Um Antropologo em Marte

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eixos, um triângulo de cores, que mostrava como qualquer cor pode ser criada por diferentes misturas das três cores primárias. Essas demonstrações apenas preparavam o caminho para a mais espetacular delas, em 1861: de que a fotografia em cores era possível, a despeito do fato de as emulsões fotográficas serem em preto-e-branco. Chegou a isso fotografando três vezes um aro colorido, com filtros vermelhos, verde e violeta. Tendo obtido três imagens de ―cores separadas‖, como as chamava, juntou-as em seguida, superpondo uma sobre a outra numa tela e projetando cada imagem com o filtro correspondente (a imagem tirada com filtro vermelho era projetada com luz vermelha e assim por diante). De repente, o aro eclodiu em todas as suas cores. Maxwell se perguntou se era assim que as cores eram percebidas pelo cérebro, pela adição de imagens de cor separada ou seus correlatos neuroniais, como nas demonstrações de sua lanterna mágica. (nota 15: A demonstração de Maxwell da ―decomposição‖ e ―reconstituição‖ da cor dessa forma tornou possível a fotografia em cores. ―Câmeras coloridas‖ enormes foram usadas de início, separando a luz incidente em três fachos para passá-los por filtros das três cores primárias (essa câmera, invertida, serviu como um cromoscópio, ou projetor maxwelliano). Apesar de um processo integral de cor ter sido imaginado por Ducos du Hauron na década de 1860, foi apenas em 1907 que esse processo (Autocromo) chegou a ser realmente desenvolvido, pelos irmãos Lumière. Usaram pequeninos grãos de amido tingidos de vermelho, verde e violeta, em contato com a emulsão fotogrâfica -- estes agiam como uma espécie de grade maxwelliana, através da qual as três imagens de cores separadas entravam em mosaico, podendo tanto ser tiradas quanto vistas (câmeras coloridas, Lumièrecolor, Dufaycolor, Finlaycolor e muitos outros processos de cor aditivos continuavam a ser usados nos anos 40, quando eu era criança, e estimularam o meu próprio interesse inicial pela natureza das cores). O próprio Maxwell estava argutamente ciente dos reveses desse processo aditivo: a fotografia em cores não tinha como ―descontar a fonte de luz‖ e suas cores se modificavam desamparadamente com os comprimentos cambiantes de ondas de luz. Em 1957, mais de noventa anos depois da célebre demonstração de Maxwell, Edwin Land -- não apenas o inventor da câmera instantânea Land e da Polaroid, mas um brilhante experimentador e teórico -- forneceu uma demonstração fotográfica ainda mais surpreendente da percepção da cor. Ao contrário de Maxwell, fez apenas duas imagens em preto-e-branco (usando uma câmera de foco dividido, de forma que pudessem ser tiradas ao mesmo tempo, do mesmo ponto de vista, pela mesma lente) e as sobrepôs numa tela com um projetor de lente dupla. Usou dois filtros para fazer as imagens: um deixando passar comprimentos de onda mais longos (um filtro vermelho), outro deixando passar comprimentos mais curtos (um filtro verde). A primeira imagem foi então projetada com filtro vermelho e a segunda com luz branca comum, sem filtros. Esperava-se que isso produzisse uma imagem num tom geral rosa desbotado, mas em vez disso algo ―impossível‖ aconteceu. A fotografia de uma moça surgiu instantaneamente em todas as sua cores -―cabelos louros, olhos azul-claros, casaco vermelho, gola azul esverdeado e impressionantes tons naturais de pele‖, como Land descreveria mais tarde. De onde vinham essas cores, como foram obtidas? Elas não pareciam estar ―nas‖ fotografias ou nas fontes de luz. Essas experiências, avassaladoras em sua simplicidade e impacto, eram ―ilusões‖ de cor no sentido de Goethe, mas ilusões que demonstravam uma verdade neurológica --


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