Teologia e Sociedade 1

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37, depois do diálogo com o bom escriba. Esta pequena perícope vai fechar a moldura. Acabou-se a fila, já passaram os fariseus com herodianos, saduceus e o bom escriba e, diz o texto, ninguém mais ousava questioná-lo (12,34b). Com isso, o leitor/ouvinte deverá perceber que Jesus está agora saindo das controvérsias como tais e passando a oferecer o seu ensino, ensinando o que ele quer. Quando isto aconteceu na primeira parte de Marcos, Jesus passou a ensinar por parábolas (capítulo 4), depois de passar pelo primeiro desfile de opositores (2.13,6), receber a primeira ameaça de morte (por parte de incompetentes, 3.6; cf. 6.14-29), fulminar contra a inquisição vinda de Jerusalém (3.22-30), e mostrar-se imune às idéias de sua família (3.21,31-35). Dali para a frente vêm as parábolas, que são ensinos dele não provocados pelos conflitos. Desta vez (12.35-37) é diferente: Jesus toma a iniciativa de desafiar os escribas sobre a questão do Messias. “Os escribas” dizem que o Messias é Filho de Davi (descendente de Davi) e Jesus questiona-os citando o Salmo 110. Entende-se que o autor do Salmo é Davi, e

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O EVANGELHO DE MARCOS COMO EVANGELHO DE DEUS

porque Deus enlouquece os demônios, e com a presença de Jesus o próprio Deus se faz presente. Ainda mais: os demônios são usurpadores de espaços (sinagoga, terra) que são de Deus e Jesus expulsa-os. No templo Jesus também expulsa usurpadores de um espaço, a começar pelos cambistas (11.15-17). A moldura do ciclo de Marcos 12 abre com a parábola dos vinhateiros e o desafio sobre a pedra rejeitada. Na parábola, o filho do dono do vinhedo vem receber o aluguel em nome do pai. Os alvos da parábola são as autoridades do templo que acabaram de questionar a Jesus sobre a expulsão dos cambistas (11.27). Esses sacerdotes aristocráticos13, escribas e anciãos são também donos de propriedades, vinhedos e outras fazendas.14 Eles naturalmente torceriam pelo dono do vinhedo, que tem dificuldades para receber o aluguel; eles também mandam servos e filhos para receberem aluguéis. Mas esta parábola é uma parábola de inversão15, e eles vão perceber logo que torcer pelo dono do vinhedo da parábola é cair numa armadilha. O vinhedo é, na verdade, a Judéia e o templo em particular; os maus vinhateiros são eles, encarregados dos cuidados com o templo de Deus, a quem desrespeitam. No fim, entendem que a parábola é contra eles (12.12). O Filho de Deus acabou de chegar ao templo, que é o vinhedo de Deus, para fazer cobranças. Quais cobranças, o leitor/ouvinte aguarda para saber. O leitor vai se lembrar do motivo Filho de Deus ao chegar a Marcos 12.35-

13 “Sacerdotes aristocráticos” é uma tradução de archiereis, normalmente traduzido como “sumos archiereis sacerdotes”. O termo aparece repetidas vezes no plural e se refere aos membros das famílias sacerdotais mais prestigiadas de Jerusalém. 14 Em tese, sacerdotes não devem possuir terras, “pois Javé é a herança” deles. Na prática, como Flávio Josefo demonstra, eles possuíam terras. 15 Adaptação da expressão em inglês “parable of reversal”.


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