos artistas, nos visitantes, na equipe, nos trabalhadores da assistência social e em todos que puderem se aproximar, terem a possibilidade da experiência. Enxergar o Outro e olhar para si próprio, com respeito e na contraposição das desigualdades. Afinal, foram perceptíveis as transformações em todos que tocados pela arte e pelas trocas alimentaram-se de relações produtoras de potências e de vida. As práticas dialógicas compartilhadas e fortalecidas com trabalhos estético-artísticos visam permitir tanto a expressão de uma cultura – a cultura da rua - como sua denúncia e sua crítica, favorecendo a experiência de forma significativa de todos os envolvidos, sobretudo os artistas de rua que podem experimentam outras funções e posições em contraposição aos seus processos 74

de ruptura sociais, contudo análogas às suas possibilidades e capacidades. Pretende-se que a curadoria da exposição Mais um Corre possa contribuir para estudos e para novas correlações entre a arte, a cultura, questões sociais e a produção de conhecimento. A exposição almeja tornar acessível, público e possibilitar a experiência de um trabalho singular, além de valorizar potenciais esquecidas e invisíveis, de instigar a sociedade no pensar crítico-social, de fomentar o debate sobre arte e cultura, enfim, de criar espaços democráticos de contato, exploração e imaginação, atingindo resultados próprios de uma extensão universitária interessada, crítica e protagonista de novas trocas e fazeres sensíveis. Afinal as trajetórias circundam sonhos e temores, são marcadas por memórias que buscam traçar nossas singularidades, nossas identidades. Seguimos nossas trajetórias alicerçadas pelas redes de conexões, relações, costurando nossos nós desfazendo nossos pontos, mas sempre motivados pela luta.


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