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A título de conclusão, vamos alinhar alguns tópicos tentando estabelecer um diálogo entre o pensamento de Calvino em resposta a determinadas situações do seu tempo e ao mesmo tempo tentar algumas conexões. É evidente que Calvino viveu e enfrentou um contexto totalmente distinto do nosso. Todavia, alguns princípios e valores podem e devem ser retomados. Um dos primeiros aspectos a ser novamente observado é a ênfase em todos assuntos que Calvino dá sobre a importância da fundamentação nas Escrituras na discussão de todos os temas. É corrente afirmar que as Escrituras se revestem de caráter normativo para a vida cristã e que a Reforma deu ênfase ao “sola Scriptura” como princípio distintivo. Todavia, não basta proclamar a supremacia da Escritura em termos de fé e doutrina, é preciso interpretá-la adequadamente dialogando com tradição e a realidade. Nesse particular, Calvino, dispondo dos recursos que lhe estavam acessíveis, foi exegeta e intérprete primoroso quando não apenas alinha textos bíblicos aleatoriamente para comprovar suas assertivas, mas interpreta com perspicácia dando consistência bíblica, teológica e histórica às suas afirmações. Receios equivocados de uma identificação com um biblicismo raso ou fundamentalista têm marginalizado a Palavra em muitos círculos reformados. Este é um desafio que necessita ser enfrentado sem receios. A temática da oração é tratada como assunto teológico relevante, não apenas um tema prático, reservado para piedade pessoal e privada. Ao estabelecer princípios para sua prática tanto privada como pública, Calvino nos mostra que a oração precisa ser encarada não apenas como assunto da esfera individual, mas é um assunto teológico que deve ocupar e permear a reflexão teológica bem como a própria vida da igreja. Comumente os rótulos de pietista ou piegas assustam, marginalizando a oração não apenas como tema teológico, mas também da própria prática cristã. A oração ficou assim restrita aos livros devocionais e aqui entendidos como obras sem densidade. Para Calvino, a vida cristã consistia em renúncia e em tomar a cruz. Para o nosso tempo que enfatiza a teologia da prosperidade, o sucesso material como indicativo da bênção divina, o conforto e bem estar como ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
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páginas 28 a 45
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NOTAS SOBRE A ESPIRITUALIDADE EM CALVINO
III - DESAFIOS DO NOSSO PRESENTE