Catálogo (Re) Conhecendo a Amazônia Negra

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(Re)conhecendo a Amazônia is a militant project that has been included in a global political manifesto by non-white people of various origins and sexual orientations. It proposes a critical reflection of all the subjects set out by its participants - anthropologists, artists, historians, philosophers, educators, campaigners - who are not afraid to be producers of knowledge, culture and art. This political form of resistance is the result of physical experiences felt since the earliest and not always sweet childhood of everyone who has been stigmatized because of their origin, ethnicity/race, gender and religion and who has been identified as the Other – also commonly known as primitive, savage and exotic. The stereotypes and typifications attributed to black and indigenous peoples no longer fool anyone. Our skin shrugs them off. The photography of Marcela Bonfim affirms and celebrates how we are impermeable to these stereotypes, with the political presence of black corporealities and skins and their many shades. The photographic production of Marcela Bonfim broadens the concept and practice of visual anthropology. Her contribution to this area of knowledge is still immeasurable. Marcela Bonfim is a storyteller anthropologist. Beyond discovering that she is unafraid of being the Other, the Female Other, she celebrates each of these moments through hands that weave the arrival of the Divine or of the Guaporé boy, for whom walking on water would be no big deal as he runs and celebrates life with movement. She celebrates through photos that require black and white here and color there. This is a counter-narrative to the discourses that have presented histories desired by Brazil’s economic and political elites. Marcela Bonfim’s portraits should be included in books on the history of photography and on Brazilian geography, alongside (and in some cases replacing) drawings, illustrations and pictures by foreign travelers and by Brazilian photographers and artists. This could be a way to grant visibility to black peoples, customs and influences in the Brazilian Amazon.

(Re)conhecendo a Amazônia é um projeto militante inserido em uma espécie de manifesto político de amplitude global protagonizado por pessoas não brancas, das mais diversificadas origens e orientações sexuais e que apresenta ao mundo uma reflexão crítica acerca de todo e qualquer assunto sobre os quais desejam abordar. São antropólogxs, artistxs, historiadorxs, filósofxs, educadorxs, militantes. São aquelxs que não temem assumir o papel de produtorxs de conhecimento, cultura, arte. Trata-se de uma força política de resistência iniciada a partir da experiência física desde a mais tenra, terna e nem sempre delicada infância, de cada pessoa estigmatizada por sua origem, etnia/raça, gênero, religião e identificada como o Outro, vulgo primitivo, vulgo selvagem, vulgo exótico. Vivemos um tempo em que os estereótipos e tipificações atribuídas aos negros e indígenas não colam mais, não aderem mais à nossa pele. A fotografia de Marcela Bonfim afirma e celebra nossa impermeabilidade em relação a tais estereótipos com a presença política das corporeidades e das peles negras em seus vários matizes. A produção fotográfica de Marcela Bonfim amplia a concepção e a prática de antropologia visual. Sua colaboração para essa área do conhecimento é ainda imensurável. Marcela é uma antropóloga contadora de histórias. Muito além do encontro consigo mesma sem temer ser o Outro, a Outra, ela celebra cada um desses momentos, por meio das mãos que tecem a chegada do Divino ou do menino do Guaporé, para quem andar sobre as águas seria pouco, ele corre e festeja, com movimento, a vida. Ela celebra com fotos que ora se pedem Preto no Branco, ora se pedem cor.

Mônica Cardim

Por ser uma contranarrativa dos discursos que apresentaram histórias desejadas1 pelas elites econômicas e políticas do Brasil, os retratos feitos por Bonfim devem ser introduzidos nas páginas dos livros de História da Fotografia, e também nos livros de História e de Geografia do Brasil, ladeando e, em alguns casos, substituindo as gravuras, ilustrações e fotografias de viajantes estrangeiros, bem como de fotógrafos e artistas brasileiros, utilizadas para tornar visíveis povos, costumes e influências negras do Brasil Amazônico.

Photographer and educator, with a Master’s Degree in Art from PGEHA/USP. She has been working with the representation of black people in Brazil and her research has focused on identity, ancestrality, memory and emotional ties, as well as on the relationship between visual representation and power.

Mônica Cardim Fotógrafa, educadora e mestre em artes pela PGEHA/USP com produção sobre a representação de pessoas negras no Brasil. Identidade, ancestralidade, memória e afetos constituem a essência de sua pesquisa, bem como a relação existente entre representação visual e poder.

1 Revista O Cruzeiro: COSTA, Helouise. Palco da história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon. In www.scribd.com


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