Resistência (Luneta 1ª ed.)

Page 1

RESISTÊNCIA 1


por carla caroline laisa gomes thaís batista julho de 2016 projeto final da disciplina de fotojornalismo sob orientação de dante gastaldoni

2


editorial As ocupações das escolas estaduais do Rio de Janeiro foram um fenômeno que ocorreu devido a precariedade do ensino público na região. Dentro desse contexto, os alunos saíram da posição de assujeitados e tornaram-se sujeitos de suas próprias ações, o que abriu espaço para um exercício de cidadania jamais antes praticado por cada um daqueles que enfrentaram a luta por uma educação pública de qualidade como sua. O movimento aconteceu entre março e junho de 2016 e, neste período, 81 escolas foram ocupadas, em diferentes regiões do Rio. Para esta produção, foram visitadas nove escolas. Algumas situações eram comuns à maioria delas: os alunos dormiam no ambiente escolar, cuidavam da escola ficando responsáveis pela a limpeza e a segurança do local e afirmaram ter aprendido mais durante o período de ocupação do que em sala de aula. Algumas escolas viveram o medo dos ataques do Desocupa, grupo que se articulou contra o movimento e agia de forma violenta, invadindo as escolas ocupadas. A luta dos estudantes gerou algumas conquistas, como: o fim do SAERJ; as eleições diretas para diretor (a) e nenhuma disciplina com menos de dois tempos. Resistência é o nome dado à este ensaio fotojornalístico que foi produzido por três alunas de Jornalismo e tem como foco mostrar as particularidades de cada uma das ocupações das escolas visitadas, as conquistas pessoais e concretas de cada um dos estudantes, além de denunciar o sucateamento das instituições públicas de ensino. Gostaríamos de agradecer a todos os alunos das escolas presentes neste projeto por toda a dedicação e receptividade em nos receber nos seus espaços de aprendizagem que se tornaram seus lares ao longo desse processo de luta. Toda nossa dedicação nesta revista foi graças ao encantamento que vocês nos causaram e por dar a nós, ex-alunas de escolas públicas, a certeza que um ensino público de qualidade não é uma utopia, mas sim uma realidade que será conquistada por essa nova geração de guerreiros.

3


4


Sumário COLÉGIO ESTADUAL AMARO CAVALCANTI LARGO DO MACHADO - RJ

6

COLÉGIO ESTADUAL PREFEITO MENDES DE MORAES FREGUESIA - ILHA DO GOVERNADOR - RJ

9

COLÉGIO ESTADUAL HEITOR LIRA PENHA - RJ

12

COLÉGIO ESTADUAL ANDRÉ MAUROIS LEBLON - RJ

15

COLÉGIO ESTADUAL VISCONDE DE CAIRU MÉIER - RJ

18

COLÉGIO ESTADUAL CHICO ANYSIO ANDARAÍ - RJ

21

COLÉGIO ESTADUAL BANGU BANGU - RJ

24

COLÉGIO ESTADUAL SOUZA AGUIAR CENTRO - RJ

27

FAETEC MARECHAL HERMES - RJ

30

5


Victor Hugo e Kleyton Colégio estadual amaro cavalcanti largo do machado - RJ

A arquitetura imperial da fachada da Amaro esconde o que há por dentro: uma série de problemas que mostra a ineficácia do ensino público. Salas sem ventilação, infraestrutura sem reparos, falta de materiais para os professores e de livros para os alunos foram alguns dos casos específicos da escola que levaram à sua ocupação no dia 14/04/2016, segundo os alunos Vitor Hugo e Kleyton Hudson. Ao entrar na Amaro, encontra-se uma ocupação articulada e cheia de revelações. Durante essa experiência, os alunos descobriram espaços até então desconhecido por eles, como o caso da biblioteca. O encanto também aconteceu ao explorá-la: Vitor Hugo conta que encontrou um livro sobre sexualidade neste espaço, tema que ele nunca imaginava que poderia ter acesso na Amaro, já que esse importante assunto na educação não é discutido em sala. Somente através da ocupação os alunos estão tendo proximidade com essa temática através de aulas ministradas por voluntários. Além disso, impressoras, canetas pilot, projetores e folhas de papel foram encontrados na ocupação. Em quesito de insalubridade, o CEAC surpreende. Um dos exemplos é a quantidade de carnes estragadas que eles encontraram durante o mutirão de limpeza da cozinha. Os alimentos já estavam há dois anos vencidos e eram servidos normalmente nas refeições. Com o apoio da sociedade, a escola ganhou novos ares. Os alunos conseguiram pintar os banheiros; oficinas foram realizadas com temas que abraçam a realidade de cada um; aulas para o ENEM foram ministradas; as doações reformularam a dispensa do colégio e atividades culturais invadiram a Amaro. A coragem no olhar de cada aluno é fruto de uma luta histórica, a qual a união foi o diferencial. A ocupação um dia chegará ao fim, mas os ganhos pessoais serão eternizados na vida desses guerreiros.

6

Carla Lopes


Carla Lopes Carla Lopes

7


Na foto ao lado, um dos estudantes da Amaro cuida da limpeza da escola. Abaixo, no canto esquerdo, Kleyton recebe visitantes com interesse em conhecer a escola. Nesta triagem, era solicitado um documento de identificação. No canto direito, uma das alunas desenha novos cartazes para serem expostos no colégio.

Thaís Batista

Carla Lopes

8

Carla Lopes


Djalma

Colégio estadual prefeito mendes de moraes freguesia/ilha do governador - RJ O Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes foi o primeiro ocupado no Rio de Janeiro. Situada na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro, a escola foi a precursora desse movimento de luta no estado. E, como toda pioneira, foi a que mais sofreu represálias por parte do Estado, da Polícia Militar e do movimento Desocupa. No dia 21/03/2016, em ato de protesto, os alunos posicionaram cinco cadeiras em um dos corredores da escola e resolveram não se submeterem mais ao sistema de ensino sucateado que a eles era direcionado. Como ato de negação, decidiram não entrar em sala de aula até que esse modelo de ensino fosse revisto e alterado, o que deu início a uma nova forma de protesto entre os secundaristas: a ocupação. Dentro desse contexto, muitos alunos perceberam o potencial que tinham enquanto estudantes ativistas, o que os levou a se tornarem protagonistas da luta por uma educação digna e com menos deficiências. Havia uma responsabilidade maior sob a escola Mendes de Moraes, uma vez que era a referência para as outras que, aos poucos, também estavam sendo ocupadas, chegando ao número de 81 escolas só no estado do Rio. Era possível perceber que os ataques vinham de todos os lados: Polícia Militar, tropa de choque, movimento Desocupa e dos membros da SEEDUC. Não era raro ter postagens com pedidos de ajuda através da página que os alunos criaram no Facebook. Os ataques foram truculentos e, por vezes, muitos alunos saíam machucados e desacordados dos conflitos que aconteciam no interior da escola. O aluno Djalma, que cursava o 3º ano quando a ocupação foi deflagrada afirmou: “Eu estou aprendendo mais nas ocupações do que em aula.” Ele pontuou que só com as ocupações os debates sobre identidade racial foram inseridos no meio escolar e isso, foi algo muito valioso para ele se redescobrir como negro. DJ afirmava com convicção que os frutos positivos que conquistariam com a ocupação iam não só beneficiar a ele e aos seus amigos, mas também as próximas gerações que irão estudar no Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes. Laisa Gomes

9


Carla Lopes

10


Thaís Batista À esquerda, o estudante Djlama. Acima, as cadeiras dispostas no corredor, como aconteceu no dia em que a escola foi ocupada. Abaixo, reunião do Desocupa. Carla Lopes

11


Natália e Verônica Colégio estadual heitor lira penha - RJ

Por trás dos muros de uma escola, existem sonhos. Dentro do Colégio Estadual Heitor Lira, isso não é diferente. No local, os alunos são preparados para o mesmo objetivo: a formação de professor. Contudo, as aulas se tornam cada vez mais práticas a partir do momento em que eles conhecem de perto o descaso do ensino público, questão com a qual irão se deparar ao longo de suas carreiras. Para mudar esse cenário, a escola foi ocupada no dia 04/04/2016 em resposta à negligência do governo com a educação. Uma das questões que mais incomodam os estudantes deste colégio é o fato dele ser público, mas não gratuito. Os alunos precisam pagar por apostilas para poder estudar, uma vez que não se é utilizado os livros didáticos pelos professores. As reproduções das provas também são cobradas para cada um dos normalistas, e, além disso, o uniforme não é fornecido pela escola. Sendo assim, os responsáveis precisam comprar o uniforme completo dos seus filhos para que eles tenham o direito de entrar na escola. A condição precária nas instalações do colégio não era o único inimigo dos alunos da ocupação. A preocupação vinha de dentro, com o desocupa. O líder do movimento - que utilizava de meios agressivos para acabar com as ocupações - é estudante da Heitor Lira. Só no HL aconteceram quatro tentativas de desocupação por parte deste grupo de forma brutal. A ocupação gerou um ambiente de coletividade e de conscientização dos estudantes. Durante este período, toda a comunidade escolar teve a oportunidade de participar de aulões, oficinas e mutirões. Espaços antes desconhecidos pelos alunos foram desvendados, como o caso de uma sala de cinema dentro do HL. Estas experiências únicas na vida de cada aluno não teriam acontecido se eles não tivessem sido protagonistas de suas próprias histórias. Carla Lopes

12


Thaís Batista

13 Thaís Batista


Thaís Batista

Thaís Batista Thaís Batista

14

Palavras de ordem deixadas pelos alunos em cartazes era frequente nas escolas, conforme foto acima. Logo abaixo está o quadro de preços dos uniformes. Por último, mateirias esportivos encontrados pelos alunos.


Eduardo e Gerson Colégio estadual andré maurois leblon - RJ

Os olhos de Gerson e de Eduardo ameaçavam lacrimejar ao se darem conta de que fizeram parte do meio pelo qual se dará uma transformação na educação pública na cidade. Ver sua luta e de seus companheiros resultar em mudança de comportamento de alunos das escolas particulares da vizinhança do Maurois, no Leblon, foi de longe o episódio mais impactante para os ocupantes deste colégio. “Essa está sendo uma troca imensa e muito prazerosa”, contou Gerson. Antes da ocupação, as realidades de um estudante do CEAM e de um aluno da Escola Parque pareciam um abismo. Depois, notou-se que entre eles há muito mais semelhanças do que diferenças. Hoje, estes dois grupos aproximaram-se. “Se nossa mudança de hábito é o legado que nós vamos deixar, isso já me deixa muito feliz”, disse Eduardo. Os meninos contaram que um dos momentos mais emblemáticos da ocupação aconteceu numa manifestação de professores. O ato acontecia próximo à escola e nele, uma aluna da Escola Parque demonstrou grande empatia e força ao se posicionar a favor da luta pela educação, ao ponto de afirmar para um dos políticos presentes: “Eu não queria estudar em uma escola particular. Só faço isso porque vocês não cuidam da escolas públicas da forma certa.” Durante a ocupação, os alunos ocupantes da André Maurois driblaram os problemas que eventualmente poderia surgir. Colaborações de professores e moradores dos entornos da escola foram frequentes, não deixando faltar a alimentação. Além disto, atividades culturais fomentaram os dias de ocupação. Shows de artistas consagrados como Marisa Monte, Leoni e Evandro Mesquita aconteceram no André Maurois em apoio à luta pela educação. Durante quase dois meses, os alunos ocupantes da André Maurois brincam, contando que passaram a ter um novo endereço, a Avenida Visconde de Albuquereque, pois a escola se tornou um lar. Thaís Batista

15


Thaís Batista Thaís Batista

16

Thaís Batista

A primeira foto é dos estudantes Eduardo e Gerson, respectivamente. Ao l Abaixo, um dos ex-alunos da Maurois. No centro da página, a cozinha organi


Thaís Batista Thaís Batista

lado, um mural de recados que visitantes deixavam, com frases de motivação. izada pelos alunos. No canto direito, regras são dispostas na porta do dormitório.

17


Júlia

Colégio estadual visconde de cairu méier - RJ Um colégio em estado progressivo de degradação. É assim que os alunos do Visconde de Cairu caracterizaram o momento em que a escola se encontra em uma Carta de Denúncia, veiculada na página do Facebook “Ocupa Cairu”, no dia 21 de junho. O Cairu esteve ocupado desde o dia 04/04/2016. Além das alarmantes precariedades na infraestrutura da escola, a falta de segurança assusta os estudantes. O local que está sem porteiro precisava do auxílio da servente para realizar esta função no período letivo. Com a ocupação, os alunos passaram a tomar conta das duas entradas principais que o colégio possui, além das “entradas secretas”. Uma delas, por exemplo, é feita pelo teatro - espaço por onde o “Desocupa” tentou invadir a escola. A proposta dos estudantes da ocupação é tirar o aspecto de prisão do ambiente escolar. Com isso, eles começaram um projeto de revitalização. Uma das medidas adotadas foi levar cor para a Cairu através do gravite e escolheram as cores vermelho e azul para representar a identidade do local. Um mapeamento também foi realizado para identificar as demandas emergenciais na estrutura da escola. Com salas de aulas sem climatização e com superlotação, os alunos se deparam com a falta de condições mínimas para o estudo. Para Júlia, de 16 anos, aluna do 1º ano da tarde, antes da ocupação não havia alunos, mas sim máquinas. A ocupação foi a última saída encontrada por eles para mudar essa situação de descaso. Apesar das dificuldades, os ganhos são imensuráveis. Nela, os alunos aprenderam a valorizar os funcionários e a cuidar da escola como se fosse sua própria casa. “Essa casa é que vai me preparar para a vida” - afirma Júlia. Além disso, a formação pessoal de cada estudante neste momento foi enriquecedor. Como enaltece a aluna “Todo mundo deveria passar por uma ocupação”.

18

Carla Lopes


19 ThaĂ­s Batista


Thaís Batista As janelas acima denunciam o estado de degradação em que a escola se encontra. Abaixo, à esquerda, a quadra revitalizada a partir dos grafites feitos pelos alunos durante a ocupação. Ao lado, as cadeiras que serviram de barreira caso houvesse invasão do Desocupa Thaís Batista Thaís Batista

20


Izadora

Colégio estadual chico anysio andaraí - RJ O Colégio Estadual Chico Anysio é uma escola modelo que fica situada no Andaraí, zona norte do Rio de Janeiro. Inaugurada em 2008, com o slogan: “Educação para o século XXI”, a proposta dessa instituição é da apropriação do conhecimento por parte dos alunos através da aplicação de exercícios de auto gestão (projeto que trabalha competências sócio emocionais) e de protagonismo individual (projeto vida). Mas, e quando a educação pública do Rio de Janeiro passa por uma grave crise e os alunos resolvem se tornarem, de fato, protagonistas na luta por seus direitos? E quando os alunos decidem abraçar as causas das escolas que não são de referência e que sofrem brutalmente com o sucateamento do ensino público? Qual é a atitude daqueles que aplicam esse sistema inovador dentro de sala de aula? Izadora Farias, estudante do segundo ano e ativista na luta dos secundaristas, reconhece que a ocupação a fez crescer muito como pessoa. Ela relata que para construir uma frente e reivindicar por seus direitos, os alunos sofreram variadas formas de retaliações de diretores, membros da SEEDUC e de boa parte dos professores, mas permaneceram na luta. Com base no que a aluna diz, as atitude autoritárias eram usadas como fonte de força para que ela e seus amigos pudessem permanecer convictos de que as suas causas eram verdadeiramente dignas de muita persistência e suor. A estrutura da escola é visivelmente boa e, por ser uma escola modelo, foge dos padrões das escolas públicas cariocas, uma vez que há mais acessibilidade para alunos deficientes, além de investimento em tecnologia da informação em larga escala. Porém, durante a ocupação, os alunos descobriram materiais didáticos antes nunca usados, salas de leitura jamais frequentadas e materiais esportivos intactos em suas caixas. A ocupação no CECA durou dois meses e, depois dos alunos passarem por esse processo áduo de luta, algumas pautas foram atendidas, como as eleições diretas para diretor e o fim da coleira eletrônica. Laisa Gomess

21


22 Laisa Gomes


Laisa Gomes

Laisa Gomes

Na página ao lado, Izadora. Nesta página: uma aluna cuida da cozinha, caixas,de tênis que custam em média 200 reais e nunca foram distribuídos aos alunos. Abaixo, as alunas e, abaixo, um dos Laisa Gomes cartazes. Laisa Gomes

23


Jonathan

Colégio estadual bangu bangu - RJ Quem ouve a história de vida de Jonathan se emociona. Ele, carinhosamente apelidado de “diva” pelos colegas, demonstra toda a força que carrega tanto na ocupação como na vida pessoal. Sua paixão é dançar stileto. Contudo, Jonathan estava aflito pois descobriu uma suspeita de tumor na perna durante o período da ocupação. Receber o carinho e o apoio dos demais ocupantes foi emocionante para ele. Ele lidera a ocupação na sua escola, onde seu prazer é cozinhar. Um dos episódios mais degradantes da escola foi presenciado por ele: foi encontrado um rato no bebedouro da escola, episódio que virou denúncia na página “Ocupa Bangu”, no Facebook. Muitos são os problemas da escola de Jonathan. No banheiro, não há baias que separem os chuveiros. Zero privacidade. A recente obra feita para reformar o auditório já está aos pedaços, já que foi feita sem cuidado. Há laboratórios equipados para a ministração de aulas práticas para os cursos técnicos oferecidos pela escola. Nunca foram abertos. Materiais de educação física guardados e nunca utilizados. “Isso aqui é um direito nosso que estava trancado em uma sala”, desabafa Jonathan. O sucateamento não para por aí. Há também a falta de segurança e policiamento, o que seria necessário já que a escola localiza-se numa área de risco e guarda marcas de tiros na quadra. Uma sala para 30 alunos abriga 60. A secretaria abre apenas por dois dias na semana. Os próprios alunos, durante a ocupação, organizaram a biblioteca. As salas de aula são precárias. O diretor da escola é o mesmo há, no mínimo, 13 anos. Não faltaram razões para os alunos decidirem ocupar a escola e lutar por condições dignas de educação. Em resposta a algumas determinações externas sobre o fim das ocupações, Jonathan declarou com firmeza: “A ocupação vai até quando os alunos quiserem. O colégio é nosso. Estamos ocupando um espaço público”.

24

Thaís Batista


25 ThaĂ­s Batista


O bebedouro onde o rato foi encontrado.

Thaís Batista Thaís Batista

O dormitório do estudante Malik, com aparência de lar.

Thaís Batista

Os materiais de educação física encontrados pelos ocupantes..

26


Isabel

Colégio estadual souza aguiar centro - RJ Ela liderou o movimento de ocupação na sua escola e contou que um das maiores lições que recebeu durante esse tempo foi o aprendizado sobre cidadania: “Pela primeira vez na história do Rio de Janeiro a gente está aprendendo a ser cidadão dentro da escola”, disse Isabel. A aluna acredita que os alunos passarão a valorizar mais os funcionários, já que cumpriram na ocupação funções que costumavam ser deles. A autonomia também é um ganho. O Souza Aguiar não possuía refeitório e, durante este período, os alunos montaram um. Isabel falou sobre sua preferência pelas mídias alternativas na cobertura das ocupações. Lá os desafios são diários: a convivência, o medo de ameaças do Movimento Desocupa, e a falta de segurança - afinal, a escola é localizada próximo à Lapa. O maior fator que contribuiu para a ocupação acontecer foi uma obra superfaturada para uma nova quadra. Atualmente, os alunos têm aulas de educação física somente teóricas, em salas de aula. Esta é uma das reivindicações no Souza Aguiar. Os alunos encontraram pilhas de livros separados por matérias que não foram distribuídos aos alunos, provocando grande indignação. Lanches nunca entregues também foram achados. Isabel contou o que pensa sobre o que acontecerá depois das ocupações. “A visão da escola pública realmente vai mudar. A gente vai cuidar da nossa escola”. Antes, na escola não havia um grêmio. Com as ocupações, o objetivo é deixar um grêmio como legado para que os novos alunos possam entender a razão de lutar pela educação pública. Ela acredita que após as ocupações, haverá novos militantes. Por fim, a estudante do terceiro ano reflete: “Acredito que as ocupações foram fruto das manifestações de 2013, que foi como uma árvore rendendo frutos para todos os lados. Estou esperançosa”. Thaís Batista

27


28 ThaĂ­s Batista


Thaís Batista

Na página ao lado, Isabel. Já nesta página, acima, os tapumes colocados pelos responsáveis pela escola para esconder as obras da nova quadra. Abaixo, no canto esquerdo, o refeitório improvisado pelos estudantes. No canto direito, eles passam o tempo na cozinha da escola, que não possui fogão.

Thaís Batista

Laisa Gomes

29


Natan

faetec Escola ténica estadual oscar tenório escola ténica estadual visconde de mauá marechal hermes - RJ A FAETEC, Fundação de Apoio à Escola Técnica é uma instituição que está diretamente vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. O campus situado em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio de Janeiro, conta com duas unidades: ETE Visconde de Mauá e ETE Oscar Tenório. Ao longo do processo das ocupações da escolas estaduais, os alunos organizaram suas pautas e demonstraram diversos motivos de insatisfação, ainda que a escola tenha uma boa imagem para quem não convive diariamente com suas precariedades.. O aluno Natan, que está cursando o segundo ano do curso técnico em administração, afirma que muitos acreditam em uma FAETEC com ensino de qualidade, mas essa ideia que passam da escola “é para inglês ver”. As pautas dos alunos perpassam pela exigência do reforço na segurança do campus- o maior entre as unidades da FAETEC. . A ocupação da FAETEC tinha muitas particularidades, mas o acolhimento entre os alunos foi algo que eles construíram ao longo desse processo e transparecia uma verdade sem igual. Os alunos formaram uma família, a qual deram o nome de “Ohana”, lutaram por uma maior integração não só entre as duas unidades do campus de Marechal Hermes, mas como também na rede de escolas técnicas do RJ. E, quando lhes era perguntado quanto aos frutos que eles iriam colher das ocupações, eles afirmavam que para além das causas mais objetivas da luta, como uma educação pública e de qualidade, eles tinham construído fortes vínculos de amizade entre si e isso também pode ser considerado um ganho muito grande. As duas unidades do Campus de Marechal Hermes permaneciam ocupadas até o dia em que foi assinada essa matéria (03/07).

30

Laisa Gomes


ThaĂ­s Batista

31


Thaís Batista

Acima, uma assembleia entre professores, funcionários e estudantes para debater sobre a ocupação. Abaixo, o registro de uma obra recente já aos pedaços.

haís Batista

32


sobre a luneta A experiência vivida durante a elaboração deste projeto fotojornalístico resultou na criação da Revista Luneta, sob a organização das autoras deste ensaio. A proposta desta revista é abordar questões sociais, desenvolvendo reportagens e fotografias. Diferente desta edição, as próximas edições serão reproduzidas apenas em formato digital e a cada número será abordada uma temática diferente, sempre de relevância social. Nossa filosofia é produzir um jornalismo aproximativo, humanizado, preocupado com o que acontece na cidade do Rio de Janeiro e em seu entorno, tendo como principal valor em nosso trabalho uma comunicação democrática, acessível, representativa e que respeite os direitos humanos. Deste desejo de aproximação de realidades distantes, mas que estão ao alcance de todos, surge o nome luneta.

33


Carla Lopes

34


35


ResistĂŞncia 2016 36


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.