AQUI É SEMPRE OUTRO LUGAR | Programa projeto

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AQUI

É

SEMPRE OUTRO Ana Gil & Nuno Leão OFICINAS DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA

2016-2017 | CASTELO BRANCO | PORTUGAL

LUGAR


AQUI É SEMPRE OUTRO LUGAR UM ESPETÁCULO DE Ana Gil & Nuno Leão INTERPRETAÇÃO E COCRIAÇÃO Ana João Cavalheiro Francisco Martins Joana Cotrim João Baltazar Maria Rita Tristan FOTOGRAFIA E VÍDEO | Tiago Moura DESIGN GRÁFICO | Rita Pestana PRODUÇÃO | Terceira Pessoa - Associação ESTREIA | 13 Julho 2017 | Cine-Teatro Avenida Castelo Branco

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PROCESSO

PROPOSTA Para o biénio 2016-2017, a Terceira Pessoa lançou inscrições para que a comunidade de Castelo Branco pudesse participar em oficinas de criação artística. De carácter pluridisciplinar,  as  oficinas pretenderam ser espaços de experimentação teórico-prática de exercícios de criação  artística.  Pretendeu-se  assim envolver os participan‑ tes em exercícios de experimentação artística com recurso  a várias disciplinas como o teatro, fotografia, vídeo, instalação e performance,  de modo a que cada um pudesse ir descobrindo e construindo a sua linguagem, projetos e interesses artísticos. Destas oficinas nasceram várias  propostas artísticas a apresentar na zona de Castelo Branco, de acordo com as decisões, descobertas e sensibilidade dos participantes.

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PROCESSO

CONCEITOS | PROC O MEU DESAFIO PODE SER TAMBÉM O TEU DESAFIO O espaço de oficina foi, desde o primeiro momento, entendido enquanto lugar de criação de um coletivo, construído e alimentado pelos indivíduos que o constituíram. Partilharam‑se desafios, inicialmente lançados por cada elemento do grupo, que depois se tornaram comuns. Experimentou-se o seguinte ponto de partida: a inquietação, desejo, motivação de “um” pode ser o motor para desencadear novas experimentações no(s) “outro(s)”. Assim, em cada semana, cada elemento do grupo lançou um desafio aos restantes. Os desafios deviam partir, em primeiro lugar, de uma forte motivação do proponente e, em segundo lugar, ser claros para aqueles que os recebiam. Cada um foi livre de responder a esses desafios da forma que pretendeu, sempre numa atitude desafiante e nunca de desistência. À medida que se foram produzindo e partilhando materiais com o coletivo, foi-se refletindo sobre a própria prática de criação artística (os seus motivos, motivações, métodos, ferramentas, objetos...).

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UMA IDEIA DE COLETIVO

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ESSOS | DESAFIOS Os “projetos” emergiram assim da multi‑ plicidade de referências e sensibilidades que foram habitando o coletivo. O coletivo foi sempre entendido como algo dinâmico, porque partilhado e (re)definido pelos seus elementos. Existiu sempre a procura de uma ideia de pesquisa e processo colaborativo. Tudo isto se constituiu como um processo metabólico até ao momento em que as propostas artísticas se tornaram numa autoria coletiva e partilhada. COMPOSIÇÃO/APRESENTAÇÃO Depois de uma intensiva partilha e prática de experimentação do método que resultou na produção de vários materiais, evoluiu-se para a fase de composição. Nesta fase, os membros do coletivo criaram os seus projetos de apresentação pública. Esta foi a fase do desenho, da criação das obras, onde surgiram questões como: qual o formato a criar para a apresentação? que conceitos experimento e abordo no meu trabalho? que contexto pretendo criar? que relação com o(s) espetador(es)?

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PROCESSO

DESAFIOS #01 AUTORRETRATO De que forma podemos, através do nosso quotidiano, criar um objeto artístico? Gostávamos de te desafiar a criar um autorretrato através de uma coleção de t-shirt’s desenhada por ti. Podes fazer a “coleção” da forma que quiseres, utilizando os materiais e suportes que desejares. Podes usar fotografia, desenho, colagem, frases, vídeo, instalação, performance.

Instalação Ana João Cavalheiro

Fotografia Maria Rita Tristan

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Instalação António Carvalhinho


#02 BELEZA

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DESAFIOS O que é a beleza? Será a beleza um conceito, uma sensação, um estado que pertence apenas à arte ou podemos encontrá-la e vivenciá-la fora do universo artístico? De que forma conseguimos Carl, o cacto da Joana Joana Cotrim

falar ao outro sobre a beleza ou dizer ao outro o que é a beleza para nós? Desafiamos-te a escolher um objeto (material ou imate‑ rial) que para ti seja belo e a partilhá-lo com os outros, contando através dele o que é para ti a beleza.

O Baloiço, Jean Honoré Fragonard - 1767 Ana João Cavalheiro

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PROCESSO

DESAFIOS #03 CICATRIZ OU MARCA Fotografa uma cicatriz, um sinal ou uma marca do teu corpo. Escreve depois um pequeno texto sobre essa fotografia.

“Marca de nascença. A minha afilhada de 6 anos tem agora uma parte de mim na sua perna direita.”

João Baltazar

“Eu escolhi esta cicatriz por‑ que não sei como a fiz. Apenas olho e reparo que ela está lá. Para mim esta cica‑ triz simboliza o desconheci‑ do, porque como já disse não sei como ela surgiu.”

Francisco Martins

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DESAFIOS “Porque é que caímos? Para aprendermos a levantar-nos. As cicatrizes que não se vêem custam mais a sarar mas são as que nos deixam mais fortes.”

António Carvalhinho

“Fiz esta cicatriz há 2 anos. Estava na aula de educação física a correr à volta do campo de futebol e enquanto falava com amigos meus da turma e, sem reparar Maria Rita Tristan

onde metia os pés, tropecei

numa pedra e caí. Como o chão era de asfalto bruto, queimei a pele e deu esta grande cicatriz no cotovelo. Doeu-me muito e chorei, o que não costuma acontecer quando faço feridas.”

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PROCESSO

DESAFIOS #04 O MEU QUARTO Faz um álbum fotográfico de detalhes do teu quarto. Coloca as imagens numa sequência e partilha-as com o grupo.

Maria Rita Tristan

Ana João Cavalheiro

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#05 AÇÃO PERFORMATIVA

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DESAFIOS Cria e apresenta uma ação performativa a partir da música “My Body is a Cage” (versão dos Arcade Fire). Apresenta depois essa ação performativa ao grupo.

António Carvalhinho

Marisa Cruz

Joana Cotrim

João Baltazar

Francisco Martins

Ana João Cavalheiro

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DESAFIOS #06 DAR O CORPO AO MANIFESTO Escreve um manifesto a partir de uma parte do teu corpo.

EXCERTO DO MANIFESTO A PARTIR DO PEITO, “ponto nº. 1 - Deveria ser livre de poder usar decotes sem olharem para o meu peito à “descarada”. ponto nº. 2 - Deveria ser livre de utilizar o meu corpo nu, essencialmente o meu peito, por vezes como manifesto de arte que procuro fazer, sem que sexualizassem o meu corpo por ser um peito feminino.” Ana João Cavalheiro

EXCERTO DO MANIFESTO A PARTIR DAS MÃOS, “Queixamo-nos da falta de tempo para fazermos tudo e não sei como é que ainda ninguém se lembrou de olhar para a mão que é (quase) “inútil” e de perceber que a solução pode bem ser essa.” Maria Rita Tristan

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PROCESSO

EXCERTO DO MANIFESTO A PARTIR DA BOCA, “Não deixo. A boca não deixo que me tirem. Preciso de me manifestar, preciso de falar. Podem tirar-me tudo o resto, mas a boca é algo que quero para mim.” Francisco Martins

EXCERTO DO MANIFESTO A PARTIR DO CÉREBRO, “Eu controlo todo o teu corpo. Sem mim não poderias ouvir, falar, ver... Eu conheço todos os teus sonhos, segredos e medos. Sou eu que defino a tua criatividade. “ João Baltazar

EXCERTO DO MANIFESTO A PARTIR DOS SEIOS, “MAMAS Porquê continuar, no século XXI, a tratá-las como um tabu?” Joana Cotrim

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PROCESSO

ARTISTAS E PROJETOS

CONVIDADOS WORKSHOP COM JOÃO FIADEIRO PERFORMANCE E COMPOSIÇÃO EM TEMPO REAL

João Fiadeiro (1965) pertence à geração de coreógrafos que emergiu no fim da década de oitenta e que deu origem à Nova Dança Portuguesa. Grande parte da sua formação foi feita entre Lisboa, Nova Iorque e Berlim, tendo depois sido bailarino na Companhia de Dança de Lisboa (86-88) e no Ballet Gulben‑ kian (89‑90). Em 1990 fundou a Companhia re.al, responsável pela criação e difusão dos seus espetáculos, ao mesmo tempo que acom‑ panhou e representou diversos artistas emer‑ gentes. Em 2005 funda o Atelier Real, estru­­­‑ tura de acolhimento e programação de artistas e eventos transdisciplinares. João Fiadeiro tem orientado com regularidade workshops de Composição em Tempo Real em diversas esco‑ las e universidades nacionais e estrangeiras. É professor convidado do doutoramento em Sistemas da Complexidade no ISCTE. Atual­‑ mente frequenta o doutoramento em Arte Contemporânea do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.

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PROCESSO João Fiadeiro foi o primeiro artista convidado que recebemos nas oficinas de criação artística, numa iniciativa integrada no Castelo de Artes (promovido pela Câmara Municipal de Castelo Branco). Em Castelo Branco o coreógrafo desenvolveu workshops de Composição em Tempo Real, envolvendo um grupo de cerca de 40 pessoas da comunidade local. Nesta ocasião criou também a performance “O que fazer daqui para trás – versão expandida”, que aconteceu em vários locais da cidade, e apresentou o espetáculo “O que fazer daqui para trás” no Cine-Teatro Avenida.

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PROCESSO ESPETÁCULO A BELEZA - PEQUENA CONFERÊNCIA Como se explica a crianças e jovens o que é a beleza? Foi esse o desafio a que o filósofo francês JeanLuc Nancy tentou responder numa pequena conferência que é agora recuperada pelos artistas Maria Duarte, Gonçalo Ferreira de Almeida e João Rodrigues. Recorrendo às dinâmicas naturais da representação e ao texto da conferência de Nancy, questiona-se e argumenta-se o que é o belo, uma ideia aparentemente simples, mas tão difícil de definir e caraterizar. Uma criação de Maria Duarte, Gonçalo Ferreira de Almeida e João Rodrigues agradecimentos Jean-Luc Nancy, Tomás Maia e Elisabete Gama coprodução Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura e Maria Matos Teatro Municipal. Assistimos ao espetáculo no dia 29 de outubro de 2016, no Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa.

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PROCESSO WORKSHOP COM PATRÍCIA PEREIRA E NUNO MENDOZA NOUS SOMMES SOUVENIRS

Onde estão as memórias antes de serem memórias? Esta questão serve de ponto de partida ao projeto “nous sommes souvenirs” que explora as relações existentes entre a paisagem sonora e visual de cada lugar, tendo como motor a ideia de encontros e imersão. Nuno Mendoza e Patrícia Pereira trouxeram às oficinas de criação artística da Terceira Pessoa, a experiência que têm feito um pouco por toda a Europa e deram‑nos a possibilidade de nos conhecermos melhor a nós próprios e à cidade que habitamos, através do registo e criação de som e imagem.

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PROCESSO WORKSHOP COM ANA GIL, NUNO LEÃO E ÓSCAR SILVA O TEATRO DO ESPETADOR Como é que pessoas desconhecidas podem, juntas, criar, imaginar, pensar? Pode o teatro ser um lugar de cocriação? Como é que esse processo de cocriação se torna no próprio acontecimento que é o espetáculo? Para este workshop, Ana Gil, Nuno Leão e Óscar Silva trouxe‑ ram questões que fazem parte da sua pesquisa enquanto criadores e que estiveram intimamente liga‑ das com o espetáculo “The Old Image of Being Loved”, estreado em Londres e apresentado nos dias 2 e 3 de março no Centro Cultural de Alcains. Os participantes foram assim envolvidos num laboratório de criação onde esboçaram, expe‑ rimentaram e analisaram diferen‑ tes dispositivos que convidaram à cocriação com o(s) outro(s).

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PROCESSO

O QUE FAZER DAQUI

PARA A FRENTE Passados os primeiros 4 meses de experimentação de várias propostas de criação e de contato com vários artistas e projetos convidados, os participantes foram desafiados a fazer um exercício de síntese da experiência, de modo a tentarem perceber e propor os projetos finais a criar na última fase da oficina. No grupo dos jovens dos 14 aos 18 anos de idade existiram propostas várias que tinham como elemento comum a criação de um objeto de artes performativas em criação coletiva. Foi nesse sentido que começámos então a focar o nosso trabalho na criação de um espetáculo performativo com este grupo de jovens. “Aqui é sempre outro lugar” começa, num primeiro momento, a nascer de uma intuição, de um desejo e de uma vontade comum do grupo. A partir daí a pesquisa artística foi tentando cruzar e recuperar conceitos já explorados anteriormente nas propostas e desafios iniciais, trabalhando-os agora através das linguagens performativas, com o objetivo de criar um espetáculo.

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SOBRE Ao longo do período em que decorreram as oficinas de criação artística com o grupo dos jovens dos 14 aos 18 anos, fomos explorando conceitos e ideias como: o corpo enquanto lugar de experiência e metamorfoses, espaço íntimo e espaço público, a beleza e as coisas, tempo(s) e espaço(s) de subjetividade, entre outras.


Estes conceitos foram explorados com os jovens, recorrendo a várias disciplinas artísticas, de modo a permitir-lhes o contato com várias ferramentas e dispositivos de criação artística. Na criação do espetáculo “Aqui é sempre outro lugar” um dos desafios foi traduzir o material produzido pelos jovens ao longo das propostas de criação, agora para o campo da performatividade. Como é que estes temas se relacionam e habitam agora os corpos dos jovens que vão interpretar este espetáculo? Como é que o teatro se torna no lugar em

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SOBRE

potência para falar destas questões? O corpo adolescente é aqui um corpo perfor‑ mativo que age na tentativa de inscrever um acontecimento (espetáculo). Que ações estão em potência, à flor da pele e latentes nestes corpos? Que movimentos se escondem e se assumem nestes corpos-lugares? Que questões podem eles colocar? Que ecos, que embates, que retornos, que fugas resultam desses movimentos? O que ficará e o que desaparecerá deste lugar, deste “estar aqui”?

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SINOPSE “Aqui é sempre outro lugar” é um espetáculo que parte do corpo adolescente enquanto território de questionamento e de mani‑ festação de um olhar inquieto e transitório.

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Num lugar semelhante a uma rua, com as suas escadarias, as suas rampas, as suas paredes, um grupo de jovens confronta-se consigo próprio e com a realidade que vai questionando, ins‑ crevendo nesse mesmo espaço (físico e simbólico) gestos transformadores. Lugar de experiência e de metamorfoses, o corpo é também um espaço. “Aqui é sempre outro lugar” é o eco que fica depois do primeiro embate com as coisas. Aqui pratica-se a arte da fuga. Estamos numa estrada para lugar algum. Façam favor de entrar.

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Alugo a minha cabeça a boas pessoas, bons livros e bons filmes. Alugo o meu olhar a um quadro de Caravaggio. Alugo as minhas mãos a um pedaço de barro. Dou as minhas músicas de amor para passarem nas ruas da cidade onde vivo. Dou a minha biblioteca para ser lida em voz alta. Dou a minha coleção de postais de viagem para ser exibida na parede de uma prisão. Dou o meu corpo à ciência. Dou o meu corpo ao manifesto. Dou quase tudo e quase tudo pode ser demais. Troco o meu futuro pelo teu futuro. Troco os meus 40 anos pelos teus 16. Troco o meu nome pela palavra mãe. Troco o meu país por uma noite contigo. Troco o meu drone pelo teu olhar. Não troco este momento por nada deste mundo.

PRODUÇÃO

APOIO

Não troco, vendo ou alugo as minhas memórias por nada.

EXCERTO DO TEXTO DO ESPETÁCULO


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