(livro completo) maria montessori a criança

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quando a vê agir sozinha e progredir, não atribui o mérito a si mesmo. Deve inspirar-se nos sentimentos de São João Batista: “ Convém que ela cresça e que eu diminua” . É igual­ mente conhecido um dos outros princípios característicos do método: o respeito à personalidade infantil, levado a um extremo nunca antes atingido. Esses três pontos essenciais foram desenvolvidos em instituições educativas especiais, que tiveram a princípio o nome de “ Casas das Crianças” , o qual evoca o conceito de ambiente familiar. Quem acompanhou esse movimento educacional sabe que ele foi e ainda é discutido. O que mais suscitou dis­ cussões foi a inversão de atitudes do adulto e da criança: o professor sem cátedra, sem autoridade e quase sem ensi­ nar, e a criança transformada em centro da atividade, apren­ dendo sozinha, livre na escolha de suas ocupações e dos seus movimentos. Quando não foi considerado utopia, parecia exagero. Em contrapartida, o outro conceito do ambiente mate­ rial adaptado às proporções do corpo da criança foi recebido com simpa^a. Salas claras e iluminadas, com janelas baixas, cheias de flores, móveis pequenos de todos os tipos, exata­ mente como a mobília de uma casa moderna — mesinhas pequenas, poltronazinhas, cortinas graciosas, armários bai­ xos, ao alcance das mãos das crianças, que neles colocam os objetos e pegam o que desejam — tudo isto pareceu um verdadeiro melhoramento de importância prática na vida da criança. E acredito que a maior parte das Casas das Crian­ ças conserve justamente essa característica exterior como ponto principal. Hoje, após um prolongado trabalho de pesquisa e ex­ periências, sentimos a necessidade de retomar o assunto e dá-lo a conhecer, especialmente quanto a suas origens. Seria um grave erro acreditar que a observação even­ tual das crianças tenha feito surgir uma idéia tão ousada como a de supor uma natureza oculta na criança, e que de tal instituição tenha resultado o conceito de uma escola es­ pecial e de um método especial de educação. É impossível observar o que é desconhecido, assim como não é possível que alguém, por vaga intuição, imagine que a criança possua duas naturezas e diga: “ Agora, tentarei demonstrar isso com uma experiência” . O que é novo deve surgir, por assim di­ zer, por sua própria energia. Muitas vezes, não há cego mais

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