Ortodoxia - G. K. Chesterton

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Qual é o pecado do homem geralmente chamado de otimista? Obviamente, percebe-se que o otimista, no intuito de defender a honra deste mundo, defenderá o indefensável. Ele é o chauvinista do universo; dirá: "O meu cosmos, certo ou errado". Sentir-se-á menos inclinado a reformas; mais inclinado a uma espécie de resposta oficial ministerial a todos os ataques, acalmando a todos com certezas. Ele não vai lavar o mundo, mas vai caiá-lo. Tudo isso (que é verdadeiro a respeito de um tipo de otimista) conduz a um ponto realmente interessante de psicologia, que sem isso não se poderia explicar. Dizemos que deve haver uma lealdade fundamental à vida; a única questão é a seguinte: deve ser uma lealdade natural ou sobrenatural? Ou, se você preferir esta outra colocação, deve ser uma lealdade sensata ou insensata? Ora, a coisa extraordinária é que o otimismo ruim (a caiação, a defesa fraca de tudo) aparece com o otimismo razoável. O otimismo racional leva à estagnação; o otimismo irracional é que leva à reforma. Deixe-me explicar usando mais uma vez o paralelo do patriotismo. O homem mais capaz de destruir o lugar que ama é exatamente aquele que o ama por uma razão. O homem que vai melhorar o lugar é aquele que o ama sem uma razão. Se um homem ama alguma característica de Pimlico (o que parece improvável), ele pode acabar defendendo aquela característica até mesmo contra Pimlico. Mas se ele simplesmente ama Pimlico em si, pode acabar arrasando o lugar para transformá-lo numa Nova Jerusalém. Eu não nego que uma reforma possa ser excessiva; apenas digo que é o patriota místico que reforma. Mera satisfação pessoal chauvinista é algo extremamente comum entre aqueles que têm alguma razão pedante para o seu patriotismo. Os piores chauvinistas não amam a Inglaterra, mas sim uma Inglaterra teórica. Se amamos a Inglaterra por ela ser um império, podemos superestimar o sucesso com que governamos os hindus. Mas se a amamos apenas por ser uma nação, somos capazes de enfrentar qualquer circunstância: pois ela seria uma nação mesmo se os hindus nos governassem. Assim também apenas aqueles cujo patriotismo depende da história permitirão que seu patriotismo falsifique a história. Um homem que ama a Inglaterra por ser inglês não se preocupará em


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