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O Final do Século

Tratou-se de uma experiência difícil: a de combinar os sistemas industriais dos países capitalistas com objetivos igualitários socialistas. Aparentemente – e esse foi um dos erros da análise intelectual –, o malogro do socialismo real reabilitava o liberalismo do fim do século XIX, que dominava os países centrais (Inglaterra, França, Estados Unidos e Alemanha). Essa foi a leitura equivocada que alguns economistas e políticos fizeram no Brasil, naquele ano.

O homem, segundo Ortega y Gasset, não tem natureza. O que ele tem é história. Sua

As forças econômicas, conduzidas por essa visão apressada e internacionalista,

natureza peculiar, a de ser homem, é uma construção da experiência, ou seja, da História.

organizaram-se a fim de construir uma candidatura capaz de “integrar” o país na nova

E a História é um trabalho da inteligência. Ao contrário de esgotar-se no tempo, de cerrar-se

ordem mundial. O candidato escolhido passou a ser trabalhado pelos profissionais da

em ciclos selados e completos, ela cresce a cada dia mediante novas descobertas.

propaganda. Homem jovem, rico, das oligarquias tradicionais, governador de pequeno

É um veio inesgotável, em que sempre descobrimos novas ocorrências. História é,

estado, mas tradicional na política brasileira, Fernando Collor foi construído como um

como determina o léxico grego, investigação. Por isso, os bons historiadores preferem examinar tempos mais antigos, sobre os quais houve juízos contraditórios, e dos quais há suficiente documentação. A história contemporânea – e atualíssima – como a dos últimos vinte anos, é apenas jornalismo. Não houve tempo para meditá-la, compará-la com os fatos passados, pesá-la diante dos séculos. Mas, ainda assim, sugere algumas reflexões. O século XX foi, de acordo com certos pensadores, curto demais. Para outros, a partir de uma visão eurocêntrica, longo demais. Os primeiros o iniciam em 1914 ou, antes, em 1907, com a Conferência de Haia. Há os que lhe dão início na Guerra Franco-Prussiana, de 1870, e na Comuna de Paris, de 1871. O fato é que a História, construção humana, se assemelha a um veículo, cuja velocidade se acelera com o movimento. Sendo construção humana, a História é também produto da tecnologia. O aperfeiçoamento de invenções do início do século XX, como a das comunicações eletrônicas, com a vulgarização do fax (radiofoto), dos telefones celulares (miniaturização dos transmissores-receptores de rádio), e, sobretudo, com a rede mundial de computadores, promoveu uma revolução técnica ainda não bem-assimilada pela humanidade. Mas a História é também política. Quando surge uma tecnologia nova na comunicação entre os homens, quase sempre há consequente revolução política. O problema desse início de século XXI é que a revolução tecnológica não foi ainda moderada pelas mudanças políticas. Talvez seja ilusão supor que a queda do Muro de Berlim e a globalização da economia correspondam a essa nova configuração. Houve apenas a frustração de um sistema de produção industrial sob o domínio direto do Estado.

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