Educação na cidade e no campo: A identidade do pedagogo. Para que e em que estamos sendo formados?

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Anais do 10º ENNOEPe

resultantes do trabalho humano em suas diferentes esferas (artísticas, matemáticas, físicas, etc.) que lhe permita o exercício da docência no interior escolar quando já formado, quanto conhecimentos que o encaminhe para a participação política na sociedade, transcendendo o exercício tão somente de sala de aula, do contrário o papel da educação na construção da revolução societária tenderá a esvaziar-se, na medida em que não se prepara o professor para as contradições políticas que ultrapassam o espaço escolar. Nessa perspectiva, a formação do pedagogo necessita também compreender processos formativos realizados para além do universo escolar formal, percebendo-se nos movimentos sociais espaços de produção-formação de saberes, de formas de contestação da realidade. Nesse sentido, no interior da Amazônia, isso implica o reconhecimento de que entre o urbano e o rural há esferas diferenciadas de modos de vida que pressupõem uma reflexão também diferenciada no campo educativo, não que isso signifique separação-negação de saberes escolares já institucionalizados, mas a mediação desses conhecimentos com os produzidos historicamente por esses sujeitos ao longo de existência. A redução da educação à escola enquanto lócus legítimo do único saber legítimo não pode interessar às classes trabalhadoras, pois esse reducionismo faz parte de um processo social mais amplo e negação do saber, da educação e da cultura, produzidos enquanto práxis das classes sociais ou enquanto fazer humano das classes em luta (ARROYO,2002, p. 82).

Tais considerações apontam então para a necessidade de a formação do pedagogo voltar-se para uma discussão curricular e política que perpassa pelo envolvimento com populações tradicionais em que se percebam os sujeitos com os quais o educador-pedagogo formado irá se deparar no cotidiano de sua prática profissional, valorizando-se seus saberes, sua formação. Trata-se, então, de se conceber a formação do pedagogo na perspectiva de os mesmo se constituírem um intelectual orgânico de outro projeto societário, conforme Semeraro: O “novo intelectual” (que não é apenas um indivíduo, mas é também constituído por diversos sujeitos políticos organizados), enquanto analisa criticamente e trabalha para “desorganizar” os projetos dominantes, se dedica a promover uma “nova inteligência social”, capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a sociedade na óptica da classe subjugada à qual pertence. (SEMERARO, 2006, p. 19)

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