Pe. Eugênio Cantera - Jesus Cristo e os Filósofos

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«o sermão da montanha não será jamais superado». «Cada um de nós lhe deve o que tem de melhor». «Jesus, conclui, mais que o reformador de uma religião caduca é o criador da religião eterna da humanidade»212. Com razão o poeta cético, Goethe chama a Cristo «o tipo transcendental de toda virtude criada»213, e Richter diz que «é o mais puro entre os poderosos e o mais poderoso entre os puros»214, sendo, segundo Carlyle, «o maior de todos os heróis criado pelo mais perfeito poema»215. «Se a vida e a morte de Sócrates exclamava Rousseau, são as de um sábio, a vida e a morte de Jesus são as de um Deus»216. A impiedade não sentiu impressões semelhantes diante de nenhum outro personagem histórico, prova categórica de sua divindade. Assim se explica que o gênero humano tenha visto em Jesus Cristo o ideal da ciência, da arte, da religião e da vida. Todos os povos, todas as idades e profissões o tomaram por modelo; os sábios e os ignorantes, os ricos e os pobres, o homem e a mulher copiaram em suas almas os encantamentos desse tipo de perfeição até o ponto de ser a imitação de Jesus a alavanca moral mais poderosa da progênie humana217. Jesus Cristo disse: «Eu vos dei o exemplo para que façais o que eu tenho feito»218. «Em tudo o que fez o Mestre, diz também Santo Agostinho, deu-nos exemplo para viver»219. 11. Os filósofos pagãos se lograram sobressair em alguns ramos do saber, não deixaram sulcos de santidade; tiveram mestres, porém, não modelo de virtude. O que quer alcançar uma virtude e realizar um progresso deve desde logo ter um ideal, a idéia da perfeição a que aspira, e os filósofos pagãos não a tiveram. Ensinaram, é verdade, pomposas sentenças de moral, e observa-se, às vezes neles aspirações elevadas até a perfeição, porém, logo desfalecem. Tudo se lhes foi em vãs declamações; não cuidaram da prática apesar de ser o exemplo o meio mais adequado para tornar eficazes suas ações. As virtudes do paganismo são puramente humanas, relativas, desconhecem o heroísmo moral dos santos da Igreja católica. Pretenderam propor-nos alguns dos seus heróis como tipos acabados de perfeição, e não falta quem pretenda compará-los com Jesus, porém, nada mais sacrílego e absurdo. A história nos diz que em questão de moralidade os filósofos ficaram no mesmo plano que a plebe. Seus grandes homens, Sócrates, Platão, Aristóteles, Antístenes, Catão, Sêneca, nada têm de semelhança com Jesus. Quando 89

as idéias do bem e do mal, do justo e do injusto não reinam na inteligência, é impossível que a vontade obre retamente e alcance os cimos da santidade. Já vimos o que conheciam aqueles filósofos da imortalidade da alma, da vida futura, da essência de Deus e do homem. Defenderam sobre esta matéria os mais crassos erros e extravagantes absurdos. «Já não temos, exclamava Cícero, a representação sólida e real do verdadeiro direito e da verdadeira justiça. Não temos conservado mais que uma sombra, uma débil imagem, e oxalá a seguíssemos!»220. Triste e sincera confissão que revela a decadência moral daqueles filósofos. Com efeito, não houve abominação que aqueles homens não defendessem! Platão recomenda na sua República o comunismo de mulheres e concubinato; Aristóteles louva como coisa lícita a fornicação e o infanticídio; Cícero, o amor animal, a vingança, o perjúrio; Sêneca, a embriaguez e o suicídio. O mesmo Catão, tipo do sábio antigo, foi um homem sujeito a todas as misérias da vida; avaro e luxurioso que, levado pela cobiça entrega a Hortênsio sua mulher

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Vie de Jésus, pg. 232, 283 e ségts. GAFFRE, La contrefaçon du Christ, pg. 174. 214 De Dieu dans l’histoire e dans la vie, vol. XXXIII, pg. 6. 215 GAFFRE, loc. cit. 216 Emile, liv. VI. 217 HETTINGER, Teologia fundamental, liv. II, pg. 377. 218 João, XIII, 15. 219 In Psalmis, LXXV, 2. 220 Offic. III, 17. 213

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